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Artigo apresentado como trabalho de conclusão de curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina,
como requisito parcial para obtenção do título de Psicóloga. Orientadoras: Profs. Zuleica Pretto, Drª e Camila
Felipe Tonn, Msc. Palhoça, 2018.
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Acadêmica do curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina. palomapassig@gmail.com.
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De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2017, o Brasil possuía o número de
207.660.929 milhões de habitantes.
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Em uma pesquisa realizada no País no quarto trimestre de 2016 com o tema TIC.
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Essa nova forma de sociabilização, a virtual, pode ser considerada uma característica da
cibercultura que segundo Lévy (1999, p. 17) é “um conjunto de técnicas, de práticas, de atitudes,
de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do
ciberespaço”. Neste ciberespaço, o sujeito tem a possibilidade de conectar-se imediatamente a
qualquer lugar que pretender e assumir a identidade que desejar, sendo que o tempo e o espaço
não são limites (MOREIRA, 2010). Para Moreira (2010, p. 4) “a realidade virtual apresenta
uma nova possibilidade de relação com o mundo através da simulação do real”, fatores esses
que colaboram para a constituição da subjetividade. A partir do ciberespaço, “estamos vivendo
a abertura de um novo espaço de comunicação, e cabe apenas a nós explorar as potencialidades
mais positivas desse espaço nos planos econômico, político, cultural e humano” (LÉVY 1999,
p. 11). Para Siegmund, Lisboa (2015), essa realidade assinala a necessidade de um olhar atento
da Psicologia para esse novo cenário de estudo, e mais recentemente, de prática dos psicólogos.
Para Moreira (2010) a nova mídia representada pela internet aumenta o potencial de
produção subjetiva, alterando as experiências físicas, mentais e sociais dos sujeitos, como
também, segundo a autora, altera a relação com o próprio corpo, o tempo, o espaço e com a
ideia de um ser autônomo.
Corroborando o assunto, para Pereira Júnior (2011) a contemporaneidade é representada
por diversas características que trazem consequências sobre a subjetividade, como também é
caracterizada pela emergência de características particulares na história humana. “Essas
características impactam a vivência do sujeito contemporâneo, trazendo sofrimentos que,
mesmo não sendo inéditos, se apresentam numa frequência nunca antes observada”. (PEREIRA
JÚNIOR, 2011, p. 02).
Para o autor supracitado, das características contemporâneas uma delas é a valorização
social do narcisismo que resulta em um sujeito demasiadamente individualista, focado no culto
ao prazer, ao corpo e aparência. Esses valores são apresentados diariamente nas mídias, a ponto
do sujeito se sentir socialmente inapropriado caso não consiga se enquadrar nos moldes de
beleza e ostentação apresentados. (PEREIRA JÚNIOR, 2011).
Ainda segundo Pereira Júnior (2011) através das mídias, ao mesmo tempo em que o
sujeito contemporâneo é afetado pela circulação do pensamento massificado é afetado também
com o individualismo e a homogeneização. Nesse sentido, “a originalidade e criatividade de
pensamento e opinião é uma tarefa árdua ao sujeito, e a dimensão da profundidade e
interioridade é desvalorizada em nome do que é superficial e efêmero.” (GIOVANETTI 1999
apud PEREIRA JÚNIOR, 2011, p. 08).
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Resultado disso, é um sujeito vazio de sentido pessoal, que flutua ao sabor das notícias,
programas entre outros do momento. (PEREIRA JÚNIOR, 2011).
Segundo Pereira Júnior (2011), essa saturação social de informações, que é denominada
de sociedade de informação exerce outras influências subjetivas como por exemplo a ansiedade.
Essa ansiedade, pode ser percebida em várias esferas da vida do ser humano, como a ansiedade
permanente de organizar toda informação recebida ocasionada pela valorização social de
sujeitos antenados e atualizados, como as constantes obrigações de sempre estar se atualizando,
fazendo cursos, pós-graduações e outros. Ainda segundo o autor, outros sintomas possíveis do
sujeito contemporâneo são o tédio e a angústia existencial.
