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O psicólogo frente ao desaio tecnológico

Novas identidades, novos campos, novas práticas


Elaine Magalhães Costa-Fernandez e Véronique Donard
Organizadoras

O PSICÓLOGO
FRENTE AO DESAFIO TECNOLÓGICO
Novas identidades, novos campos,
novas práticas

Recife, 2016
Universidade Federal de Pernambuco
Reitor: Anísio Brasileiro de Freitas Dourado
Vice-Reitora: Florisbela de Arruda Camara e Siqueira Campos ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA

Diretor da Editora: Lourival Holanda DAS EDITORAS UNIVERSITÁRIAS

Comissão Editorial
Presidente: Lourival Holanda
Titulares: Alberto Galvão de Moura Filho, Allene Carvalho Lage, Anjolina Grisi de Oliveira de Albuquerque,
Dilma Tavares Luciano, Eliane Maria Monteiro da Fonte, Emanuel Souto da Mota Silveira, Flávio Henrique
Albert Brayner, Luciana Grassano de Gouvêa Melo, Otacílio Antunes de Santana, Rosa Maria Cortês de
Lima, Sonia Souza Melo Cavalcanti.

Suplentes: Charles Ulises de Montreuil Carmona, Edigleide Maria Figueiroa Barretto, Ester Calland de
Souza Rosa, Felipe Pimentel Lopes de Melo, Gorki Mariano, Luiz Gonçalves de Freitas, Madalena de Fátima
Pekala Zaccara, Mário de Faria Carvalho, Sérgio Francisco Seraim Monteiro da Silva, Silvia Helena Lima
Schwanborn, Tereza Cristina Tarragô Souza Rodrigues.

Este livro contou com a perícia de um comitê de leitura internacional composto por:
Abhijit Karkun (Jawaharlal Nehru University, India)
Aline Gohard (Université de Fribourg, Suiça)
Elisabeth Regnault (Universidade de Strasbourg/França)
Fatima Moussa (Université d’Alger, Argélia)
Michèle Vatz Laroussi (Université de Sherbrooke, Canada)

Catalogação na fonte: Bibliotecária Joselly de Barros Gonçalves, CRB4-1748

P974 O psicólogo frente ao desaio tecnológico : novas identidades, novos campos,


novas práticas / organizadoras: Elaine Magalhães Costa-Fernandez e
Véronique Donard. – Recife : Editora UFPE : UNICAP, 2016.
253 p.

Inclui referências.
ISBN (broch.)

1. Psicologia – Prática. 2. Psicólogos. 3. Tecnologia da informação. I. Costa-


Fernandez, Elaine Magalhães (Org.). II. Donard, Véronique (Org.).

150 CDD (23.ed.) UFPE (BC2016-017)

Todos os direitos reservados a:

Rua Acadêmico Hélio Ramos, 20, Várzea Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica
Recife, PE | CEP: 50.740-530 Universidade Católica de Pernambuco - UNICAP
Fone: (0xx81) 2126.8397 | Fax: (0xx81) 2126.8395 R. do Príncipe, 526 - Boa Vista, Recife - PE, 50050-900, Brésil
www.ufpe.br/edufpe | livraria@edufpe.com.br Fone: : (81) 2119-4000
Sumário

Patrick Denoux
Prefácio - Identité de l’avatar et avatars de l’identité 7

Elaine Magalhães Costa-Fernandez e Véronique Donard


Introdução 11

Parte I : Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação


(NTIC) e a pesquisa em psicologia 15

Elaine Magalhães Costa-Fernandez


NTIC : Globalização, democratização, e diversidade cultural 17

Véronique Donard
Fundamentos epistemológicos e novos paradigmas
de uma revolução tecnoexistencial 37

Benoît Virole
Panorama et enjeux des mondes numériques 53
Julien Teyssier et Patrick Denoux
Ruptures numériques, réactions psychologiques transitoires
et interculturations 69
José Carlos Ribeiro
Controle de informações sociais em ambientes digitais:
repercussões na construção de narrativas de si 87
Viviane de Bona
Ser criança na contemporaneidade: relações com o uso
das tecnologias 100

Lúcia de Mello e Souza Lehmann e Artur Parreira


Contextos virtuais: universo de interação jovem 120
O psicólogo frente ao desaio tecnológico

Parte II: Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação 143


(NTIC), intervenção psicológica e políticas públicas

Odette Lescarret
Grandir de 0 à 3 ans, en « famille skype », entre deux cultures 145
Edilene Freire de Queiroz e Véronique Donard
Psicoterapias via webcam: uma perspectiva psicanalítica 161

Yann Leroux
Pourquoi utiliser les jeux vidéo dans les psychothérapies
psychodynamiques 172

