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UNIVERSIDADE DO RIO GRANDE DO NORTE

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
GEOGRAFIA REGIONAL DO BRASIL
Yasmin Varela

REFERÊNCIA - França, Karla Christina Batista de. As experiências de


regionalizações, políticas públicas e o papel do Estado brasileiro no século XXI. n. v,
28 (2013), p.26-66. Curitiba, Departamento de Geografia – UFPR.

No texto intitulado ‘As experiências de regionalizações, políticas públicas e o


papel do Estado brasileiro no século XXI’ a autora Karla França traz de forma
sucinta uma análise que visa apresentar as “diferentes perspectivas de
regionalizações” que ocorreram ao longo do século XX e ocorrem ao longo do
século XXI, com intuito de exibir os fatores condicionantes para o ordenamento
territorial e outras contribuições que geram o fomento de políticas públicas. Através
de três partes distintas, a autora explora as diversas perspectivas de regionalização
e seu impacto no ordenamento territorial, bem como o papel desempenhado na
formulação e implementação de políticas públicas. Em primeiro momento há
apontamentos sobre os conceitos de região e regionalização, para tais resultados a
mesma destaca a contribuição da ciência geográfica e do banco de dados do
Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia para determinar os alinhamentos sobre
as definições de região, regionalização e divisões territoriais. Em segundo momento
apresentam-se as análises das políticas e programas nacionais, assim como as
estratégias de regionalização visando o desenvolvimento (econômico e social) e a
redução das desigualdades, apontando as potencialidades de cada região, pelo
Eixo Nacional de Integração e Desenvolvimento e a Política Nacional de
Desenvolvimento Regional, destacando como essas políticas consideram critérios
técnicos e diferentes abordagens de regionalização. Esta parte é crucial, pois
demonstra como o governo nacional tem buscado abordagens específicas para
atender às necessidades de diferentes regiões do país, reconhecendo as diferenças
e as disparidades regionais. Por fim, o artigo oferece uma visão equilibrada,
apontando tanto as limitações quanto os avanços alcançados por meio das políticas
públicas que se basearam nas regionalizações. Essa seção permite que o indivíduo
compreenda os aspectos e definições sobre o progresso alcançado em termos de
desenvolvimento regional e redução das desigualdades, bem como as áreas que
ainda precisam de melhorias. Ao fazer isso, a autora oferece e atribui uma avaliação
crítica e realista das políticas públicas brasileiras, o que é fundamental para orientar
futuras estratégias de desenvolvimento regional.
Em Região e Regionalização: uma leitura geográfica, inicia-se a análise
enfatizando a importância das matrizes teóricas da ciência geográfica na
compreensão do conceito de região. No entanto, França escolhe não se aprofundar
nestes constructos teóricos, optando por focar em rupturas e continuidades na
leitura da região, especialmente no contexto das regionalizações brasileiras. Essa
abordagem busca fornecer uma visão panorâmica das mudanças conceituais e
metodológicas relacionadas à regionalização no Brasil ao longo do tempo. Uma das
razões para destacar essas rupturas e continuidades é a consideração de que a
historiografia das divisões regionais oficiais do IBGE leva em conta não apenas os
aspectos analíticos da conceituação de região, mas também as experiências
práticas de regionalização no país. Isso abre caminho para análises historiográficas
que conectam teoria e empirismo, permitindo uma compreensão mais completa dos
avanços, critérios e metodologias que moldaram o espaço geográfico brasileiro. A
autora concorda com Rogério Haesbaert ao destacar que o conceito de região não
se limita apenas a recortes empíricos ou à categoria analítica, mas requer a
mediação entre o real e o analítico. Essa abordagem leva a uma discussão sobre os
percursos analíticos e condicionantes do conceito de região, particularmente na
história da geografia como ciência.
França destaca e menciona a institucionalização da Geografia como ciência
no final do século XIX, atribuindo esse processo à simultaneidade do movimento do
capital monopolista em busca de novas áreas para expansão territorial e ao
desenvolvimento da ciência geográfica nas instituições de ensino superior na
Europa. Esse contexto histórico influenciou a produção científica da geografia e
contribuiu para diferentes concepções epistemológicas que continuam a ser
relevantes no século XXI. Além disso, destaca-se que a transformação da ciência
geográfica muitas vezes está ligada às escolas do pensamento geográfico, com
ênfase nas escolas alemã e francesa. No entanto, ele adverte contra o reducionismo
que ocorre quando se associa a produção de pensamento de autores a uma única
escola geográfica ou ao Estado, enfatizando a complexidade e a diversidade do
pensamento geográfico. O movimento de explorar a evolução do pensamento
geográfico e sua influência nas regionalizações, exibe-se em destaque como a
vinculação de várias matrizes do pensamento geográfico a uma escola específica
pode levar a generalizações e distorções na interpretação de obras importantes,
como as de Paul Vidal de La Blache e Friedrich Ratzel. Ambos os autores, segundo
Moreira (2008), centraram sua atenção na relação entre o homem e a natureza,
embora com abordagens diferenciadas na questão da apropriação do homem em
relação à natureza. A importância da institucionalização da geografia no Brasil,
especialmente com a chegada de geógrafos franceses, que influenciaram diferentes
linhas de pesquisa e métodos. Isso ocorreu em instituições acadêmicas como a
Universidade de São Paulo, a Universidade do Brasil (atual UFRJ), o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e em publicações como a Revista
Brasileira de Geografia (RBG) e o Boletim Paulista de Geografia. Essas influências
estrangeiras tiveram um impacto significativo na maneira como a geografia foi
abordada no Brasil.
