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(1945-2019)
O embasamento teórico pauta-se nas premissas apresentadas por Santos (1978), Grataloup
(2003), Correa (1997), Lencioni (1999) e Haesbaert (2010), de que regiões são essencialmente
construções analíticas/intelectuais e que estão em constante processo de mudança e
reconstrução parcial. Segundo Haesbaert (2010, p. 13), o entendimento de região enquanto
“artefato” (algo que “encontra-se no cruzamento entre a concretude de um fato e a abstração de
um artifício”) possibilita ao pesquisador elencar, de acordo com suas próprias hipóteses e
levantamentos, aquelas áreas que comporão o conjunto espacial que lhe será relevante ao estudo
proposto. “Em outros termos, as regiões não são auto-evidentes. Elas se definem a partir de
1
Pós-doutorando em Geografia na FCT-UNESP/Presidente Prudente sob a supervisão do Prof. Dr. Eduardo Paulon
Girardi, com apoio PNPD/CAPES, aos quais faço meus agradecimentos. E-mail: mapas@usp.br
uma construção mental do pesquisador. A região, portanto, não se constitui um objeto em si
mesma, ela é uma construção intelectual” (LENCIONI, 1999, p. 127).
ABSTRACT: The article analyzes the process of expansion of the canaviculture in Paraná,
southern region of Brazil. A recent history is retrieved, in a periodized manner, indicating the
main phases of the large-scale implantation of this crop in Paraná soil: 1940-1974; 1975-1990,
1991-2002 and 2003-2019. In the first stage (1940-1974), surrounded in the context of World
War II and shortage of sugar and fuel in the southern portion of the country, the first modern
sugar mills of Paraná emerge. In a second moment (1975-1990), from the effects triggered by
the international crisis of the oil, there is the implantation of distilleries of alcohol from the
sugar cane in the state. In the third phase (1991-2002) an intense productive restructuring took
place in the sector, with the conversion of biofuel distillation agroindustries into sugar mills.
Finally, in the current period (2003-2019), Paraná remains a moderate producer of sugar,
ethanol and electricity from sugarcane, having undergone a regional and business
reconfiguration. Throughout the text a proposal of regionalization for the sugarcane activity of
Paraná along its recent history is presented, until reaching the spatial conformation of the
current period.
The theoretical basis is based on the premises presented by Santos (1978), Grataloup (2003),
Correa (1997), Lencioni (1999) and Haesbaert (2010), which regions are essentially analytical
/ intellectual constructs and are in constant process change and partial reconstruction.
According to Haesbaert (2010, page 13), the understanding of the region as an "artifact"
(something that "lies at the junction between the concreteness of a fact and the abstraction of
an artifice") enables the researcher to enclose, according to his hypotheses and surveys, those
areas that will compose the spatial set that will be relevant to the proposed study. "In other
words, the regions are not self-evident. They define themselves from a mental construct of the
researcher. The region, therefore, does not constitute an object in itself, it is an intellectual
construction "(LENCIONI, 1999, 127).
At the methodological level, the a priori map technique was explored, allowing the researcher
to look for spatial phenomena and dynamics that could be overlooked in the analysis. As Girardi
(2014) puts it, the map allows a powerful exploration of the data, directed to the discovery of
new information, patterns, ruptures, symmetries and spatial dissymmetries. In this respect, it is
important to take up the assumption of Archela and Théry (2008), according to which data (or
variables) can be divided and, consequently, generate different maps. Cartography is therefore
an interesting methodological option, both as a source of new questions, hypotheses and
concerns, as an enriching tool for analysis, and as a means of communicating results achieved
(when it is configured as a geographic message linked to the body of the text). In addition to
the theoretical and specific bibliographic review, the survey and critical reading of laws, decrees
and resolutions and the collection and analysis of data, field research was also carried out.
1 - Introdução
O presente texto representa um esforço inicial de sistematização de uma pesquisa já
começada, mas que carece de tomar forma de artigo científico, visando assim melhor colaborar
com a divulgação científica entre o meio acadêmico, notadamente entre aqueles interessados
em questões vinculadas às temáticas associadas à questão canavieira. O recorte regional
delimitado limita-se ao estado do Paraná e suas sub-regiões canavieiras. A partir da leitura de
Santos (1978), Grataloup (2003), Correa (1997), Lencioni (1999) e Haesbaert (2010), entende-
se neste estudo que as regiões (e também o conceito de região) são elementos dinâmicos e em
contante transformação parcial, alterando-se com o passar do tempo histórico e com o
desenvolvimento das forças produtivas. Parte-se do pressuposto exposto por Corrêa (2003, pp.