Leopoldo N. F. Barbosa
A psicoterapia na era digital: utilização de recursos tecnológicos
e jogos eletrônicos na psicoterapia 187

Charlotte Soumet-Leman
Remédiation cognitive et transfert des compétences
dans la dépression : une étude de cas 199

Marina Assis Pinheiro e Luciano R. de Lemos Meira


As novas tecnologias de evasão da sala de aula:
processos cognitivos e políticas públicas 217

Viviane de Bona e Dayse Rodrigues de Oliveira


Uso de tecnologias da informação e comunicação:
políticas públicas de inclusão digital nas escolas 233

Os autores - Les auteurs 249

6
Parte I: Pesquisa em psicologia e NTIC

Fundamentos epistemológicos e novos paradigmas


de uma revolução tecnoexistencial

Véronique Donard

“As ferramentas que usamos para pensar modiicam as formas de nosso


pensamento1.” (TURKLE, 2004).

Introdução

Os primeiros computadores surgiram na década de 1940. À medida de


seu aperfeiçoamento e de sua progressiva acessibilidade, assim como
da qualidade de sua interconectividade, a intensiicação do uso destes
suportes digitais de comunicação precipitou nossa civilização ocidental
no crisol de uma profunda transformação. Para apreender a importância
desse fenômeno, basta ter em mente que, quando, em 1981, apareceu
o primeiro computador pessoal, foram recenseadas, no mesmo ano e
no mundo inteiro, 213 máquinas conectadas entre si. Menos de trinta
anos mais tarde, em 2010, o número de terminais conectados atingia
5 bilhões (Le Monde Informatique, 20/08/2010). Além do mais, devemos
ter em conta que essa transformação não chegou ao seu término, e que
sua velocidade se revela exponencial e cada vez mais vertiginosa.

Consequentemente, o que pensamos ser, em seus começos, apenas uma


revolução tecnológica, facilitadora de nossa vida quotidiana, tornou-se de
1
“he tools we use to think change the ways in which we think.” Tradução nossa.

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O psicólogo frente ao desaio tecnológico

fato uma revolução existencial, afetando-nos profundamente em nossas


vivências, em nossas percepções e na compreensão de nossa própria
humanidade. Assim, o que chamamos de “revolução digital”, apesar
de revelar-se em suas manifestações, não se refere verdadeiramente ao
observável, mas sim ao “sistema organizador de nossas percepções, de
nossos pensamentos e de nossos relacionamentos”, ou seja, à “fábrica
cognitiva” dos mesmos” (LÉVY, 2013). O que vem a signiicar que,
do ponto de vista psicológico, tanto nos aspectos cognitivos como
psicoafetivos, a tecnologia digital nos está transformando profundamente,
modiicando nossa percepção do espaço e do tempo, da materialidade
das coisas, dos outros e de nós mesmos. Como consequência desse
fenômeno e de uma forma inédita de habitar o espaço e o tempo, surge
uma nova episteme, que tenta dar conta dos fatores de compreensão
dessa realidade emergente, na qual vivemos, pensamos, nos movemos e
agimos. Trataremos neste artigo de delimitar seus contornos, de trazer à
tona paradigmas que nos permitam compreender melhor essa realidade,
e de fazer emergir suas originalidades semânticas e teóricas.

Um lugar tecido por nossos vínculos

A comunicação como dinâmica fundamental

Uma teia delimita e ocupa um espaço e tece um solo onde não havia
nada. Ela transforma um vazio num campo de possibilidades, de
vivências e de experiências, às quais ela propõe um chão sobre o qual
ediicar e pelo qual transitar. Isto é, precisamente, o que vêm fazendo as
teias de comunicação desde os anos 80. É importante compreendermos
que as Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTIC)
não revolucionaram nossas vidas pelo simples fato de existirem:
seu verdadeiro impacto consiste no fato de elas permitirem que nos
comuniquemos com uma eicácia cada vez maior. Pois são os novos solos
que emergiram das teias tecidas por nossos vínculos que verdadeiramente
permitiram o surgimento de uma nova realidade, que, talvez um pouco
precipitadamente, denominamos de “virtual”. Examinaremos mais
abaixo este e outros termos próprios ao vocabulário que descreve nossa

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Parte I: Pesquisa em psicologia e NTIC

vivência tecnológica. Por agora, pensamos que, para compreendermos


melhor as diferentes facetas que vêm emergindo da implementação das
NTIC em nossas vidas, seria pertinente pesquisarmos rapidamente a
origem do campo vincular que delas nasceu e que a elas dá vida, ou seja,
do que chamamos de Internet.