França sugere que a transformação da noção de região está profundamente
relacionada aos elementos teóricos da ciência geográfica e aos processos
espaciais. A relação entre homem e natureza, incluindo elementos naturais e
‘humanizados’, desempenha um papel crucial na forma como as abordagens
teóricas e empíricas moldaram o pensamento geográfico alemão e francês, e como
influenciou a formulação de divisões regionais no Brasil. O texto faz referência à
primeira regionalização oficial do Brasil em 1941, que se baseou na articulação dos
elementos constituintes das regiões naturais das matrizes clássicas da geografia.
Essa regionalização deu ênfase aos fatores físicos, como tipos de clima, vegetação
e formas de relevo, para definir a uniformidade das áreas geográficas. A escolha
metodológica de enfatizar aspectos naturais para delimitar as regiões foi baseada
na estabilidade desses elementos físicos e facilitou a coleta de dados estatísticos
por um longo período, sem grandes mudanças nos limites das regiões. No entanto,
o texto também destaca que a primeira regionalização oficial não deve ser vista
como uma abordagem única. Antes da sua instituição, existiam várias propostas de
regionalizações com objetivos diversos, desde fins didáticos até o ordenamento
territorial. Isso remonta ao século XIX, com as primeiras tentativas de regionalização
em 1843, como mencionado por Bezzi (2004).
O texto avança na análise das regionalizações no Brasil, destacando que,
historicamente, os critérios naturais nem sempre foram dominantes na delimitação
de regiões antes da institucionalização oficial pelo Conselho Nacional de Geografia
(CNG). Um exemplo significativo é a regionalização proposta por Delgado de
Carvalho em 1913. Essa regionalização foi notável porque incorporou elementos de
outras regionalizações e avançou ao considerar critérios tanto naturais quanto
socioeconômicos em sua delimitação. Fábio Guimarães, que estava envolvido em
estudos junto à comissão do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
resgatou essa regionalização para servir como base para uma regionalização oficial
do país.
A autora levanta a questão crucial: por que era importante pensar em uma
regionalização oficial para o Brasil naquela época? Para entender essa
necessidade, é necessário examinar o contexto da produção do espaço nos anos
1930, durante o período do Estado Novo, quando houve uma forte centralização das
diretrizes políticas. Nesse ambiente político, era fundamental para o governo federal
conceber o território em termos de uma única divisão que fosse reconhecida por
todas as instituições. Nesse contexto, o IBGE, liderado por Fábio de Macedo Soares
Guimarães, foi encarregado de desenvolver uma regionalização para o país. Várias
propostas foram consideradas pela comissão de Fábio Guimarães, mas a
regionalização elaborada por Delgado de Carvalho, com alguns ajustes, foi a
escolhida e amplamente adotada em livros didáticos e na identidade geográfica
cotidiana dos brasileiros. A regionalização de Delgado Carvalho se baseou na
trilogia de aspectos naturais, humanos e econômicos para identificar as paisagens.
Esses elementos foram utilizados para analisar o território, embora de maneira
pontual e fragmentada. A opção de Fábio Guimarães por essa regionalização foi
justificada por sua capacidade de fornecer grandes recortes uniformes e ser
adequada para uso a longo prazo, como observado na análise de Magnago (1995).
O texto continua a explorar as nuances da primeira regionalização oficial do
Brasil em 1941, destacando as adaptações feitas devido às mudanças territoriais
ocorridas. No entanto, o foco principal da análise recai sobre as diferenças nos
critérios metodológicos utilizados na regionalização, que revelam abordagens
distintas em relação à importância dos aspectos naturais e socioeconômicos na
definição das regiões. Por um lado, as fontes de pesquisa enfatizaram a importância
dos critérios naturais como "fator dominante" na delimitação das Grandes Regiões
Brasileiras. Por outro lado, nas zonas fisiográficas, autores como Bezzi, Magnago e
Correa apontam que foram utilizados elementos socioeconômicos como principais
definidores, resultando em uma perspectiva de região diferente daquela das regiões
naturais. A matriz geográfica francesa, em particular, estruturou a ideia de região
com base em elementos humanos, como formas de habitação e tipos de produção
de trabalho. Nas zonas fisiográficas da divisão regional brasileira, houve
consideração tanto das características naturais (clima, vegetação, formas de relevo)
quanto da predominância dos fatores humanos (tipos de produção) que modificaram
o território, tornando esses elementos estruturadores, ou seja, o "fator dominante".
As discordâncias em relação à primeira regionalização oficial foram, em grande
parte, baseadas na fragilidade dos critérios metodológicos. Para as grandes
unidades, os critérios naturais foram utilizados, enquanto para as unidades
menores, as zonas fisiográficas, predominaram os critérios socioeconômicos. Essa
abordagem metodológica frágil, de acordo com Correa e Magnago, poderia
potencialmente alterar os próprios recortes propostos, uma vez que os critérios
socioeconômicos são dinâmicos espacialmente ao longo do tempo e podem
apresentar variações significativas. A primeira regionalização oficial também reflete
a preocupação de delimitar e centralizar as decisões políticas. Isso se encaixa no
contexto político da época, que confirmou a centralidade do Estado nas diretrizes e
investimentos em diferentes partes do território brasileiro. A regionalização serviu
como uma ferramenta para consolidar o poder do Estado e evitar movimentos
separatistas, estabelecendo a centralidade do território como um elemento essencial
nas relações de poder em várias escalas. Em última análise, as regionalizações
refletem a articulação dessas complexas relações de poder no espaço geográfico.