De acordo com Pereira Júnior (2011) nem todos os sujeitos são afetados igualmente por
esses sintomas, mesmo sendo sujeitados a condições idênticas, devido que as potencialidades
existências da personalidade humana proporcionam ajustes a essa macroestrutura.
Segundo Oliveira, Rego e Villardi (2007), uma das mais importantes consequências do
aparecimento da Sociedade da Informação como uma marca da modernidade, é a disseminada
utilização das novas TICs a todas as áreas da vida. Para Veloso (2011), as novas tecnologias
possuem diversas consequências, e seu poder multiplicador tem permeado quase todas as áreas
da esfera humana como por exemplo o lar, a fábrica, a escola, o comércio, o lazer, a cultura, a
indústria entre outros.
Na relação com o trabalho, segundo Veloso (2011) a tecnologia tem sido
predominantemente utilizada pelo capitalismo para a automatização dos processos e na
diminuição da demanda por força de trabalho. Para Merlo (2006 apud PRADO; FORTIM;
COSENTINO, 2006) o uso de novas tecnologias em atividades tradicionais, como por exemplo
o trabalho em escritório, ocasionou, nos últimos 30 anos, grandes modificações nos ambientes
como na organização do trabalho.
Devido à disseminação das TICs em geral, principalmente da internet, muitas profissões
passaram ou estão passando por transformações, entre elas a do(a) psicólogo(a), reconhecida
como profissão, no Brasil, no século XX. A questão que esta pesquisa se propôs a problematizar
envolve pensar, justamente, como as novas tecnologias poderiam estar provocando a atuação
dessa profissão e como os profissionais estão lidando com essa característica da
contemporaneidade. Para Bastos e Gondim (2010 apud SIEGMUND; LISBOA, 2015, p. 170),
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De acordo com o Dicionário Online de Português, regulamentou é o mesmo que regularizou.
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De acordo com o Dicionário Online de Português, reconhecida é o mesmo que legalizada, aprovada.
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Além dos aspectos sociais que envolvem a temática, há também os científicos. Foi
realizada uma revisão bibliográfica nos meses de março e abril de 2018 nas bases de dados
SciELO, PePSIC e Lilacs. Foram encontrados onze artigos pertinentes ao tema apresentado, ou
seja, notou-se uma produção incipiente. A partir da leitura desses artigos, percebeu-se que cinco
deles, abordavam questões referentes a realização de psicoterapia por meio das TICs, tais como:
efetividade do tratamento, recursos, limites, relação terapêutica, protocolos para
acompanhamento da psicoterapia pela internet, possibilidades de que modo a psicoterapia on-
line pode ser oferecida no Brasil e que resultados podem ser esperados e como os psicólogos
europeus e suíços estão utilizando esse formato de atendimento psicológico.
Desta maneira, visto que dos artigos encontrados quase a metade deles possuem o foco
na psicoterapia com a utilização das TICS, e poucas publicações buscaram conhecer a
percepção de profissionais a respeito das possibilidades de atuação profissional através das
TICs, é que se fez relevante pesquisar sobre o tema proposto, ao qual tem como objetivo geral
conhecer as percepções de psicólogos(as) acerca das possibilidades de atuação profissional
realizadas por meio das TICs. E, como objetivos específicos, de maneira a identificar quais as
possibilidades de atuação profissional realizadas por meio das TICs conhecem, se já atuaram
ou atuam, o que pensam acerca das possibilidades de atuação profissional, se percebem
implicações e aspectos favoráveis e desfavoráveis nos serviços psicológicos realizados por
meio das TICs.
2 MÉTODO
86,2% eram mulheres, e 13,8% homens. No que se refere a idade, 71,4% tinham entre 21 a 40
anos, e 85,7% concluíram a graduação em Psicologia no período de 2000 até 2018.
Para que fosse possível alcançar os sujeitos da presente pesquisa, foi utilizado como
instrumento de coleta de dados um questionário on-line criado por meio da plataforma Google
Forms. O questionário fez conferência aos objetivos geral e específicos bem como com a
literatura utilizada como referencial teórico. Foi organizado com doze perguntas fechadas,
cinco perguntas abertas, e uma escala likert com onze itens que foram respondidos por meio
das seguintes opções de respostas (1= totalmente discordo; 2= discordo; 3= nem concordo e
nem discordo; 4= concordo e 5= completamente concordo). O instrumento de coleta de dados
foi submetido a um pré-teste para sua validação.
