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INTRODUÇÃO
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De acordo com o Santos (2000), são frutos dos seus estudos sobre a Bahia as seguintes obras: “O
povoamento da Bahia”, de 1948; “Estudos sobre Geografia”, de 1953; “Os estudos regionais e o futuro da
Geografia”, de 1953, “Zona do cacau”, de 1955; “Estudos de Geografia da Bahia”, de 1958; “Localização
industrial”, de 1958; “A cidade como centro de região”, de 1959; “A rede urbana do Recôncavo”, de
1959; e o resultado de sua tese de doutorado, “O centro da cidade do Salvador”, de 1959.
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Para Contel (2014), quatro grandes obras sintetizam bem a construção da “metageografia” de Milton
Santos ao longo de sua trajetória, a saber: “O trabalho do geógrafo no terceiro mundo”, de 1971, “Por
uma Geografia nova”, de 1978, “Metamorfoses do espaço habitado”, de 1988, e, finalmente, a sua obra
magistral “A natureza do espaço”, de 1996.
aprofundar o debate teórico da disciplina; e c) urbanização e cidadania no território
brasileiro3 (GRIMM, 2011a; CONTEL, 2014).
Tendo em vista essas preocupações, um amplo esforço de sistematização e de
teorização foi realizado pelo geógrafo baiano ao longo de sua trajetória, que aqui se
apresenta resumidamente em quatro grandes contribuições teóricas: a) o espaço como
instância social; b) os circuitos da economia urbana; c) a globalização do espaço e o
meio técnico-científico-informacional; e d) o espaço como condição de cidadania.
Ainda que a Amazônia não seja um dos focos centrais na obra de Milton Santos,
várias de suas contribuições, sobretudo as de ordem teórica, ajudam analisar e
compreender, em grande medida, a dinâmica recente que caracteriza essa região. Isso
porque o geógrafo baiano se colocou à sociedade como um intelectual comprometido e
preocupado com questões relacionadas à urbanização e ao subdesenvolvimento dos
países do terceiro-mundo, em especial do Brasil.
Dessa forma, considera-se haver um lugar para a Amazônia na leitura e na
interpretação das espacialidades por meio das quais esse geógrafo buscou entender o
mundo contemporâneo, e aqui, trabalha-se com a hipótese de que a região amazônica,
como parte dessa realidade dos países subdesenvolvidos estudada pelo referido autor,
não lhe escapou o olhar analítico.
Assim, no intuito de compreender a dinâmica atual das relações que têm
marcado o espaço amazônico, tem-se como objetivo analisar e compreender o papel
reservado à Amazônia e sua problematização enquanto região na discussão empreendida
por Milton Santos acerca da configuração do meio técnico-científico informacional no
mundo globalizado.
Os procedimentos metodológicos utilizados para o empreendimento deste
trabalho, aqui parcialmente sistematizado, foram: a) levantamento e sistematização
biográfica e do memorial acadêmico/intelectual do autor; b) levantamento dos livros em
que Milton Santos se volta à discussão da globalização e do meio técnico-científico
informacional, tais como Santos (2008 [1978], 2014a [1985], 2014b [1988], 2013a
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Em relação às preocupações de Milton Santos ligadas à urbanização e à cidadania no Brasil, destacam-
se as seguintes obras: “O espaço do cidadão”, de 1987, “Metrópole corporativa fragmentada”, de 1990,
“A urbanização brasileira”, de 1993, “Por uma economia política da cidade”, de 1994, e “O Brasil:
território e sociedade no início do século XXI”, de 2001 (CONTEL, 2014).
[1993], 2013b [1994], 2012 [1996]) e Santos e Silveira (2011 [2001]); e c) definição do
corpus da pesquisa através do levantamento das produções miltonianas que referenciam
a Amazônia na teoria sobre o meio técnico-científico informacional e a globalização,
tendo sido identificadas as seguintes: Santos (1982, 1995, 2013a [1993], 2013b [1994])
e Santos e Silveira (2011 [2001]).
“Esse meio técnico, científico e informacional está presente em todas as partes, mas suas dimensões
variam de acordo com continentes, países, regiões: superfícies contínuas, zonas mais ou menos vastas,
simples pontos”
(SANTOS, 2013b [1994], p. 48).
“Mesmo onde se manifesta pontualmente, ele assegura o funcionamento dos processos encadeados a que
se está chamando de globalização”
(SANTOS, 2012 [1996], p. 240)
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Relações espaciais que se dão através da interação entre pontos contíguos no território (SANTOS, 2012
[1996]).
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Relações entre pontos distantes do território que asseguram o funcionamento global da sociedade e da
economia (SANTOS, 2012 [1996]).
objeto”, dotado de intencionalidades estranhas ao local e que, por sua vez, são
responsáveis por redefinir relações e mudar o conteúdo do território, articulando-o a
espaços diferenciados e distantes.
É o que Santos (1995, 2013b [1994]) discute quando reflete a lógica trazida
pelos “grandes objetos” a uma região como a amazônica:
quando nos dizem que as hidrelétricas vêm trazer para o país e para uma região, a esperança
de salvação da economia, da integração do mundo, a segurança do progresso, tudo isso são
símbolos que nos permitem aceitar a racionalidade do objeto que, na realidade, vem
exatamente destroçar a nossa relação com a natureza e impor relações desiguais (SANTOS,
1995, p. 15-16).
REFERÊNCIAS
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