Avançando no tempo, destaca-se a transição da primeira regionalização
oficial, que perdurou até meados de 1969, para uma nova divisão regional. Para
compreender essa mudança, é essencial contextualizar os 27 anos que separam
essas duas regionalizações e considerar os avanços no campo da ciência,
especialmente na ciência geográfica, que foram influenciados pela introdução de
elementos do positivismo lógico. Nesse período, houve importantes mudanças nas
análises geográficas com um viés neopositivista, que levaram a críticas
fundamentais aos pressupostos da matriz clássica e ao método regional. Os
geógrafos neopositivistas argumentaram que os pesquisadores da matriz clássica e
do método regional haviam aprimorado a observação e a descrição, mas não
haviam avançado na explicação dos fenômenos geográficos por meio do
estabelecimento de leis. Eles contribuíram para a compreensão das regiões como
sistemas abertos, introduzindo conceitos como entropia e isotropia. Sob essa
perspectiva, o espaço geográfico passou a ser analisado de acordo com princípios
da Nova Geografia, que enfatizava o rigor linguístico e a aplicação de protótipos
teóricos, além de incorporar a linguagem matemática, postulados, axiomas e
influências da Física, como leis gravitacionais. Essas mudanças no conhecimento
científico e nas abordagens teóricas tiveram implicações profundas na forma como o
território e as regiões eram compreendidos. Diante desses avanços e das
transformações na produção, surgiu a necessidade de repensar o ordenamento
territorial. Isso levou à revisão da regionalização oficial existente e à criação de uma
nova divisão regional que considerasse as perspectivas e metodologias mais
atualizadas da ciência geográfica.
Portanto, a mudança na regionalização em 1969 refletiu não apenas
mudanças políticas ou administrativas, mas também uma mudança fundamental na
abordagem teórica e metodológica da geografia, influenciada pelas correntes
neopositivistas e pela incorporação de novos conhecimentos científicos. Essa nova
abordagem buscava uma compreensão mais profunda e explicativa dos fenômenos
geográficos, indo além da mera descrição e delimitação das regiões.
Os pressupostos da Nova Geografia influenciaram as pesquisas geográficas
no Brasil, especialmente nas décadas de 1960 e 1970. Essa influência foi notável
não apenas em termos de teoria, mas também na metodologia utilizada em
pesquisas e na própria revisão da regionalização promovida pelo IBGE em
1969/1970. A Revista Geográfica do IBGE (RBG) desempenhou um papel
importante na disseminação das pesquisas e contribuições relacionadas ao
aprimoramento de métodos e metodologias. Além disso, houve uma contribuição
significativa dos pressupostos metodológicos da Nova Geografia para a nova
regionalização do IBGE realizada nesse período. Isso incluiu a adoção de conceitos
como hierarquização e influência das regiões funcionais e nodais brasileiras. O
autor menciona que, de acordo com Faissol (1975), foram realizadas análises
baseadas em metodologias como a Teoria dos Grafos, a Teoria de Berry, a Teoria da
Cadeia de Markov, que foram relacionadas com as metodologias da Teoria dos
Lugares Centrais. Em resumo, nesse período, o método de regionalização se
baseou em teorias e modelos da Economia Espacial, demonstrando um
compromisso com uma abordagem mais rigorosa e explicativa na análise
geográfica. Além disso, França ressalta que o incentivo à reestruturação e
desenvolvimento das regiões brasileiras foi impulsionado por políticas regionais
específicas. Foram criadas superintendências de desenvolvimento regional, como a
SUDAM em 1966, a SUDECO em 1967 e a SUDESUL em 1969, entre outras. O
objetivo dessas iniciativas era promover políticas que enfrentassem as
desigualdades regionais e promovessem o desenvolvimento em todo o país. É
evidente a convergência entre os avanços na teoria geográfica, as metodologias
mais rigorosas e a implementação de políticas regionais como elementos essenciais
para a reestruturação e desenvolvimento das regiões brasileiras naquela época.
Essa abordagem demonstra a importância da ciência geográfica no planejamento e
desenvolvimento do país.
O texto aborda uma mudança significativa na abordagem da regionalização
no Brasil, em que os elementos naturais e humanos deixaram de ser os fatores
dominantes na definição dos pressupostos regionais. Em vez disso, a formulação
dos pressupostos e dos princípios das regionalizações passou a se basear em
teorias aplicadas e testadas, refletindo uma abordagem mais moderna e científica.
Essa mudança nos pressupostos regionais levou à constituição de novos elementos
definidores de uma região, bem como das ações de regionalização. Ao comparar as
duas regionalizações do IBGE (1941 e 1969), o texto destaca algumas diferenças
na metodologia e nos elementos utilizados para a definição da ação de regionalizar.