Após, concedida a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)7, deu-
se início a coleta de dados. Inicialmente os participantes contatados foram os conhecidos da
pesquisadora, e posteriormente buscou-se contato com os coordenadores dos cursos de
Psicologia das Universidades do Estado para que enviassem aos seus egressos o instrumento de
coleta. Também se fez a busca de institutos, espaços e comunidades relacionadas a psicologia
como consultórios e listas de psicólogos(as), além de encaminhar aos indicados por colegas. O
contato com os participantes foi realizado por meio do envio de e-mails e pelas redes sociais da
pesquisadora.
Após a coleta, os dados foram organizados no banco de dados Excell, com categorias
determinadas a priori, considerando os objetivos específicos da pesquisa. Também tiveram
categorias a posteriori, que emergiram das respostas às perguntas abertas. Nesse caso, foi
realizada análise de conteúdo das respostas, de acordo com os procedimentos apresentados por
Bardin (2011). Em seguida, todos os dados foram tabulados, e tratados de maneira quantitativa
utilizando estatística descritiva. Posteriormente, os dados coletados foram representados na
forma de gráficos e interpretados pela pesquisadora com base nas referências encontradas para
a elaboração do estudo. Alguns dados representativos, serão apresentados no decorrer do texto.
É importante ressaltar, que pela ausência de estudos de natureza quantitativa, utilizou-se estudos
qualitativos para a discussão dos dados.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
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Número do Parecer de Aprovação: 2.814.384/2018
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Com base nas informações cadastrais do Conselho Federal de Psicologia, pesquisa CFP 2012.
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no período de 1989 até 1999, 37,4% (n=46) no período de 2000 até 2011 e 50,4 (n=62) no
período entre 2012 até 2018. A média de idade desse grupo é de 35 anos.
Logo, 19,6% (n=37) dos participantes, disseram já ter realizado os serviços. Destes,
21,6% (n=8) tiveram conhecimento dos serviços psicológicos durante o período de formação
(graduação, pós-graduação, formações entre outros). Entre os participantes desse grupo, 5,4%
(n=2) disseram ter concluído a graduação em Psicologia no período de 1967 até 1988, 13,5%
(n=5) no período de 1989 até 1999, 48,6% (n=18) no período de 2000 até 2011, 32,4% (n=12)
no período entre 2012 até 2018. A média de idade desse grupo é de 39 anos.
Já aqueles que indicaram realizar atualmente os serviços, totalizam 15,3% (n=29) dos
participantes. Destes 27,8% (n=8) tiveram conhecimento dos serviços psicológicos durante o
período de formação (graduação, pós-graduação, formações entre outros). Referente ao ano de
formação desse grupo, 3,4% (n=1) respondeu ter concluído a graduação em Psicologia no
período de 1967 até 1988, 13,8% (n=4) no período de 1989 até 1999, 55,2% (n=16) no período
de 2000 até 2011 e 27,6% (n=8) no período entre 2012 até 2018. A média de idade desse grupo
é de 37 anos.
Ao analisar os grupos acima, e possível observar que dos participantes que indicaram
nunca ter realizado serviços psicológicos por meio da TICs, constatou-se que a maioria, 50,4%
(n=62) concluíram a graduação em Psicologia no período de 2012 até 2018, o que pode ser um
reflexo da falta de informação sobre essas possibilidades na formação atual dos psicólogos(as).
Entre a maioria daqueles que afirmam já ter realizado os serviços, 48,6% (n=18) e, aqueles que
realizam atualmente 55,2% (n=16), concluíram a graduação no período de 2000 até 2011, o que
evidencia que o maior número de participantes que realizam/já realizaram serviços, possuem
mais tempo de formação. Esses resultados, vão ao encontro de o estudo de Hallberg; Lisboa
(2016), em uma pesquisa executada com 155 psicoterapeutas gaúchos, na qual os participantes
que tinham entre cinco a 15 anos de prática clínica, eram os que mais realizam serviços
psicológicos via internet com maior periodicidade.