44-45 e 67), para quem:
Ante essa dinâmica constante de transformação parcial do espaço, é curioso notar que o
mesmo autor (indiretamente) faz considerações sobre nosso lócus de interesse nesse estudo, os
três nortes paranaenses, os quais:
... se convencionou chamar [nos anos 60] de norte velho, norte novo e norte
novíssimo. Na década de 80 [e também na atual] esta distinção não tem a mesma
expressão que tinha, pois os mecanismos que geraram a diferenciação regional foram
alterados em sua concretude, e uma nova regionalização põe-se em marcha
(CORREA, 2003, p. 44).
Em estudos clássicos da geografia brasileira relacionados ao processo histórico de
colonização, ocupação econômica e demográfica do Paraná, era comum fazer referência à
existência de vários nortes no estado. O próprio IBGE (1968, pp. 450-455) considerava haver
as já mencionadas “Microrregiões Homogêneas” do Norte Velho, Norte Novo e Norte
Novíssimo, posteriormente (1977, pp. 41 e 122) subdividias em Norte Velho de Jacarezinho,
Norte Novo de Londrina, Norte Novo de Maringá, Norte Novo de Apucarana, Norte Novíssimo
de Paranavaí e Norte Novíssimo de Umuarama. Por mais que a divisão político-administrativa
oficial do país tenha mudado em 1990 (passando a serem adotadas as mesorregiões geográficas
Norte Pioneiro Paranaense, Norte Central Paranaense e Noroeste Paranaense) e depois
novamente mudado em 2017 (passando a serem adotadas as regiões intermediárias de Maringá
e Londrina), defendemos aqui (de modo sucinto) a tese de que, no que se refere à canavicultura
paranaense, essa proposta dos três Nortes (Velho, Novo e Novíssimo) foi e ainda é igualmente
válida.
Ainda sobre o início do processo fabril do açúcar no Paraná, temos algumas análises já
clássicas. De acordo com Bray e Teixeira (1980, p. 19), foi apenas próximo ao término da 2ª
Guerra Mundial que foram começadas as obras de implantação das primeiras usinas
paranaenses. Foram estas a Central Paraná, Agricultura, Indústria e Comércio, localizada no
município de Porecatu, por iniciativa de Ricardo Lunardelli e seus filhos João e Urbano,
oriundos de Sertãozinho (SP); e da usina Bandeirante, em Bandeirantes, numa parceria entre
Luiz Meneghel, Dovílio Ometto, Nida Corrente Dedini, Manoel Moreno Filho e José Vizioli,
todos de Piracicaba (SP). Estas foram implementadas num momento em que o IAA havia
flexibilizado e assim facilitado a construção de novas unidades agroindustriais canavieiras no
país. Já Gileno Dé Carli (1996) apresenta uma versão mais rica em detalhes, e pouco diferente
da de Bray e Teixeira. Para este autor, mantida a política de estímulo à produção açucareira
feita nas áreas onde durante o período da guerra havia ocorrido desabastecimento crônico da
mercadoria (assim como escassez de combustível veicular), anunciou-se a Resolução 103, de
21 de março de 1945. Ficou então determinada a concessão de novas cotas, equivalentes a mais
700 mil sacas, a serem distribuídas após minuciosa avaliação dos projetos voltados à
implantação de novas usinas. Tais projetos foram encaminhados ao Instituto do Açúcar e do
Álcool (IAA), devendo estar em acordo com o edital publicado no Diário Oficial da União de
16 de julho de 1945. Para a concessão dos direitos de montagem de novas unidades
agroindustriais no país teriam preferência, em igualdade de condições, pessoas físicas ou
jurídicas que ainda não fossem proprietárias de usina. Segundo Dé Carli (1996, p. 427, grifos
nossos), no julgamento das propostas, tiveram prioridade:
Ainda de acordo com Dé Carli (1996), no Paraná três candidatos participaram do edital
de concorrência publicado em 1945. Apenas o projeto apresentado pela firma comissária de
café Lima, Nogueira & Cia, de Santos (SP), foi tido como plenamente adequado, recebendo a
alocação de 20 mil sacas para a instalação do empreendimento no município pioneiro de
Sertanópolis. Posteriormente a empresa chegou a receber autorização para dobrar o volume de
sua produção, mas, como até 1949 não havia implementado seu projeto, sua licença de operação
caducou e foi cancelada (BRAY e TEIXEIRA, 1980, p. 20). Houve, ainda nesse contexto do
pós-guerra, uma contenda pouco esclarecida, envolvendo a proposta originalmente feita ao IAA
pelo Juiz Distrital de Cambará, Zoroasto Arantes, e a Companhia Melhoramentos Norte do
Paraná (CMNP), que redundou na definição de Jacarezinho como local da construção da usina
e da CMNP como beneficiária da concessão. Assim, em 1946 a Companhia Agrícola Usina
Jacarezinho, em Jacarezinho, foi inaugurada pelos grupos Gastão Vidigal e Gastão de Mesquita
Filho, da CMNP, investidores da capital paulista.
