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Ciberespaço: território e produção de sujeitos.

Acadêmicos: Jefferson Cristian Machado1


Leonardo Philippe Garcez2

Professor Orientador: David Tiago Cardoso3

RESUMO
A relevância da internet como lugar de problematizações acadêmicas, especialmente as
discussões acerca da privacidade e do controle por conta do avanço de novas tecnologias
eletrônicas, revela-se tanto mais importante quanto a sua própria expansão. As plataformas
digitais de consumo e de convívio social estão no cerne das interações humanas e das disputas
de poder, os sistemas estão mais bem interconectados e quase a totalidade dos softwares,
atualmente, está em rede, compilando e armazenando informações, produzindo e
correlacionando dados de seus usuários. Sua notoriedade tem despertado interesse também fora
do campo intelectual e circulado na sociedade não especializada. Estão na pauta as
consequências já experimentadas e prováveis dessa nova realidade. A fim de contribuir para
com tais discussões, seja no âmbito acadêmico, seja para além de suas fronteiras físicas e
simbólicas, discorremos a respeito de noções sobre poder, sujeito e subjetividade, e sobre como
as produções de verdade os constituem na pós-modernidade. Em seguida, examinamos os
conceitos relativos a território para exemplificar de qual maneira as diferentes configurações
de espaços físicos possibilitam a aplicação de dispositivos de vigilância enquanto,
paralelamente, atentamos ao ciberespaço e seu emprego na preservação das estruturas de poder
via produção de verdades e condução da conduta dentro e fora dele. Para mais, o estudo propôs-
se a comparar os métodos arcaicos de práticas opressivas às possibilidades abertas pela
realidade vigente, a investigar suas implicações e realizar uma análise crítica discursiva no que
concerne ao ciberespaço enquanto território, destacando os modos de subjetivação através de
mecanismos de poder e produção de verdades. Como contribuição acadêmica à psicologia e
outras áreas, ambiciona-se, aqui, problematizar o ciberespaço enquanto ferramenta de
estigmatização, discutir os algoritmos enquanto mediadores normativos e, finalmente, os
modos como constroem-se as condições para o surgimento e o apagamento de sujeitos e
territórios na contemporaneidade.

PALAVRAS-CHAVE: Psicologia; ciberespaço; território; sujeito; poder.

INTRODUÇÃO

Enquanto acadêmicos, nosso interesse pela pesquisa surgiu a partir de um encontro


físico onde, ironicamente, discutimos sobre os encontros virtuais. Não apenas os encontros nos
eram interessantes, mas também, quais as formas de ser nesse espaço, de relacionar-se nele,
assim como de construir e ser construído sob sua alçada. Claro que este não é um debate

1
Graduando em Psicologia pela Universidade do Vale do Itajaí.
2
Graduando em Psicologia pela Universidade do Vale do Itajaí.
3
Mestre em Psicologia; Docente da Universidade do Vale do Itajaí.
incomum, muito menos um tema novo, entretanto, o que mais nos instigou foi, certamente,
imaginar sobre as influências do espaço virtual sobre o espaço real e suas engenhosas
estruturas de organização e processamento de dados que, nas nossas teorias num primeiro
encontro casual, possibilitariam intervir no ambiente concreto. A nossa imaginação nos levou
a, no mínimo, questionar de que forma isso seria possível, quais as ferramentas de controle
seriam necessárias nesses espaços, e que, certamente, também nos afetam enquanto indivíduos.
Esse trabalho de iniciação científica vem então, como uma tentativa de concretizar o que estava
apenas no simbólico e no mundo das ideias, a partir de uma perspectiva teórica e métodos,
tentamos conduzir um debate sobre as forças de poder existentes nesses ambientes.
As tecnologias contemporâneas de informação e comunicação já são uma realidade no
cotidiano da maioria das pessoas. Está presente nas mais diversas atividades humanas, desde
processos de trabalho, relações afetivas, consumo de notícias, elaboração de conteúdo, lazer,
entretenimento e, mais recentemente, ampliou seu leque de possibilidades para atividades de
transporte e alimentação. A internet, a qual aqui chamaremos de ciberespaço, partindo da obra
de Pierre Lévy (2009), é um ambiente que possibilita a conexão entre indivíduos por intermédio
de uma rede global de informações que, também, favorece o surgimento de novos saberes,
discursos e produção de conhecimento. Entretanto, Stephen Graham (2016) aponta que o uso
do ciberespaço viabiliza também o rastreamento das atividades de seus usuários através de
algoritmos, permitindo que tais dados sejam utilizados para vigiar, compilar, controlar e
produzir verdades para quem ali habita. Partindo dessa premissa, interessa-nos refletir a
respeito da inserção massiva de tais tecnologias no cotidiano dos indivíduos e quais
transformações ocorrem no ciberespaço, na condição de território e a sua capacidade de
produção de sujeitos/subjetividades.
A noção de produção de subjetividade, como sugere Hardt & Negri (2001), significa
que a subjetividade não é uma gênese, mas sim, um processo constituído a partir das
configurações sócio-históricas de onde ocorrem. Nesse sentido, é legítimo demonstrar como
nenhuma subjetividade é pré-social, mas um constante processo de geração entre sujeito e
ambiente. Esse raciocínio pode ser enriquecido com os estudos de Foucault (2012) acerca de
como a subjetividade se organiza quanto ao psiquismo. O autor defende que modos de
subjetivação estão diretamente relacionados com os padrões identitários e normativos
existentes em cada época, sustentados pelos regimes de verdade e relações de poder
estabelecidas tanto nas macro relações quanto nas micro relações.
Para Foucault (2014), o sujeito contemporâneo não é a nascente das próprias vontades
e atitudes, mas sim, é constituído por práticas discursivas. Estas, por sua vez, estão sustentadas

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ao longo do elo entre poder e saber, cujo desfecho e genealogia é a produção de verdades. O
autor implica o território físico como agente facilitador deste processo, porque, tendo em conta
os dispositivos de vigilância e regulação dos espaços e corpos, pode-se estabelecer os
mecanismos, subjetivos ou coercitivos, para a condução de condutas. Esse tema é fomentado
pelas discussões de Deleuze (1992) a respeito dos dispositivos regulatórios na
contemporaneidade. Ele discorre aportado na avaliação que compreende os artefatos
tecnológicos como disfarces para dispositivos de monitoramento e controle interligados em
rede, dispersos e famintos por interação. Um novo campo de atuação para as diferentes classes
de sujeitos é desvelado, um campo alimentado pelos conteúdos residuais das interações dos
sujeitos, captadas e compartilhadas por ditos artefatos. Este campo é o ciberespaço.
Investigaremos as interações nele/dele, porém, vê-se, de antemão, sua predisposição à função
de memória coletiva.
Foi a partir das revelações de Snowden que o tema da vigilância em massa ganhou
espaço nas discussões cotidianas, via senso comum, ou seja, em programas de televisão etc.
Dessa forma, o nosso interesse pelo tema surgiu, também, pelo apelo popular do qual não
somos imunes e, na verdade, como afirma David Lyon (2016), talvez nada disso teria sido
possível sem Snowden. Iniciamos a partir de perguntas como: de qual forma o ciberespaço
pode ser entendido como um território? Como é possível a utilização de dispositivos de
vigilância e controle no ciberespaço? Quais os discursos existentes nesse ambiente são capazes
de produzir verdades? E partindo da ideia de morte do sujeito moderno proposta por Foucault,
qual novo sujeito nasce no ciberespaço?
À sequência eclodirá na comutação do modelo disciplinar foucaultiano por conta das
inumeráveis possibilidades interventivas advindas da massiva coleta e armazenamento de
dados na atualidade. Como golpe fatal ao modelo panóptico, a identificação de pessoas e
objetos na sociedade de vigilância vale-se do seu máximo deslocamento e interação, pois o
volume de informações oferecidas ao processamento de múltiplas variáveis é, justamente, o
motor do modelo psicopolítico.

EPISTEMOLOGIA

Como marco epistemológico, usamos os discursos pós-estruturalistas de geração do


conhecimento. A corrente pós-estruturalista pode ser caracterizada como um modo de
pensamento, um estilo de filosofar e uma forma de escrita, cuja qual decorre de uma ampliação
dos conceitos e métodos estruturalistas (PETERS, 2000). Uma das principais características é

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a sua compreensão da realidade como uma construção social e subjetiva, levando em
consideração as relações sociais de dominação para além de aspectos econômicos, incluindo
nas discussões temas como gênero, sexualidade e étnico-raciais (SILVA, 2005) a fim de
observar os fenômenos sob a perspectiva interseccional4.
A corrente pós-estruturalista se construiu por método de debates significativos entre
pensadores de diferentes teorias como Martin Heidegger, Gilles Deleuze, Jacques Derrida e
Michel Foucault, nas quais nos baseamos para as discussões deste trabalho. Os debates têm
como objetivo criticar os princípios estruturalistas, como a concepção essencialista e universal
de sujeito, e iniciam uma desconstrução da percepção de sujeito centrado a partir de
determinantes estruturais, resultando na ideia de descentramento (HALL, 2006).
Nessa perspectiva de descentramento, o sujeito passa a ser constituído por diferentes
identidades que limitam as práticas sociais e culturais, discursivas e não discursivas, permeadas
pelos elos que ligam poder e saber entre os grupos e instituições (DINIS; PEREIRA, 2015). O
pós-estruturalismo propõe-se ao exame das dinâmicas de domínio efetivo na sociedade para
além daquele exercido por classes dominantes, apontando outras formas de influência nos
grupos de pessoas oriundas de diferentes contextos sociais. (AGUILAR e GONÇALVES,
2017).
Uma das correntes surgidas com influências do pós-estruturalismo foi o “giro
linguístico", que designa uma mudança ocorrida na filosofia, ciências humanas e sociais entre
os anos 1970 e 1980 em nome do papel da linguagem como instrumento de significação da
realidade (IÑIGUES, 2004). Para Nogueira (2008), o giro linguístico é influenciado por
diversas correntes filosóficas e científicas de posição opostas à filosofia analítica, à lógica
formal, ao mentalismo e ao primado das coisas sobre as palavras. Nesse sentido, a centralidade
do objeto ou das coisas representadas na mente perde o protagonismo para a linguagem e as
palavras, isso significa que, os discursos tornam-se o ponto de partida para o estudo das coisas.