Uma das diferenças notáveis diz respeito aos grandes recortes regionais. Por
exemplo, na regionalização de 1941, a região Sudeste não era considerada uma
região autônoma, e seus estados faziam parte da região Sul com base em critérios
naturais. Somente com a regionalização de 1969/1970, a região Sudeste foi
delimitada como uma Grande Região, e essa delimitação foi baseada em critérios
que consideravam as análises espaciais de funcionalidade das variáveis
econômicas dessa área em correlação com a projeção econômica do sistema de
relações e polarização dos fluxos. Isso demonstra a necessidade de articular o
conceito de homogeneidade com o de funcionalidade. Nos anos de 1960-1970,
além das propostas para a nova regionalização oficial (1969), também surgiram
abordagens que propunham a regionalização com base em sua funcionalidade. Por
exemplo, o geógrafo Pedro Pinchas Geiger (1969) desenvolveu uma regionalização
com base em variáveis relacionadas à divisão territorial do trabalho e à
especialização dos setores produtivos brasileiros. Isso refletiu o modelo industrial
em crescimento na época, demonstrando como a regionalização se adaptava às
mudanças na estrutura econômica do país.
A transição da regionalização no Brasil de uma abordagem que enfatiza os
elementos naturais e humanos para uma abordagem mais complexa e funcional,
baseada em teorias testadas e em análises espaciais de funcionalidade econômica.
Essa mudança refletiu a evolução da ciência geográfica e a necessidade de uma
regionalização que se adequasse às transformações econômicas e sociais do país.
A autora continua a explorar as diferentes abordagens metodológicas
utilizadas na regionalização do Brasil, destacando o trabalho de diversos geógrafos
que adotaram critérios socioeconômicos para a definição das regiões. Essas
abordagens levaram em consideração as contradições que marcaram o
desenvolvimento desigual nas várias regiões do país.Geiger, por exemplo, elaborou
uma regionalização em 1969 com base em critérios socioeconômicos que
homogeneízam, polarizam e hierarquizam as regiões, refletindo as desigualdades
de desenvolvimento. Ele dividiu o Brasil em três macrorregiões geoeconômicas:
Amazônia, Nordeste e Centro-Sul. Os limites dessas macrorregiões foram
estabelecidos considerando construtos de polarização e hierarquização, o que
resultou em fragmentos de municípios e unidades federativas que pertencem a duas
macrorregiões. Becker, por sua vez, em 1972, desenvolveu uma regionalização que
se baseava na estrutura espacial brasileira hierarquizada em centro-periferia. Ela
analisou os fluxos regionais da produção e criou uma espacialização com base nas
hierarquias urbanas e na centralidade dos elementos polarizadores que
influenciaram diferentes partes do território brasileiro. Sua regionalização foi
caracterizada pela estrutura centro-periferia, que refletia as relações entre
infraestrutura, fluxos e integração. Além disso, em 1972, o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) iniciou estudos das regiões funcionais urbanas com
base nas hierarquias e influências das cidades brasileiras. Esses estudos levaram
em consideração a concentração produtiva e de pobreza nas metrópoles. Segundo
Magnago (1995), essa abordagem permitiu uma leitura do território que facilitou a
implementação de políticas públicas mais eficientes, como uma política
regionalizada de desenvolvimento e a racionalização no suprimento de serviços de
infraestrutura urbana por meio de uma distribuição mais adequada.
As abordagens metodológicas demonstram como a regionalização do Brasil
evoluiu ao longo do tempo, incorporando critérios socioeconômicos e hierárquicos
para refletir as complexas dinâmicas de desenvolvimento e desigualdade presentes
no país. Elas também destacam a importância da geografia como ferramenta para
orientar políticas públicas e planejamento territorial mais eficazes.
A evolução das metodologias de regionalização no Brasil, concentrando-se
nas análises das regiões funcionais urbanas, que se baseiam nas hierarquias e
influências das cidades brasileiras. Essas análises, que começaram em 1972, se
tornaram fundamentais para orientar políticas públicas mais eficientes e para a
distribuição adequada de serviços de infraestrutura urbana. Em 1978, os estudos
das regiões funcionais urbanas foram avaliados e, posteriormente, publicados
novamente em 1987 sob o título "Regiões de Influência das Cidades (REGIC)".
Essa metodologia se baseou nos estudos de Michel Rochefort, que analisou a
estrutura das regiões francesas com base na influência dos centros e na
especialização da rede de fluxos. A estruturação da base de dados foi realizada em
colaboração com o EPEA (atual IPEA). Em 1993, novos estudos da REGIC foram
conduzidos e publicados em 2000. Essas análises se concentraram na dinâmica
dos anos 1990, um período marcado pela descentralização política, pelo movimento
municipalista e pela competição fiscal e produtiva entre as unidades da federação.
Durante os anos 1990, as redes, especialmente as redes informacionais,
desempenharam um papel significativo na organização do espaço urbano. Os
estudos da REGIC de 2008 refletem mudanças na metodologia para melhor
espacializar as transformações na dinâmica das redes urbanas no Brasil.
Inicialmente, os centros e suas áreas de influência foram classificados, retomando o
estudo da Divisão Regional do IBGE de 1972. Essas análises demonstram como a
compreensão das regiões funcionais urbanas é crucial para o planejamento urbano
e regional, especialmente à medida que o Brasil passou por transformações
políticas, econômicas e espaciais ao longo das décadas. Elas destacam a
importância de considerar não apenas as hierarquias urbanas, mas também as
mudanças nas funções e na distribuição dos serviços nas cidades brasileiras para
uma abordagem mais eficaz na regionalização e no desenvolvimento urbano.