É interessante observarmos que a Internet não teve, como é dito ha-


bitualmente, uma origem unicamente militar, embora seu ancestral
ARPAnet (« Advanced Research Projects Agency Network ») nascesse
efetivamente dos esforços das Forças Aéreas Americanas, durante a
Guerra Fria, de elaborar meios de cálculo e estratégia compartilhada
que aprimorassem sua eicácia e que garantissem a perenização da troca
de informações, acontecesse o que acontecesse. Sua origem foi igual-
mente universitária, já que tal empreendimento não poderia ver-se bem
sucedido sem o comprometimento da pesquisa cientíica. Assim, não
somente pesquisadores foram contratados para elaborar essa rede de
troca de informações e conteúdos, mas seus primeiros testadores foram,
igualmente, centros universitários. Por isso, quando ARPAnet tornou-
se pela primeira vez operacional, em 1969, foi para interligar a Univer-
sidade da Califórnia de Los Angeles (UCLA) e o Instituto de Pesquisa
de Stanford, e mais tarde as primeiras com as Universidades de Santa
Barbara e de Utah.

Nos anos 80, pouco antes da aparição do primeiro computador pessoal,


o exército norte-americano cindiu ARPAnet em duas redes distintas: a
primeira estritamente militar, MILNET (“Military Network”), e a segun-
da universitária, NSFnet (“National Science Foundation Network”). Os
campos estavam doravante delimitados e separados: os militares haviam
obtido o que almejavam da colaboração com o mundo cientíico – uma
rede de comunicações e de compartilhamentos tida como inviolável –,
e os universitários puderam prosseguir tecendo a parte civil desse novo
espaço de comunicação, conduzindo-o na direção de um funcionamen-
to descentralizado. Seu ideal era continuar estendendo suas possibilida-
des de rizomização e interligar ARPAnet com outras fontes de informa-
ções – satélite, rádio, etc. –, criando para isso novos protocolos de troca

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O psicólogo frente ao desaio tecnológico

de dados. A essa lógica rizomática, vincular e descentralizada, precisa-


mente, chamou-se de “internetting”, e a seu resultado, de Internet.

O rizoma como paradigma

É impactante perceber o quanto uma realidade em devir, mas já ope-


rante e signiicante, tem o poder de mobilizar o pensamento ilosóico.
Contemporânea do surgimento da Internet, a teoria do rizoma de Gilles
Deleuze e Félix Guattari descreve perfeitamente seu fundamento e sua
dinâmica (DELEUZE; GUATTARI, 1995).
Um rizoma não começa nem conclui, ele se encontra sempre no
meio, entre as coisas, inter-ser, intermezzo. A árvore é iliação, mas o
rizoma é aliança, unicamente aliança. A árvore impõe o verbo “ser”,
mas o rizoma tem como tecido a conjunção “e... e... e...” Há nesta
conjunção força suiciente para sacudir e desenraizar o verbo ser.

“Entre as coisas” não designa uma correlação localizável que vai


de uma para outra e reciprocamente, mas uma direção perpendi-
cular, um movimento transversal que as carrega uma e outra, ria-
cho sem início nem im, que rói suas duas margens e adquire ve-
locidade no meio. (DELEUZE; GUATTARI, 1995, capa do livro).

No entanto, o rizoma, tal como entendido pelos autores citados, é um


modelo não somente descritivo, mas epistemológico, que permite re-
pensar inteiramente a organização do conhecimento, e se aplica parti-
cularmente bem à ilosoia das ciências, à ilosoia social, à semiótica e à
teoria da comunicação, sendo esta última base da cibernética.

Voltemos ao nosso percurso histórico. Passemos sobre os aspectos


mais cientíicos do processo de internetting, e cheguemos aos anos
1990. Sempre movido pela necessidade duma maior eicácia de
compartilhamento, Tim Berners-Lee, um cientíico inglês pertencente
à Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (Cern), propõe
enxertar sobre a já existente Internet um sistema de hipertexto, ou
seja, um conjunto de informações pontuadas por “nós” que, por meio
de hiperlinks – hiper-vínculos –, por sua vez propõe um conjunto de

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Parte I: Pesquisa em psicologia e NTIC

informações pontuadas por “nós” e assim por diante. Nasce, então, da


colaboração de Tim Berners-Lee com o cientíico belga Robert Cailliau,
o primeiro navegador e editor desse tipo de conteúdos, livre de acesso
para o público: a WorldWideWeb, que chamamos habitualmente de
Web. Assim, compreendemos que a Web não é mais que um espaço –
democrático, livre de acesso – sustentado pelas comunicações digitais
e tecido integralmente de vínculos e de nós, movido por uma lógica
rizomática, ediicado sobre outro espaço (Internet), mais complexo,
porém constituído sobre os mesmos paradigmas.

