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Capítulo III de Os Maias

Contextualização do capítulo na estrutura da obra:

A obra, relativamente á sua estrutura externa, está dividida em 18 capítulos e


relativamente á sua estrutura interna os capítulos podem ser inseridos, de acordo com
o seu conteúdo, na intriga (intriga principal ou secundária) ou na crítica de costumes.
O capítulo III, do qual vos vou falar hoje, insere-se na intriga principal e na analepse.
O título do romance, Os Maias, é uma referência direta à família fidalga, oriunda do
Norte do País, que ocupa uma posição central na narrativa. Este título, remonta
portanto, ao primeiro nível de ação. Se o título aponta para a história de uma família, o
subtítulo — Episódios da vida romântica — abre o leque de possibilidades da narrativa
para a tornar um estudo da sociedade portuguesa (sobretudo) da segunda metade do
século XIX e conduz-nos ao segundo nível de ação. Nessa medida, este subtítulo
aponta para a crítica de costumes da sociedade portuguesa, que atravessa o romance
e se desenvolve a par da intriga principal.

Breve resumo do capítulo:

O capítulo III retrata a infância de Carlos da Maia que é passada em Santa Olávia com o seu avô
e realça a diferença entre a educação inglesa e a educação tradicional. Melhor dizendo, neste
capítulo da obra Carlos da Maia conhece o Eusebiozinho, um rapaz tímido, frágil e estudioso
que recebeu uma educação tradicional e conservadora, ou seja, uma educação em casa que se
caracteriza pelo recurso à memorização e á aprendizagem de línguas como o latim e com
ausência de exercício físico. Contrariamente, descreve-se a educação liberal de Carlos, com um
professor inglês, o Sr. Brown que dá prioridade ao exercício físico, ao contacto com a natureza
a uma formação sólida e humanista e ao estudo das línguas vivas e às regras duras que Afonso
da Maia, o seu avô, impõe a Carlos. É sobretudo um capítulo de contraste entre as educações
tradicional e a inglesa. Neste episódio é descrita uma visita de Vilaça, administrador e
procurador dos Maias, à quinta de Santa Olávia e também ficamos a conhecer a Teresinha, a
primeira namorada de Carlos, a sua mãe e a sua tia. No final deste capítulo, Vilaça dá notícias
sobre Maria Monforte e a sua filha a Afonso da Maia, onde refere que a sua neta morreu em
Londres. Vilaça morre, sendo substituído pelo seu filho que passa a ser o administrador e
procurador da família. Alguns anos depois Carlos da Maia faz exame triunfal de candidatura
à universidade.

Análise de categorias:

Espaço: Quinta de santa Olávia nas margens do Douro


Tempo: Abril, nas vésperas da Páscoa
Personagens: Afonso da Maia, Carlos da Maia, Vilaça (administrador da família Maia),
Eusebiozinho (filho da viúva Dona Eugénia da família Silveira), Teresinha(irmã de
Eusebiozinho), o Teixeira( mordomo da família)

Intenção crítica:

A educação é o tema central do capítulo. Desde logo porque condiciona o trajeto de vida de
várias personagens do romance. Ao longo da narrativa, equaciona-se o problema de apurar
qual o melhor modelo a seguir para educar um jovem português do século XIX. Há, portanto,
na obra uma crítica evidente ao modelo de educação português, que produz indivíduos de
carácter fraco, de condição débil e sem orientação prática para a vida. Mas há opiniões
contrárias.
Afonso da Maia considerava que a educação de uma criança não se deveria iniciar com o
estudo do latim, na medida em que, na sua opinião, não fazia sentido começar por ensinar a
uma criança acontecimentos do passado numa língua morta sem a fazer compreender
primeiro a realidade que a rodeia. Além disso, também acreditava que a preparação inicial de
uma criança devia visar que esta se desenvolvesse de forma saudável a nível físico. Afonso
afirmava portanto: pag.67. o latim era um luxo….
O abade Custódio considerava que aquele método educativo tornava as crianças atléticas, mas
não as preparava para viverem segundo os princípios do cristianismo. Na sua opinião, a moral
religiosa era fundamental para a formação de uma criança. Em contrapartida, Afonso
acreditava que era suficiente transmitir a Carlos a moral laica, ensinando-o a amar
intrinsecamente a virtude e não com o objetivo de obter uma recompensa ou por medo de ser
castigado na vida pós-morte, algo em que ele não acreditava.

Características do estilo do autor:

Em termos de registo de linguagem, a prosa de Eça de Queirós revela-se admiravelmente


versátil e maleável. Por um lado, recorre a um registo literário e elevado, por outro recorre aos
registos familiar e corrente. É também muito utilizado o discurso direto e o discurso indireto
livre (técnica em que a voz de uma personagem e do narrador se sobrepõem), sendo
estratégias para colocar as personagens em interação.
A utilização de recursos expressivos confere também originalidade à prosa queirosiana. A
ironia é um recurso expressivo cultivado por Eça servindo como crítica social.
A comparação e a metáfora são também muito utilizados na obra.
Também os diminutivos são aqui muitos utilizados, como por exemplo no capítulo em análise,
é utilizado neste caso como uma expressão de afeto: Carlinhos e latinzinho.
O narrador é profundamente irónico em relação à educação de Eusebiozinho, como é possível
verificar pelo recurso aos diminutivos («craniozinho», «crescidinho», «perninhas» e
«linguazinha»). Vou-vos então ler um pequeno excerto que demonstra muito bem: pag.73.

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