Ainda no que se refere aos grupos acima, os resultados apresentados demonstram que
34,9% dos participantes realizam/já realizaram serviços psicológicos por meio das TICs. A
baixa adesão para realizar os serviços, corrobora o estudo de Hallberg, Lisboa (2016), em uma
pesquisa executada com 155 psicoterapeutas gaúchos, 21,2% indicaram realizar/já ter realizado
algum tipo de serviço psicológico via web.
Considerando apenas o universo de 82,5% (n=156) dos participantes que indicaram
conhecer as possibilidades de atuação por meio das TICs, 60,9% (n=95) nunca realizaram
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serviços psicológicos por meio das TICs, 21,2% (n=33) já realizaram e 17,9% (n=28) realizam
atualmente. Ao analisar tais informações com os dados relatados anteriormente, é possível
observar, que a partir do momento que se tem conhecimento das possibilidades de atuação,
aumentam os participantes que realizam os serviços. Nesse sentido, faz-se importante que as
formações (graduação, pós-graduação, formações entre outros), passem a incorporar esse tema
em seus currículos, uma vez que é uma possibilidade de atuação regulamentada do profissional
de psicologia.
No que se refere aos serviços psicológicos possíveis de serem realizados por meio das
TICs que os participantes conhecem9, 75,7% citaram consultas e atendimentos psicológicos de
maneira síncrona (quando o emissor está em contato “direto” com o receptor e vice-versa);
50,3% supervisão técnica dos serviços prestados por psicólogos(as); 42,9% os processos de
seleção de pessoal; 24,3% utilização de instrumentos psicológicos; 22,8% consultas e/ou
atendimentos psicológicos de maneira assíncrona (o emissor envia uma mensagem ao receptor
e esse não a recebe no mesmo momento); e 15,9% não tem conhecimento dos serviços,
conforme é possível verificar no gráfico 1.
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Nesse item, era possível que o participante respondesse mais de uma alternativa.
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Conforme a Resolução do Conselho Federal de Psicologia Nº 011/2012 “Art. 2º. Quando os serviços
psicológicos referentes à presente resolução forem prestados regularmente pelo profissional, este está obrigado à
realização de cadastramento desses serviços no Conselho Regional de Psicologia no qual está inscrito. Para realizar
este cadastro o profissional deverá manter site exclusivo para a oferta dos serviços psicológicos na internet com
registro de domínio próprio mantido no Brasil e de acordo com a legislação brasileira para este fim”.
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de serviços por meio das TICs, como também as tecnologias altamente acessíveis são novas, o
que pode ser um fator pelo pouco conhecimento dos profissionais.
Além disso, é importante ressaltar que 82% dos participantes da pesquisa consideram
necessário ter um procedimento orientativo por parte do órgão regulador da profissão, o
Conselho Regional de Psicologia (CRP), para a prestação de serviços psicológicos por meio
das TICs. O que demonstra que os profissionais ou não acompanham ou não consideram
suficientes as diretrizes apresentadas nas resoluções.
Ainda nessa mesma direção, constata-se que 51,7% dos participantes que realizam
atualmente serviços psicológicos, consideram que é “necessário” e “totalmente necessário” um
treinamento/qualificação para realizar serviços psicológicos por meio das TICs. Isso revela que
cerca de metade dos profissionais que estão prestando esses serviços, apresentam grande
desconhecimento sobre as possibilidades de atuação por meio das TICs. Os dados apresentados
vão de encontro com o estudo de Pinhatti, Pieta (2011), realizado com seis psicoterapeutas de
diferentes abordagens através de entrevistas semiestruturadas. Estes relataram que não possuem
uma definição clara do que é, como indicaram ser necessário parâmetros para a prática.
Dos participantes que acham que é “necessário” 67,8% e “totalmente necessário” 75,9%
um treinamento/qualificação para realizar serviços psicológicos por meio das TICs, nunca
realizaram serviços. Já para os participantes em que é “desnecessário” 35,7% ou “totalmente
desnecessário” 28,6%, já realizaram serviços. Para aqueles que possuem dúvidas se é necessário
um treinamento ou qualificação 33,3% realizam serviços atualmente. Dado esse que pode ser
explicado devido a atual e última resolução sobre a realização dos serviços psicológicos entrar
em vigor no dia 10 de novembro de 2018.
