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Resumo
Com o presente trabalho analisa-se o processo de regionalização do Estado do Paraná e
suas lógicas específicas, oriundas da ação de diversas secretarias de Estado, autarquias e
órgãos públicos. Insere-se na importante discussão a respeito de como a definição das
regiões de cunho administrativo, tomadas enquanto mecanismos de poder anulam ou
pouco consideram a participação e a construção social. A regionalização do Estado a
partir da implementação da LOAS é apresentada como uma nova possibilidade, capaz
de renovar as práticas existentes.
Abstract
Regionalization Process in Paraná State and the LOAS Implementation (Lei Orgânica
de Assistência Social)
This paper analyses the regionalization process in Paraná State by the specific events
generated by the actions of public authority and public organizations. The paper also
discusses the regional administration definition while not considers the participation and
the social construction. The regionalization process based in the implementation of the
LOAS is hoped to renew the existing methods.
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1. Introdução
Apesar de antigo, o conceito de região ganha relevância na atualidade, na
medida em que se vincula às novas possibilidades de regionalização, oriundas dos
processos recentes de democratização e participação social, dentre eles a própria
implementação da Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS, bem como as iniciativas
relativas a implementação de práticas mais transparentes de gestão e decisão, da qual o
orçamento participativo é um exemplo significativo.
O presente trabalho coloca-se como uma primeira aproximação de tal discussão,
na medida em que pretende compreender o processo de regionalização do Estado do
Paraná e as lógicas específicas de regionalização oriundas de diversas secretarias de
Estado, autarquias e órgãos públicos, trazendo à tona uma importante discussão a
respeito de como a definição das regiões de cunho administrativo, tomadas enquanto
mecanismo de poder anulam ou pouco consideram a participação e a construção social.
Trata-se, assim, de uma imposição de limites regionais, que norteiam as decisões
políticas e que se apresenta descolada da realidade.
Tal análise é oportuna, na medida em que se coloca como pré-condição para a
compreensão da espacialidade produzida pelo processo de implementação da política de
assistência social no estado do Paraná, o qual possibilitará uma rediscussão acerca das
identidades regionais no estado e de como as mesmas são consideradas no âmbito das
políticas públicas.
Assim, parte-se da hipótese de que a regionalização proposta pelo processo de
implementação da LOAS, conformaria regiões com um novo conteúdo social, em razão
da duas questões chaves apontadas no corpo da lei, quais sejam: descentralização
administrativa e organização popular.
A presente análise não é conclusiva, posto que o projeto de pesquisa que lhe dá
sustentação encontra-se em andamento. Ressalta-se que o presente texto se dedicará a
tarefa de permitir uma visão geral acerca do processo de regionalização do Estado do
Paraná, porém, sem perder de vista sua relação maior com a implementação da LOAS.
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2. Região e regionalização
O conhecimento cientifico não se desenvolve de forma linear, sendo seu
processo composto por avanços e retrocessos, encontra na diversidade de concepções
teóricas o seu desenvolvimento (LENCIONI, 1999).
Na concepção de região não é diferente, por ser um tema complexo e trabalhado
em vários ramos do conhecimento cientifico como a História, Política, Antropologia e
Sociologia, no caso da História, “a região será definida pelas relações sociais que nelas
se estabelecem” (VISCARDI, 2001, p. 88), mas é “no âmbito da geografia que se
constrói e se discute o que seria região e a Geografia Regional” (LENCIONI, 1999, p.
22), como afirma Priori (apud VISCARDI, 2001, p. 88) “a região é uma construção de
geógrafos”. Há importantes trabalhos de geógrafos e não-geógrafos que contribuíram
para a discussão do tema, constituindo-se num pluralismo teórico.
Os trabalhos de GOMES (1995), CORRÊA (1997) E LENCIONI (1999) fazem
uma reconstituição histórica do conceito de região perpassando pelas correntes
epistemológicas que influenciaram a ciência geográfica. Assim, ora a região aparece
como categoria-chave de análise espacial ora como técnica, na segunda possibilidade
GOMES (1995, p. 63) defende que “o estabelecimento de regiões passa a ser uma
técnica da geografia, um meio para demonstração de uma hipótese e não mais um
produto final de pesquisa (...) a região passa a ser um meio e não mais um produto”.
CORRÊA (1997) considera o ano de 1970 como o momento da ruptura de duas
trindades conceituais de região. Desde a Geografia ter se institucionalizado como
Ciência (séc. XIX) até a década de 1970, três importantes acepções de região foram
estabelecidas por geógrafos: a região natural, concebida “como uma porção da
superfície terrestre identificada por um especifica combinação de elementos da natureza
como, sobretudo, o clima, a vegetação e o relevo, combinação que vai se traduzir em
uma especifica paisagem natural” (CORRÊA, 1996, p. 184), sendo de interesse dos
geógrafos físicos. Na segunda acepção região-paisagem baseada no historicismo
neokantiano, a região passa a ser vista como área de ocorrência de uma mesma
paisagem cultural. Enquanto a terceira acepção considera a região como uma construção
intelectual, criada a partir de propósitos específicos.
A partir da década de 1970, a discussão sobre região incorpora os novos
paradigmas da geografia tendo como conseqüência novos conceitos. A região aparece
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a região não existe em si mesma, ela não é objeto de estudo no significado restrito do
termo, pois ela se conforma no final do processo de investigação, processo esse que com
a elaboração de critérios definidos no processo de investigação constrói o recorte
espacial [...] as regionalizações são produtos de inter-relações de fenômenos que o
pesquisador seleciona, fazendo com que a região se constitua no final do processo de
investigação (LENCIONI, 1999, p. 201).
No que tange a região, percebe-se que ganha uma forte conotação nas políticas
públicas seja para o planejamento estatal ou para a promoção do desenvolvimento. Na
gestão do Governador Jaime Lerner (1995-2002), houve uma mudança na ótica do
planejamento estadual, com o estabelecimento de uma regionalização que dividiu o
estado em sete regiões: Região Metropolitana de Curitiba, Eixo Maringá-Londrina,
Costa Oeste, Costa Leste, Região do Norte, Regiões Oeste / Sudoeste e o Centro-Sul do
Estado, que resultaram na reestruturação econômica do Paraná afim de promovê-lo e
atrair investimentos.
Na atual gestão do governo Roberto Requião (2003 - ....), a região está sendo
vista como um meio para concretizar os seus objetivos para o Paraná que são: o
desenvolvimento sustentável e a inclusão social. Para isso, estabeleceu políticas de
desenvolvimento e planos de ação, “que possam ver o Paraná como um todo, resultado
da soma de todas as suas potencialidades, voltados para reduzir as disparidades
regionais e sociais” (PARANÁ, 2003).
A Política de Assistência Social por meio da implementação da LOAS e da
implantação do SDPAS, apresenta as principais características do “modelo de gestão
democrático-participativo: ênfase na ação local, descentralização (divisão de tarefas e
delegação de poder), interface e integração de políticas e programas setoriais”
(BATTINI, 2003, p. 09).
O aprofundamento da análise do processo de constituição da regionalização que
dá sustentação a implementação da LOAS, se constitui na próxima etapa de trabalho,
quando serão avaliados os critérios utilizados para o agrupamento dos municípios e,
mais do que isso, a dinâmica que envolve tais municípios no âmbito de suas relações, de
modo a confirmar a hipótese inicial de que a regionalização criada por esse processo, de
fato conformaria regiões com um novo conteúdo social.
5. Referências