Na segunda etapa da análise, foi adotada uma abordagem que se baseou em
dados secundários fornecidos por órgãos das unidades federativas e entidades
privadas. Esses dados foram utilizados para estabelecer diferentes níveis de
centralidade em relação às cidades analisadas, a saber: centralidade administrativa,
centralidade jurídica e centralidade econômica. Essa abordagem permitiu capturar
as dinâmicas de novos centros urbanos que possivelmente não haviam sido
identificados anteriormente. Além disso, na segunda etapa da análise, foram
incorporados elementos relacionados a equipamentos e serviços urbanos. Isso
significou considerar não apenas a importância econômica ou administrativa de uma
cidade, mas também sua capacidade de fornecer infraestrutura e serviços
essenciais para a região circundante. Uma vez que os níveis de centralidade e a
presença de equipamentos e serviços foram definidos, o próximo passo foi
hierarquizar os núcleos de gestão do território. Isso envolveu estabelecer uma
classificação ou ordem de importância para as cidades com base em sua influência
e capacidade de gestão sobre o território circundante.
Por fim, as análises foram correlacionadas entre as cidades, o que permitiu
identificar o grau de articulação e hierarquização das redes urbanas. Isso é
fundamental para compreender como as cidades interagem umas com as outras e
como estão integradas na organização espacial mais ampla. Essa metodologia
complexa demonstra a abordagem cuidadosa e abrangente utilizada na análise das
regiões funcionais urbanas, levando em consideração múltiplos aspectos que vão
além da simples hierarquia urbana, como os serviços, a infraestrutura e a
capacidade de gestão territorial. Isso proporciona uma compreensão mais completa
das dinâmicas urbanas e regionais.
Os avanços na pesquisa geográfica baseada em teorias e modelos da
Economia Espacial trouxeram uma compreensão mais aprofundada das dinâmicas
econômicas e territoriais do Brasil. Isso permitiu a consideração de variáveis como
fluxos econômicos e sua dinâmica no território, em correlação com as hierarquias
das redes urbanas. Nesse contexto, destacam-se as pesquisas que buscaram
espacializar o território brasileiro a partir da divisão territorial do trabalho, utilizando
conceitos como homogeneidade-funcionalidade e centro-periferia. Essas
abordagens contribuíram para avanços significativos nas ações de regionalização e
na compreensão da produção desigual-combinada no território brasileiro. Geiger e
Becker, juntamente com outros estudiosos, desempenharam papéis importantes na
análise e na estruturação metodológica das ações de regionalização. Eles
consideraram os novos processos que moldaram a dinâmica brasileira nas décadas
de 1970 e 1980, como as mudanças político-econômicas, a crise dos anos 1980 e o
processo de abertura política e redemocratização. Esses processos foram
relacionados às análises críticas da geografia, o que resultou em uma compreensão
mais complexa do território brasileiro.
As contribuições de Milton Santos, em particular, foram fundamentais para
repensar as bases teóricas da ciência geográfica e para analisar o território
brasileiro como uma totalidade. Em 2001, Santos apresentou uma regionalização
estruturada com base nos pressupostos do materialismo dialético. Ele relacionou o
processo histórico de formação dos complexos regionais às características do meio
técnico-científico informacional, propondo uma regionalização em quatro complexos:
Região Concentrada, Região Centro-Oeste, Região Nordeste e Região Amazônica.
Essas abordagens mais sofisticadas e multidisciplinares da geografia contribuíram
significativamente para a compreensão das dinâmicas regionais e territoriais do
Brasil, permitindo uma análise mais profunda das forças que moldam o país.
A profusão de relações de poder e as mudanças ocorridas no final dos anos
1980 e início dos anos 1990, marcadas pelo aprofundamento da globalização e pela
crescente conexão em redes técnicas-informacionais, levaram o IBGE a repensar
sua regionalização oficial de 1969/1970. Ficou claro que a estrutura existente não
conseguia capturar adequadamente a dinâmica da estrutura brasileira diante dessas
transformações. No ano de 1988, o IBGE iniciou o processo de revisão da estrutura
da divisão regional, com foco especial nas mesorregiões e microrregiões. Essa
revisão propôs uma metodologia baseada em critérios estruturantes do processo
social, ou seja, nos eixos econômicos que estruturam o território nacional na escala
da mesorregião. No entanto, uma mudança significativa foi que essa nova
abordagem utilizou as Unidades Federativas como base, em vez da homogeneidade
que tinha sido adotada anteriormente. A revisão da regionalização do IBGE para as
mesorregiões e microrregiões ocorreu nos anos de 1989 e 1990, refletindo uma
tentativa de se adaptar às mudanças nas dinâmicas econômicas, sociais e políticas
do país. Vale ressaltar que a estrutura das Grandes Regiões ainda foi mantida com
base nos critérios da regionalização de 1969/1970, demonstrando a complexidade e
a continuidade desse processo de análise e adaptação das divisões regionais no
Brasil.