Dentre os participantes que nunca realizaram serviços psicológicos por meio das TICs,
30,1% (n=37) disseram ter “dúvidas” para realizar e 26,8% (n=33) disseram se sentir
“totalmente despreparados”. Dos participantes que já realizaram os serviços, 45,9% (n=17) se
sentem “preparados”, e entre os que realizam atualmente, 55,2% (n=16) se sentem “totalmente
preparados”. Tais dados indicam que apenas metade dos profissionais que realizam/já
realizaram os serviços psicológicos se sentem preparados ou totalmente preparados. Ou seja,
muitos profissionais estão prestando serviços psicológicos sem se sentirem totalmente
preparados, o que poderá ocasionar consequências éticas e práticas nos serviços realizados.
Já 94,3% dos participantes que se sentem “totalmente despreparados” para realizar
serviços psicológicos por meio das TICs, nunca realizaram. Por outro lado, nenhum dos
participantes que realizam atualmente os serviços se sentem “totalmente despreparados”. Essas
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informações evidenciam, que a grande maioria daqueles que realizam os serviços psicológicos
por meio das TICs, se sentem “totalmente preparados” para realizar os serviços, diferente
daqueles que nunca realizaram. Provavelmente essa preparação ocorreu no desenvolvimento da
própria prática profissional.
Entre os participantes que realizam/já realizaram serviços psicológicos por meio das
TICs11, 55,3% (n=63) utilizam/já utilizaram aplicativos como Skype, WhatsApp e FaceTime,
21,9% (n=25) aparelhos telefônicos, 13,2% (n=15) plataformas digitais, 8,8% (n=10) websites
e 0,9% (n=1) e-mail, como é possível verificar no gráfico 3.
100,0
80,0 55,3
60,0
40,0 21,9
13,2 8,8
20,0 0,9
0,0
Aplicativos Aparelhos Plataformas Websites E-mail
(Skype, Telefônicos Digitais
WhatsApp,
FaceTime)
Visto isso, é possível identificar que as TICs que os participantes mais utilizam/já
utilizaram para realizar os serviços, são os aplicativos (Skype, WhatsApp e Face Time). No
próximo capítulo, serão apresentadas as percepções de psicólogos(as) frente as TICs.
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Nesse item, era possível que o participante respondesse mais de uma alternativa.
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que as implicações mencionadas, não se referem ao uso da TICs, mas sim a própria conduta do
psicólogo(a). Houve 19,1% (n=29) que não especificaram claramente, conforme o gráfico 4.
ao uso do aplicativo de mensagens WhatsApp no campo clínico, tais como, ser uma
comunicação invasiva e ilimitada, quando os pacientes mandam mensagens no final de semana.
Além disso, alguns disseram gerar uma forma instantânea de comunicação, como se o terapeuta
estivesse que estar presente e acessível a todo momento para o paciente. Outros participantes
relataram desconforto com solicitações de amizades por meio do Facebook.
Na presente pesquisa, entre os participantes que acreditam que há implicações práticas,
24,8% (n=36) citaram como dificuldade prática a impossibilidade do contato físico, 24,1%
(n=35) a dificuldade no estabelecimento de vínculo/aliança terapêutica/transferência, 22,1%
(n=32) a impossibilidade da observação da postura e linguagem corporal e 17,9% (n=26)
possíveis problemas com os recursos utilizados para o atendimento, tais como, conexão da
internet e qualidade do vídeo. Foram apontadas implicações práticas positivas, que viabilizam
a realização dos atendimentos, na qual 7% (n=10) dos participantes consideram que é uma
facilidade de acesso ao atendimento, e 4% (n=6) que é uma possibilidade de atingir mais
pessoas, disseminando a Psicologia. Houve mais implicações, que estão descritas no gráfico 5.
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0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0 100,0
serviços psicológicos. É “parecida” para 21,9% ou “totalmente igual” para 23,1% de quem já
realizou. É “parecida” para 25% ou “totalmente igual” para 53,8% de quem realiza atualmente.