METODOLOGIA

O trabalho foi uma revisão de literatura narrativa, cuja a finalidade é sintetizar os


resultados obtidos em pesquisa, resultando em uma produção de sentidos, onde realizamos um
diálogo teórico na direção do sujeito, do território e do ciberespaço, com o objetivo de

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Conceito que compreende os diferentes sistemas de opressão e exclusão como interdependentes e
sobrepostos; cruzamento dos componentes de uma análise.

4
contribuir para o conhecimento desse tema (ROMAN & FRIEDLANDER, 1998). Une-se a
esta produção de sentido, a inspiração na Análise Foucaultiana dos Discursos e uma pesquisa
bibliográfica na base de dados Scholar utilizando as palavras chave “psicologia” combinando-
a com “sujeito; território; ciberespaço; poder”. Livros a respeito das referidas temáticas
também foram utilizados.
Partimos de uma compreensão qualitativa de fazer pesquisa, do tipo exploratório, com
intuito de proporcionar uma visão geral, de tipo aproximativo, acerca dos discursos formados
no ciberespaço, com a intenção de gerar conhecimento relativamente aos dispositivos de
subjetivação dos sujeitos, esclarecendo os conceitos acerca no que concerne à subjetividade, o
território e ao ciberespaço, levantando proposições quanto ao tema (GIL, 2019).
A partir do marco epistemológico, tivemos como inspiração a Análise do Discurso (AD),
resultante do giro linguístico nas ciências sociais, influenciado principalmente pela Teoria
Crítica, o pós-estruturalismo, a crítica social e o pós-modernismo. A AD mais difundida é
aquela na qual baseia-se em textos escritos, tais como, documentos, cartas, entrevistas, artigos
de jornais, etc., porém, é possível também realizar uma análise de qualquer padrão de
significado, seja ele visual ou espacial. Para este artigo em específico, utilizamos a Análise
Crítica do Discurso, que tem como um dos seus precursores o filósofo Michel Foucault, e visa
identificar padrões que auxiliam na construção das relações de poder/saber e conhecimento,
permitindo traçar as correspondências linguagem/subjetividade, tal como suas implicações
para a investigação psicológica (NOGUEIRA, 2008).
Nessa perspectiva, os discursos são entendidos como um conjunto de afirmações que
constroem objetos e uma gama de posicionamento/posições do sujeito, ou seja, possibilidades
de ver e ser no mundo. Esses posicionamentos possíveis para os sujeitos, exercem, na prática,
influência direta em suas subjetividades e experiências em razão de serem a ferramenta
principal de constituição de suas realidades. Nesse caso, o foco de análise se voltou para o
papel do discurso em processos sociais mais amplos de legitimação do poder, por certo, é
mediante os discursos dominantes que os arranjos sociais existentes se amparam. É importante
destacar ainda que na ACD deve-se levar em consideração a perspectiva histórica na qual os
discursos foram possíveis e suas mudanças ao longo dos tempos, atrelado às mudanças
institucionais e suas práticas a partir das formas de organizar, regular e administrar a vida social
(NOGUEIRA, 2008).
Este artigo irá problematizar o ciberespaço como território viável à produção de verdades
via dispositivos de vigilância e controle, assim como qual sujeito emerge dessa relação. Seria,

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então, um método de interrogação crítica da realidade que considera as configurações e normas
sociais como construção histórica (FOUCAULT, 2012).

UMA HISTORICIDADE DO SUJEITO

As concepções relativas a sujeito/identidade/subjetividade são certamente um dos


conceitos mais debatidos nas ciências humanas e, apesar da pluralidade de ideias e formas
diferentes de compreensão, esse tema possui uma história que molda a forma como é
compreendida. Pretendemos aqui, discorrer sobre as noções de sujeito, identidade e
subjetividade, suas relações com o poder, variações no decorrer da história e implicações para
as diferentes ciências para, posteriormente, conectá-las aos conceitos sobre território.
A ideia de um sujeito portador de uma identidade ganhou expressividade no século XVIII
durante o Iluminismo, que a partir dos campos da filosofia e da religião, formulou uma ideia
de sujeito autônomo e autossuficiente, “um indivíduo centrado, unificado, dotado das
capacidades de razão, de consciência e de ação, cujo centro consistia num núcleo interior”
(HALL, 2006, p. 10). Por essa perspectiva, o indivíduo nascia portador de uma essência a
desenvolver-se no transcorrer de sua vida, mas que permanecia contínua e pouco modificada
até a sua morte.
René Descartes exerceu grande influência na concepção de uma identidade na qual
estaria diretamente relacionada à consciência e que produziria um sujeito racional, autônomo
e individualizado. Essa consciência como identidade se constituiria por intervenção das
instâncias - eu, pessoa, cidadão e sujeito - onde os indivíduos possuíam um universo privado
de emoções, sentimentos e formas de pensar a própria existência, separado das suas realidades
políticas, culturais e produtivas. Desenvolveu ainda a ideia de separação entre sujeito x objeto,
onde o indivíduo seria ativo e detentor de todo o conhecimento, e o objeto apenas serviria para
ser estudado por meio da ciência (COSTA, 1998; FIGUEIREDO, 1997).
No século XIX, a Psicologia enquanto campo científico, reivindica o sujeito e sua
interioridade como seu objeto de saber por via de práticas e saberes psi. Em um contexto de
consolidação do modo de produção capitalista, acarretando mudanças econômicas, sociais e
institucionais, fomentou-se a ideia de um sujeito que seria a própria nascente das suas atitudes,
atos de intenção e responsabilidade, conduzindo a edificação de um saber individualista e
individualizante que compreendia a subjetividade como algo singular (FIGUEIREDO, 1997).
Quanto às identidades nesse novo mundo moderno ocidental, Leite e Dimenstein (2002)
reforçam que essa noção de sujeito e identidade estão circunscritas no plano histórico da

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modernidade, com a intenção de gerar uma entidade individualizada capaz de oferecer
sustentação ao sistema capitalista nascente.
Nesse período emergiu uma nova noção de sujeito e de como se constituía sua identidade.
Uma concepção sociológica sugeria que tal núcleo concebido anteriormente no Iluminismo não
possuía uma essência, mas sim, era formado através da relação com os outros ao seu redor,
quem tinha, como função, mediar a cultura vigente no âmbito que habitava. Seus meios eram
os valores, sentidos e símbolos. Esse novo formato de compreender o indivíduo, o
interacionismo simbólico, considera que a identidade é constituída pela relação do sujeito com
a sociedade, por intermédio do diálogo contínuo entre mundo pessoal e mundo social (HALL,
2006).
Com o desenvolvimento de novas tecnologias, das ciências, dos modos de produção e
mudanças estruturais e institucionais da realidade pós-moderna5, no final do século XX, a ideia
de uma identidade unificada e estável deu lugar a um sujeito fragmentado e descentrado. O
conceito de identidade como algo fixo e individual deu lugar à ideia de subjetivação, algo
descontínuo e mutável. Primeiro, a fragmentação do indivíduo dá-se pelo fato de ele não
possuir necessariamente apenas uma única identidade, mas várias, por vezes até contraditórias.
A identidade passa a ser alternável de acordo com as situações e contextos nos quais está
inserido e a quais sistemas culturais é exposto. Contudo, essas identidades não são mais
unificadas ao redor de um núcleo fixo, essencial e permanente, ao contrário, é um sujeito
deslocado, pois, por estar exposto a uma quantidade maior de significações e representações
sociais, há uma multiplicidade de identidades possíveis e em níveis diferentes (HALL, 2006).
Na pós-modernidade a identidade é volúvel e instável, em contínua (re)construção e
modificação, como explica Hall (2006, p. 14) “sociedades modernas são, por definição,
sociedades de mudança constante, rápida e permanente”. Veremos adiante que: “Nas
sociedades de controle [...] os indivíduos tornaram-se dividuais6 (sic), divisíveis, e as massas
tornaram-se amostras, dados mercados ou bancos” (DELEUZE, 2012, p. 222).
Não pretendemos aqui explicar detalhadamente todos os processos que levaram a essas
mudanças. O importante para nós é compreender que as concepções acerca do sujeito e
subjetividade estão diretamente relacionadas ao tempo social e histórico nas quais são

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Termo surgido pela primeira vez na obra de Jean-François Lyotard intitulada ‘A condição pós-moderna’
em que aponta como algumas transformações nas áreas da ciência, literatura e arte no final do
século XIX alteraram o estado da cultura (RIOS; SANTOS, 2018).
6
Deleuze afirma que a dividuação ocorre através das inúmeras formas de classificação das
representações de um sujeito. Estas classificações são alimentadas pelos aparatos de vigilância
computacional.