Ainda é importante destacar que o edital referente à instalação das usinas nesse estado
previa o regime de separação entre as atividades agrícola e industrial. Como apontaram Bray e
Teixeira (1980, p. 19), priorizou-se os projetos atrelados a um plano de povoamento e
colonização das terras vinculado ao cultivo canavieiro e a fabricação de açúcar. Devido a este
quesito, tanto a usina Jacarezinho quanto a Bandeirantes tiveram seus projetos de implantação
devolvidos para revisão, cabendo reconsideração. Feitas as alterações, foram aprovados, sendo-
lhes concedidas oficialmente as cotas de produção. Já a proposta de Ricardo Lunardelli previa
a criação de núcleos coloniais e de pequenas sítios em torno da usina, permitindo que os
lavradores se tornassem proprietários das terras (BRAY e TEIXEIRA, 1980 e DÉ CARLI,
1996).2 A Central Paranaense tornar-se-ia, anos mais tarde, a maior e mais moderna usina do
Estado.
A usina Bandeirante foi a única em operação no estado até a safra de 1946/47, quando
a Central Paraná registrou sua primeira safra. Na safra de 1947/48, também a usina Malucelli
passou a operar. De uma família de imigrantes italianos estabelecidos em Morretes, era há
tempos uma destilaria de aguardente, que passou a fabricar também açúcar no pós-guerra.
Nunca se tornou uma grande unidade agroindustrial, sendo reestruturada e mudando de nome
em 1958 e encerrado de vez suas atividades em 1971, quando sua cota de produção de 200 mil
sacas (cota superestimada, pois sua produção era sempre bastante inferior) foi transferida para
a usina Jacarezinho. Não tinha canaviais próprios, dependendo inteiramente do fornecimento
de terceiros. Sobre a localização desse empreendimento, tratava-se de uma zona inadequada
para o moderno cultivo agroindustrial de cana. No entanto, o município de Morretes era um
polo aguardenteiro que contava em seu histórico com um grande financiamento concedido pelo
Governo Imperial em 1878 para a edificação do Engenho Central de Morretes. A companhia
proponente, liderada pelo recifense Adolpho Lamenha Lins (ex-presidente da província) e pelo
parnanguara Tenente-Coronel José Celestino de Oliveira, recebeu os incentivos oficiais, mas
jamais implementou a obra.3 Assim, em 31/12/1948 o Paraná tinha 3 usinas completas (com
turbina e vácuo), 3 engenhos turbinadores, 13 engenhos de açúcar e 253 engenhos de rapadura.
Com relação ao “aparelhamento” das usinas, 2 tinham destilarias capazes de extrair álcool
anidro e 4 produziam álcool hidratado. Além disso, haviam 283 destilarias de aguardente
cadastradas junto ao IAA. Ao término da década de 1940 o processo agroindustrial da cana-de-
açúcar havia de fato se iniciado no estado.
2
Não se tratou de algo tão pacífico e harmônico como poderia supor. Vide os verbetes “Revolta do Quebra Milho”
e “Guerra de Porecatu” no próprio Google, assim como a reportagem disponível em
https://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,guerra-do-quebra-milho-imp-,655607 , acesso realizado em 19 de maio
de 2019.
3
Ver os documentos em https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-6639-31-julho-
1877-549158-publicacaooriginal-64512-pe.html e https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-
1899/decreto-8046-16-marco-1881-546214-publicacaooriginal-60147-pe.html , acessos realizados em 19 de maio
de 2019.