Os critérios utilizados para a reavaliação do ordenamento territorial brasileiro
nas mesorregiões geográficas na regionalização de 1989/1990 foram abrangentes e
consideraram diversos elementos. Estes incluíam o processo social como um
determinante importante, os aspectos físicos como condicionantes, a influência das
redes de comunicação e sua articulação espacial. Para as microrregiões, os critérios
levaram em conta as especificidades da estrutura de produção, como as
articulações das estruturas industriais, a agropecuária, o extrativismo e outros
fatores relacionados. O resgate histórico dos elementos, critérios e metodologias
utilizados para a ação de regionalizar o território brasileiro demonstra que o ato de
dividir o território em regiões não é uma tarefa simples e envolve múltiplos aspectos.
Além disso, essas regionalizações não são meras representações estáticas do
território, mas sim ações de poder que buscam ordenar o território de acordo com os
interesses e objetivos específicos de cada momento histórico. As regionalizações
podem atender a interesses extremamente precisos e variar em seu caráter de
acordo com os objetivos que buscam alcançar. Isso significa que as divisões
regionais são dinâmicas e podem ser moldadas de acordo com as necessidades e
as perspectivas políticas, econômicas e sociais em jogo em um determinado
momento. Portanto, as regionalizações são instrumentos poderosos de gestão
territorial e refletem as relações de poder que permeiam a organização do espaço
geográfico.
O século XXI trouxe consigo uma multiplicidade de regionalizações, muitas
das quais são estruturadas com base em critérios variados, dependendo das
políticas públicas setoriais em questão. Cada uma dessas propostas de políticas
públicas pode resultar em diferentes recortes regionais, adaptados às necessidades
específicas de cada programa. Além disso, essas regionalizações não são
exclusivamente definidas a nível nacional; muitas vezes, são também realizadas
pelas Unidades Federativas e municípios, em conformidade com seus próprios
planos plurianuais e programas. A Constituição Federal de 1988 concedeu maior
autonomia aos municípios, o que permitiu que muitos deles desenvolvessem suas
próprias regionalizações com base em suas demandas e necessidades locais. Isso
contribuiu para a diversificação das abordagens de regionalização em todo o país.
Em relação à regionalização oficial realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), houve iniciativas no ano de 2008 para atualizar a divisão regional
do Brasil, a fim de torná-la mais compatível com as transformações
socioeconômicas e as novas dinâmicas do país. No entanto, até o momento, não
houve uma análise aprofundada para a disponibilização de uma nova regionalização
oficial.
A atualização da regionalização é um desafio importante, pois requer o
reconhecimento dos novos agentes que influenciam o território brasileiro e a
elaboração de critérios que capturem a diversidade e complexidade das relações
que estruturam e produzem o território. Cada vez mais, as regionalizações são
fundamentais para a eficiência e efetividade das políticas públicas, uma vez que
ajudam a direcionar os recursos e esforços de forma mais precisa, de acordo com
as necessidades específicas de cada região. Portanto, a evolução das
regionalizações é um processo contínuo que deve refletir as mudanças na realidade
do país.
A atualização da regionalização oficial do Brasil é essencial para possibilitar
análises e intervenções mais eficazes no espaço, levando em consideração as
novas dimensões da realidade do país. As regionalizações desempenham um papel
fundamental ao subsidiar as estratégias de intervenção das políticas públicas.
Repensar a regionalização oficial e as diversas outras regionalizações com base em
critérios eficientes permite a alocação mais precisa de investimentos e ações das
políticas públicas. Ao mesmo tempo, proporciona a articulação dessas políticas,
permitindo ações intersetoriais que levam em conta os diferentes recortes regionais
de forma integradora. As regionalizações administrativas, historicamente
construídas, geralmente têm como base o conceito de região funcional. Embora as
atualizações dessas regionalizações tenham incorporado novos critérios além da
funcionalidade, é importante reconhecer que essas regionalizações têm uma base
histórica e podem ser sujeitas a mudanças e adaptações à medida que as
necessidades e realidades do país evoluem. O avanço tecnológico e as
transformações socioeconômicas podem influenciar a revisão das regionalizações,
tornando-as mais adequadas para atender às demandas contemporâneas. A
regionalização é uma ferramenta importante para orientar políticas públicas e ações
governamentais, e sua constante atualização é fundamental para garantir que essas
políticas atendam às necessidades em constante mudança da população e reflitam
a dinâmica da sociedade e da economia brasileira. análise das regionalizações
realizadas nos Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento de 1996 e na
Política Nacional de Desenvolvimento Regional de 2003-2010, bem como suas
propostas para 2011-2015 (a segunda fase da PNDR), é fundamental para
compreender como essas políticas impactam o desenvolvimento regional no Brasil.
A análise se baseia em três elementos norteadores: caracterização geral da política,
metodologia de regionalização da política e estratégia de ações.
No tópico ‘Caracterização geral dos Eixos Nacionais de Integração e
Desenvolvimento (ENIDs)’ explora como na década de 1990, o Brasil passou por
transformações significativas, incluindo a abertura econômica, a crise do modelo de
substituição de importações e o aprofundamento da globalização. Essas mudanças
também influenciaram a política de desenvolvimento regional. O neoliberalismo
ganhou espaço, resultando em uma maior ênfase no setor privado na alocação de
recursos. Os ENIDs, como parte desse contexto, buscaram promover o
desenvolvimento regional por meio de investimentos em infraestrutura e atração de
investimentos privados. No entanto, essa abordagem tinha suas limitações,
incluindo a falta de coordenação entre as ações e uma abordagem que favorecia as
regiões já consolidadas em termos de infraestrutura econômica.
