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Os Maias

Eça de Queirós

Contextualização histórico-literária:

Enquanto o crescimento económico progredia, os padrões estético-literários


vigentes na época dominados ainda pelo ultrarromantismo e pela sua figura
emblemática permaneceram iguais.

A década anterior à publicação de Os Maias foi a mais polémica da História da


Literatura, foi marcada por uma série de revoluções:

 o idealismo cede lugar ao positivismo;


 o romantismo é violentamente atacado pelo realismo;
 o realismo clarifica os grandes males sociais;
 a arte literária é entregue ao serviço da revolução de mentalidades.

Eça de Queirós terá demorado cerca 8 anos para escrever a obra Os Maias, tendo
sido publicada a 2 de junho de 1888. Isso poderá explicar o afastamento progressivo, à
medida que a ação avança, do romantismo para o naturalismo/ realismo. No inicio da
obra, Eça é fortemente influenciado pelas teses naturalistas (meio, educação,
hereditariedade), assim como elege o destino como responsável pelo desenlace
trágico da família Maia. A obra foi atacada por fortes críticas quanto à sua extensão e
outros fatores, tanto por críticos como também pelo próprio Eça.

O Realismo e o Naturalismo defendem:

 que a literatura deve representar o real e, por isso, os temas selecionados


devem partir da realidade;
 que, através da crítica social e de costumes, a arte adquire uma função
moralizadora, devendo levar à correção de comportamentos;
 a abordagem de temas relacionados com problemáticas sociais (justiça,
adultério, educação) e com questões científicas (formação da personalidade:
influência do meio ambiente e da hereditariedade);

Linguagem:

A linguagem do romance ilustra o quanto a linguagem literária de Eça foi


profundamente inovadora para a literatura portuguesa, tanto pelo impressionismo das
descrições, como pelo realismo dos diálogos.

Com efeito, Eça de Queirós através da narração, da descrição, do diálogo e do


monólogo, apropria-se da linguagem de forma inovadora, atribuindo novos valores
estéticos e literários. A narração ganha maleabilidade pela necessidade de relatar
objetivamente os acontecimentos, como convinha a estética realista; o diálogo enche-
se de força coloquial; a descrição minuciosa, frequentemente sensorial, serve os
propósitos do realismo que se afirma pelo rigor da observação e pela análise dos
acontecimentos sociais; o monólogo ajuda a perscrutar o mundo interior das
personagens; o comentário permite a intervenção de um narrador que, ora adotando
uma focalização omnisciente, ora uma focalização interna, tudo observa com olhar
crítico e contundente.

Espaço:

Na obra os Maias a Ação decorre em diferentes Espaços físicos, Sociais e Psicológicos.

 O Espaço Físico é o local onde se desenrola a narrativa (um país, uma cidade,
uma casa, etc.).

 O Espaço Psicológico está relacionado com as personagens pois traduz uma


atmosfera de ordem psicológica, que se projeta nos comportamentos destas.

 O Espaço Social são os lugares e ambientes em que se proporciona a análise


dos comportamentos das personagens, pois aí elas denunciam os seus tiques e
os seus vícios.

Tempo:

Este romance não apresenta um seguimento temporal linear, mas, pelo contrário, uma
estrutura complexa na qual se integram três tipos de tempo: tempo histórico, tempo
do discurso e tempo psicológico.

 Tempo histórico: Entende-se por tempo histórico aquele que se desdobra em


dias, meses e anos vividos pelas personagens, refletindo até acontecimentos
cronológicos históricos do país.

 Tempo do discurso: Por tempo do discurso entende-se aquele que se deteta no


próprio texto organizado pelo narrador, ordenado ou alterado logicamente,
alargado ou resumido.

 Tempo psicológico: O tempo psicológico é o tempo que a personagem assume


interiormente; é o tempo filtrado pelas suas vivências subjetivas, muitas vezes
carregado de densidade dramática. É o tempo que se alarga ou se encurta
conforme o estado de espírito em que se encontra.

Personagens:

Afonso da Maia

 Caracterização física:
Afonso era baixo, maciço, de ombros quadrados e fortes. A sua cara larga, o nariz
aquilino e a pele corada. O cabelo era branco, muito curto e a barba branca e
comprida. Como dizia Carlos: "lembrava um varão esforçado das idas heroicas, um D.
Duarte Meneses ou um Afonso de Albuquerque".