Os anos 2000 saudaram a chegada da Web 2.0 – de acesso mais


intuitivo para o usuário neóito – e o crescimento meteórico das redes
sociais. Também foram testemunhas da ascensão exponencial dos
smartphones e dos tablets, que nos izeram entrar na era de uma “aldeia
global” hiperconectada, graças à mobilidade desses terminais digitais.
Atualmente, vemos aparecer no mercado óculos ou capacetes de
“realidade virtual”, ou ainda impressoras 3D, cuja prodigiosa utilidade
apenas vislumbramos. Também ouvimos falar de monstruosas e ainda
pouco domesticadas massas digitais engendradas por nossos dados,
os big data, assim como das assustadoras dimensões criminosas
de uma parte oculta da Web, chamada Deep Web. Essas diferentes
facetas de nossa realidade conectada, no entanto, nos surpreendem e/
ou nos estonteiam cada vez menos, pois nossos processos cognitivos,
progressivamente, parecem ter se adaptado a essa realidade. Tentemos
compreender como e por quê.

Elementos para pensar uma nova dimensão espaço-temporal

Teorias da física contemporânea

Graças aos marcos teóricos fornecidos pelas teorias da relatividade res-


trita e geral, sabemos que a apreensão de um fenômeno não pode se dar
sem a consideração conjunta das dimensões de espaço, tempo e maté-
ria. De uma concepção de um espaço tridimensional (altura, largura,
profundidade), havíamos, no começo do século XX, passado primeiro

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O psicólogo frente ao desaio tecnológico

a considerar a realidade sob o prisma de um continuum espaço-tem-


po quadridimensional (EINSTEIN, 1905; MINKOWSKI, 1908). Pou-
cos anos depois, Einstein descreveu-a como uma interação dinâmica
espaço-tempo-matéria (EINSTEIN, [1916] 1997), na qual o espaço e o
tempo revelam-se maleáveis em função um do outro e de sua constante
relação com a matéria. Esse paradigma de compreensão da realidade
nos permite pensar que esse novo solo que nasceu, e continua nascen-
do, do tecido de nossos vínculos digitais possui uma temporalidade que
lhe é própria, o que signiica que uma pessoa conectada deve fazer um
esforço cognitivo às vezes considerável para sincronizar sua vivência
biológica e ambiental com a temporalidade da qual passa a fazer parte
quando entra na teia de comunicações das NTIC.

Certos elementos da mecânica quântica também podem contribuir para


nosso raciocínio, quando fazemos face à vertigem do universo de nós e
de comunicações na quais vem se adentrando a humanidade conectada,
como se de outra dimensão se tratasse. Segundo a teoria quântica, a
matéria ininitesimal se organiza em função de nossa percepção, que
lhe atribui, no momento da observação, uma posição e uma velocidade,
associando-a a uma ininidade de possibilidades de trajetórias no espaço
e no tempo. Nesse sentido, podemos pensar o nosso tempo cronológico
como um possível entre os possíveis, resultante de nosso trabalho de
organização de uma realidade global e ao mesmo tempo plural.

Desfase biológico e ajustamento cognitivo

No entanto, apesar de dotar-nos de ferramentas lógicas que nos


auxiliam a melhor integrar nossa vivência conectada, a confrontação
com tantos possíveis, a multiplicidade de informações e a dicotomia que
experimentamos entre as pulsações das NTIC e nosso ritmo biológico
nos obrigam a um ajuste constante de nossas percepções e de nossos
esquemas de compreensão. Vejamos um exemplo: duas pessoas estão
se comunicando por meio de uma webcam. Uma delas se encontra no
Brasil, a outra no Japão. No Brasil, são 19 horas, pleno verão, calor,
mosquitos; no Japão, 7 horas da manhã, inverno, chuva, frio. Essas
duas pessoas haviam combinado de se encontrarem numa data que,

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Parte I: Pesquisa em psicologia e NTIC

transcrita em suas agendas, parece incôngrua: para o interlocutor


brasileiro, o encontro havia de ter lugar no dia 21, e para o japonês, no
dia 22... No entanto, ei-los conversando, trabalhando, trocando ideias,
concentrados, apesar de não estarem vivenciando a mesma realidade
imediata. Isso se deve à capacidade adaptativa de nosso cérebro, que
possui a faculdade cognitiva de descentrar-se da realidade ambiental
para centrar-se sobre o que está ocorrendo na tela, que aparece, então,
como a única realidade a se ter em conta pelos processos lógicos.

