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Resumo
Introdução
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“O termo atuador, no teatro brasileiro, aparece pela primeira vez em um manifesto do Teatro
Oficina na década de 70, que trazia entre seus objetivos a busca por cativar o público que não tinha
acesso ao teatro; a ocupação de outros espaços, além dos teatros convencionais; a reformulação
da cena de forma que fosse concebida como um testemunho, sem divisão entre palco e plateia,
sem máscara, representação tradicional, maquiagem, fantasia ou qualquer elemento que pudesse
produzir fascínio ou distanciamento entre o espectador e a ação. A fim de cumprir todos esses
objetivos, a denominação ator – componente do grupo – deveria ser substituída por atuador” (SILVA,
1981, p. 203). No foco do presente projeto, os atuadores também se reconhecem como pesquisadores
durante os itinerários de investigação corpo-cidade. Por isso, “atuadores pesquisadores”.
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A prática da cena teatral para a rua, assim como para outros espaços não
convencionais de encenação, necessita de um constante refletir sobre as relações
estabelecidas entre atuadores e a semântica desses espaços. Por essa razão, ao se
colocarem também como sujeitos errantes na percepção de sua relação com as ruas
e os espaços urbanos, é que atuadores pesquisadores, em trabalho de preparação
para a linguagem do teatro de rua, permitem-se, empiricamente, práticas de grupo
que envolvem saídas para o espaço público e percepção sensível da cidade, debater
uma experiência artística, justamente dentro da ideia de porosidade — esta enquanto
trama de percepções histórico-afetivas envolvidas na relação de compreensão
sensível para com o espaço urbano.
Para que haja significação no processo que inclui a percepção do olhar sensível sobre
a cidade em todos os seus afetos, o artista também deve construir seu processo a partir
da experiência de seus próprios afetos sobre a cidade, oportunizando, assim, o conceito
híbrido e transdisciplinar proposto para preparação que antecede a experiência de
fruição pretendida para a etapa de intervenções urbanas. A manifestação teatral,
por conter um conjunto de signos, permite ao espectador a associação desses
signos pertencentes a esse sistema para que haja o processo de descoberta dos
seus significados (HONZL, 1988). Portanto, para um projeto artístico que se proponha
à produção de sentidos a partir de diversas possibilidades de experiências, vivências
e sensorialidades entre os que o vivenciam, é necessário considerar a investigação
no tocante às referências significativas que o artista envolvido, o atuador, irá operar.
Em vista disso, percebe-se, nesse campo investigativo de estudo, um significativo
debate que se refere a praticar a cidade também como criadores, dentro da
compreensão de que não são apenas os imóveis que estão presentes em uma
cidade, mas sim toda a memória coletiva que ela carrega em si e onde, neste debate,
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o teatro errante vem nos convidar a (re)pensar sobre esses sentidos. Percebe-se
a tríade sociedade-espaço-tempo como algo indissociável, não como relação de
pertencimento de um para com o outro, mas dentro de uma relação indissociável de
existência. Percebe-se esses sujeitos da ação na relação com os ambientes diversos
e enquanto partes interligadas constituintes do ensino-aprendizagem, em uma
relação que considere o caráter híbrido existente entre atuadores, espectadores e
espaço urbano.
O levantamento de uma metodologia de trabalho, portanto, que busque essa
porosidade de relações entre experiências concretas sobre arte e cidade é necessário.
A cidade é percebida/devorada em seus valores a partir de experiência significativa/
devoração cultural, que se dão tanto para os sujeitos passantes quanto para os
atuadores pesquisadores que se propõem a essa jornada errante, além de tecerem
itinerários a partir da busca pessoal de compreensão particular e coletiva de cidade
na construção da ação artística pessoal. Buscam-se trabalhos corporais de atuação
em teatro, dentro da procura de uma linguagem de apropriação desses sentidos da
cidade e da relação de si mesmos com o espaço e com o outro, como busca por essa
porosidade afetiva.
A proposta que relaciona devoração cultural e teatro de rua, quando pensada dentro
do panorama vivenciado pela sociedade global nos anos de 2020 e 2021, em que o
espaço público colocou-se como “perigoso” devido à pandemia mundial do vírus de
Covid-19, vem, a partir daqui, trazer um sentido extremamente mais potente enquanto
ação. Nunca se desejou tanto a devoração do espaço urbano, do espaço público.
Nunca se desejou tanto novamente a devoração das copresenças e a devoração
cultural do cotidiano de uma cidade. A arte pública, através de ações teatrais em
espaços da cidade, vem propor o retorno e a ampliação das possibilidades de
convivência em diversidade cultural e artística dentro de um contexto em que a
prática do teatro de rua e da arte pública faça-se cada vez mais necessária, e o
espaço urbano possa prevalecer como lugar de experiência estética.
Os goitacazes (cidadãos campistas) do presente trazem consigo, como herança
ancestral, toda a história que vem desses povos nativos dizimados, negros brutalmente
escravizados, europeus colonizadores, membros de ordens religiosas e tantas outras
histórias presentes nesses assuntos. De lutas, guerras, heróis e anti-heróis. Do horror e
injustiça à herança de danças e costumes de doces, frutas e cozidos. Essas reflexões
acerca da compreensão de pertencimento dentro das relações entre a sociedade
e a natureza urbana estão presentes no pensamento do fazer teatral para esses
espaços, trazendo a qualidade da experiência estética em arte como disparadora
da ideia de devoração cultural. Perceber-se Goitacá a partir da relação sensível que
é a construção cultural de si próprio com a cidade.
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Conclusões
Referências bibliográficas
HONZL, Jindrich. A mobilidade do signo teatral. In: GUINSBURG, Jacó; NETTO, José
Teixeira Coelho; CARDOSO, Reni Chaves (Orgs.). Semiologia do teatro. São Paulo:
Editora Perspectiva, 1988.
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RIBEIRO, Darcy. Utopia selvagem. 1. ed. São Paulo: Global Editora, 2014.
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