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construídas, assim como a própria ligação e assentamento da subjetividade perante os regimes
de verdade em cada época (DELEUZE & GUATTARI, 1995; FOUCAULT, 2014).
Os dispositivos de visibilidade, portanto, são indissociados da construção de
subjetividade. Para falarmos, porém, sobre a subjetividade desses sujeitos, necessitamos, além
do mais, considerar a existência de sua própria história. Não iremos traçar a historicidade do
tema, mas trazer alguns apontamentos relativos aos elos de poder-saber existentes nas macro e
micro relações. Para Foucault (2014), as subjetividades são produzidas por meio dos regimes
de verdade, instituídas por saberes científicos, jurídicos, médicos, escolares, prisionais entre
outros, que moldam formas de ser possíveis para um determinado tempo e sociedade. Não
existe uma verdade universal naquilo que tange à produção e reprodução da subjetividade, mas
sim, um embate entre forças discursivas das quais os sujeitos irão emergir, consignados ao
desenrolar da construção de si e dos discursos.
Nesse sentido de constante produção de subjetividade, Hardt & Negri (2001) reforçam a
noção onde ela não é compreendida como gênese, mas um processo que se constitui a partir
das configurações sócio-históricas possíveis. É possível declarar a inexistência de uma
subjetividade pré-social, e sim, um transcurso constante de geração entre sujeito, ambiente e
regimes de verdade. Tampouco é algo prévio ou ponto de partida, ocorrendo, todavia, como
um processo complexo, tal qual um devir. Ela se faz na relação com outros indivíduos,
intersubjetivamente com o espaço público. Foucault (2014) argumenta que é pela ação no
espaço e pela maneira como se formam os discursos que o sujeito revela sua subjetividade.
Essa concepção de que o sujeito não mais se constitui a partir de si mesmo, mas é
resultado dos regimes de verdade, Foucault aponta a morte do sujeito kantiano, advinda do
iluminismo, que seria a medida para si e para todas as outras coisas, a fonte de onde surgia as
próprias vontades e atitudes. O autor questiona a soberania do indivíduo argumentando que ele
não é a fonte da qual se organiza o sentido, mas sim, um produto de práticas discursivas. Isso
significa pensar o indivíduo não mais a partir de si mesmo, mas das formas discursivas que
constituem a si próprio como louco, delinquente, doente ou propriamente como sujeito
(ADORNO, 2012).
Sendo assim, olhar para o sujeito não mais como o portador de uma interioridade
transcendental, e sim como o resultado de forças discursivas, noções de verdade e relações de
poder, nos faz questionar: quem é o sujeito que emana do ciberespaço? Quais as produções de
verdade que constituem esse espaço como formador do sujeito? E ainda, quais dispositivos de
poder existentes que engendram as identidades e subjetividades que ocupam esse território?
Para isso, partimos para uma produção de sentido sobre as noções de território e de acordo com

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as maneiras possíveis pelas quais ele pode ser utilizado a fim de controlar os sujeitos e corpos
que o habitam.

TERRITÓRIO, O LUGAR COMO MATERIALIZAÇÃO DA HISTÓRIA

O termo “espaço” é encarado como uma lacuna entre pontos de referência, um intervalo
físico como a geografia, arbitrário como o tempo ou simbólico/prático, vide o espaço
acadêmico. Sua amplitude indica a importância dos discursos para acerca dele e oriundos dele.
Foucault (2014) aclara a dimensão do problema de definir os âmbitos de coabitação humanos
ao expressar surpresa com a falta de uma “história dos espaços” obviamente atrelada à uma
“história dos poderes” para tratar da geopolítica, da arquitetura institucional e, dentre várias
outras, suas implantações econômico-políticas. Em Marc Augé (2012) vemos o termo ser
generoso em sua aplicação a ponto de levar consigo apenas abstração.
No campo das ciências humanas, Franco e Stralen (2012) argumentam que a Psicologia
em seu início desconsiderava a categoria “espaço” como objeto de estudo para a produção de
subjetividade. Wundt em sua teoria influenciada pelos pensamentos de Descartes, separava os
mundos interno e externo, social e individual. Nessa perspectiva, a consciência era o foco de
estudos a partir de um processo de interioridade, podendo ser conhecido apenas pela
introspecção, individualizando-a. Isso fez com que, no início da Psicologia enquanto campo
científico, tomasse para si a consciência como objeto, desencadeando uma tendência à
separação dos estudos psicológicos em relação aos estudos sociais.
É no início do século XX, a partir de problematizações a respeito do sujeito da e
sociedade, que a ideia de separação entre o mundo interno (subjetividade) e mundo externo
(social) começa a se desfazer, e o território começa a ter maior importância na formação dos
sujeitos. Ferreira Neto (2004) apresenta que, dessas discussões, ramificam-se duas
perspectivas. De forma simplificada, a primeira perspectiva no que se refere a essa relação
reconhece a interação entre social e subjetividade, mas ainda possui a ideia de oposição entre
exterioridade e interioridade. Nessa corrente, a subjetividade é formada com base nas
influências sociais, em uma relação de causalidade. Será de nosso interesse a segunda
perspectiva, na qual a subjetividade é compreendida “como emergência histórica de processos,
não determinados pelo social, mas em conexão com os processos sociais, culturais,
econômicos, tecnológicos, midiáticos, ecológicos, urbanos, que participam de sua constituição
e de seu funcionamento” (NETO, 2004, p. 4). A subjetivação é mais uma relação de causalidade

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com o território no qual existe, e sim, faz-se concomitantemente a ele e a todos os demais
processos envolvidos.
Nessa linha, Conti (2016), descreve a definição de território como um espaço social
viável a partir dos estudos que inter-relacionam as múltiplas dimensões componentes da
associação de ambos, tais como a economia, a cultura, a política, entre outros. Assim, o
território vê-se capaz de incorporar os diferentes fenômenos vinculados à espacialidade e a
subjetividade. Vital aos seres vivos organizados, o território formará um Estado jurídico para
sua reafirmação constante. Seu potencial produtivo servirá para obtenção de recursos e
desenvolvimento. Marx (2008) preconiza a propriedade como agente de produção do qual os
sujeitos são tolhidos pelo Estado capitalizado e, por isso, tornam-se assujeitados à condição
proletária, fator determinante, como veremos a frente, para a formação de castas com mais ou
menos poder de influência ou sujeição.
Em última instância, Foucault (2008) apresenta-nos o território como uma esfera de
poder7 potencial, que acumula papéis simbólicos constituintes intrínsecos à nação a qual
pertence e reflete as estruturas de poder. Aliás, compreende que o território só é capaz de sê-
lo, à íntegra, quando o poder e suas bases econômicas, logísticas, simbólicas e jurídicas
estiverem centralizados em um único ponto claramente figurado. A soberania, como anseio de
manutenção do poder, seria emanada de uma capital para onde os habitantes de todo o território
voltar-se-iam quando da busca pela solução de seus problemas ou para a identificação
intermitente de sua origem cultural. Tal qual o geográfico, os aspectos intangíveis estariam à
uma distância comum de todos os interessados em nome da eficácia política e social. Um
território capitalizado e regido pela ordem disciplinar oferece as condições necessárias para o
emprego de “segurança” aos seus habitantes. Ao estado cabe apontar um inimigo e a disciplina
“é apenas um modelo reduzido do tribunal” (FOUCAULT, 2014, p. 175). Haja vista a
segurança torna-se papel do Estado, quando da ausência de inimigos reais, este não se abstém
de usufruir da política do medo para intervenções no meio físico de circulação ou em camadas
sociais sensíveis a distúrbios, A segurança é o principal eixo de atuação visível do aparato do
Estado. Quer dizer, o monopólio da viabilização da vida e da circulação no âmago do território
robustece a soberania ante a população. Foucault indica os escritos de Maquiavel como
exemplo: a soberania não se daria preferencialmente a coisas, mas aos súditos de um lado a

7
“Deve ser uma relação geométrica, pois um bom país é, em poucas palavras e sob tal visão, um país circular com
sua a capital situada no centro” (FOUCAULT, 2008).

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outro do território e, para ser adquirida/exercida, a soberania precisa exalar governança e
legitimidade associada à sua indistinguível localização.
Outro termo ao qual podemos recorrer, uma vez que o “território” mostrou-se pouco
capaz de esclarecer integralmente nossa investigação, é o “lugar”. Os lugares, na
intelectualidade eurocêntrica, têm sido ocupados, analisados, disputados, conquistados,
fragmentados, revistos e comercializados. Também têm recebido novas configurações e sendo
experimentados por perspectivas novas durante o transcorrer dos últimos 5 séculos. Augé
(2012) diz que o lugar antropológico, termo associado ao espaço detentor de uma construção
concreta e simbólica, é incapaz de absorver todas as vicissitudes e contradições da vida social,
é o lugar ao qual alguém é designado, isto é: “o lugar antropológico é princípio de sentido para
aqueles que o habitam e princípio de inteligibilidade para quem o observa” (AUGÉ, 2012, p.
51). Mais ainda, o lugar antropológico é frequentado levando em conta expressões de sentido
social significante, denso, por assim dizer, de natureza, indubitavelmente legível para todos
aqueles presentes, mostrando-se um lugar onde tudo será reconhecível e não se poderá ser
senão através daqueles que ali compartilharem dele.

