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1.

Introdução: Contextualização e Breve Resumo

1.1. Apresentação do autor Eça de Queirós e da obra "Os Maias"

Eça de Queirós foi um renomado escritor português do século XIX, ele é


considerado um dos maiores nomes da literatura portuguesa e é conhecido
pelo seu estilo realista e crítico, bem como pela sua habilidade em retratar a
sociedade e os costumes da sua época.

Uma das obras mais conhecidas de Eça de Queirós é "Os Maias", que foi
publicada em 1888, a obra é um romance realista que aborda diversas
questões sociais, políticas e culturais da sociedade portuguesa do século XIX,
o título refere-se à família Maia, cuja história é o foco central do livro.

1.2. Contextualização Histórica:


"Os Maias" se passa no final do século XIX, um período marcado por
mudanças significativas em Portugal. O país estava se a recuperar de uma
instabilidade política e social, incluindo a Revolução Liberal de 1820 e as
Guerras Liberais
A trama de "Os Maias" gira em torno da aristocracia portuguesa do século
XIX. Eça de Queirós critica a decadência dessa classe social, que, apesar de
sua opulência, enfrentava dilemas morais e decadência cultural.

1.3. Situação geral do enredo até o Capítulo IV.

O Capítulo inicial apresenta a história de Afonso da Maia, patriarca da família,


e sua estadia no Ramalhete após um longo período de residência na Quinta
de Santa Olávia nas margens do Douro.

No segundo capítulo, Pedro e Maria decidem passar o inverno em Itália,


Maria está entediada com Roma e anseia por Paris, desejando viver um
“lindo inverno de amor”, Maria engravida durante a sua estadia em Itália.

E no terceiro capítulo, ocorre a páscoa em Santa Olávia, a educação de Carlos é


criticada pelo Abade, Teixeira, Vilaça e Silveiras.

1.4. Breve resumo do Capítulo IV.

Carlos descobre a sua vocação para medicina e vai estudar para Coimbra,
apesar disso ser contra as expectativas de Afonso, comprova as
consequências de uma educação livre, em Coimbra dava-se bem com todos,
fazendo vários convívios em sua casa, toda esta agitação e o ambiente
“campestre” dos Paços de Celas fizeram Carlos desleixar-se
progressivamente nos seus estudos, tendo-se dedicado à escrita de artigos e
sonetos, após concluir os estudos, Carlos abre um consultório em Lisboa, por
tradição os ricos não trabalhavam, daí que Carlos não tivesse muitos clientes,
já que não acreditavam nas suas intenções de trabalhar, assim todos os seus
esforços foram em vão visto que nunca chegaram a ser utilizados.

2. Análise dos Personagens Principais

Carlos da Maia: É o protagonista, filho de Pedro e Maria Monforte.


Após o suicídio do pai, vai viver com o avô para Santa Olávia.
Saiu de Santa Olávia para tirar Medicina em Coimbra.
Transforma-se numa vítima da hereditariedade, visível na sua beleza e no
seu gosto exagerado pelo luxo, herdados da mãe, e pela tendência para o
sentimentalismo, herdada do pai, e do meio em que se insere.
Simboliza a incapacidade de regeneração do país a que se propusera a
própria Geração de 70.
Não teme o esforço físico, é corajoso e frontal.
É uma personagem modelada, uma vez que sofre uma evolução psicológica.

João da Ega: Autêntica projeção de Eça de Queirós pela ideologia literária e


pelo monóculo.
É uma personagem contraditória, excêntrica, cínica e demolidora da política e
da sociedade pelas ideias que defende.
É um romântico e um sentimental, torna-se um amigo inseparável e um
confidente de Carlos.

Afonso da Maia: Rigoroso, tradicional, paciente, caridoso (ajuda os mais


pobres e mais fracos), nobre.
Símbolo do liberalismo (na juventude), associado a um passado heroico,
representa a incapacidade de regeneração do país.

