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Filosofia: tecnologia e comunicação na atualidade

Desde a Revolução Técnico-científica da década de 1970 o mundo iniciou


uma nova fase de mergulho no âmbito tecnológico. Com isso vieram os primeiros
computadores domésticos, a criação de softwares, e posteriormente a Internet
os quais permitiram ao mundo estar mais conectado, e a ter as distâncias
reduzidas com o advento do e-mail.

Na atualidade as redes sociais, Facebook, Instagram, e Twitter incentivam


postagens pessoais, e são objeto cada vez maior de propagação de informações
públicas e privadas da vida de milhões de pessoas. Também existem os
aplicativos de conteúdo, os quais aproximam o usuário de uma realidade virtual
intensa, por meio dos quais é até possível ganhar dinheiro simplesmente
realizando pequenas tarefas.

Todas essas facilidades tecnológicas e a possibilidade de romper os


limites de espaço e tempo possuem seus vieses benéficos, à medida que
auxiliam na resolução de problemas cotidianos e tornam a vida mais confortável,
entretanto os meios também servem para a propagação da vigilância, fake news,
e até na manipulação negativa das massas.

No século XXI é inegável desconsiderar a influência dos conceitos do


panóptico de Bentham e do panóptico de Foucault, os quais contribuem para
pensar justamente nos efeitos negativos da tecnologia no cotidiano da
sociedade, porém vamos compreender quem são nossos filósofos e quais as
suas contribuições.

Jeremy Bentham nasceu em Londres, em 1748, e dedicou atenção ao


Direito e Filosofia. Devido ao caráter de suas ideias ele é considerado um
utilitarista, tal como John Stuart Mill e James Mill, à medida que advogava a
maximização da utilidade como forma de felicidade. Ou seja, as ações no campo
da ética e do comportamento deveriam ser compreendidas em função do maior
ou menor bem-estar para as partes.

O panóptico de Bentham e uma estrutura circular que permite a fácil


vigilância dos presos. Por meio do método e possível exercer o controle e a
disciplina sobre a penitenciária, escola, fábrica ou hospital. Apesar da
perspectiva organizacional a ideia do panóptico permite ampliar sua abordagem
para pensar sobre seus efeitos sociais. As populações poderiam ser vigiadas e
ter suas capacidades de decisão e escolha reduzidas, pois, afinal, como saber
se de fato existe ou não um vigilante na torre em dada hora ?

Michel Foucault nasceu em Poitiers, França, em 1926, e dedicou atenção


a Filosofia. Suas ideias abrangem a perspectiva da linha de pensamento pós-
estruturalista, o qual aborda a rejeição da linha estruturalista (herança iluminista),
pois essa não conseguiria explicar os fenômenos sociais existentes por causa
de sua tendência binária.

A binaridade do estruturalismo produz respostas em pares, tais como da


ordem do certo e o errado, simbólico e imaginário, feminino e masculino, e o pós-
estruturalismo valoriza o relativismo e o desconstrutivismo, tais como elementos
de afirmação filosófica.

A concepção do panóptico de Foucault amplia a ideia do panóptico de


Bentham a partir da compreensão da aplicação de uma disciplina social. Essa
disciplina não possui a intenção de produzir organização, mas, sim, de resultar
na produção de corpos dóceis, de indivíduos adestrados, de sujeitos controlados
pelos meios de vigilância do panóptico.
Na atualidade o modelo do panóptico de Bentham e de Foucault é válido
para refletirmos sobre o poder da tecnologia e da comunicação, visto que
diversos atores podem ser compreendidos na função de vigilância social, e,
portanto capazes de exercerem um controle, ou cerceamento do poder de
escolha individual, da expressão, do voto, da compra, da arte, enfim, de uma
série de elementos.

A vigilância possui um duplo sentido, pois de um lado ela é vista, tal como
boa por causa de argumentos de proteção, transparência e organização, porém
de outro lado ela é vista de forma negativa, visto que abre um precedente para
a manipulação negativa da sociedade.

Os algoritmos que conduzem o usuário a escolher uma compra, ou


considerar a validade de um site de informação são exemplos desse panóptico
virtual. De forma análoga diz-se o mesmo sobre os conteúdos das redes sociais
e sua relação com a propagação de fake news.

A informação no cotidiano é acessível e de forma semelhante à


capacidade de comunicação, porém não é toda a informação que pode-se
chamar de boa, pois a mesma pode estar enviesada para a formação de corpos
dóceis, tal como o conceito de Foucault, e mesmo constituir-se de um meio de
controle e disciplina, tal como o conceito de Bentham.

O uso da tecnologia e as formas de comunicação na atualidade auxiliam


no processo de interpretação do que é feito, de como é feito, e sobre o que
fazemos frente a realidade do panóptico virtual. Por isso é importante o
questionamento para que sorrateiramente as pessoas não sejam privadas de
suas escolhas e do acesso a informações de qualidade.

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