A INTERNET É UM LUGAR?

Com o interesse de relacionar o conceito de território com noções relativas ao


ciberespaço, nos é pertinente, aqui, compreender como surge esse ambiente digital e quais os
seus usos e finalidades durante as épocas. O início daquilo que entendemos hoje como internet
se deu em um contexto militar, na década de 1960, durante a guerra fria promovida pelas duas
potências mundiais daquela época, Estados Unidos da América e União Soviética. Um órgão
governamental do Departamento de Defesa estadunidense desenvolveu uma tecnologia com
intuito de possibilitar a conexão entre computadores por artifício de uma rede eletrônica de
dados para o compartilhamento e armazenamento de arquivos e documentos secretos (LIMA,
2000).
Desde os anos 1960 até hoje a internet evoluiu e ampliou o seu leque de possibilidades
de utilização. Lima (2000) destaca que na década de 1980 essa rede, antes chamada de
ARPANet, ganhou o nome de internet e começou a ser utilizada na área civil, possibilitando
uma conexão de alta velocidade, a disseminação de informações científicas e, posteriormente,
a formação de redes regionais que se conectavam a redes comerciais e públicas. Nos anos 1990
que a internet, assim como a conhecemos, tornou-se possível, graças à criação do WWW
(World Wide Web), do HTML (HyperText Markup Language) e do HTTP (Hyper Text

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Transfer Protocol). Esse âmbito militar de onde surgiu a primeira rede de conexão, com
finalidades de espionagem e guerra, para a inserção dela no meio social e a sua massiva
disseminação para dispositivos pessoais, nos faz questionar quais os interesses e finalidades
estão intrínsecos a esse sistema. De que forma os mesmos dispositivos de vigilância e violência
podem ser reproduzidos atualmente?
A disseminação e acessibilidade da internet a fez ganhar popularidade, conectando
milhões de pessoas em todo o mundo e configurando novas formas de comunicação, comércio,
entretenimento, relações pessoais, manufatura de bens, processos de trabalho, criação cultural
e disseminação de conhecimento. Essa possibilidade de conexão entre dispositivos e pessoas
acaba por criar novas práticas e discursos, suscitando uma nova cultura, que Levy nomeou
como Cibercultura e define como “um conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de
práticas, de atitudes, de modos de pensamentos e valores que se desenvolvem juntamente com
o crescimento do ciberespaço” (LÉVY, 2009, p.17).
O termo ciberespaço, segundo Lemos (2008), foi criado por William Gibson na obra de
ficção científica Neuromancer8, de 1984. Nela, Gibson utilizou esse termo para se referir ao
espaço territorial não físico composto pela reunião de computadores conectados em rede,
capazes de se comunicar e compartilhar informações das mais variadas formas. Essa definição
se equipara aos moldes do que conhecemos atualmente como internet. Para Lévy (2009), o
ciberespaço, que também é chamado de rede, não consiste apenas na infraestrutura material de
computadores, mas também, toda a informação e comunicação que emerge a partir da internet.
A interação entre os usuários, explorando, utilizando e produzindo conteúdo a partir de
técnicas, valores, pensamentos e atitudes gera, por fim, a cibercultura.
Uma das mudanças mais significativas que o ciberespaço proporcionou foi em relação a
comunicação e produção de discursos. De forma simplificada, Lemos (2003) descreve a
comunicação como o uso de recursos tecnológicos e científicos em forma de códigos para
expressar ideias, sentimentos, emitir e receber conhecimentos, manter contato com o mundo
circundante, a fim de estabelecer uma interação cultural e social. Em relação aos discursos,
acontece uma profusão deles, uma proliferação de identidades e sujeitos existentes no território.
No ciberespaço a comunicação acontece de “todos-para-todos”, onde qualquer pessoa
pode produzir e consumir conteúdo de qualquer parte do mundo. Esse tipo de comunicação e
informação é mais distribuída e capilarizada. É capaz de disseminar uma inteligência coletiva

8
Livro de ficção científica do gênero cyberpunk, introduz conceitos como inteligência artificial, a interconexão
em rede através da matrix, realidade virtual, biotecnologia, ciberespaço, e relaciona as evoluções da tecnologia
com a degradação social (GIBSON, 1991).

12
como soma das inteligências particulares. A rede é onde opiniões, pontos de vista, conceitos e
culturas singulares se encontram e se misturam, fomentando uma confluência sociocultural
(LÉVY, 2010).
Essa inteligência coletiva não é fruto da internet, pois ela já está presente nos grupos
sociais e culturais, porém, por possibilitar uma interatividade maior, o ciberespaço favorece
encontros, conflitos, novas configurações comerciais e produção cultural. Essa capacidade de
criar, gravar, comunicar e simular, se torna um lócus do saber, uma cidade de símbolos, uma
forma de difundir a comunicação e pensamento coletivo para, no fim, reconhecer as produções
favoráveis e usá-las em benefício da coletividade (LÉVY, 2009).
Lévy (2009) defende as tecnologias digitais e a rede como um novo passo evolutivo na
história que têm tomado cada vez mais espaço na vida e cotidiano dos sujeitos. Uma analogia
possível seria relacionar o mundo em rede como um “segundo dilúvio”, pois não é possível
conter o fluxo de informações geradas pelas novas tecnologias e deve-se, portanto, aceitar essa
nova condição, buscando compreender as melhores vias de adaptação para serem usadas de
forma positiva, e não como uma ferramenta de dominação. Todavia, o ciberespaço não é uma
entidade independente, e sim, uma criação da humanidade e não pode ser separada da sociedade
e cultura. Isso significa que o ambiente virtual faz uma extensão do arranjo social e cultural
presente. Tal qual, constitui-se pelos símbolos, signos e imagens operados para dar sentido às
coisas.
Ao mesmo tempo em que os dispositivos pessoais possibilitam um novo grau de
autonomia dos sujeitos quanto ao consumo e geração de informação, também favorecem que
mecanismos de controle e regulação se estabeleçam no cotidiano das instituições e no cotidiano
das relações (LÉVY, 2009). Pensando a partir dos conceitos no que concerne ao território que
já introduzimos, onde o espaço físico de interação humana é o viabilizador do emprego de
poder sobre os corpos, de que forma, no ciberespaço, isso seria possível?
Esse questionamento vem no sentido de que o ciberespaço não é um território físico,
pelo menos não tangível, mas que ainda sim possibilita as mais diversas atividades humanas.
Partindo disso, compreender algumas engrenagens desses espaços nos é importante. Nesse
meio, a atividade semiótica dos usuários nos aparelhos tecnológicos é armazenada em rede e,
por via de algoritmos pré-determinados, qualificam e classificam suas condutas. A utilização
desses dados por empresas privadas, por exemplo, pode ter como objetivo influenciar as
escolhas de um público consumidor, ou até, com interesses políticos, justificando a utilização
desses dados para manter a segurança e ordem, exercendo, assim, um contínuo estado de
vigilância dos usuários (DANTAS; CANAVARRO; BARROS, 2014). Sobre essa política de

13
vigilância, Foucault (2014) já argumentava que ela comprova sua eficiência no momento em
que é capaz de intervir no sujeito, imputar sentidos e estimular comportamentos. Sob essa ótica,
entende-se que quanto mais se conhece sobre o indivíduo e território observado, maior a sua
capacidade de intervenção, logo, quanto maior a atividade dos usuários no ciberespaço, mais
informações se tem sobre eles, propiciando um controle mais refinado.
Examinaremos, por conseguinte, a internet sob a perspectiva de Augé (2012) que
compreende o lugar antropológico como incapaz de produzir sujeitos de caráter
individualizado. Para isso o autor nos apresenta um antagonista perfeito à proposta de lugar
antropológico, o não-lugar. Nos aeroportos ou nos supermercados os sujeitos podem caminhar
anonimamente, exercem o que nos lugares antropológicos lhes é vedada, a solidão, a
despersonalização. A liberdade inerente à solidão origina-se justamente do desaparecimento
do sujeito na massa de transeuntes que costuma caracterizar os não-lugares. Esses ambientes
são herméticos e lidam com sujeitos genéricos que, por sua parte, atuam como passageiros,
como clientes, como ou o que mais seja esperado de quem ocupa o papel ao qual propôs-se. O
não-lugar é incapaz de produzir personalidades singulares ou vínculos. Ao contrário, nele
impera a solidão, a conformidade, a correspondência e o mimetismo (AUGÉ, 2012).
Ainda assim, há outra variante salutar à nossa discussão: os territórios informacionais.
A pulverização da vigilância está em marcha e utiliza-se, dentre outras formas, de uma zona de
interseção entre o ciberespaço e o não-lugar. Este enclave configura-se como uma área
transicional entre o ambiente eletrônico e a praça urbana, a mesa de uma rede de cafeterias ou
o banco de uma biblioteca, lugares, estes, onde sujeitos embarcam no ciberespaço ao
conectarem seus artefatos eletrônicos às redes sem fio. A praça é um não-lugar físico, mas
conta com aspectos políticos, culturais, imaginários etc. A rede é, por sua vez, um não-lugar
invisível, abstrato, tal qual a praça, é compartilhado. A diferença situa-se no fato de poder-se
frequentar a praça sem carregar elementos que exponham detalhes pessoais dos sujeitos
atrelados única e exclusivamente aos lugares antropológicos aos quais se vincula. Pouco pode
ser feito para que a frequência dos sujeitos, nus do ponto de vista digital, possa ser ignorada
pelos demais frequentadores do ciberespaço. Assim, informações de acesso, senhas, históricos
de navegação e deslocamento dos sujeitos, tanto quanto fotos, hábitos, sonhos e projetos estão
disponíveis aos fornecedores da rede de acesso e de qualquer outro usuário da mesma com sua
atenção voltada na direção do sujeito que atualiza seu feed de notícias enquanto bebe seu
double macchiato tranquilamente. Às corporações essas informações são valiosas por
diferentes razões. Comercialmente, é conhecida a prática de anúncios personalizados que
buscam predizer/estimular hábitos de consumo dos sujeitos (HAN, 2018).