Tamás Szmrecsányi (1979, p. 236) afirmou que “década de 1950 transcorreu sob o signo
da expansão da agroindústria canavieira” no Brasil. Tal afirmação é ainda mais verdadeira no
que se refere ao caso paranaense, podendo inclusive ser estendida para os anos 1960. A década
de 1950 inicia-se (e encerra-se) com apenas quatro unidades em funcionamento (Bandeirante,
Central Paraná, Jacarezinho e Malucelli), mas cujas produções cresciam exponencialmente.
Durante toda a década de 1950 a produção paranaense era quase que exclusivamente composta
por açúcar cristal, sendo a Central Paraná a maior produtora, com larga e crescente vantagem
sobre as demais. Em seguida vinham a Bandeirantes e a Jacarezinho, sendo que esta última se
destacava também pela produção de álcool anidro utilizado como combustível de forma
mesclada com a gasolina em teores variáveis. A Malucelli, como já mencionado, tinha uma
produção modesta devido a inadequação de sua localização edafoclimática.
Com a Revolução Cubana, na virada da década de 1950 para a de 60, o IAA vislumbrou
a possibilidade do Brasil se tornar um grande exportador de açúcar para os EUA, ocasião em
que foi concedida grande ampliação das cotas de produção em âmbito nacional. No Paraná,
além da ampliação das cotas atribuídas às usinas já existentes, na safra de 1963/64 foi autorizada
a conversão do engenho turbinador São Francisco dos Olhos D’água naquela que se tornou a
quinta unidade agroindustrial canavieira do estado, a usina Santa Teresinha. Esta “daria origem
a um dos maiores grupos usineiros do Brasil na atualidade” (BRAY e TEIXEIRA, 1980, p. 25).
Vindos da cidade paulista de Quatá, o casal Júlio e Angelina Meneguetti se mudou para o
recém-criado município de Maringá. Em 1949 instalaram um alambique para a produção de
aguardente, que quase 15 anos mais tarde seus filhos Albino, Felizardo, Hélio, Irineu, José e
Mauro Meneguetti, juntamente com a irmã Terezinha e o cunhado Alberto Seghese,
transformaram em fábrica de açúcar. Na safra de 1964/65 a usina Central Paraná sustentou o
terceiro maior registro de produção de açúcar do Brasil, ficando atrás apenas das usinas
paulistas Da Barra e São Martinho – essas foram as únicas três a superar a casa de 1 milhão de
sacas produzidas.
TABELA 1 – Paraná e Brasil: produção de açúcar, 1944-1965
Apenas após 1975, com a crise açucareira e energética que desencadeou o lançamento
do Programa Nacional do Álcool (PNA ou Proálcool), foi que o cultivo canavieiro se
interiorizou um pouco mais no Paraná. Nesse ano uma forte geada dizimou os já envelhecidos
cafezais daquele estado, fazendo com que diversos agricultores se organizassem em
cooperativas e pleiteassem junto ao governo estímulos para a montagem de destilaras
autônomas de álcool (TEIXEIRA, 1988). Além das quatro unidades açucareiras já existentes
antes do PNA, que implantaram ou expandiram as destilarias anexas em suas plantas industriais,
começou a surgir novas unidades agroindustriais canavieiras no Paraná. Em 1977 a destilaria
autônoma Casquel, localizada no município de Cambará foi a primeira no estado a receber
autorização de funcionamento. Em 1978 já eram 2 destilarias autônomas em operação no
estado, em 1979 eram 4 e em 1980 já se somavam 7 unidades em operação. Sobretudo entre
1980 e 1985 foi que se verificou um grande incremento no número de agroindústrias e nas
plantações, que se expandiram por municípios sem nenhuma tradição nesse cultivo. O apogeu
foi verificado no ano de 1988, quando havia no Paraná 25 destilarias autônomas, cujas
capacidades produtivas variam enormemente, todas colocadas em operação com os incentivos
creditícios do PNA: Alto Alegre, Americana, Casquel, Cidade Gaúcha, Coamo, Coanto,
Cocafé, Cocari, Cofercatu, Coopcana, Cooperval, Coopicar, Copagra, Corol, Cotal, Dacalda,
Dail, Damisa, Goioerê, Melhoramentos, Mideçu, Sabarálcool, Santa Laura, São José e Vale do
Ivaí. Como se nota pelas nomenclaturas, o estado se destacou em nível nacional pela presensa
de cooperativas de produção de álcool combustível. Pode-se dizer, entretanto, que a maior parte
desses empreendimentos não obteve sucesso. As exceções foram aquelas que, depois do
colapso do PNA em 1990, converteram-se em empresas açucareiras, e não apenas alcooleiras.
