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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS - DCC


LICENCIATURA EM MATEMÁTICA

LUCAS FERREIRA BORGES


LEONARDO MARQUES MANOEL

TRABALHO DISSERTATIVO FINAL

Divinópolis
2023
LUCAS FERREIRA BORGES
LEONARDO MARQUES MANOEL

TRABALHO DISSERTATIVO FINAL

Trabalho apresentado como avaliação


parcial integrativa no curso de Matemática
dentro da disciplina de Filosofia,
contemplada no primeiro período na
Universidade do Estado de Minas Gerais –
unidade Divinópolis.

Divinópolis
2023
1 INTRODUÇÃO

A era digital trouxe consigo transformações profundas na forma como nos


relacionamos, comunicamos e nos compreendemos como seres humanos. Nesse
contexto, as abordagens filosóficas de John Locke, no livro "Ensaio sobre o
entendimento humano", e as definições concebidas por Byung-Chul Han, em "No
enxame: perspectivas do digital", fornecem um ponto de partida valioso para
compreendermos o fenômeno do Homo Digitalis.
Nesta dissertação, exploraremos os conceitos desses autores e apresentaremos
evidências empíricas da existência desse fenômeno na sociedade contemporânea.

2 DESENVOLVIMENTO

John Locke, um dos principais filósofos do iluminismo, postula em seu "Ensaio


sobre o entendimento humano" que a mente humana é uma "tábula rasa" que adquire
conhecimento através da experiência sensorial. Segundo Locke, nossa compreensão do
mundo é construída a partir das evidências que temos por meio dos sentidos. Essa
perspectiva se mostra relevante no contexto do Homo Digitalis, uma vez que cada vez
mais vivemos imersos em um mundo virtual mediado por dispositivos eletrônicos.
Byung-Chul Han, por sua vez, em "No enxame: perspectivas do digital", discute
a influência do digital na sociedade contemporânea. O autor argumenta que, ao
contrário da vigilância por uma figura autoritária, vive em uma sociedade de
"exibicionismo" digital, na qual cada indivíduo se expõe voluntariamente. Han destaca a
construção de identidades virtuais e lógica da visibilidade constante, na qual a
privacidade é sacrificada em prol da conexão e da busca por aprovação social.
Esses conceitos filosóficos têm respaldo em evidências empíricas que atestam a
existência do fenômeno do Homo Digitalis na atualidade. As redes sociais, por
exemplo, é um exemplo claro desse contexto. De acordo com o estudo Digital 2022:
Global Overview Report, publicado pelo site Dataeportal*, mais de 4,5 bilhões de
pessoas utilizam plataformas de redes sociais em todo o mundo, representando mais da
metade da população global. Essas plataformas permitem a criação de perfis virtuais nos
quais os indivíduos vivenciaram suas experiências, opiniões e experiências sociais.
O Laboratório Delete-Detox Digital e Uso Consciente de Tecnologias, da
Universidade Federal do Rio De Janeiro (UFRJ), fez uma pesquisa que evidencia essa
dependência tecnológica, que foi produzida no período de 1º de novembro de 2020 a 1º
de janeiro de 2021, mostrando que 62,5% das pessoas usaram tecnologias por mais de
três horas todos os dias, e 49,1% por mais de quatro horas, durante o período de
isolamento social devido a pandemia da covid-19.
Anna Lucia Spear King, psicóloga doutora em saúde mental, realizou outra
pesquisa interessante sobre essa dependência: 44,3% frequentemente se sentiam mais
felizes durante o dia por usar as tecnologias, enquanto 26,8% se diziam tristes por não
poderem usá-las. Já 17,3% relataram algum medo ao perceber que não tinham acesso às
tecnologias e 29,5% ficavam nervosos. Correlacionando com o que foi abordado nas
pesquisas supracitadas com os pensamentos dos filósofos John Locke e Byung-Chul
Han, vemos o impacto da tecnologia em nossas vidas afetando nossa maneira de agir e
pensar. Além disso, a dependência crescente de dispositivos eletrônicos é outra
evidência do fenômeno do Homo Digitalis. Pesquisas mostram que, em média, uma
pessoa verifica seu smartphone mais de 150 vezes por dia de acordo com Zak
Islam(Diretor e Engenheiro de Software da Amazon Web Services) .
Nessa linha, enquanto a sociedade disciplinar do século XX vigiava e punia o
sujeito moderno, na sociedade do cansaço o sujeito contemporâneo se tornou seu
próprio vigia, guiado por uma positividade generalizada. A pandemia de COVID-19 foi
um ponto crucial para vermos a dependência tecnológica que estamos vivendo e foi uma
agravadora da mesma.
Essa conexão constante com o mundo digital tem impacto na forma como
conflito o tempo, as relações interpessoais e até mesmo a nossa saúde mental.

3 CONCLUSÃO

A abordagem de John Locke no "Ensaio sobre o entendimento humano" e as


configurações projetadas por Byung-Chul Han em "No enxame: perspectivas do digital"
fornecem um arcabouço teórico relevante para compreendermos o fenômeno do Homo
Digitalis na atualidade. A experiência das redes sociais e a dependência crescente de
dispositivos eletrônicos são evidências empíricas claras desse fenômeno. No entanto, é
importante ressaltar que o estudo do Homo Digitalis é uma tarefa complexa e em
constante evolução.
A compreensão dos efeitos do digital na sociedade requer uma análise
multidisciplinar que envolve não apenas a filosofia, mas também a sociologia, a
psicologia e outras disciplinas. Diante disso, é fundamental que sejamos críticos e
reflexivos em relação ao nosso envolvimento com o mundo digital.
Devemos buscar um equilíbrio saudável entre a vida virtual e a vida real,
mantendo a consciência de que somos seres humanos inseridos em uma sociedade
digital, mas não devemos permitir que nossa essência seja perdida nesse enxame digital.

4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

HAN, Byung-Chul. No enxame: perspectivas do digital. Trad. Lucas Machado


Petrópolis: Vozes, 2019, 134p. Aoristo - International Journal of Phenomenology,
Hermeneutics and Metaphysics.

LOCKE, J. Ensaio sobre o entendimento humano. Trad., apresentação e notas Pedro


Paulo Garrido Pimenta. São Paulo: Martins Fontes, 2012. (Selo Martins.)

Mundo se aproxima da marca de 5 bilhões de usuários de internet. Datareportal.


Disponível em: https://www.insper.edu.br/noticias/mundo-se-aproxima-da-marca-de-5-
bilhoes-de-usuarios-de-internet-63-da-populacao . {Acessado em Junho de 2023}.

Usuário médio olha para o telefone 150 vezes por dia, por Zak Islam. Disponível
em : https://www.tomshardware.com/news/Smartphones-Phones-Handsets-User-
Cell,20645.html
{Acesso em Junho de 2023}.

Laboratório Delete-Detox, por Anna Lucia Spear King, psicóloga doutora em saúde
mental,Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Disponível em:
https://propsam.ipub.ufrj.br/laboratorio-delete-detox-digital-e-uso-consciente-de-
tecnologias/ {Acesso em Junho de 2023}.

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