14
A vigilância estatal como recurso de manutenção da soberania vigente e de sua própria
ordenação capitalizada. A ação de vigilância realizada por corporações de capital privado tem
claros fins comerciais e trabalha amigavelmente com o poder estatal. Poderíamos, claro,
abordar os serviços fiéis das estruturas governamentais para que estas corporações possam
manter suas práticas e, então, poderíamos apontar as contrapartidas efetuadas pelas corporações
à estrutura de poder estatal e como lhes foram terceirizadas as práticas de condução da conduta
das massas. A dialética a que esbarramos aqui é a do contra-espaço, que SANTOS et al. (2011)
afirma referir-se à ligação entre público e privado, civil e político, um fenômeno de
reciprocidade inerente às sociedades de estrutura centralizadora. A frente examinaremos com
mais atenção o contra-espaço. Por hora, entretanto, observemos a capacidade individual de
exercer vigilância. Nos ambientes disciplinares essa capacidade reflete o êxito da condução
empregada em forma de mútua-regulação. Suscita que, na sociedade psicopolítica neoliberal,
o patrulhamento mútuo chama a atenção, pois, se, como visto, vigiam-se sujeitos, mas
protegem-se propriedades, a que, de fato, debruça-se a vigilância recíproca exercida pelos
sujeitos? Para além da mútua-regulação, surge no horizonte o batedor de carteiras digital, o
perseguidor, o violador de privacidades, um tema para outra discussão.

O PODER FRAGMENTADO

O olhar para as políticas de vigilância impõe, antes, uma necessária contemplação das
relações de poder, pois apenas quem é dotado dos meios será capaz de engendrar a realidade
visando o que Foucault (2014) chamou de regime de verdade. Referindo-se à capacidade de
conduzir e estabelecer a verdade no interior dos homens, o autor diz que a verdade funciona
como um conjunto de procedimentos criados e regulados que, quando unidos, constituem a lei
e permitem seu relato. Sob esta ótica, a verdade proporcionará aos líderes a justificativa
ideológica para o direito de exercer o poder com consentimento daqueles para os quais estará
voltado. Para estes indivíduos o domínio soberano seria uma salvaguarda frente aquilo que,
sob um julgo compartilhado e compreendido como verdade, lhes parece inoportuno. Em
consonância entre suas obras, a verdade mostra-se o imperativo que une território e soberano,
bem como visto anteriormente.
Abordar o poder através de seu esteio fundamental, o do massivo discernimento da sua
legitimidade, nos situa defronte a um horizonte de análise para com a dialética perceptível
entre poder e vigilância. Foucault (2012) nos permite traçar, a partir daqui uma linha firme
entre as partes dominantes do arranjo social e a organização semiótica da realidade. Em suma,

15
o real estaria firmado em ilusão, alienação e ideologia, amparado pelo expediente de vigiar os
membros do grupo social e puni-los quando as leis oriundas desse fenômeno não estiverem,
segundo a classe de agentes detentores de poder, sendo cumpridas. A disciplina, inerente à
estrutura organizacional do poder no território, serviria, então, para balizar o assujeitamento
dos indivíduos às práticas de perfilamento. A razão da segurança refletir ajustamento e
adequação, portanto, está no modelo de território capitalizado, onde o poder disciplinar não é
um poder de morte, mas um poder de vida que reforça características congruentes, como
afirma Byung Chul Han (2018).
As leis como conjunto de regras sociais serão os instrumentos de sustentação dos
modelos de organização política. A exemplo, miremos a horda primeva9 do mito totêmico de
Sigmund Freud (2012). Nela um conjunto de regras constituem-se a partir de princípios que
visam a preservação de dada dinâmica coletiva. Quando da sua transgressão, a dinâmica
deverá ser restabelecida vide rituais de expiação (vigilância) e purificação (punição). Noutro
momento, porém, durante a era das monarquias absolutistas europeias, a lei se sustentava nas
verdades extraídas das escrituras sagradas e eram zeladas por uma instância julgadora
suprema. Essa entidade incomparavelmente poderosa e consequente provia recompensas e/ou
punições às diferentes manifestações dos homens. Já na contemporaneidade, Foucault (1992)
argumenta que o poder está fundado na ocupação dos espaços pelos agentes de controle que
visam alcançar objetivos econômicos e políticos. Isto é, a elação da verdade outrora instaurada
na culpa compartilhada pelos membros da horda primeva ou na representação divina das
monarquias medievais, hoje é custeada pela elite socioeconômica, possibilitando, aos afiliados
de camadas “superiores”, o emprego do arbítrio sobre minorias de gênero, étnicas e sociais
através do emprego de trocas assimétricas. Os agentes de poder da contemporaneidade
utilizam as instituições da sociedade civil e do Estado para engendrar a realidade coabitada
pelos sujeitos (SANTOS et al. 2011).
A lógica recém descrita torna o poder suficientemente difuso e fragmentado para atrair
e convencer a coparticipação dos membros das camadas minoritárias do tecido social. Para
Noam Chomsky (2013), a verdade deverá ser ditada pelos detentores dos veículos de mídia,
pois são eles os agentes intermediários capazes de incutir a verdade levando em conta o que é
visto, lido e ouvido. Chomsky também aponta a necessidade de “domesticação do rebanho”,
uma revolução para a qual o autor associa a produção de consenso. O autor enfatiza o fato de
os conglomerados de mídia não serem, eles próprios, os agentes de poder. O aparato midiático

9
Definição antropológica utilizada por Freud ao referir-se ao proto-sociedade descrita na obra “Totem e Tabu”

16
é, com efeito, servil e o faz com o propósito, pessoal de seus executivos, de cientistas e
intelectuais, de participar da chamada “classe especializada”. Oposta ao rebanho em acesso à
informação, esse grupo tem voz ativa no engendro da realidade (CHOMSKY, 2013). A mídia
e seus rostos, vozes e punhos, são recursos disponíveis à impressão de uma verdade capaz de
refletir apenas interesses pessoais, corporativos e mercantis, um mero instrumento de
aquisição e execução de poder.
Voltemo-nos aos detentores do poder. De onde exalam sua soberania? Para SANTOS et
al. (2011), o contra-espaço, já mencionado, é fundado ao passo da constituição do arranjo
social, quando, por consequência da atividade regulatória e normatizante, passa a ser ocupado
pelos agentes de poder como forma de manterem-se distantes do conflito instituído nos e entre
os territórios. Dali, a casta dominante, a sociedade burguesa ou, como viemos abordando até
aqui, os agentes de poder modelam a convivência de uma massa errante e ansiosa através dos
recursos contidos no ciberespaço.
O poder acha-se pulverizado entre seus detentores e os meios de difusão da verdade. Tal
condição corrobora a noção foucaultiana sobre a vulnerabilidade à perversão das estruturas de
poder, propensão cuja qual o autor diz ser utilizada por quem visa apoderar-se delas a fim de
subvertê-las contra os agentes originais (FOUCAULT, 2014). O lento dinamismo dos recursos
randomiza, de tempos em tempos, as forças de poder, não sem batalhas e embates alheios às
camadas submissas entretidas. As lutas políticas travadas são lutas pelo direito de ditar a
verdade e engendrar a credibilidade necessária para o exercício e a manutenção do poder
enquanto os verdadeiros interesses continuam indecifráveis ao rebanho desorientado:
[...] naquilo que hoje em dia é chamado de estado totalitário é fácil. Basta manter um
porrete acima das cabeças deles, e se eles saírem da linha você lhes esmaga a cabeça.
Mas como a sociedade tem se tornado mais livre e democrática, perdemos esse
poder. [...] A propaganda política está para uma democracia assim como um porrete
para um Estado totalitário” (CHOMSKY, 2013, p. 21).