Essa experiência de tensão adaptativa frente às realidades induzidas


pelas NTIC, retratada a nível individual, é assim mesmo a vivência
de toda uma sociedade. O sociólogo alemão Hartmut Rosa ressaltou
um fenômeno de aceleração de nossa época pós-moderna (ROSA,
2010; 2012), que se caracteriza pela conjugação de uma permanente
aceleração das transformações técnicas, sociais e individuais, e por uma
petriicação dos sistemas, que, tendo adquirido autonomia, escapam a
qualquer controle. Apesar desta distinção entre as acelerações técnicas,
sociais e pertencentes ao ritmo individual de vida, é possível pensar
conjuntamente o impacto duma dimensão sobre a outra, e, assim,
compreender que, não estando nunca sincronizados com a temporalidade
induzida pelas NTIC, vivenciamos uma disfunção psíquica indutora de
estresse e fadiga cognitiva. Assim, diz Harmut Rosa,
uma surpreendente convergência se delineia atualmente entre os
diagnósticos macrossociológicos que dizem respeito ao tempo e
à modernidade, e os diagnósticos psicopatológicos, convergência
cujo núcleo comum parece consistir numa perturbação da relação
moderna ao tempo. (ROSA, 2012b, tradução nossa.)

O ato de percepção como ato técnico

Outro contexto epistemológico que nos permite apreender a questão


espaço-temporal ligada às NTIC é o da teoria fenomenológica contem-
porânea. O ilósofo francês Stéphane Vial defende a importância da téc-
nica nas nossas modalidades de percepção e de construção da realidade
como um dado inerente ao ser humano, que é, diz Vial, por essência,

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O psicólogo frente ao desaio tecnológico

ontologicamente, um ser de técnica. Segundo o autor, toda apreensão de


um fenômeno está condicionada por seu contexto sociocultural. “Dito
de outra forma, a percepção não é unicamente uma função do corpo ou
uma função da consciência, ela é igualmente uma função social – no
sentido em que se encontra condicionada por fatores culturais” (VIAL,
2013, cap. 3, tradução nossa).

Por conseguinte, não só não pensamos o tempo e o espaço como nossos


antepassados, mas também os percebemos de modo diferente. Assim,
os progressos técnicos nos obrigam a reinventar e a reajustar conti-
nuamente nosso ato de percepção. Compreendemos, então, que somos
obrigados a “renegociar o ato de percepção em si mesmo, no sentido em
que os seres digitais nos obrigam a forjar novas percepções, [tratando-
se] de objetos para os quais não possuíamos nenhum hábito perceptivo”
(VIAL, 2013, cap. 3, tradução nossa). O autor saúda, assim mesmo, a
genialidade da intuição da socióloga Sherry Turkle, quando esta expli-
ca: “We have learned to take things at interface value” (TURKLE, apud
VIAL, 2013, cap. 4). A tradução literal dessa asserção não permitiria dar
a compreender seu sentido, portanto, optamos por traduzir como segue:
“Aprendemos a considerar a realidade das coisas, e a aceitá-las como tal
– através do que nos é transmitido pela interface digital.” O digital tor-
nou-se não somente “simulador” de realidade, mas criador de uma rea-
lidade que tem sobre nós precisamente este efeito: ser real, e não virtual.

Novos campos semânticos e epistemológicos

O conceito de “virtual” aplicado às NTIC

O conceito “virtual” deve sua origem a Aristóteles. O ilósofo Stagirita


demostrou que, apesar do aparente desmentido do devir das coisas, que
nasciam e morriam, nossa realidade concreta era tão real quanto o era a
imortal, exaltada por Platão, oriunda da imutabilidade das Ideias. Para
conciliar as contradições da realidade fenomenal com a perenidade do
mundo eterno, Aristóteles explicou que a plena realidade dos seres se
encontrava “em potência” – “potência”, em grego, diz-se dunamis –, e que

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Parte I: Pesquisa em psicologia e NTIC

haveria de se atualizar para vir a existir realmente. Assim, a realidade de


nosso mundo revela-se num encadeamento sem im de potências e atos:
a árvore estava em potência na semente, a lor na árvore, o fruto na lor, a
semente no fruto... Na Idade Média, os ilósofos escolásticos traduziram
dunamis pelo termo latim virtualis, que deu origem a “virtual”, que
signiica, portanto, o que está em potência e não em ato.