Ainda que diversas agroindústrias canavieiras paranaenses tenham encerrado as atividades com
a guinada liberal e o fim da tutela estatal e dos subsídios governamentais conferidos ao álcool
combustível, em seu conjunto o que permitiu ao Paraná manter-se produzindo cana foi a
adaptação e o redirecionamento das unidades destiladoras de álcool para o mercado açucareiro.
Num primeiro momento visava suprir sua própria demanda, uma vez que o estado consumia o
produto comprado de São Paulo, e num segundo momento tornou-se exportador da commodity
para o mercado mundial, então em processo de liberalização.
GRÁFICO 1 - Paraná: produção de açúcar e etanol, 1991-2011
Os dados apontam que na década atual houve redução tanto na área, em hectares cultivados,
como produção, em toneladas colhidas, pondo fim a uma sequência de crescimento de quase
40 anos. Tal contração se deu sobretudo após a safra de 2013/14.
TABELA 2 – Paraná: área e produção de cana-de-açúcar, 2008-2017
4 – Considerações Finais
A constatação de que nas últimas safras o cultivo de cana no Paraná tem perdido importância
relativa no coloca algumas hipóteses, ainda por serem melhor investigadas. A primeira é a de
que a concorrência com as novas zonas canavieiras surgidas ou reforçadas em período recente
nos outros estados que compõem a Macrorregião Sucroenergética do Centro-Sul (SP, MS, MG,
GO) trouxeram grande impacto negativo para o setor paranaense. A segunda hipótese é a de
que outros cultivos agrícolas, em especial a soja, tem concorrido com a cana em situação de
maior vantagem. Sendo esse cultivo tradicionalmente muito arraigado no estado, pode-se supor
que no momento atual a cana está perdendo espaço para a leguminosa. Fatores como a crise
financeira, que assola o setor sucroenergético de modo generalizado, questões ambientais e
fatores climáticos também devem ser tomados em consideração. De acordo com os últimos
dados divulgados pela CONAB (2019, p. 37), para a atual safra de 2019/20 a área de corte de
cana-de-açúcar está estimada em 538,4 mil hectares, o que representa redução de 5,4% em
relação à safra anterior. Segundo a análise, tal redução “está atrelada à preferência das unidades
de produção por áreas mais planas, que sejam aptas para a realização da colheita de forma
mecanizada, além da concorrência que o setor enfrenta com outras culturas, como soja e milho”.
O mapa 1 (conjunto de mapas) atesta não apenas para essa redução verificada na
segunda metade da década de 2010 e já mencionada, como ainda reforça nossa tese inicial de
que, no que tange à canavicultura paranaense, permanece válida a ideia clássica dos três nortes,
o velho, o novo e o novíssimo. Após uma fase inicial lindeira ao rio Paranapanema e
consequentemente também ao território paulista, posteriormente o cultivo canavieiro “migrou”
para um primeiro oeste, no entorno da cidade de Maringá, para finalmente, no período mais
recente passar a ocupar prioritariamente uma porção ainda mais a oeste, junto à Paranavaí.
MAPA 1 – Paraná: produção de cana-de-açúcar (t), 1975, 1995, 2015 e variação entre 2015 e
2017
MAPA 2 – Paraná: Localização dos canaviais e das usinas sucroenergéticas, 2003 e 2013
5 - Referências Bibliográficas
CORREA, Roberto Lobato. Interações espaciais. In: CASTRO, I. E. de; GOMES, P. C. da C.;
CORRÊA, R. L. Explorações geográficas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997.
CORRÊA, Roberto Lobato. Região e Organização Espacial. São Paulo: Editora Ática, 2003.
DÉ CARLI, Gileno. História do Instituto do Açúcar e do Álcool. Recife: editora do autor, 1996.
SANTOS, Milton. Por uma geografia nova. São Paulo: HUCITEC-EDUSP, 1978.