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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA
Disciplina: sociologia/Curso: Ciência da Computação
Professor: Dr. Elio de Jesus Pantoja Alves
Aluno: José dos remédios monteiro amorim
Atividades em grupo: o trabalho deverá ser elaborado no máximo por três integrantes e será
brevemente apresentado por um dos integrantes a ser sorteado no dia da entrega: 16 de junho/2023
Das questões abaixo escolha duas para responder tendo em vista a sugestão de leituras de
tópicos/temas específicos discutidos em sala de aula!
1)Tendo por base a análise e comentários sobre Dialética e Materialismo apresentada entre as
páginas 28 e 39, bem como a análise sobre Trabalho, Alienação e Sociedade Capitalista entre as
páginas 51 e 56 da obra Um Toque de Clássicos (QUINTANEIRO, T. 2002), estabeleça relações
com o Filme O Dilema das Redes (Direção de Jeff Orlowski – Netflix; 89 minutos - 2019),
considerando os seguintes aspectos:
A questão da produção/programação de uma determinada forma de percepção do mundo dos
indivíduos e coletividades (, segundo a teoria marxista apresentada pelas autoras;
2)Tendo por base a análise e comentários sobre as noções de Coesão, Solidariedade e os Dois
Tipos de Consciências entre as páginas 77 e 96 da obra Um Toque de Clássicos (QUINTANEIRO,
T. 2002), estabeleça relações com o Filme O Dilema das Redes (Direção de Jeff Orlowski –
Netflix; 89 minutos - 2019), considerando os seguintes aspectos:
A questão da produção (“programação”?) de um determinado tipo de consciência coletiva e
individual segundo a teoria durkheimiana apresentada pelas autoras;
3) Tendo por base a análise e comentários sobre Os Tipos Puros de Ação e de Ação Social
apresentada entre as páginas 116 e 121 da obra Um Toque de Clássicos (QUINTANEIRO, T.
2002), estabeleça relações com o Filme O Dilema das Redes (Direção de Jeff Orlowski – Netflix;
89 minutos - 2019), considerando os seguintes aspectos:
A questão da Ação Social (conceito de Max Weber) e seus diferentes tipos destacamos aqui dois
tipos: a. Ação Racional com Relação a fins (conexão entre fins e meios); isto é, um tipo ideal de
ação que pode caracterizar a forma como os agentes atuam no mercado das Redes Sociais; b. Ação
social emocional/afetiva; motivada por sentimentos e/ou crenças arraigadas por processos
afetivos/emocionais. (exemplo dos algoritmos/ viés de conformação, etc..que podem reforçar
convicções individuais e coletivas fortalecendo determinados sistemas de crenças) Bom trabalho!

Vamos tentar usar questões 1, 2 e 3 para produzir texto.

O Dilema das Redes (2020), documentário lançado pela Netflix, dirigido por Jeff
Orlowski, conta com a participação de ex-funcionários e executivos de empresas como
Google, Facebook e Twitter que expõem os perigos causados pelas redes sociais. Eles
escancaram o domínio que essas mídias exercem no cotidiano da sociedade,
influenciando na forma em que pensamos, agimos e vivemos. Jogando luz sobre os
bastidores das grandes empresas de tecnologia, o documentário expõe a necessidade de
se atentar para a gratuidade dos aplicativos de redes sociais, uma vez que, como disse o
ex-designer do Google, Tristan Harris: “se você não está pagando pelo produto, então
você é o produto”. Isso lembra a aquela ideia de alienação de Karl Marx, Émile Durkheim
e Max Weber.