A metodologia de regionalização das políticas de desenvolvimento regional
desempenha um papel fundamental na definição das áreas de atuação e alocação
de recursos. É importante entender como as regiões foram identificadas e
categorizadas, quais critérios foram utilizados e como esses critérios refletiram as
características socioeconômicas e geográficas de cada região. Isso ajuda a
determinar se as políticas foram eficazes na promoção do desenvolvimento regional
equilibrado.
Além da regionalização, é fundamental analisar as estratégias de ação
adotadas nas políticas de desenvolvimento regional. Isso inclui a identificação de
projetos e programas específicos, bem como a alocação de recursos para essas
iniciativas. A eficácia das estratégias de ação também deve ser avaliada em termos
de seu impacto na melhoria das condições socioeconômicas das regiões-alvo. A
análise das políticas de desenvolvimento regional no Brasil ao longo das décadas é
crucial para compreender como o país abordou a questão das desigualdades
regionais e promoveu o desenvolvimento equilibrado em todo o território nacional.
Ela também fornece insights sobre como as políticas podem ser aprimoradas no
futuro para enfrentar os desafios regionais em constante evolução.
Os Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento (ENIDs) foram uma
política desenvolvida no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
(FHC) em resposta à ineficácia das superintendências de desenvolvimento regional
e às novas diretrizes de planejamento regional dos anos 1990, que estavam
alinhadas à integração econômica e à competitividade internacional. A principal
premissa dos ENIDs era a necessidade de integrar o Brasil e torná-lo mais
competitivo globalmente, focando no desenvolvimento de corredores de exportação.
Isso enfatizava a importância da infraestrutura, especialmente no setor de
transporte, como um meio de promover o desenvolvimento regional. Os ENIDs se
baseiam em cinco eixos de integração nacional e dois eixos continentais, Eixo de
integração Norte-Sul; Eixo de integração Oeste; Eixo de integração Nordeste; Eixo
de integração Sudeste; Eixo de integração Sul; Saída para o Caribe; Saída para o
Pacífico. Esses eixos tinham como objetivo integrar e articular o escoamento da
produção via oceano Atlântico, buscando reduzir custos e fortalecer a produção
nacional.
A autora explica que no segundo mandato de FHC, foram realizadas análises
adicionais para avaliar a viabilidade da implantação dos eixos, envolvendo o Banco
Nacional de Desenvolvimento (BNDES), o Ministério do Planejamento e o consórcio
Brasiliana. Isso resultou em mudanças nos eixos propostos, com nove eixos se
concentrando no fomento à competitividade e no fortalecimento global, sem
distinguir entre eixos nacionais e internacionais. Os ENIDs foram vistos como uma
transformação nas diretrizes do desenvolvimento regional brasileiro, passando de
estratégias de ocupação do território para premissas geoeconômicas baseadas em
integração e competitividade econômica. No entanto, houve críticas aos ENIDs,
especialmente em relação à fragmentação do território brasileiro e à falta de ações
abrangentes para enfrentar as desigualdades regionais. A política enfatizava regiões
já consolidadas em termos de infraestrutura econômica, o que levantou
preocupações sobre a ampliação das disparidades regionais. Os ENIDs refletem um
período de reorientação das políticas de desenvolvimento regional no Brasil, com
um foco maior na integração econômica e na competitividade global, mas também
geraram controvérsias e debates sobre seus impactos nas desigualdades regionais.
A metodologia utilizada para a regionalização dos ENIDs difere daquela
empregada pelo IBGE para delimitar macrorregiões. Enquanto as macrorregiões do
IBGE são definidas com base na continuidade geográfica e nas redes de transporte
para projeções de interações, os ENIDs basearam sua regionalização na
infraestrutura econômica.
O critério central para espacializar os recortes dos ENIDs foi a revisão da
definição do que significava um "eixo". De acordo com a proposta técnica do
Consórcio Brasiliana, os eixos nacionais de integração e desenvolvimento foram
definidos da seguinte forma: Eixo nacional de integração e desenvolvimento
corresponde a um corte espacial composto por unidades territoriais contíguas,
definidas com objetivos de planejamento e cuja lógica está relacionada às
perspectivas de integração e desenvolvimento consideradas em termos espaciais.
Dois critérios foram levados em conta: 1) existência de uma rede multimodal de
transporte de carga de alta capacidade, efetiva ou potencial, permitindo
acessibilidade aos diversos pontos situados na área de influência do eixo. 2)
Possibilidades de estruturação produtiva interna, ou seja, atividades econômicas
que definem a inserção do eixo em um espaço mais amplo (nacional ou
internacional), incluindo seus efeitos multiplicadores na sua área de influência.
Essa definição enfatizou a importância da infraestrutura de transporte e da
capacidade de desenvolvimento econômico nas áreas abrangidas pelos eixos.
Assim, os eixos não foram delimitados apenas com base em critérios geográficos ou
populacionais, mas também com foco na infraestrutura econômica e nas
perspectivas de desenvolvimento que poderiam ser alcançadas. Essa abordagem
enfatizou a integração econômica e a competitividade global como principais
objetivos dos ENIDs, visando fortalecer a economia brasileira e torná-la mais
competitiva no cenário internacional. No entanto, como mencionado anteriormente,
essa estratégia gerou críticas, especialmente relacionadas à fragmentação do
território e à falta de ações abrangentes para enfrentar as desigualdades regionais.