 Caracterização psicológica:

Provavelmente o personagem mais simpático do romance e aquele que o autor mais


valorizou. Não se lhe conhecem defeitos. É um homem de carácter culto e requintado
nos gostos. Enquanto jovem adere aos ideais do Liberalismo e é obrigado, pelo seu pai,
a sair de casa; instala-se em Inglaterra, mas, falecido o pai, regressa a Lisboa para casar
com Maria Eduarda Runa. Dedica a sua vida ao neto Carlos. Já velho passa o tempo em
conversas com os amigos, lendo com o seu gato – Reverendo Bonifácio – aos pés,
opinando sobre a necessidade de renovação do país. É generoso para com os amigos e
os necessitados. Ama a natureza e o que é pobre e fraco. Tem altos e firmes princípios
morais. Morre de uma apoplexia, quando descobre os amores incestuosos dos seus
netos. É o símbolo do velho Portugal que contrasta com o novo Portugal – o
da Regeneração – cheio de defeitos. É os sonhos de um Portugal impossível por falta
de homens capazes.

Maria Eduarda Runa


 “uma verdadeira lisboeta, pequenina e trigueira”
 física e psicologicamente frágil
 inadaptada a Inglaterra
 demasiado devota ao ponto de ser fanática pela religião
 manipuladora, usando a sua fragilidade para manipular os outros que acabam
por não a contrariar

Pedro da Maia

 Caracterização física:

Era pequenino, face oval de "um trigueiro cálido", olhos belos – "assemelhavam-no a
um belo árabe". Valentia física.

 Caracterização psicológica:

Pedro da Maia apresentava um temperamento nervoso, fraco e de grande


instabilidade emocional. Tinha assiduamente crises de "melancolia negra que o
traziam dias e dias, murcho, amarelo, com as olheiras fundas e já velho".

O autor dá grande importância à vinculação desta personagem ao ramo familiar dos


Runa e à sua semelhança psicológica com estes.

Pedro é vítima do meio baixo lisboeta e de uma educação retrograda. O seu único
sentimento vivo e intenso fora a paixão pela mãe.
Apesar da robustez física é de uma enorme cobardia moral (como demonstra a reação
do suicídio face à fuga da mulher). Falha no casamento e falha como homem.

Carlos da Maia

 Caracterização física:

Carlos era um belo e magnífico rapaz. Era alto, bem constituído, de ombros largos,
olhos negros, pele branca, cabelos negros e ondulados. Tinha barba fina, castanha
escura, pequena e aguçada no queixo. O bigode era arqueado aos cantos da boca. Com
diz Eça, ele tinha uma fisionomia de "belo cavaleiro da Renascença".

 Caracterização psicológica:

Carlos era culto, bem-educado, de gostos requintados. Ao contrário do seu pai, é fruto
de uma educação à Inglesa. É corajoso e frontal. Amigo do seu amigo e generoso.
Destaca-se na sua personalidade o cosmopolitismo, a sensualidade, o gosto pelo luxo,
e diletantismo (incapacidade de se fixar num projeto sério).

Todavia, apesar da educação, Carlos fracassou. Não foi devido a esta, mas falhou, em
parte, por causa do meio onde se instalou – uma sociedade parasita, ociosa, fútil e sem
estímulos e também devido a aspetos hereditários – a fraqueza e a cobardia do pai, o
egoísmo, a futilidade e o espírito boémio da mãe. Eça quis personificar em Carlos a
idade da sua juventude, a que fez a questão Coimbrã e as Conferências do Casino e
que acabou no grupo dos Vencidos da Vida, de que Carlos é um bom exemplo.

Maria Monforte

 Caracterização física:

É extremamente bela e sensual. Tinha os cabelos loiros, "a testa curta e


clássica, o colo ebúrneo".