Partindo de pontos distintos, Foucault (2014) e Chomsky (2013) atingem um ponto


comum justamente naquilo que irá amparar nossa postura perante os paradigmas da vigilância.
Para ambos a produção e manejo da verdade estará no cerne do poder: o primeiro ditando sua
constituição em consonância às urgências, o segundo indicando a tendência do poder ser
utilizado para sua perpetuação. Para finalmente superar o antelóquio preparatório e partirmos
em direção à vigilância, lancemos ligeiramente nossa mirada a uma obra essencial para a
formação intelectual de gerações desde sua publicação na metade do Século XX: na obra

17
198410, George Orwell é quem, com extraordinária habilidade didática, narra o papel da
manipulação da verdade com intuito de emprego e concentração de poder. Em uma
proeminente passagem da trama, o conceito ao qual estivemos debruçados até aqui é
apresentado assim aos leitores: “quem controla o passado controla o futuro, quem controla o
presente, controla o passado” (ORWELL, 2005, p. 44).
A verdade é substrato da capacidade de engendrar a realidade. O poder, deveras, será
exercido por uma mecânica acomodada no âmago do ambiente físico urbano, distante da
guerra em terras limítrofes ou sequer riscos de insurgência interna. A política de vigilância vai
promover a expiação dos deturpadores das regras e avultosos do ordenamento estabelecido,
difundido e compartilhado como verdade. A desobediência há de ser compreendida como
hostilidade e, como tal, receber a pena por proto-insurgência. Dessa forma configurado, o
poder não carece de justificativas para agir. Ao contrário, suas ações reiteram os anseios da
massa domesticada que se fia em uma realidade reconhecida e aprazível. Precisa, contudo,
apenas apontar quem são os inimigos (FOUCAULT, 2014).
Os rituais jurídicos são, pois, manifestações representativas de uma engrenagem que,
quando bem azeitada, reitera as bases de sustento e preservação do poder. Salvo melhor juízo
diferentemente das hordas sociais primitivas da visão freudiana, Foucault (2014), entende que
“a arte de punir, no regime disciplinar, não visa a expiação e nem mesmo a repressão” (p. 179),
mas associar comportamentos singulares à comparação, diferenciação e exemplificação. A
política de vigilância precisa estar apoiada em uma realidade plausível, fundamentada,
organizada e compreensível. Os membros da horda social precisam estar em acordo com
diretrizes compartilhadas e reconhecíveis. Mais ainda, sentir-se pertencente ao grupo social é
fundamental pois, a identificação e apontamento de quem não cumpre ou se encaixa é
necessária para o reconhecimento dos parâmetros empregados:
[...] quem está submetido a um campo de visibilidade, e sabe disso, retoma por sua
conta as limitações do poder; fá-las funcionar espontaneamente sobre si mesmo;
inscreve em si a relação de poder na qual ele desempenha simultaneamente os dois
papéis; torna-se o princípio de sua própria sujeição (FOUCAULT, 2014, p. 179).

A fim de avançar no rasto da obra foucaultiana, Han (2018) afirma que, no regime
neoliberal,11 os indivíduos reproduzem a dominação em seu íntimo e a assimilam como
liberdade. Enfim, o controle dos corpos faz-se ineficiente frente a estratégia a que se serve à
estrutura atual de poder alicerçada no estímulo e manejo dos sentimentos. Em consonância,

10
Obra ficcional escrita por George Orwell no período pós-segunda guerra mundial com temática acerca da
vigilância incessante e controle do pensamento como método de condução social por regime totalitário de poder.
11
Reorganização das sociedades pela imposição disseminada de relações de mercado (GRAHAM, 2016).

18
Achille Mbembe (2011) propõe que os corpos, em si, não carregam valor e tampouco poder.
Tais elementos se constituem por uma abstração baseada no anseio pela eternidade.
Para Foucault, a vigilância intercorre inicialmente sob os olhares paternos, volta-se aos
corpos e precisa do auxílio da arquitetura (panóptico12) para estabelecer o posicionamento de
quem vigia e é vigiado, tem sua adoção, à totalidade, no arranjo social e visa sujeitos
completamente adaptados, dispostos a reproduzir suas dinâmicas. É voltada, segundo
(BRUNO, 2013) a indivíduos e populações para com as quais pode-se aplicar três elementos
fundamentais: observação, conhecimento e intervenção. Afirma Han (2018) que, no regime
atual, o da vigilância digital alimentada pelo ordenamento neoliberal, estes elementos estão
garantidos mesmo sem o auxílio da arquitetura panóptica, sendo o prisma da observação, por
meio da intersecção, livre de influências da perspectiva, pois todo ângulo pode, se não ser
captado, ser estimado. Os algoritmos, por fim, ignoram pontos cegos.
Diferentemente da vigilância panóptica, a vigilância digital propicia observar os sujeitos
até sua mais íntima profundidade, a de sua psique. O que estes e outros autores propõem é
olhar a vigilância dirigida por interesses mercadológicos como capazes de proporcionar
escolhas, contudo, escolhas limitadas, pré-determinadas e/ou sugeridas. Perpetra-se a arte de
conduzir condutas (FOUCAULT, 2014). Aliás, apesar de culminar em um ponto comum, não
deve ser ignorada a relevância de tal distinção em referência a um regime cujos métodos estão
acomodados em contato com o esteio da privação. Sob esta hipótese, a sedução a detrimento
da censura é o elemento chave para a sujeição dos indivíduos. As ações das pessoas, portanto,
possuiriam conotação não mais impositivas, mas facultativas, suas ações não mais coercitivas,
entusiásticas. De fato, a soberania pode prevalecer apenas onde e acima de quem mostra-se
capaz de interiorizá-la (DELEUZE & GUATTARI, 1995)
A vigilância digital resolve o problema do ângulo, da perspectiva e da superficialidade.
Debrucemo-nos ligeiramente, outra vez, à obra de Orwell: Smith e seus compatriotas eram
vítimas da sistemática extinção de palavras pelo idioma Nova Fala. Eram conduzidos à
redução de seu caráter a manifestações meramente visíveis e à limitação idiomática impedia a
elaboração de suas angústias, que os fazia incapazes de reconhecerem a noção de liberdade.
Todavia, Smith pôde refugiar-se em suas ideias e sentimentos (subjetividade) apesar dos
intentos da teletela e dos olhares obstinados e persecutórios do Grande Irmão13.

12
Modelo arquitetônico de prisão idealizado por Jeremy Bentham em 1785 onde os detentos estão constantemente
sob a mira dos carcereiros, mas aplicável em qualquer contexto assentado na disciplina e no controle. Michel
Foucault retoma o assunto no século XX a fim de traduzir a edificação dos arranjos sociais sob essa perspectiva.
13
Líder onipresente na sociedade orwelliana da obra “1984”.

19
O emprego do poder pela vigilância digital é imune à desastrosa possibilidade de
privação subjetiva. Para Han (2018), a liberdade se faz efetiva e a linguagem ilimitada, o
arbítrio neoliberal assume uma postura sutil, flexível e inteligente, faz-se invisível, acomete
os sujeitos da sensação de autonomia e auto-suficiência. Contudo, diferentemente da
emancipação do iluminismo, o sujeito da sociedade de controle neoliberal volta-se a um
exterior de consumo ressignificado e sentimentalizado. Ocupar-se das emoções “representa
um meio muito eficiente de controle psicopolítico do indivíduo” (HAN, 2018, p. 68).
Pelos sentimentos, a efetivação desta realidade mostra-se absolutamente eficaz. Será a
experiência estimulada nos sujeitos que renderá os materiais para o franco acesso a seus
aspectos psíquicos. A autoridade última sobre os sujeitos, então não mais será a anulação, mas
a alienação de sua subjetividade (HAN, 2018). A psicopolítica digital inaugura uma nova e
desconhecida crise da liberdade, onde mesmo a vontade mais íntima, e aparentemente genuína,
não é, senão, produto dos dispositivos de controle.

A SOCIEDADE DE CONTROLE

Concomitantemente ao início da disseminação e popularização da internet civil, Deleuze


(2012) atribuiu previamente a difusão da tecnologia nos artefatos de uso diário das pessoas à
sutileza do patrulhamento ao qual nos deparamos nos tempos atuais. Também Lemos (2010)
diz que não se trata mais de construir muros em volta das pessoas, mas deixá-las livres e esperar
que seus movimentos sejam executados, registrados, compilados, comparados e cruzados para,
assim, antever as consequências e exercer o poder de maneira estratégica.
A possibilidade de ordenação de metadados14 a partir de informações coletadas pelos
artefatos eletrônicos em rede e a possibilidade infinita de armazenamento e cálculo abrem
espaço para novamente recorrermos ao iluminismo. Diz, Ham (2018), que, se em tal período
histórico a estatística foi venerada, nos tempos de hoje a crença na mensurabilidade aporta-se
nos Big Data15. Han (2018) apoia-se no fato de, ao caminhar pelas ruas de uma grande cidade
moderna, um indivíduo, portando seus equipamentos, abandonará, em tempo real, uma
quantidade relativa de metadados, mas uma incomensurável quantidade de interceptações e
interpretações interseccionais acerca de si.

14
Informações que identificam, localizam e decifram os dados para serem lidos por algoritmos.
15
Grande volume de informações e processamento de dados. Pode ser considerada uma mudança
na forma de constituição do próprio conhecimento, pois estão mudando os objetos desse
conhecimento, bem como as interações humanas (Boyd e Crawford, 2012).