Os dados demonstram que mais da metade dos profissionais que realizam atualmente os
serviços, consideram que a qualidade da comunicação on-line é totalmente igual. No entanto,
para aqueles que já realizaram, apenas menos de um quarto dos participantes consideram que é
totalmente igual, o que pode ser devido a ter acontecido algumas dificuldades relacionadas as
ferramentas utilizadas, tais como, conexão da internet e qualidade do vídeo.
Ao segmentar apenas o grupo de participantes que realizam atualmente serviços
psicológicos por meio das TICs, 72,4% (n=21) consideram que há implicações práticas. Entre
os que já realizaram, 83,8% (n=31) consideram que há. Ao verificar os dados, é possível
observar um expressivo número de participantes que considera que há implicações, o que
evidencia que é importante que o Conselho Federal de Psicologia verifique tais informações,
para que não haja perdas aos sujeitos atendidos relativas aos serviços prestados. As implicações
mencionadas, seguiram a tendência do grupo de participantes no todo. Tais implicações, vão ao
encontro de Barak e outros (2008 apud PIETA, GOMES 2014). Segundo os autores, no início
da psicoterapia pela internet, há mais de uma década, haviam preocupações quanto ao
regulamento da prática, e considerações sobre a necessidade de treinamento dos terapeutas para
a nova modalidade psicoterápica.
Ao analisar a grande maioria dos três grupos de participantes, 42,3% dos que nunca
realizaram os serviços, 35,1% dos que já realizaram e 27,6% dos que realizam atualmente,
consideram a qualidade da relação terapêutica on-line é “diferente” da qualidade presencial. Os
dados apresentam, que a medida em que o profissional realiza os serviços, ele passa a considerar
a qualidade da relação mais parecida com a presencial. De acordo com Pieta, Gomes (2014, p.
22) “É de se esperar que essa relação, na sua forma on-line, difira qualitativamente de sua versão
presencial. No entanto, pesquisas têm apontado semelhanças entre ambas”.
Já no item referente a qualidade do vínculo terapêutico on-line, 69,1% dos participantes
que nunca realizaram serviços psicológicos por meio das TICs, consideram que é “diferente”
ou “totalmente diferente” da qualidade presencial. Entre os participantes que já realizaram, 54%
disseram que é “diferente” ou “totalmente diferente”. Para quem realiza atualmente os serviços,
55,2% consideram que a qualidade do vínculo on-line é “parecido” ou “totalmente igual” com
a qualidade presencial.
A qualidade do vínculo terapêutico on-line é “diferente” da qualidade do vínculo
presencial para 69,9% ou “totalmente diferente” para 87% dos participantes que nunca
21
realizaram serviços psicológicos por meio das TICs. Já a qualidade do vínculo é “parecida”
para 30,3 ou “totalmente igual” para 50% dos participantes que realizam atualmente os serviços.
Os dados evidenciam que um expressivo número de participantes que realizam os serviços
considera ser muito semelhante o vínculo on-line do vínculo presencial, diferente de quem
nunca realizou. Essa diferença de opinião, pode ser devido à experiência de realização dos
serviços na prática profissional. Os dados apresentados, vão ao encontro de o estudo de Pinhatti,
Pieta (2011) realizado com seis psicoterapeutas de diferentes abordagens através de entrevistas
semiestruturadas. Estes avaliam a psicoterapia on-line como diferente da presencial no que se
refere ao vínculo.
Para quem nunca realizou serviços psicológicos por meio das TICs, 57,7% consideram
que a qualidade da escuta on-line é “diferente” ou “totalmente diferente” da qualidade
presencial. Para aqueles que já realizaram, 45,9% consideram que é “diferente” ou “totalmente
diferente”. Para os que realizam atualmente, 72,4% consideram que a qualidade da escuta é
“parecida” ou “totalmente igual” à qualidade presencial. Ao relacionar tais dados, constata-se
que o grupo de participantes que já realizaram os serviços e os que realizam atualmente,
possuem opiniões divergentes referente a qualidade da escuta, o que pode ser, devido àqueles
que já realizaram ter passado por dificuldades na realização dos serviços.
