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A (IN)ADEQUAÇÃO SOCIAL E SUAS MÁSCARAS: a relação de si com o outro a

partir da ação social em Goffman e a busca do próprio clown em Lecoq

Takna Mendonça Formaggini1

O propósito deste trabalho insere-se na perspectiva de, dentro dos estudos sobre a
Etnocenologia, estabelecer um diálogo comparativo entre a ação social em Erving
Goffman (1985) e a pedagogia teatral de Jacques Lecoq (2010). Na intenção de
relacionar o comportamento humano de padrão do sujeito construído socialmente e,
por outro lado, o comportamento de desnudamento deste sujeito, ao experimentar, no
campo da ação teatral, um processo de construção de seu próprio clown, enquanto
aspectos ainda pouco debatidos nas relações entre sociologia e teatro, no campo dos
comportamentos e práticas espetaculares humanos organizados. A ideia da análise
parte das relações da máscara social e do comportamento social que é assumido pelo
sujeito a partir do momento de sua vida em que aprende em viver em sociedade na
medida em que este comportamento social predispõe culturalmente de uma
padronização onde o comportamento deve seguir um parâmetro onde haja o mínimo
de falhas comportamentais possíveis dentro destas construções simbólicas
individuais e coletivas. Goffman analisa a busca por uma adequação comportamental
que pretende evitar o riso metafórico da condenação social, comportamento este que
segue, quase que instintivamente, uma construção cultural que busca adequar a
imagem pessoal ao olhar do outro, aos espaços em que se circula e ao tempo histórico
em que se insere, tendo por fim dirigir e regular a impressão que formam a seu
respeito, incluindo aí a ideia de evitar ser/sentir-se ridículo. De outro lado, Lecoq, em
sua pedagogia de criação do próprio clown, observa um sujeito que confronta-se com
seu ridículo e tudo que é socialmente inadequado ao mundo social, buscando aceitar
sua condição de inadequação neste mesmo mundo, rindo de si mesmo e permitindo
aos outros rirem também, reconhecendo-se humano e permitindo reconhecer esta
humanidade nos outros. Para este estudo, tomamos como exemplo uma situação
ocorrida durante apresentação de uma cena de clown, onde a relação entre a dupla
cômica e os espectadores presentes nesta ocasião, nos permitiu observar situações
onde a compreensão de cotidiano e extracotidiano misturaram-se, promovendo a
observância da articulação vida-teatro observada por Goffman assim como, dentro da
mesma situação, a articulação teatro-vida observada por Lecoq. Condições
modificadas em novas configurações improvisacionais entre “cena” e “espect-ação”
invertem assim continuamente o jogo social de que nos falam Goffman e Lecoq, nos
colocando em diante de rupturas destas representação de ação social e que Goffman
chama de “intromissões inoportunas”. Colocamos aqui Goffman e Lecoq em diálogo

1Graduada em Licenciatura em Teatro pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO,


Pós-graduada (Lato Sensu) em Arte-Educação pela Universidade Cândido Mendes. Mestra em
Desenvolvimento Regional, Ambiente e Políticas Públicas pela Universidade Federal Fluminense –
UFF. Professora de Teatro do Instituto Federal do Rio de Janeiro – IFRJ.
takna.formaggini@ifrj.edu.br
na intenção de refletir sobre as relações arte-vida, corpo e comportamento nos
atravessamentos de sentidos e produção destas inúmeras possibilidades
espetaculares que, em suas relações com o com o mundo, ultrapassam fronteiras de
julgamentos, padrões sociais e amarras morais que orientam a vida em sociedade.
Palavras-chave: Etnocenologia; Clown; Ação Social.

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