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Converted by convertEPub
Sebastian Smee
A arte da rivalidade
Tradução:
Célia Euvaldo
Para Jo, Tom e Leila, com amor
Sumário
Introdução
Freud e Bacon
Manet e Degas
Matisse e Picasso
Pollock e De Kooning
Lista de ilustrações
Agradecimentos e fontes
Índice
Introdução
empreendemos uma viagem longa para ver uma única obra de arte, o
Nessa viagem ao Japão, porém, lembro de não sentir nem uma coisa
nem outra. A pintura que eu tinha ido ver era um retrato duplo [ver
precisar esticá-los muito. E tem frescor – poderia ter sido pintada ontem.
sentimento.
uma certa contenção emocional, que por sua vez alimenta uma
espécie de letargia, ali sentado ouvindo a mulher (que, aliás, era uma
devaneio, uma indolência tão doce e completa que o isola de tudo que
69. Apenas meia década havia se passado desde que Édouard pintara
O que tudo isso lhe custou? Em 1868, será que Degas estava
NESTE PONTO, faz-se necessário dizer que o que eu tinha ido ver no
Japão não era, na realidade, o quadro como Degas o pintou, mas, antes,
o que dele havia sobrado. Pouco depois de sua criação, parte da pintura
foi arrancada com uma faca, que passou bem no meio do rosto e do
corpo de Suzanne.
homens. O motivo que o teria levado a fazer tal coisa, numa época em
que ele e Degas eram tidos como amigos (amigos próximos o bastante
menos que lisonjeiro de Suzanne – parece plausível, até certo ponto; mas
em uma pintura assim tão facilmente. Deve ter havido, por certo, mais
do que isso.
Fui ao Japão não para tentar descobrir o mistério, mas para chegar
está claro que eles nem sempre atraem a evidência. Eles atraem também
pode permanecer inimigo de Manet por muito tempo”, Degas teria dito.)
Mas as coisas nunca mais foram as mesmas entre eles. E então, apenas
rabugenta – estava cercado por uma coleção que incluía não só a pintura
mais de oitenta trabalhos feitos pelo próprio Manet. Tudo isso não era
sentimental por Manet, muito tempo depois que este se fora? Em caso
intimidade.
tempo de vida limitado – uma vez que nunca duram além de certo ponto
traição.
distância necessária. Uma parte muito grande de nós pode estar em jogo,
e nossa dívida para com o outro – qualquer que seja a forma que tenha
dano infligido a nós? E o dano que nós mesmos nos infligimos? Essas
questões parecem não ajudar, são muito vagas. Mas revolvem-se por trás
pintor Lucian Freud, cuja antiga amizade com Francis Bacon talvez seja
pintura com a qual Picasso certa vez se divertiu vendo seus amigos nela
de 1860 a 1950 – é tido como “moderno”, mas está claro que a cultura
Mas por vezes existe uma única relação que supera em importância
todas as outras. Acredito que Picasso sabia muito bem que não teria
passado e saído de seu ateliê para as ruas, cafés e salões de ensaio não
formação desses oito artistas, que estão todos eles entre os maiores do
havia feito enormes avanços, mas ainda não havia um estilo pessoal
Onde um se dispunha a correr riscos, o outro ficava para trás por excesso
possuía em abundância.
uma atração premente por outra pessoa, passando por uma fase de
criativo vital que chamamos “encontrar a própria voz”. Essa busca pela
desencantado.
encontraram num limbo. Eles tinham se afastado não só das rotas usuais
válidos.
sua própria cultura, como poderiam saber quão bons eles eram? Se viam
um valor imenso na arte das crianças, por exemplo (como fez Matisse),
como poderia alguém determinar que sua arte era excelente – melhor do
que a das crianças; melhor do que a de alguém que se exercitou por anos
sobre uma tela estendida no chão, como é que se poderia afirmar que
esse modo de fazer arte era superior à pintura realizada por alguém que
um artista.
Para isso, era preciso um colega artista. Mais do que os críticos ou
de Bacon etc.
Essa, em todo caso, era a esperança. Por isso, muito esforço foi feito
o interesse de seu rival pela arte africana ou por Cézanne tivesse uma
todos pudessem ver que seu colega era um desenhista muito superior, ou
para o sucesso?
FRANCIS BACON
como um borrão”, Freud diria mais tarde, “mas ele tinha um rosto muito
névoa.”
bordas. Seus olhos estão voltados para baixo – mas não para o chão. Ele
seus quadros e por seu uso de uma tinta a óleo espessa, prodigamente
aplicada. Mas em 1952, quando pintou Bacon, seu estilo era muito
quadros.
torna-se cada vez mais notável quanto mais o estudamos. O lado direito
tivesse sido pintado sobre uma placa de cobre, poderiam ter posto um
no National Mall.
Apesar do tamanho, o retrato de Bacon era um dos objetos mais
retratado em si ser famoso. Bacon, que ainda estava vivo na época (ele
corpo de obra tão ousado e de influência tão ampla. Bacon era uma
anos), e era tão bem reputado na Inglaterra que chegou a receber uma
desconhecido.
observação – ficara fora de moda por quase um século. Seus mais óbvios
dominantes sobre os artistas nos anos 1970 e começo dos anos 1980.
Degas.
