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Inicialmente buscamos na Antropologia uma base para melhor analisarmos a relação entre o
Homem e as tecnologias. Segundo Consentino (2006), as tecnologias atuais consistem em
uma sucessão de desdobramentos das ferramentas fabricadas pelos nossos ancestrais
coletores e caçadores. A capacidade de produzir e utilizar ferramentas não é exclusividade do
Homo Sapiens
, pois outras espécies como primatas, demais mamíferos e até algumas aves também possuem
essa habilidade. O uso dessas ferramentas propiciou uma modificação na dieta - anteriormente
herbívora - e fez com que aumentasse as fontes de energia que resultou na maior expansão e
evolução do cérebro. As primeiras ferramentas fabricadas pelo Homem estavam basicamente
relacionadas à alimentação e serviam para cortar a carne e desossar carcaças. Como
podemos observar, a criação e o uso das ferramentas supostamente alteraram e intensificaram
o conhecimento, bem como as trocas sociais, visto que o Homem é uma espécie que se
organiza em sociedade. Essa forma de organização, segundo Foley (1996), também está
relacionada à evolução cerebral da espécie humana.
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A influência das inovações tecnológicas sobre o comportamento humano - Mônica Vidal
Com base na definição de Lévy (1999), o virtual é uma dimensão da realidade. Nas palavras do
autor:
“Em geral acredita-se que uma coisa deva ser real ou virtual, que ela não pode, portanto,
possuir as duas qualidades ao mesmo tempo. Contudo, a rigor, em filosofia o virtual não se
opõe ao real, mas sim ao atual: virtualidade e atualidade são apenas dois modos diferentes da
realidade”. (p.47).
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A influência das inovações tecnológicas sobre o comportamento humano - Mônica Vidal
O Real, por sua vez, representa o todo da realidade, ou seja, engloba os aspectos virtuais e
não-virtuais. A vida real de uma pessoa envolve tanto sua vida virtual quanto sua vida
presencial.
O conceito de Presencial se refere aos encontros que acontecem no espaço físico, bem como
os acontecimentos, relacionamentos e comportamentos que não são mediados pelo
computador, como as interações “cara a cara”, por exemplo.
A questão da interseção entre o mundo Virtual e o mundo Real pode ser melhor compreendida
à luz da origem e desenvolvimento do ego proposta por Winnicott (1975). Em linhas gerais, a
experiência de ser amamentado por diversas vezes faz com que o bebê perceba a existência
de ciclos rítmicos de bem-estar / mal-estar. Logo, ele percebe que ao chorar, ele é
amamentado e tem sua necessidade de alimentação satisfeita. Com isso, o bebê passa a
antecipar o que acontecerá quando ele chorar e aprende a esperar quando a mãe passa a
frustrar suas expectativas de ser alimentado imediatamente. Nesse intervalo entre o desejo de
ser alimentado e o tempo esperado até ter seu desejo satisfeito, abre-se um espaço mental de
fantasia. Esse espaço de representação é um espaço potencial, onde os objetos externos (seio
da mãe) passam a adquirir uma representação interna. O ego do bebê é interno e externo ao
mesmo tempo, ou seja, ainda não há uma diferenciação entre o “eu” e o “não eu”. Mais tarde,
através da brincadeira, a criança passa a experimentar papéis, sentimentos e possibilidades. O
brincar passa a ser um lugar transicional onde a criança ensaia sua existência e descobre no
espaço potencial (que não é nem externo e nem interno), as regras do mundo externo e do
interno. Safra (2006) sugere que esse espaço potencial gerado pela criança no ato da
brincadeira, seria o que se entende por espaço virtual, pois à frente do computador, o
internauta encontra-se sozinho e ao mesmo tempo em relação com o outro distanciado. Esse
espaço transicional, onde o outro encontra-se suficientemente distanciado, permite que o eu do
internauta se expresse de maneira mais livre e ao mesmo tempo mais protegida do que se
essa relação acontecesse de forma presencial.
Por fim, concluímos que as inter-relações humanas perpassam o mundo virtual e o presencial,
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A influência das inovações tecnológicas sobre o comportamento humano - Mônica Vidal
Referências Bibliográficas:
FARAH, R. Ciberespaço e seus navegantes: novas vias de expressão para antigos conflitos
humanos . 2009. Dissertação (mestrado em Psicologia Clínica) - Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2009.
FARAH, R. ; FORTIM, I. (Orgs.) Relacionamentos na era digital. São Paulo: Giz Editorial, 2007.
MARCONDES FILHO, C. Haverá vida após a Internet? Famecos, Porto Alegre, n. 16, p. 35-34,
dez. 2001.
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