 Caracterização psicológica:

É vítima da literatura romântica e daqui deriva o seu carácter pobre, excêntrico


e excessivo. Costumavam chamar-lhe negreira porque o seu pai levara, noutros
tempos, cargas de negros para o Brasil, Havana e Nova Orleães. Apaixonou-se por
Pedro e casou com ele. Desse casamento nasceram dois filhos. Mais tarde foge com o
napolitano, Tancredo, levando consigo a filha, Maria Eduarda, e abandonando o
marido - Pedro da Maia - e o filho - Carlos Eduardo. Leviana e imoral, é, em parte, a
culpada de todas as desgraças da família Maia. Fê-lo por amor, não por maldade.
Morto Tancredo, num duelo, leva uma vida dissipada e morre quase na miséria. Deixa
um cofre a um conhecido português - o democrata Sr. Guimarães - com documentos
que poderiam identificar a filha a quem nunca revelou as origens.
Cruges

 Caracterização física:

"De grenha crespa que lhe ondulava até à gola do jaquetão", "olhinhos piscos"
e nariz espetado.

 Caracterização psicológica:

Maestro e pianista patético, era amigo de Carlos e íntimo do Ramalhete. Era


demasiado chegado à sua velha mãe. Segundo Eça, "um diabo adoidado, maestro,
pianista com uma pontinha de génio". É desmotivado devido ao meio lisboeta - "Se eu
fizesse uma boa ópera, quem é que ma representava".

Eusebiozinho
 débil/frágil
 inativo
 amorfo
 molengão
 não se sabia defender

Ação
N'Os Maias podemos distinguir dois níveis de ação: a crónica de costumes -
ação aberta; e a intriga - ação fechada, que se divide em intriga principal e intriga
secundária. São, aliás, estes dois níveis de ação, que justificam a existência de título e
subtítulo nesta obra. O título - Os Maias - corresponde à intriga, enquanto que o
subtítulo - Episódios da Vida Romântica - corresponde à crónica de costumes.

Na intriga secundária temos: a história de Afonso da Maia - época de reação do


Liberalismo ao Absolutismo; a história de Pedro da Maia e Maria Monforte - época de
instauração do Liberalismo e consequentes contradições internas; a história da
infância e juventude de Carlos da Maia - época de decadência das experiências
Liberais.

Na intriga principal são retratados os amores incestuosos de Carlos e Maria


Eduarda que terminam com a desagregação da família - morte de Afonso e separação
de Carlos e Maria Eduarda. Carlos é o protagonista da intriga principal. Teve uma
educação à inglesa e tirou o curso de medicina em Coimbra. A educação de Maria
Eduarda foi completamente diferente, donde se conclui que a sua paixão não foi
condicionada pela educação, nem pela hereditariedade, nem pelo meio. A sua ligação
amorosa foi comandada à distância por uma entidade que se denomina destino.
A ação principal d' Os Maias, desenvolve-se segundo os moldes da tragédia
clássica - peripécia, reconhecimento e catástrofe. A peripécia verificou-se com o
encontro casual de Maria Eduarda com Guimarães; com as revelações casuais do
Guimarães a Ega sobre a identidade de Maria Eduarda; e com as revelações a Carlos e
Afonso da Maia também, sobre a identidade de Maria Eduarda. O reconhecimento,
acarretado pelas revelações do Guimarães, torna a relação entre Carlos e Maria
Eduarda uma relação incestuosa, provocando a catástrofe consumada pela morte do
avô; a separação definitiva dos dois amantes; e as reflexões de Carlos e Ega.

Resumo:

 Capítulo I

A história de “Os Maias” começa no outono de 1875 quando Afonso da Maia se


instala numa das casas da família, o Ramalhete. Durante vários anos esteve desabitada
e servia apenas para guardar as mobílias do palacete de Benfica, que fora vendido.
Carlos, neto de Afonso é a única família que lhe restava, tinha acabado o curso de
Medicina em Coimbra nesse ano e queria abrir um consultório em Lisboa, razão pela
qual Afonso decidiu deixar Santa Olávia, a sua quinta no norte do país, e acompanhar o
neto para Lisboa. Afonso da Maia, agora velho e calmo, fora um jovem apoiante do
Liberalismo, ao contrário do seu pai, um Absolutista. Por esta razão, Afonso foi expulso
de casa, mas, por influência de sua mãe, foi-lhe oferecida a Quinta de Santa Olávia.
Alguns anos depois, Afonso partiu para Inglaterra, onde esteve algum tempo, mas de
onde teve que voltar devido à morte do seu pai. Foi então que conheceu a mulher com
quem viria a casar, D. Maria Eduarda Runa, de quem teve um filho e com quem partiria
para o exílio, de volta a Inglaterra. Porém, D. Maria Eduarda, mulher de fraca saúde e
católica devota, não se habituou à falta do sol quente que tinha em Lisboa nem ao
Protestantismo. Assim, ordenou a um bispo português que viesse educar o seu filho,
Pedro, já que não consentia que o seu filho fosse educado por um inglês, muito menos
num colégio protestante. Por isso, apesar de Afonso se tentar impor, Pedro cresceu
frágil, medroso e excessivamente mimado pela mãe. Algum tempo depois, a doença de
D. Maria Eduarda agravou-se e a família voltou para Lisboa, onde ela acabou por
morrer, causando um enorme desgosto no seu filho Pedro. Um dia, Pedro, recuperado
do luto, apaixonou-se por Maria Monforte, uma mulher muito bela e elegante, filha de
um negreiro. Por causa disto, Afonso da Maia opôs-se fortemente à relação do seu
filho com Maria Monforte, mas, apesar disso, eles casaram-se às escondidas e partiram
para Itália, deixando Afonso sozinho e desgostoso com a atitude do seu filho, cujo
nome não foi pronunciado durante muitos anos naquela casa.

 Capítulo II

Pedro e Maria casam às escondidas, sem o consentimento de Afonso da Maia e


partem para Itália. Porém, a mulher suspirava por Paris, para onde se mudaram pouco
tempo depois, até Maria aparecer grávida. Nessa altura resolveram voltar para Lisboa,
mas não sem antes escreverem a Afonso, pai de Pedro, anunciando a sua partida e o
nascimento do seu primeiro neto, na esperança de que ele os perdoasse e os
recebesse como família. Contudo, quando chegaram a Lisboa, ficaram a saber que
Afonso tinha voltado para Santa Olávia, a sua quinta no norte do país, no dia anterior.
Assim, o tempo passou e Maria Eduarda, filha do casal, nasceu. Pedro não
informou o seu pai do nascimento da filha, por estar ainda magoado com a atitude
dele, mas, quando o seu segundo filho nasce, põe a hipótese de se conciliar com o pai
e resolve ir a Santa Olávia apresentar-lhe os netos. Contudo, esta visita foi adiada
porque Pedro, numa caçada com os amigos, feriu acidentalmente um italiano, o
Tancredo, que tinha sido condenado à morte e andava fugido. Por isso, Tancredo ficou
a restabelecer-se durante muito tempo em casa de Pedro e Maria – tempo suficiente
para Maria o conhecer, e se apaixonarem sem ninguém ter conhecimento, até ao dia
em que Pedro descobre que ambos fugiram, levando com eles a sua filha, Maria
Eduarda.

Pedro decide então procurar consolo junto do pai, que o acolheu, assim como ao
seu neto, Carlos, na casa de Benfica, para onde se tinha mudado, entretanto. Porém,
nesse mesmo dia, Pedro suicida-se ao saber que a mulher o tinha deixado para ir viver
com o napolitano e Afonso decide fechar a casa de Benfica, vende-la e muda-se com o
seu neto, Carlos, para a quinta de Santa Olávia.

 Capítulo III

A infância de Carlos é passada em Santa Olávia, e é descrito um episódio onde se


dá uma visita de Vilaça, o procurador dos Maias, à quinta. Descreve-se a educação
liberal de Carlos, com um professor Inglês que dá primazia ao exercício físico e as
regras duras que Afonso impõe ao neto. Também ficamos a conhecer os Silveiras:
Teresinha, a primeira namorada de Carlos, a sua mãe e sua tia, e o seu irmão
Eusebiozinho, o oposto de Carlos, muito frágil, tímido, medroso e estudioso. É
sobretudo um capítulo de contraste entre as educações tradicional (Eusebiozinho) e à
inglesa (Carlos). Vilaça dá notícias de Maria Monforte e de sua filha a Afonso, e
segundo ele a sua neta morrera em Londres. Vilaça morre, o seu filho substitui-o como
procurador da família.

Alguns anos depois Carlos faz exame triunfal de candidatura à universidade.

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