Partindo dessa tradição ilosóica aristotélica, ao mesmo tempo que se


distanciando dela, Deleuze propôs diferenciar “potencial” e “virtual”,
estabelecendo quatro categorias (DELEUZE, 1968; 1996):

1. O real é o que persiste e resiste às nossas subjetividades;

2. O potencial é um devir que necessita de dois fatores para tornar-


se real: duração (tempo) e programa (a forma predeinida e os
imprevistos ligados à duração);

3. O virtual é um devir instantâneo e imprevisível, do qual as


tecnologias digitais são excelentes ilustrações;

4. O atual é a manifestação do virtual aqui e agora.

Como vemos, em ilosoia, clássica ou contemporânea, o termo “virtual”


diz respeito a um regime ontológico, a uma modalidade do ser, uma for-
ma de existir no e para o mundo, que se dá a perceber pelo fenômeno
de sua manifestação, quando passa a estar “em ato”. Portanto, o “virtual”
não é o fenômeno, mas sim o que dá origem a este último. Porém, a con-
fusão acerca da aplicação desse termo à realidade digital vem de sua uti-
lização em física. Para a física óptica, uma imagem é um sinal detectado
pelo olho. Estabelece-se, então, uma distinção entre “imagem real”, ima-
gem que impacta diretamente nosso olho e que poderia ser transposta
tal qual numa tela, e “imagem virtual”, obtida unicamente pelo viés de
um aparelho, percebida pelo olho, mas cuja visibilidade está condicio-
nada ao aparelho que a fez surgir (por exemplo, um microscópio ou um
binóculo). A primeira é, portanto, a imagem real de um objeto real; a
segunda uma imagem artiicial de um objeto real, denominada “virtual”.

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O psicólogo frente ao desaio tecnológico

Esta última acepção fez seu caminho nas tecnologias digitais,


engendrando uma terceira contextualização semântica do termo, já
que, em informática, denomina-se “virtual” o processo de simulação
de um comportamento digital, independentemente do suporte material
ao qual está ligado. Portanto, o “virtual”, em tecnologia digital, deve-
se compreender como o efeito de uma simulação que produz um
resultado igual à realidade do que é simulado. Por exemplo, para que
um computador Apple funcione com o sistema Windows, é necessário
um programa que simule tal sistema, transformando artiicialmente – e
temporariamente – o primeiro num PC.

Para concluir, diríamos que a utilização do termo “virtual”, no que diz


respeito às tecnologias digitais, revela-se por demais imprecisa para que
a privilegiemos. Como diz Stéphane Vial: “Já saímos dos devaneios do
virtual. Hoje, não temos mais o sentimento de encontrarmo-nos proje-
tados em ‘mundos virtuais’, mas sim de viver com ‘interfaces digitais’”.
(VIAL, 2013, cap. 4, tradução nossa).

A utilização do preixo “ciber-”

Em 1948, o matemático Wiener havia escolhido, como denominador


de suas teorias sobre o controle dos sistemas, o termo “cibernética”, do
grego kubernêtês, que signiica “piloto, timoneiro”. Pela importância da
cibernética aplicada às questões da comunicação homem-máquina, um
escritor de icção cientíica, William Gibson, em 1984, denominou de
“ciberespaço” a realidade tecnológica descrita na distopia de seu livro
Neuromancer, realidade à qual era possível conectar-se por eletrodos
implantados diretamente no sistema nervoso cerebral.

Poucos anos depois, quando a Web de Tim Berners-Lee veio trazer vi-
sibilidade ao solo tecido por nossas comunicações, foi quase que na-
turalmente que se aplicou ao mesmo o apelativo de “ciberespaço”, que
Pierre Lévy deiniu nos anos 1990 como “o novo meio de comunica-
ção que emerge da interconexão mundial dos computadores” (LÉVY
apud VIAL, 2013, cap. 4). Essa noção revela-se interessante, entre outros
motivos, porque ela permite o esboço de uma representação espacial

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Parte I: Pesquisa em psicologia e NTIC

do que vem a ser a realidade engendrada pelas NTIC. Ela permite, por
exemplo, pensar a pertinência de pesquisas dedicadas ao território e às
modalidades de cultura da Web, como se de um espaço geográico se
tratasse. Inspirado na etnograia, este método de investigação recebeu o
apelativo de “netnograia”.

Observamos assim mesmo que o preixo “ciber-” é frequentemente utilizado


para caracterizar a vinculação de um termo com a questão das tecnologias
digitais e da dimensão espaço-temporal que lhe é associada. Isso se veriica,
inclusive, no setor acadêmico, onde as disciplinas em Ciências Humanas que
têm se interessado pela dimensão do ciberespaço e pelo comportamento hu-
mano no mesmo ganharam um apelativo enriquecido por esse morfema:
“cibersociologia”, “ciberantropologia”, “ciberpsicologia”...

