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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES


DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
DOCENTE: ALESSANDRO DOZENA
DISCENTE: YASMIN VARELA

REFERÊNCIA
DOZENA, Alessandro. Geografia e Arte. Geograficidade, v. 10, n. Especial, p. 433.
2020. Capítulo 11: Horizontes geográfico-artísticos entre o passado e o futuro. p,
375-428.
GRANGER, G. G. A ciência e as ciências. São Paulo: Editora da Universidade
Estadual Paulista, 1994.

No capítulo 11 "Horizontes geográfico-artísticos entre o passado e o futuro”


do livro “Geografia e Arte” organizado pelo Prof. Dr. Alessandro Dozena, expõe a
conexão entre a ciência geográfica com as outras ciências e/ou outros campos
científicos, assim como nas diferentes infra-estruturas que compõem o tecido social
do lugar, criando um diálogo plural entre a arte e o campo geográfico. O capítulo
busca demonstrar que “a arte atualmente produzida em contextos espaciais
distintos pode complementar o conhecimento geográfico” (p. 378). E assim esse
encontro se estabelece nas intervenções artísticas sobretudo nos ambientes
urbanos, em planos de revitalizações de áreas centrais para usos culturais, o uso de
espaços para encontro de grupos musicais, de tradições populares e outros. Esse
diálogo é fortuito e pode desembocar em várias correntes, com perspectivas únicas
que ampliam as possibilidades da pesquisa no campo da Geografia.
O capítulo discorre sobre a importância da interdisciplinaridade em função de
quebrar o sistema hierárquico de poder que nasce dentro da academia e dentro dos
campos científicos, “argumentos que, aliás, contribuem para a consolidação das
disciplinas científicas como instituições de poder.” (p, 377). Dessa forma, torna-se
evidente que todo campo geográfico é e pode ser implementado em conjunto com
outra ciência, que neste caso é a conexão com a Arte. A possibilidade de
complementação e união com outros horizontes, tornam a Geografia ainda mais
capaz de permanecer presente em todo e qualquer campo, seja físico, contido no
espaço, ou fenomenológico estando presente nas ações e movimentos que
englobam o meio e tecido social, podendo ser encontrado nas produções artísticas.
Quando evidenciado a relação de conexão entre a arte e a geografia, o autor
exibe as diversas características dos campos científicos ou não que permeiam o
indivíduo, a arte e geografia como narrativas inacabadas de mundo, e não
hierárquicas, evidencia a quebra hegemônica da ciência como ponto e viés de
poder, assim, não só o campo científico é proveniente de certezas e debates em
torno dos modelos pré-estabelecidos, a arte expressa os sentidos do indivíduo, a
identidade e suas representações, estabelecendo suas sensações, a filosofia
constrói os conceitos, ao final, todos eles em conjunto apresentam um molde onde o
indivíduo vivencia todo arcabouço artístico-científico. A geografia entra nesse
contexto possibilitando os caminhos para análises e produções científicas com o
foco na arte e nas produções artísticas, quebrando os paradigmas que as ações e
os fenômenos culturais estão contidos apenas os antropólogos, “Há na atualidade o
desenvolvimento de reflexões sobre a arte, sendo que a geografia brasileira tem
sido nas últimas décadas especulativa e ao mesmo tempo imaginativa em suas
pesquisas em nível internacional, tendendo hoje a se afirmar como uma disciplina
analítica da arte (DOZENA, p. 378)”.
O autor evidencia que, a conexão cada vez mais rente entre a arte e a
geografia se imprime no espaço, sendo cada vez mais importante atentar-se ao
contexto urbano e ao tecido sócio-espacial. A “análise e interpretação do espaço e
da produção cultural em contextos territoriais distintos” é, sem dúvida, um dos
campos que mais atua como agente de união entre as interdisciplinaridades dos
diversos campos da Geografia, possibilitando que esta ciência seja capaz de
englobar toda esfera terrestre e antropológica em seu arcabouço.
A arte, dentro da Geografia, é historicamente dita nas representações
cartográficas ou nas representações paisagistas. No capítulo há apresentação das
obras do geógrafo Élisée Reclus, onde preocupava-se em representar as artes
figurativas e pinturas, nesse sentido Élisée buscava exprimir sua arte nas
representações cartográficas. “A experiência e vida de autores como Reclus nos
comprovam que a arte pode ser uma porta de entrada fértil para se compreender a
dinâmica espacial contemporânea, ampliar abordagens criativas, aprimorar os
procedimentos metodológicos, as representações conceituais e cartográficas, e
permitir o entendimento mais apurado dos espaços” (DOZENA, p. 382). O autor
declara que a conexão da ciência geográfica com a arte pode aprimorar, permitir e
remontar os conjuntos metodológicos, assim, criando uma nova forma de produzir,
detalhar e estudar o mesmo objeto, servindo também como ótica para compreender
os novos movimentos e dinâmicas sócio-espaciais contemporâneos, “Ao tomá-la
como tema de pesquisa, a arte, ou mais precisamente as espacialidades do mundo
da arte, podemos considerá-las como um modo de ver e compreender as
dimensões sócio-espaciais relacionadas ao posicionamento e ao papel estabelecido
pela arte e pelos artistas, sobretudo em contextos urbanos” (BOICHOT, 2014).
Os diálogos entre geografia e arte, permitem que nasçam campos entre o
inteligível e sensível, atingindo os campos fenomenológicos e subjetivos do
indivíduo que o produz. O autor aborda como a arte permite que a geografia
percorra áreas do sensível ou de uma ótica sensível em analisar o espaço/território.
Permitindo também que os fenômenos que ocorrem no espaço sejam vistos e
analisados de formas subjetivas, condensando cada aspecto do fenômeno. “As
artes permitem a configuração de uma geografia existencial e subjetiva, pela
elaboração de um conhecimento sensível dos territórios, que coloca em dúvida as
oposições entre o real e o imaginário, e entre o conhecimento e a ficção (DOZENA,
383)”. Nessa perspectiva, a arte permite utilizar outros diversos mecanismos para
captar os aspectos do imaginário, dessa forma, desbravando novos âmbitos que a
ciência adentra desde o século XX. Visar as ações artísticas do indivíduo no espaço
também é analisar os movimentos sociais geográficos e como os movimentos
culturais se perpetuam no espaço urbano e ao longo do tempo. Assim como
evidenciado no livro “As ciências e a ciência" do Granger, quando o mesmo trata os
fenômenos produzidos pelo indivíduo como uma "ciência empírica", porém, no caso
da arte, ela apresenta-se como ferramenta para novas possíveis análises no campo
geográfico, além de contribuir na horizontalização dos estudos e focos geográficos
culturais.
Os artistas fazem arte com o espaço e não só no espaço,
apreendendo-o subjetivamente. Também os geógrafos (as)
cada vez mais entram em ressonância com as abordagens
artísticas, para delas se apropriar, complementar ou revisar
suas contribuições. Somos convidados a sentir a improvisação
do cotidiano, a ouvir o outro com a plenitude de nossos
sentidos e a expressar das profundidades de nosso ser esse
diálogo crescente entre geografia e arte: algo que é sutil,
inteligível e sensível ao mesmo tempo (DOZENA, p. 386).