Segundo, Durkheim a sociedade é maior e se sobrepõe aos indivíduos e suas vontades
particulares, até o ponto de que o próprio ser social já não percebe mais a influência
coletiva sobre si. Seus modos de ser, pensar e agir, condicionados pela consciência
coletiva, já estão incorporados em seus hábitos individuais. Baseado nisso, dentre os
inúmeros pontos apresentados e discutidos pelo documentário está o monitoramento
constante exercido pelas redes sociais, já que fornecemos dados pessoais às plataformas
a todo momento. De acordo com o nosso comportamento nas redes, o algoritmo trabalha
para que apareçam no nosso feed apenas opiniões e conteúdo que nos interessam,
criando-se assim uma realidade personalizada, a chamada bolha de informação. Esse
cenário reforça as convicções pessoais de cada um e leva a pessoa a entender seu ponto
de vista como traço absoluto da verdade. Nos encontramos em um momento, marcado
pelo que se chama de pós-verdade, no qual ficções e distorções factuais podem ganhar
contornos de realidade. Partindo de um pressuposto lógico, moral e ético, fatos e verdades
científicas deveriam apresentar mais penso nas deliberações coletivas do que percepções
pessoais e crenças, porém o que ocorre, atualmente, é justamente o contrário. A realidade
pouco importa e sim a percepções que se pode produzir a partir dela. Em suma, essa nova
era tem como objetivo produzir discursos que contradizem a realidade criando, assim,
teorias da conspiração e disseminando fake News.
O boom da pós-verdade ocorreu durante as eleições norte americanas, em 2016, com a
vitória de Donald Trump; a polarização política é claramente um dos produtos dessa era.
Qualquer discurso, tese, pessoa ou ideia que vá contra o que certo grupo acredita, diz e
faz, são taxados como oposição. É um paradoxo, ao mesmo tempo que as pessoas
acreditam em tudo, também não acreditam em nada. Por isso, como nos informam Vera
França e Paula Simões (2017), os usos funcionalistas das mídias conformam um
importante âmbito de estudo para o campo da Comunicação. Nessa perspectiva, encara-
se a sociedade como um organismo. Nela a comunicação passa a compreendida a partir
de suas funções dentro do meio social. Ainda, tentou-se compreender, numa chave
behaviorista, a questão psicológica do consumo midiático, com enfoque na utilização do
condicionamento dos comportamentos para reformar e melhorar a sociedade, de acordo
com os interesses de uma classe específica. Em adição, é trabalhada a teoria da sociedade
de massa, relacionada à teoria da agulha hipodérmica. Nesse âmbito as respostas do
público à mídia são analisadas de maneira generalizada, colocando-o como receptor
passivo de conteúdo e possuidor de reações completamente uniformes.
Tais estudos se situam logo no início do século XX – com o início da imprensa de massa,
a criação do cinema, do rádio e da TV – e explicitam que o poder dos meios de
comunicação e sua capacidade de influência no modo de vida da sociedade podem ser
percebidos bem antes da popularização da internet. Atualmente, encaramos um novo
nível, uma nova fórmula, com novos métodos de condicionamento de opiniões e
comportamentos. Percebemos, na relação entre as redes sociais e os usuários, o uso da
ferramenta behaviorista para criar e manter uma dependência – daí o termo usuário. Como
citado no documentário analisado, somente duas indústrias utilizam tal termo ao tratar de
seus clientes: a das drogas ilegais e a de softwares. Além disso, ação social na visão de
Max weber? em suma, é qualquer ação humana com um significado subjetivo direcionada
a um outro ser humano, que é o principal teórico usado para pensar a ação social. Tendo
como base esse pensamento de weber. Percebemos claramente no documentário como os
pensamentos Ação Racional com Relação a fins e Ação social emocional/afetiva de weber
ficar evidente. Assim como é apresentado pelo documentário O Dilema das Redes, um
novo nível de manipulação surge sempre que um novo meio de comunicação se apresenta.
Durante um debate na Chicago AntiTrust Tech Conference o professor Kevin Murphy,
da Universidade de Chicago, argumenta que apesar das adaptações feitas na maneira de
viciar e influenciar os usuários, esse é só o mais recente “novo nível” de uma manipulação
há muito presente.
Para Weber, a ação social é aquela que é orientada ao outro. No entanto, há algumas
atitudes coletivas que não podem ser consideradas sociais. “Eu diria que os métodos
utilizados para brincar com a habilidade das pessoas de se viciarem ou serem
influenciadas podem ser diferentes dessa vez, e provavelmente são. Eles foram diferentes
quando os jornais chegaram e quando a imprensa surgiu, foram diferentes quando a
televisão chegou e você tinha três grandes canais. Mas a ideia de que há um novo nível,
e que este novo nível já aconteceu tantas vezes antes… O que quero dizer é que esse é só
o novo nível mais recente a ser observado”.