Interessemo-nos, aqui, brevemente, pela ciberpsicologia. Trata-se


de um ramo da psicologia, de abordagem interdisciplinar, que vem
experimentando um importante desenvolvimento nos países anglo-saxões
desde a década de 1990. Deinida por Benoît Virole como o “estudo do
acoplamento entre os processos psíquicos e os sistemas de ações virtuais”
(VIROLE, 2003, p. 6), a ciberspicologia permite ao psicólogo não somente
compreender as problemáticas originadas pelo uso das NTIC, mas também
ter acesso a um acervo de mediações – por exemplo, os jogos digitais –,
cujas possibilidades clínicas ainda foram apenas exploradas. Outra
deinição pode ser encontrada no site do Laboratório de Ciberpsicologia
da Université du Québec en Outaouais (UQO), que aporta a precisão
de que “este campo de estudo considera o ciberespaço como um espaço
psicológico, ou seja, um espaço transicional ou uma simples extensão do
mundo psíquico de um indivíduo”2. Ser um ciberspicólogo signiica se
interessar não somente pelo que o computador faz conosco, mas pelo que
ele faz de nós, “incluindo a maneira como ele transforma nossa forma de
nos vermos a nós mesmos, como ele afeta o sentido que atribuímos a nossa
identidade humana3”. (TURKLE, 2004, p. 1).

2
Disponível em: <http://w3.uqo.ca/ciberpsy/fr/index_fr.htm>. Acesso em: 22 mar. 2015.
3
“Including how it was changing the way we see ourselves, our sense of human identity.”
Tradução nossa.

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O psicólogo frente ao desaio tecnológico

No entanto, Stéphane Vial chama a atenção do leitor para o fato de o


preixo “ciber-” estar caindo progressivamente em desuso na comuni-
dade cientíica e até mesmo entre os usuários das NTIC – pelo menos
no que diz respeito à Europa –, pois esse universo passou de tal forma a
fazer parte de nossas vidas que preferimos lhe dar denominações mais
simples, como, por exemplo, a de “realidade digital”.

Expansão e atualidade do termo “digital”

Apesar de ter-se imposto nos EUA por razões de marketing, o termo


“digital”, usado como qualiicativo4, é, efetivamente, o mais comumente
utilizado nos trabalhos cientíicos ou de divulgação que vêm acompanha-
mento as transformações de nossa sociedade desde a aparição da Web 2.0.
Percorremos aqui algumas de suas mais signiicativas asserções.

A primeira que nos vem à mente, pelo sucesso que encontrou quando
formulada e por sua atual vigência, é a distinção feita por Marc Prensky
entre “Digital natives” e “Digital immigrants” (PRENSKY, 2001).
Prensky assemelha o entorno tecnológico e digital a uma língua ma-
terna, cujos códigos são naturalmente integrados por aquele que nele
nasce, enquanto que, para os que tiveram que aprender essa linguagem,
existirá sempre um indício de que esse entorno não lhe é inteiramente
familiar, como se de um “sotaque” se tratasse. De forma mais geral, cha-
mamos hoje de Digital natives os usuários que integraram totalmente
em seu quotidiano as tecnologias digitais, sem sofrer pela descontinui-
dade entre o espaço online e o espaço desconectado, mas que, ao con-
trário, conseguem passar de uma realidade à outra de forma luida e
harmoniosa. Como consequência da vulgarização dessa expressão, as
disciplinas acadêmicas que se interessam pelas vivências do ser huma-
no quando caracterizado como “digital” adotaram – principalmente nos
EUA – a denominação de “Humanidades Digitais” (Digital Humanities).

Outro exemplo do uso do termo “digital” para designar a realidade


originada pelas NTIC é o de “identidade digital”, ativa ou passiva (ver,
4
O termo mais adequado seria “numérico”, mas essa denominação cedeu, nos EUA, seu
lugar a “digital”. Em francês, usa-se preferencialmente “numérico”.

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Parte I: Pesquisa em psicologia e NTIC

por exemplo, GEORGES, 2009 e ERTZSCHEID, 2013), que aponta


para o vínculo existente entre uma entidade real (pessoa, organização
ou empresa) e as entidades digitais que englobam suas diferentes
representações virtuais. São múltiplas as possibilidades de aplicação
desse conceito e inúmeros os campos de pesquisa. Por exemplo, se
aplicamos esse conceito aos Jogos Online para Múltiplos Jogadores –
chamados MMORPG5 – , podemos trabalhar e aprofundar a relação
entre a identidade própria do sujeito e sua identidade digital no jogo,
que lhe é conferida pelo seu avatar e pelos relacionamentos que este
estabelecerá com os outros avatares.