A qualidade da escuta on-line é “diferente” para 71,2% ou “totalmente diferente” para
85,7%, da qualidade presencial para aqueles que nunca realizaram serviços psicológicos. No
entanto, a qualidade da escuta on-line é “parecida” para 22,5% ou “totalmente igual”52,2% da
qualidade presencial para os participantes que realizam atualmente os serviços.
Ao analisar nos três grupos o maior número de respostas, no item referente a qualidade
do acolhimento nos serviços psicológicos on-line, para aqueles que nunca realizaram serviços
psicológicos por meio das TICs, 64,2% consideram a qualidade “diferente” ou “totalmente
diferente”. Para quem já realizou, 51,4% consideram “diferente” ou “totalmente diferente”. E
para quem realiza atualmente, 31% possuem dúvidas se a qualidade do acolhimento on-line é
semelhante a qualidade presencial. O expressivo número de participantes que realizam
atualmente os serviços e consideram possuir dúvidas quanto à qualidade do acolhimento,
evidencia que muitos estão realizando os serviços, sem uma total segurança na realização.
Ao examinar, o item que se refere à qualidade da eficiência das intervenções on-line
51,3% de que nunca realizou os serviços consideram que a eficiência é “diferente” ou
“totalmente diferente”, e 48,6% de quem já realizou concordam. Já para 68,9% de quem realiza
atualmente, consideram a qualidade “parecida” ou “totalmente parecida” com as intervenções
22
face a face. Os dados apresentados, indicam que aqueles que nunca realizaram e aqueles que já
realizaram, possuem opiniões muito semelhantes, o que pode ser devido àqueles que já
realizaram terem encontrado dificuldades na realização dos serviços, pois segundo Eg. e outros
(2010 apud LOPES; BERGER, 2016), há um forte corpo de evidências que demonstra a
eficiência das intervenções psicológicas baseados em tecnologias de comunicação, como por
exemplo a internet, para problemas e distúrbios psicológicos e de saúde.
Referente as qualidades mencionadas anteriormente, relativo a prestação de serviços
psicológicos por meio das TICs, ressalta-se que conforme o Código de Ética Profissional do
Psicólogo(a) (2005, p. 08), é de responsabilidade do(a) psicólogo(a), conforme o Art. 1º, alínea
c): “prestar serviços psicológicos de qualidade, em condições de trabalho dignas e apropriadas
à natureza desses serviços [...]”.
Já a eficiência das intervenções on-line é “diferente” para 70,5% ou “totalmente
diferente” para 90,9% dos participantes que nunca realizaram serviços psicológicos por meio
das TICs. É “diferente” para 26,2% e “totalmente diferente” para 9,1% de quem já realizou. É
“parecida” para 34,1% ou “totalmente igual” para 55,6% de quem realiza atualmente. Para
alguns autores, como Andersson e outros (2013); Berger e outros (2011); Berger e Andersson,
(2013); Spek e outros, (2007) (apud LOPES e BERGER, 2016), a eficiência destas intervenções
é semelhante às intervenções face a face para os mesmos problemas, apesar de que a pesquisa
sobre esta questão tenha sido executada extensivamente em alguns países, no Brasil ela está em
sua infância. (PIETA E GOMES 2014 apud LOPES E BERGER, 2016).
No que se refere às TICs auxiliar em a oferta de atendimento psicológico para aqueles
que não podem frequentar regularmente os serviços presenciais, 68,3% de quem nunca realizou
os serviços, 89,2% daqueles que já realizaram concordam, e 100% de quem realiza atualmente,
consideram que as TICs “auxiliam” e “são fundamentais” na oferta de atendimento psicológico.
Os resultados apresentados, demonstram que mesmo aqueles que nunca realizaram os serviços,
mais da metade consideram que as TICs auxiliam e são fundamentais na oferta de atendimento
psicológico. Já entre aqueles que realizam, a unanimidade dos participantes considera.
Donnamaria e Terzis (2011) relatam que as tecnologias de comunicação a distância com a
internet possibilitaram uma nova modalidade de atendimento psicológico para aqueles sujeitos
que por algum motivo não poderiam frequentar regularmente os serviços de forma presencial,
como por exemplo os emigrados que não estão familiarizados com o idioma do novo país,
viajantes, pessoas com dificuldades de locomoção, moradores de áreas rurais.