Em uma perspectiva “física” tangível, a arte pode ser enxergada além dos
âmbitos que há expõe como nos museus ou galerias. Nesse sentido, Dozena trás
para o debate a arte em forma de resistência, quando o indivíduo tenta sobreviver
às pressões de uma metrópole capitalista a arte apresenta-se como “ferramenta
geográfica” que auxilia em
Destacar e compreender os movimentos de construção (ou
desconstrução) do caráter público dos espaços, sobretudo em
contextos metropolitanos, onde a arte é apresentada pelos
artistas como forma de reinventar os espaços públicos,
redefinindo as relações de diferentes públicos nos diferentes
espaços, a partir por exemplo dos coletivos de artistas
(DOZENA, p. 388)
Nesse sentido, a cidade comporta todos os movimentos artísticos que
expõem a realidade do subjetivo, nas ações econômicas, políticas, que moldam a
vida e a analisa da mesma. A produção artística, a organização de espaços culturais
nas cidades e a economia política cultural local estão interconectados,
demonstrando a base de uma relação entre a criação de arte e a conformação dos
espaços. Somos por isso convidados a assumir uma atitude de geógrafos da arte,
nos variados contextos espaciais de produção de arte. Adotando essa perspectiva
geo-artística, podemos assumi-la contendo um caráter de uma certa geografia da
arte. Faz muito sentido nos interessarmos pelas manifestações artísticas na vida
cotidiana das cidades brasileiras, o que pode ser a base para a vanguarda de
nossos estudos (p, 389).
A arte é fundamental para a criação de outras realidades pelas inspirações
criativas que dela brotam, e permite que a geografia se reorganize
teórica-metodologicamente, em sua relação próxima, com e no mundo.
Metodologicamente, abordagens nos subcampos da geografia humanista-cultural e
da geografia urbana podem ganhar em consistência, adicionando aos métodos
geográficos tradicionais o confronto urbano de olhares com relação aos artistas.
Esse convite, no entanto, pressupõe um pré-requisito: a formação do olhar
geográfico à arte. A sensibilidade, o conhecimento e os modos de vida dos artistas
nas cidades, com suas criações, olhares e intervenções originais, podem ser uma
rica contribuição para melhor compreender e intervir nos espaços públicos, nos
fornecendo parâmetros adicionais para a nossa experiência de mundo e para a
invenção de novas possibilidades diante dos problemas nas grandes cidades (p,
391).
Portanto, ao perpassar todas as questões dentro desse debate é possível
afirmar que a cidade é o plano que capta e explora todas as produções humanas,
tangíveis e intangíveis, a arte se põe nesse cenário como ferramenta e agente
necessário para visualizarmos as ações empíricas e científicas de formas diferentes
e necessárias. A cidade é igualmente adornada com novas cores, sons e estéticas
com as artes de rua, que é uma arte efêmera e deambulatória. Com o teatro de rua,
por exemplo, alguns espaços das cidades tornam-se palcos. Por isso, a arte em
geral e criação artística em particular, a partir de seus lugares, seus atores, sua
relação íntima com a cidade, constituem não apenas um objeto de estudo fértil para
a geografia, mas também uma entrada relevante para o geógrafo (a) que tenta
decifrar as complexidades do urbano (p,393).

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