Outro campo propício de pesquisa sobre identidade digital é,


evidentemente, o das redes sociais (ver, por exemplo: STENGER;
COUTANT, 2011), já que nelas reina a preocupação por ediicar um
peril que, na maior parte das vezes, contribui para a construção de
uma identidade digital mais próxima do Eu ideal do sujeito do que
de sua realidade concreta. É frequente ler em textos psicanalíticos
comparações das plataformas sociais com palcos teatrais, onde é
exibida uma vida encenada, maquiada, cuidadosamente trabalhada,
em sua narrativa como em sua estória (GOZLAN; MASSON, 2013).
Também encontramos textos onde as redes sociais são compreendidas
como se desempenhassem o papel de um espelho, com signiicativas
repercussões sobre a construção da imagem de si. Esta é uma forma
de se pensar, por exemplo, a importância e a generalização dos selies,
autorretratos tomados geralmente com o próprio celular e postados a
seguir numa plataforma digital (RETTBERG, 2014).

A modo de conclusão
O presente artigo apenas permitiu vislumbrar-se a vertiginosa
criatividade semântica de nosso Ocidente, que, de forma contínua,
empenha-se em dar conta da realidade e dos fenômenos originados
pelas NTIC. Pontuamos aqui a preponderância da inluência do inglês,
sendo os países anglo-saxões os mais adiantados no que diz respeito
5
Massively Multiplayer Online Role Playing Game.

49
O psicólogo frente ao desaio tecnológico

aos estudos em Humanidades Digitais, obrigando as outras línguas


ocidentais a traduzirem ou a se adaptarem. Desejamos que, no Brasil,
a riqueza de nossa língua permita a progressiva aparição de uma
terminologia que não somente dê conta de uma realidade global, mas
também das particularidades duma realidade conectada brasileira.

No que diz respeito aos paradigmas para pensar o fenômeno, e até mes-
mo a essência, do solo vincular das NTIC e de sua dimensão espaço-
temporal, os que foram aqui propostos são os que nos têm ajudado a
pensar. O caminho para explorar essas temáticas já se encontra aberto
no solo brasileiro, e, aqui e acolá, ele é atualmente percorrido. Resta o
convite, para que, nas comunidades cientíicas e acadêmicas brasileiras,
esse tipo de investigação seja, doravante, não mais uma exceção ou um
entusiasmo passageiro, mas sim um reto, que convoque grupos de pes-
quisa, agregue estudantes, drene fundos, produza textos de qualidade e
encontros cientíicos, para que, quando o Brasil estiver realmente num
nível tecnológico que o equipare com os países europeus ou norte-ame-
ricanos, tenhamos em mãos as ferramentas lógicas para contribuir, nos
fóruns éticos, sanitários, sociais, políticos, com elementos que permi-
tam realmente enriquecer e esclarecer as diferentes discussões.

Referências

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Parte I: Pesquisa em psicologia e NTIC

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O psicólogo frente ao desaio tecnológico

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VIROLE, B. Du bon usage des jeux vidéo et autres aventures virtuelles.


Paris: Hachette Littératures, 2003.

Fondements épistémologiques et nouveaux paradigmes


d’une révolution techno-existentielle

L’intensiication de l’utilisation des technologies numériques a pré-


cipité notre civilisation occidentale dans le creuset d’une profonde
transformation. Ce que nous pensons être, à ses débuts, uniquement
une révolution technologique, facilitatrice de notre vie quotidienne,
est devenu, en fait, une révolution existentielle, nous afectant pro-
fondément dans nos vécus, nos perceptions et dans la compréhen-
sion de notre propre humanité. Comme conséquence de ce phé-
nomène et d’une forme inédite d’habiter l’espace et le temps, une
nouvelle épistémé a surgi qui tente de rendre compte des facteurs
de compréhension de cette réalité émergente dans laquelle nous vi-
vons, nous pensons, nous nous déplaçons et agissons. Cet article
propose de délimiter leurs contours, de rappeler les paradigmes qui
nous permettent de mieux comprendre cette réalité et de faire émer-
ger leurs originalités sémantiques et théoriques.

52
Título O psicólogo frente ao desaio tecnológico: novas identidades,
novos campos, novas práticas
Organizadoras Elaine Magalhães Costa Fernandez e Véronique Donard
Projeto Gráico Véronique Donard
Capa Composição adquirida no site taful.com Word/Clouds
Designer Joao Dionísio
Revisão de Texto Flávio Gonzalez e organizadoras
Tradução dos resumos Candy Laurendon

formato 15,5 x 22,0 cm


fontes Minion Pro, Calibri
papel Ofset Imune 75g/m com 1 x 1 cores (miolo)
Ofset 240g/m com 4 x 0 cores (capa)

tiragem 250 exemplares - abril 2016


Impressão e Acabamento FASA GRÁFICA | Fundação Antônio dos Santos Abranches

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