A delimitação das áreas de influência dos Eixos Nacionais de Integração e
Desenvolvimento (ENIDs) foi realizada considerando diversos critérios que visavam
a afirmar a coerência interna desses eixos em relação à produção, consumo e
hierarquias socioeconômicas. Os critérios utilizados foram os de fluxo de transporte,
hierarquia funcional de cidades, focos dinâmicos, condicionantes ambientais,
distribuição espacial da população. A combinação desses critérios permitiu a
definição das áreas de influência dos ENIDs de forma a considerar não apenas
aspectos geográficos, mas também econômicos, sociais e ambientais. O objetivo
era criar eixos que fossem coesos internamente e que tivessem potencial para
promover o desenvolvimento econômico e a integração das regiões abrangidas.
Os Projetos-Âncora dos Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento
(ENIDs) desempenharam um papel crucial na implementação das estratégias de
ação desses eixos. Destacando-se alguns dos projetos-âncora, Porto de Sepetiba
(RJ), Teleporto do Rio de Janeiro, Gasoduto Bolívia-Brasil. Esses projetos-âncora
estavam alinhados com as estratégias dos ENIDs, que visavam à integração
econômica e ao desenvolvimento regional. Eles representaram importantes
investimentos em infraestrutura e logística, contribuindo para a conectividade
econômica e a redução de custos em diferentes setores. Além desses projetos
destacados, outros também desempenharam papéis essenciais na implementação
dos ENIDs, abrangendo diversas regiões do Brasil e setores econômicos.
Os ENIDs representaram uma inovação nas políticas de desenvolvimento
regional no Brasil, com um foco significativo em infraestrutura e logística para
potencializar o crescimento econômico e a competitividade internacional. No
entanto, houve uma série de críticas e desafios associados a esses projetos. Alguns
pontos importantes destacados pela autora são os investimentos em infraestrutura e
logística, desigualdades regionais, critérios de delimitação dos eixos, participação
do setor privado, impacto ambiental, foco na competitividade global e fragmentação
regional. Os ENIDs também representaram uma tentativa de impulsionar o
desenvolvimento econômico e a competitividade do Brasil no cenário global por
meio de investimentos em infraestrutura e logística. No entanto, esses projetos
enfrentaram desafios relacionados à distribuição desigual de recursos, critérios de
delimitação, impacto ambiental e dependência do setor privado. A discussão sobre
os ENIDs destaca a complexidade das políticas de desenvolvimento regional e a
importância de considerar uma abordagem mais equilibrada para lidar com as
desigualdades regionais no Brasil.
A Política Nacional de Desenvolvimento Regional representou uma mudança
significativa nas diretrizes de desenvolvimento regional no Brasil em comparação
com os Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento . Alguns dos principais
pontos relacionados à caracterização geral da PNDR, o contexto político,
enfrentamento da desigualdade regional, objetivos diferenciados, ênfase nos
processos endógenos, escalas geográficas múltiplas, consolidação como política de
estado e critérios para escala de atuação. A PNDR representou uma mudança
significativa nas políticas de desenvolvimento regional no Brasil, com um foco maior
na redução das desigualdades regionais, na promoção de desenvolvimento
endógeno e em uma abordagem mais flexível que considera diferentes escalas
geográficas. Essa política buscou criar estratégias mais adaptadas às necessidades
específicas de cada região do país.
A metodologia da Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR)
envolveu a seleção de indicadores e a criação de índices para classificar os
municípios prioritários para a intervenção da política. Aqui estão os principais pontos
da metodologia da PNDR, seleção de indicadores, indicadores de renda,
indicadores de PIB per capita, tratamento espacial estatístico, sextilização e
espacialização nacional. A metodologia da PNDR envolveu a seleção cuidadosa de
indicadores socioeconômicos, a criação de índices para avaliação do
desenvolvimento regional e a aplicação de análises estatísticas espaciais para
classificar os municípios em grupos (sextis) de acordo com seu desempenho em
relação a esses indicadores. Essa metodologia ajudou a identificar as áreas
prioritárias para intervenção da política de desenvolvimento regional.
França realiza uma análise implacável e detalhada das políticas de
desenvolvimento regional no Brasil, especificamente os ENIDs e a PNDR. A mesma
destaca a metodologia utilizada em ambas as políticas para identificar áreas
prioritárias de intervenção e aborda as categorias de unidades regionais criadas a
partir dessa metodologia. Também é apontado os desafios enfrentados por essas
políticas no contexto brasileiro, incluindo a necessidade de fortalecer os fundos de
investimentos para garantir a efetividade das ações de enfrentamento das
desigualdades regionais. Além disso, destaca a importância de buscar uma maior
integração e intersetorialidade entre diferentes políticas públicas, levando em
consideração os distintos recortes regionais e metodologias utilizadas por cada uma
delas. No geral, o texto oferece uma análise aprofundada das políticas de
desenvolvimento regional no Brasil, explorando aspectos metodológicos e desafios
enfrentados, bem como levanta questões importantes para futuras análises e
reflexões sobre como a geografia pode contribuir para a eficiência dessas políticas
no território brasileiro.

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