20
Aplicativos diversos que coletam referências distintas podem trabalhar em conjunto e
trocar seus resultados de pesquisa com dispositivos urbanos, como câmeras de vigilância
(LEMOS, 2010), privados, como a base de dados de uma corporação (GRAHAM, 2016) ou
militares, como os drones utilizados para o monitoramento de áreas de risco (BRUNO, 2018).
Em consonância, Han (2018) diz: “são medidos a temperatura corporal, os níveis de glicose, a
ingestão e o consumo de calorias, deslocamentos ou os níveis de gordura corporal” (p. 83)
conteúdo com potencial para exploração de ordem interseccional com outros tais, como trajetos
frequentes por regiões consideradas violentas16 e o hábito de atravessar a rua fora da faixa de
segurança, capazes de alimentar bancos de subjetividades. Sua influência pode ser tanto nos
valores da renovação do plano de saúde ou seguro de vida, ditados pelos níveis de exposição a
riscos, quanto em ofertar atividades de lazer distintas para pessoas diferentes em classe, etnia
ou gênero. Uma opinião política, se adicionada à sopa, arriscar-se-ia modificar a apuração por
completo, assim como a estratégia de intervenção.
Snowden (2019) avisa que a aplicabilidade dos aparatos tecnológicos vai muito além das
comunicações por palavras, mas tem a capacidade de interpretação das informações coletadas
e transformadas em metadados. Detalhes aparentemente irrelevantes como o som das vozes ou
a expressão facial inimitável extraída de uma selfie, são materiais para o escrutínio dos
algoritmos. O conteúdo visível/audível das comunicações é infinitamente menos interessante
do que as informações não ditas e contextuais ali contidas, ideais para os programas
especializados em calcular e traçar padrões de comportamento.
A vigilância digital, por um lado, tem roupagem protetiva remanescente do território
capitalizado. Por outro, bem mais ofuscada, apresenta-se tal qual uma acintosa e sistemática
metodologia de estigmatização e política instauração do medo, ambas institucionalizadas. Para
André Lemos (2010), havendo uma câmera, em uma esquina, por um lado, indica-se, ao sujeito
surpreendido por ela, a existência de uma insegurança na qual a tecnologia pode servir e atuar.
Simultaneamente, indica um histórico de ocorrências passadas ou, presumivelmente,
frequentes. Mais ainda, pode significar a presença de algo ou alguém capaz de despertar
interesse. Começa a desnudar-se, enfim, o que, até então, podíamos apenas acercar: a influência
dos dispositivos modernos de segurança na relação dos sujeitos com o meio, isto é, com os
lugares e não-lugares. Vê-se com claridade, na passagem recém encenada, os pilares da
vigilância travestida de securitização: fenomenológico (dispositivo), topológico (o meio) e o
genealógico (o medo e a insegurança). Lemos (2010) descreve a angústia, o medo e a paranoia

16
Ver “Mapas de crime: vigilância distribuída e participação na cultura contemporânea'' (Bruno, 2010)

21
como elementos de uma escalada de sensações desencadeadas pela simples percepção da
presença de um sentinela eletrônico. A securitização novamente nos aproxima da ideia de
vigilância e normatização dos sujeitos para a proteção de patrimônios. Ao falar dos territórios
urbanos tornados e mantidos sitiados como modus operandi da administração das cidades
modernas, Graham contribui assim:
Tanto a polícia quanto as forças militares de Estado cada vez mais se preparam para
colocar supostos inimigos e riscos na mira tanto dentro quanto fora dos limites do
território nacional. Na ausência de um inimigo uniformizado, os próprios grupos
urbanos se tornam o inimigo principal. [...] As operações do policiamento
militarizado e das Forças Armadas “policializadas” administram os limites ao redor
dos complexos arquipélagos de privilégios e poder - onde aqueles que não
representam risco e precisam de proteção vivem, trabalham e se divertem -, bem
como garantem o cumprimento das regras nos arquipélagos emergentes de descarte,
armazenamento e encarceramento humanos (GRAHAM, 2016, p. 166).

A mesma lógica pode e é, segundo evidências, extravasada para além das câmeras de
vigilância, atuando com muito mais capacidade de aproximação por intervenção de algoritmos
instruídos a destrinchar materiais coletados em massa. Segundo Snowden (2019), ex-
funcionário de alto escalão da CIA e de empresas prestadoras de serviço à esta agência
estadunidense, o referido governo, para o qual trabalhou, desenvolvera, nos anos seguintes aos
atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 e no contexto da Guerra ao Terror iniciada em
2003, um sistema capaz de compilar e armazenar toda e qualquer informação digital de uma
pessoa exposta, direta ou indiretamente, aos dispositivos em rede. Snowden ainda hoje causa
furor com suas revelações que vão desde espionagem de líderes políticos internacionais, como
Dilma Rousseff e Ângela Merkel, até a patrulha de conteúdos privados de cidadãos
estadunidenses. Como mostram reportagens17 feitas à época das denúncias, “oficialmente, a
Agência de Segurança Nacional só deveria espionar os hackers que tivessem ligação com os
governos de outros países, mas na prática acabou indo além e monitorando também pessoas
que não tinham ligação com esses governos”.
Se anteriormente pudemos descrever como a coleta de rastros digitais pode ser um
mecanismo para a intervenção junto ao sujeito, aqui salientamos a vinculação desses rastros à
geografia, aos gêneros, às etnias e às classes sociais. As camadas discursivas presentes nessa
apuração, uma vez dispersadas, atuam tal como anteriormente dito por Chomsky (2013),
servem às ambições dos agentes de poder com apoio do aparato midiático. A produção de
verdades impreteríveis para a anuência do poder, via difusão do medo, promove a desordem, a

17
<http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2015/06/denuncias-de-snowden-revelam-mais-um-tipo-
de-espionagem-nos-eua.html>

22
guerra e outorga um estado de exceção onde perdas individuais são implicadas ao “bem
comum” dos sujeitos “de bem” (MBEMBE, 2011). O apelo ao local e aos “nossos” doravante
à demonização do diferente equivale à sentimentalização de um e a desumanização do outro
(GRAHAM, 2016).
O embate de discursos e forças do mundo contemporâneo sugere que as cidades (e por
que não o ciberespaço?) são palcos de disputas por, dentre outros temas, símbolos e
significados sustentados no maniqueísmo de um “nós” contra um “eles” que será reconhecido
como um alvo inimigo e odiado (GRAHAM, 2016). As verdades produzidas acerca de
populações e territórios influenciam, ademais, na formação das subjetividades. No espaço
convergente, um modelo de homem e mundo é concebido e posto em prática pelos mecanismos
de poder (AUGÉ, 2012).
Assim como as práticas censitárias tinham papel biopolítico, o Big Data, produto do
ciberespaço, tem papel psicopolítico, logo, mais além da simplória leitura demográfica, a
decodificação interseccional de dados permite uma leitura psíquica dos sujeitos (HAN, 2018)
seguida do aporte discriminatório de seus algoritmos. Como já dito, funcionando como
engrenagens bem azeitadas, os algoritmos irão formular e executar seus cálculos a fim de
antever indicadores e propor intervenções a grupos e/ou territórios. Chamamos a sua atenção
para isso. É aqui, em suas predições, que se situa o mais contundente perigo oferecido pelos
algoritmos. Bruno (2018) relata: “a tentativa de antecipação, em muitos casos, acaba
performando e tornando efetivo o que se previu (p. 249). Isso quer dizer que algoritmos são
ideais a um regime normalizador, racista e misógino, servem às forças de segurança e as
fazem aprender a distinguir previamente insurgentes, terroristas e pessoas perigosas para
outras milhões de pessoas inofensivas ou “menos inofensivas” numa realidade onde “as
pessoas são, para todos os efeitos, idênticas e indistinguíveis” (GRAHAM, 2016, p. 167) e
“quanto maior a escala de vigilância, mais provável é que falsos positivos surjam na busca
de pessoas de interesse" (LYON, 2016, p. 27)
Prudente, a população assustada assente que os dispositivos de segurança estejam em
todos os lugares e resigna-se ante a possibilidade de viver sob o escrutínio e cálculo eletrônico
onipresentes (DELEUZE, 2012). Tal poder entregue aos governantes, sem embargo, pode ser
notado nas manchetes oriundas do período imediatamente após as revelações trazidas por
Snowden: “ao espionar a internet de olho nos hackers estrangeiros, o governo americano
também teve acesso aos dados que ele pretendia preservar, as informações de empresas e
cidadãos americanos, incluindo e-mails pessoais, segredos comerciais. Isso porque se um
hacker de outro país estivesse roubando dados de alguém nos EUA, o governo americano, ao