3. Narrador
Heterodiegético: O narrador não é uma personagem da história, ou seja, ele
não intervém diretamente nos eventos.

Focalização omnisciente: O narrador tem um conhecimento amplo sobre os


personagens e os ambientes.

Marcas linguísticas: Usa verbos na terceira pessoa, utiliza pronomes e


determinantes na terceira pessoa.
4. Espaço físico, social e psicológico

Espaço Físico:

Santa Olávia: Este solar da família Maia, simboliza a vida e a regeneração


dos dois varões da família. O clima ameno em Santa Olávia representa a
purificação de Afonso da Maia. A água desempenha um papel importante,
Afonso atribui a sua saúde robusta à tonificação proporcionada por essas
águas.

Lisboa: A capital concentra a alma de Portugal, mas também simboliza a


decadência moral e a ociosidade crônica dos portugueses. A estátua de
Camões metaforicamente representa essa decadência nacional.

Espaço Social:

O espaço social nos “Maias” reflete o paradigma sócio-religioso português.


Representa o padrão imposto pela sociedade como modelo de vida para
todas as pessoas.

Espaço Psicológico:

O espaço psicológico corresponde ao interior das personagens, os seus


sentimentos, emoções e pensamentos. Em “Os Maias”, principalmente em
Carlos da Maia, encontramos expressões dessa subjetividade.

5. Tempo da ação:

Período de Estudos de Carlos em Coimbra: Durante este capítulo,


acompanhamos Carlos da Maia enquanto ele estuda Medicina na
Universidade de Coimbra.

Retorno de Carlos ao Ramalhete: Após suas viagens pela Europa, Carlos


retorna à casa da família Maia em Lisboa.

6. Recursos estilísticos / marcas da linguagem do autor:


Estilo Descritivo e Pormenorizado:
● Eça de Queirós é conhecido pela sua habilidade em criar descrições
detalhadas e vívidas.

No Capítulo IV, ele descreve os ambientes, como o Ramalhete e Coimbra,


com minúcia, permitindo que o leitor visualize os cenários e se envolva na
história.
Ironia e Sátira Social:
O autor utiliza a ironia e a sátira para criticar a sociedade portuguesa da
época.

Discurso Indireto Livre:


Eça emprega o discurso indireto livre, permitindo que os pensamentos e
sentimentos das personagens se misturem com a narrativa.

Vocabulário Rico e Preciso:


O autor utiliza um vocabulário variado e preciso, escolhendo palavras que
enriquecem o texto e refletem a educação e o contexto social das
personagens.

Comparação: “A Teresinha fizera-se uma rapariguinha feia, amarela como


uma cidra;” 92
Enumeração: “Leis, ideias, filosofias, teorias, assuntos, estéticas, ciências,
estilo, indústrias, modas, maneiras, pilhérias…” 109

7. Análise crítica

7.1. Crítica Social e Identidade Portuguesa:

Os personagens do Capítulo IV, como João da Ega, representam vícios e


tiques sociais. Essa galeria de personagens é uma análise profunda da
identidade portuguesa da época, mas também possui paralelos com a
situação atual. A corrupção, a mesquinhez e os fracassos individuais ainda
são temas relevantes nos dias de hoje.

7.2 Formação Acadêmica e Escolhas de Carreira:

A descoberta da vocação de Carlos da Maia para a medicina e a sua


formação em Coimbra são temas que ecoam na contemporaneidade. A busca
por uma carreira, as escolhas profissionais e a influência das instituições de
ensino continuam a ser relevantes para os jovens de hoje.

8. Conclusão:
O Capítulo IV dos “Maias” de Eça de Queirós é um momento crucial na narrativa,
onde vários temas e personagens são introduzidos. Através da descrição detalhada
dos espaços físicos, das relações sociais e das escolhas individuais, o autor
constrói uma crônica da sociedade lisboeta do século XIX. A ironia, a profundidade
psicológica e a crítica social presentes neste capítulo continuam a ressoar na
contemporaneidade.

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