Seguindo a perspectiva de Mauro Wolf (1987), as mensagens da mídia são adequadas e
interagem de maneira diferente com os traços específicos da personalidade dos
destinatários. Analisando em associação com o documentário, é possível entender melhor
esta dinâmica. Com a personalização dos conteúdos nas redes sociais, são provocadas
reações e desejos únicos. A linha de raciocínio construída para encantar e engajar os
espectadores das mídias sociais digitais acaba seguindo o mesmo padrão econômico
cultural pré-definido das mídias tradicionais tratadas no texto de Wolf:
Construídos propositadamente para um consumo descontraído, não comprometedor, cada
um desses produtos reflete o modelo do mecanismo econômico que domina o tempo do
trabalho e o tempo do lazer. Cada qual volta a propor a lógica da dominação que não se
poderia apontar como efeito de um simples fragmento, mas que é, pelo contrário, próprio
de toda a indústria cultural e do papel que ela desempenha na sociedade industrial
avançada. (WOLF, 1987, p. 37)
É evidente, no entanto, assim como confirma o autor, que à medida que as posições da
indústria cultural se estabelecem e se enraízam, mais elas podem agir sobre as
necessidades do consumidor, guiando e disciplinando suas atitudes, opiniões e, como
expõe o documentário, o próprio clique. Em O Dilema das Redes, esta reflexão torna-se
pertinente, mas vai além ao revelar que, hoje, o usuário se torna produto, e não somente
consumidor: os clientes são as outras empresas que investem dinheiro nas redes sociais e
pagam para ter todas as informações sobre o usuário. Não obstante, independentemente
de ser considerado consumidor ou produto, o usuário permanece guiado e disciplinado
pela combinação infalível do algoritmo com o design de interface e com o conteúdo
estrategicamente elaborado, fazendo escolhas pautadas menos na consciência e mais na
dependência emocional do ambiente virtual.
Itânia Gomes (2005), em seu livro Efeitos e Recepção, também apresenta elementos
importantes para essa reflexão. A autora destaca uma contribuição direta dos estudos da
Sociologia e Psicologia para o campo da comunicação. Através dessas contribuições,
Gomes destaca que as diferenças psicológicas individuais passaram a se colocar entre
emissores e receptores. Os efeitos das mídias tornaram-se dependentes da eficácia da
mensagem; a teoria da agulha hipodérmica se torna antiquada, uma vez que é
incompatível com a realidade que o público alvo é inerte e passivo. Passa-se a
compreender a capacidade de persuasão das mensagens segundo a personalidade do
público, ou seja, cada grupo de pessoas reagirá à mesma mensagem de maneiras
diferentes.
Ainda nesse sentido, existem cinco princípios que categorizam as reações da audiência
sobre os conteúdos expostos. O princípio da exposição seletiva afirma que a audiência
não se expõe aos meios num estado de nudez psicológica; pelo contrário, ela apresenta
predisposições já existentes enquanto o princípio da atenção seletiva relata como
diferenças individuais resultam em diversos modelos de atenção ao conteúdo dos media.
Os princípios da percepção e ação seletiva dizem respeito a diferenças em fatores
cognitivos, culturais ou sociais que implicam diferentes processos perceptivos e distintas
interpretações da realidade e uma ação individualizada mediante a exposição à
determinada mensagem dos media. O que O Dilema das Redes evidencia é que as mídias
sociais, atentas para as predisposições psicológicas dos internautas, tentam limitar e
controlar, de alguma maneira, as possibilidades de recepção. Com a personalização dos
dados, as redes sociais apresentam uma realidade paralela, irreal, que são personalizadas
individualmente para que o usuário acredite que todas suas conexões são compartilham
da mesma opinião. A modificação é tanta que traz o questionamento sobre o que é
realmente verdade.
Podemos perceber a grande influência exercida pelos meios de comunicação na formação
sociedade moderna e em sua segmentação. Apesar da inquestionável força da internet e
das adaptações feitas para deixar-nos ainda mais expostos a ela, passamos a compreender
que esse é um aprimoramento de um modelo antigo. A atenção humana é a mercadoria
vendida para o anunciante disposto a pagar o valor mais alto.

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