23
espionar, também tinha acesso a essas informações” (trecho da nota de rodapé nº 13, como
citar?). No Brasil, a imprensa tem feito denúncias frequentes acerca de abuso de poder por parte
do Estado e relatado perseguição a profissionais de imprensa e personalidades públicas não
alinhadas. Técnicas típicas do biopoder que Carlos Bolsonaro, filho do presidente Jair
Bolsonaro, visa deixar para trás com um brusco “upgrade” metodológico. A fim de colocar o
Brasil na vanguarda da perseguição por meios digitais, Carlos, que vereador da cidade do Rio
de Janeiro, buscou intermediar a compra de um software espião israelense chamado Pegasus18.
O software difundido em países como México, Índia e Arábia Saudita (ALVES, 2021), é capaz
de acessar conteúdos de pessoas sem autorização judicial e sem ser percebido. A cada revelação
mais atenção o tema da vigilância tem recebido, isto porque há muito em jogo, não somente
para o âmbito acadêmico, mas aquilo que será a internet no futuro. Mais que isso, há muito em
jogo para a privacidade, os direitos humanos, as liberdades civis, a liberdade e a justiça (LYON,
2016)
Fato é que a permeabilidade dos territórios informacionais, as intrincadas estruturas dos
não-lugares e o papel policial do Estado, propiciam, inexpugnavelmente, uma argumentação
em favor de um reordenamento estratégico da vigilância em prol da segurança dos sujeitos.
Outrossim, a ausência da arquitetura disciplinar e o estímulo ao deslocamento e expressão
corroboram à impressão dos membros das hordas citadinas quanto à necessidade dos
mecanismos produtores de segurança terem de acompanhar o desenvolvimento tecnológico.
Logo, tais discussões explicitam o uso de tecnologia, até mesmo militar, para o monitoramento
e mineração de dados por algoritmos computadorizados preparados para o rastreio, a
identificação e o constante acompanhamento de “outros” ameaçadores. Para a legião de
habitantes/transeuntes, confusa e apressada, das cidades em ávido desenvolvimento urbano, a
perda de sua privacidade lhes parece justificável (GRAHAM, 2016). Aplicar e receber
tratamento diferenciado apresenta-se como finalidade útil e elementar para a instauração da
política de vigilância. Exercê-la, neste caso, reafirma o modelo institucional vigente, configura-
se como parte da arte de governar (FOUCAULT, 2008). Ademais, exercer poder confunde-se
com a posse indissociável dele. Por outro lado, no que tange à massa conduzida, estar
relativamente ciente e de acordo a respeito da vigilância é condição imprescindível para sua
eficácia.

18
<https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2021/05/19/pegasus-conheca-o-software-da-crise-
entre-carlos-bolsonaro-e-militares.htm>

24
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Não pretendemos aqui responder todas as perguntas para as quais deixamos algum fio
desencapado. Entretanto, nos convém destacar algumas observações e debates que ocorreram
durante todo o nosso processo de pesquisa, desde as primeiras ideias no encontro citado no
início, até esta noite, quando finalizamos mais uma call para discutir e fazer as últimas
correções:
A vigilância privada e/ou estatal tem conduzido a humanidade a novos paradigmas para
suas relações, trazido novas interpretações acerca de sujeitos, povos e culturas. Políticas de
controle têm sido empregadas sistematicamente há séculos, mas nunca foram tão grandes, tão
antagonicamente condensadas e fragmentadas, nem tão abrangentes quanto atualmente. Jogar
luz em cima dessa realidade é essencial para o desenvolvimento da psicologia enquanto ciência
e profissão, entretanto, também desperta interesse de áreas como as ciências-sociais, a
antropologia, a filosofia e outras, todas imprescindíveis para a organização deste estudo.
À luz da investigação acima organizada, torna-se despido o fato de que os agentes de
poder operam as instituições civis e estatais descaradamente a fim de elucubrar as
subjetividades dos sujeitos. Todavia, ordená-las e regulá-las por via de seus corpos tornou-se
obsoleto. Conduzi-las e predizê-las, no entanto, não finda seu interesse. A intervenção sobre os
sujeitos no regime psicopolítico se dá quando da passagem à autovigilância, o funcionamento
automático, a ação espontânea, a plena sujeição (BRUNO, 2013).
Pode-se, também, vislumbrar como as instâncias jurídicas tendem a ser ignoradas a fim
de se conseguir operar a condução da conduta. Mais além, vê-se tudo isso acontecer sem
coerção e com euforia. A sede de justiça incitada pelo medo e pela alienação é amalgamada,
como no biopoder, na desumanização de sujeitos e territórios, mas, hoje em dia, a mídia, o
exército de outrora, capaz de baixar o porrete sobre as cabeças, sujeita-se a realizar os planos
da casta dominante sem convocação, e sim por ambição. Apesar das discrepâncias entre a
sociedade disciplinar e a de controle, mantém-se máxima foucaultiana de que, ao contrário do
que dissera Guy Debord, autor de Sociedade do espetáculo, vive-se a vigilância, não um
espetáculo. Isto, pois, os indivíduos não ocupam o palco e tampouco a plateia. São, de fato, a
própria engrenagem (FOUCAULT, 2014) e fazem seus papéis como se estas fossem suas
verdadeiras vocações.
Há quem pense que isso exime, de certa forma, os vigias, argumentando que fora o
próprio sujeito quem expôs e permitiu o uso dos seus dados em troca de alguma comodidade,
alguma diversão ou, principalmente, impressão de segurança. O Grande Irmão da sociedade

25
neoliberal tem uma aparência amável e a exploração dos corpos do regime disciplinar, hoje,
dá-se haja vista a auto-exploração. Anseios particulares não são, na época atual, reprimidos,
mas incentivados e, por isso, desvelados espontaneamente pelos próprios sujeitos. Viver a
vigilância do regime psicopolítico neoliberal é curvar-se à escrutinação detalhada de cada
novo passo dado, é ter seus traços subjetivos freneticamente compilados e apreciados em
investigações de cunho longitudinal e interseccional. É colaborar ativamente com os
propósitos de normatização do caráter subjetivo dos indivíduos.
Porém, além desses jogos de poder e dominação, existem saídas e possibilidades de
liberdade? Essa pergunta permeia o nosso trabalho vez ou outra, todavia, não foi foco de nossas
investigações por entendermos que tal debate teórico renderia outro trabalho de iniciação
científica. Ainda assim, permitimo-nos divagar sobre algumas possibilidades.
Um debate antigo, mas que ganha novos contornos e especificidades nesse contexto
digital de acúmulo de dados e informações, é o direito ao esquecimento. Basicamente, o direito
ao esquecimento garante a todo cidadão o direito de resguardar qualquer comportamento
passado que lhe remeta a algum tipo de arrependimento, sofrimento ou prejuízo. Como exposto
e debatido no trabalho, os dispositivos e ferramentas tecnológicas atuais permitem armazenar
toda e qualquer informação uma vez exposta no ciberespaço. Dito isso, nos questionamos: é
possível exercer tal direito no mundo digital de acúmulo de informações sobre os usuários do
ciberespaço? Qual o limite da utilização de informações por instituições públicas ou privadas
para fins e interesses particulares?
Também, o ambiente digital tem trazido à tona os perfis fakes que, apesar de serem uma
representação falsa do usuário real, ainda assim, têm o poder de mobilizar outros sujeitos a
nível de afetos e atos, tanto no ciberespaço como nos territórios concretos. Mesmo sendo uma
forma de mascarar alguns subsídios de identificação do indivíduo que opera um desses perfis,
este não escapa dos sistemas de rastreamento de atividades e do seu inexorável processamento
e cruzamento de metadados, não sendo imunes às ferramentas de vigilância e aos que servem
ao arregimentar de verdades.
Dentre os autores que nos baseamos, Foucault foi quem colocou em nosso horizonte uma
possibilidade de buscar uma suposta liberdade ou autonomia. Uma das possibilidades de
resistência a esses jogos de poder existentes pode ser o que Foucault (2006a) chama de
cuidados de si, encontrados principalmente nas sociedades greco-romanas da antiguidade.
Nessa perspectiva, o indivíduo, mediante exercícios espirituais diversos, como provações,
autoexames, anotações a respeito de si, meditação, regimes dietéticos etc., busca a sua verdade
interior. Entretanto, visto que o sujeito da modernidade é diferente e que não possui uma alma

26
ou essência, esse agora busca a sua verdade por via do conhecimento, seja ele filosófico,
científico ou religioso. Saber a verdade a respeito das forças de dominação, relações de poder
e discursos dominantes pode ser, para o sujeito moderno, uma das formas de se libertar dos
processos de sujeição. Nesse ponto, vale alguns questionamentos para investigações futuras no
sentido de compreender quais práticas são possíveis no ciberespaço para que o sujeito possa
conhecer a verdade e, assim, exercer a lucidez frente aos processos de sujeição presentes.
Os ambientes de interação puderam ser entendidos para além de suas simples
manifestações físicas e espaciais, abrimos, nesta pesquisa, enfoque sobre as correlações acerca
dos papéis exercidos e dos diferentes cenários entrelaçados que compõem a vida cotidiana de
parte significativa da população humana atual. Tal como as leis da física, aplicáveis em
diferentes condições, mas que, em cada uma dessas condições, proporcionam diferentes
resultados, nossa pesquisa aponta com clareza as regras do convívio, do controle e da
organização social repetirem-se em cada um dos ambientes abordados, contudo, obtendo, em
cada um, diferenças quanto à sua eficácia e potencial.
Encerramos, enfim, agradecendo a nós mesmos por persistirmos frente a realidade atual
sombria, e resistirmos na luta pelo desenvolvimento das ciências humanas diante do cenário
protofascista que, no Brasil, nega as ciências de modo geral. Para nós, o processo de pesquisa
que, para além das referências e métodos científicos, foi também um percurso de construção
de um pensamento mais crítico sobre os discursos que formam a nossa realidade.
Curiosamente, durante o nosso caminho, fomos obrigados a migrar dos espaços físicos para o
ambiente virtual e sentimos na pele os efeitos decorrentes da exclusiva interação através da
tecnologia. Pudemos, particularmente, reafirmar a limitação do virtual ante o concreto. Apesar
das facilidades propiciadas, este trabalho só pôde chegar ao fim com doses cada vez mais
frequentes de encontros presenciais.

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