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Ao analisar a grande maioria dos três grupos de participantes, no item referente as TICs
servir como um instrumento para a prática da Psicologia, 63,4% dos participantes que nunca
realizaram, 91,9% de quem já realizou e 96,6% daqueles que realizam atualmente consideram
que as TICs “servem” e “são fundamentais” como um instrumento para a prática da Psicologia.
Os dados evidenciam que mais da metade dos participantes que nunca realizaram os serviços,
e quase a totalidade daqueles que realizam/já realizaram indicaram que as TICs podem ser um
instrumento para a atuação profissional. Os resultados apresentados corroboram a pesquisadora
Nicolaci-da-Costa (2005 apud SIEGMUND, LISBOA, 2015) que relata que a internet pode
servir como um instrumento para a prática da Psicologia. Dessa maneira, é possível verificar
que a maior parte dos participantes consideram que as TICs podem servir como um instrumento
para a prática profissional do psicólogo.
Os dados apresentados demonstram que os participantes que nunca realizaram os
serviços psicológicos por meio das TICs e os que já realizaram, percebem que a qualidade da
comunicação on-line, sigilo, acolhimento, vínculo, escuta, e a eficiência das intervenções são
“diferentes” ou “totalmente diferentes” da qualidade presencial. Entretanto, entre aqueles que
realizam atualmente os serviços, consideram “parecido ou totalmente igual”, exceto a qualidade
do acolhimento, que este grupo possui dúvidas se é “semelhante” a presencial. Foi possível
verificar, que a maioria dos participantes dos três grupos consideram que a qualidade da relação
terapêutica é “diferente” da qualidade presencial.
A maior parte dos participantes dos três grupos, consideram que as TICS “auxiliam” e
“são fundamentais” na oferta de atendimento psicológico àqueles que não podem frequentar
regularmente os serviços presenciais. E ainda nesse sentido, a maioria dos participantes de cada
grupo, consideram que as TICs “servem” e “são fundamentais” como um instrumento para a
prática da Psicologia.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
realização de serviços psicológicos por meio das TICs durante o período de formação
(graduação, pós-graduação, formações entre outros). Ressalta-se que as resoluções estão
atualizadas e disponíveis no site do Conselho Regional de Psicologia (CRP-12), e cabe ao
profissional buscar informações. Ainda neste sentido, é importante que esse tema tenha espaço
nos currículos dos cursos de graduação, uma vez que é uma atividade regulamentada pelo
Conselho Federal de Psicologia, e ainda é um assunto polêmico que gera inúmeras dúvidas.
Um grupo expressivo de participantes relatou que percebe algum tipo de implicação
prática ou ética na prestação de serviço psicológico por meio de TICs. Entre os participantes
que consideram existir implicações éticas, a maior parte acredita que as questões que
apresentam risco são relativas a manter o sigilo. Referente as implicações práticas, as
dificuldades mais citadas foram a impossibilidade do contato físico e a dificuldade no
estabelecimento de vínculo/aliança terapêutica/transferência. Foram apontadas implicações
práticas positivas, que viabilizam a realização dos atendimentos, sendo uma facilidade de
acesso ao atendimento, e que é uma possibilidade de atingir mais pessoas, disseminando a
Psicologia.
No processo de construção da presente pesquisa, existiram dificuldades referentes a
coleta de dados pelos meios formais, no que se refere a utilização do e-mail. Notou-se que a
partir do momento em que o instrumento foi enviado pelas redes sociais da pesquisadora, houve
mais aderência. É importante ressaltar, que inicialmente se tinha a pretensão de conseguir um
número de 390 respostas para que fosse estatisticamente representativo. Mas diante da baixa
adesão dos participantes e do pouco tempo para conclusão da pesquisa não foi possível
conseguir esse número. E, para continuidade da construção do conhecimento, sugere-se realizar
novos estudos com profissionais de abordagens e métodos distintos, tanto em nível nacional
como estadual no intuito de investigar as suas percepções sobre o tema. Também, sugere-se
realizar estudos com os sujeitos atendidos com o objetivo de averiguar as suas percepções
referentes ao uso das TICs.
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