Além disso, seu trabalho era feio. Sua maneira de pintar – realismo
manchada e cheia de pelancas – era uma ducha de água fria. Era crua e
dominada pela impetuosidade. Suada. Quase dava para sentir seu cheiro.
sentir que ele estava perto do auge de sua força como artista. Ao longo
Unidos. Freud não era tão conhecido lá, afirmavam os curadores dos
paredes do museu”.
que nenhum museu de Nova York estivesse interessado. “Ao que parece,
em dez anos, estava sendo aclamado como o pintor vivo mais famoso
dólares. (Outra pintura com a mesma modelo, Sue Tilley, foi vendida
Seu ponto final foi em Berlim, onde foi inaugurada no final de abril de
mas Freud, segundo Andrea Rose, “não queria nem ouvir falar”. Ele
lembrou, “que eles se deram conta de que a exposição era muito maior
do que haviam antecipado, e tiveram de reconfigurar as galerias para
necessário.)
a leste.
Berlim ainda levaria um ano para cair, a cidade ainda era dividida. A
não foi tão significativa quanto havia sido nos Estados Unidos, a
recepção fornecida a esse filho de Berlim há muito tempo perdido foi
tarde, de acordo com um relato. O retrato era tão pequeno que teria sido
Mas foi tudo em vão. Aos poucos, todos se deram conta – tanto a
jogada.
constrangido, bem como sua equipe. Não obstante, eles queriam manter
a mostra aberta até o término oficial, dali ainda a três semanas. Freud e
que uma pequena recompensa deveria ser oferecida pela obra. Os portos
Mas também era comum que isso não acontecesse. O caso todo era
confuso.
era neto de Sigmund Freud) era familiar. De modo que talvez tenha sido
Hughes tentou consolar Freud com a sugestão de que o roubo era uma
hesitou. “Oh, acha mesmo isso?”, disse ele. “Não tenho certeza se
Kate Moss, que estava grávida e com uma barriga maior a cada dia.
Outros temas incluíam seu filho Freddy, que ele pintou, em tamanho
estúdio, com seu cão dócil mas intenso, Eli. Trabalhando com afinco,
Freud tinha a sensação de que essa seria a última grande exposição que
Bacon era fundamental: Freud o pintara sentado face a face com Bacon
vital. Também estabelecia uma ligação entre sua obra inicial, a maior
ser recuperado?
que daria certo. Isso só veio à tona depois que o planejamento para a
penalizado.
mil marcos alemães (cerca de 150 mil dólares). A ideia, disse Freud, era
Sabe – não está mais lá”. Dois mil e quinhentos pôsteres foram
junho?”
Fig. 1. Lucian Freud, pôster WANTED, 2001 (litografia em cores).
retrato. A campanha pode ter falhado, mas por um bom tempo Freud
estúdio. Era a última coisa que ele via antes de entrar a cada dia e descer
para o trabalho.
sempre uma ausência. Todas as pinturas importantes têm uma aura, que
em parte deriva de sua singularidade. Só existe uma única Tempestade
próprias pinturas.
esses dois tipos de singularidade como uma coisa só. “Minha ideia do
retrato”, disse ele certa vez, “veio da insatisfação com os retratos que se
dos modelos, mas fossem eles próprios.” Era como se ele estivesse
importava com o destino de seus quadros. Mas com este ele se importou
muito. Como qualquer coisa, era uma questão de qualidade. Esse retrato
disso.
Mas sua perda significou muito para ele por outra razão, mais
atração pelo perigo e, para a maioria das pessoas que o conheceram, era
aversão às expectativas das outras pessoas. Foi enviado com seus irmãos
Freud tinha dois irmãos, mas era o preferido da mãe – e sabia disso.
nenhum”, disse certa vez. “Mas acho que isso é provavelmente porque
sobre o inconsciente). Mas o efeito que ele exercia sobre a maioria das
pessoas não era social, muito menos intelectual: era visceral. Lawrence
ano seguinte, 1940, Spender visitou Freud e seu colega do curso de arte
que Spender tanto admirava em W.H. Auden – e que Freud por sua vez
desde que conheci Auden em Oxford, acho. Ele parece Harpo Marx e é
Spender mais ou menos na mesma época. Essas cartas, que vieram à luz
FREUD CASOU-SE APENAS duas vezes – ambas em seus vinte anos. Mas, no
curso de sua vida, concebeu algo próximo a treze crianças, e teve tantas
agrada.”
me entusiasmei”, como mais tarde ele colocou – foi Lorna Wishart, uma
jovem mãe de três crianças, rica, audaciosa e magnética, que foi descrita
por Peggy Guggenheim como “a mulher mais bonita que já vi”. Lorna
era onze anos mais velha do que Freud, que depois comentou que todos
dezesseis anos. Um de seus dois filhos com ele era o artista Michael
umedecidas com Chanel nº 5. Michael, por sua vez, lembrou que a mãe
apenas 21 anos; Lorna estava com pouco mais de trinta. O caso teve um
enorme efeito sobre o jovem artista. Lorna não só era mais velha e mais
inspiradora para qualquer jovem. Yasmin escreveu que sua mãe era “um
sonho para qualquer artista criador porque ela os energizava. Ela era
Freud pintou Lorna duas vezes em 1945 – uma vez com um narciso,
de talismã para ele. Ele a chamava de seu “bem precioso” e a usou numa
parede.
com uma jovem atriz. Imediatamente o deixou, e, por mais que Freud
arma do lado de fora de sua casa se ela não saísse (e de fato o fez), em
sem nenhum tato, perguntei: ‘Quem você acha que é o melhor pintor na
Inglaterra?’; é claro que ele achava que era ele, e estava começando a ser
visto como tal. Ele disse: ‘Oh, alguém de quem você nunca ouviu falar.
Sutherland não estava errado: Bacon, que tinha pouco mais de trinta
ter se visto pela primeira vez num encontro marcado na estação Victoria,
Criaturas exóticas, ambos. Freud com sua prontidão fora do comum, seu
seu charme ainda mais devastador. A guerra ainda não tinha acabado. E
Assim, talvez houvesse algo sexual no ar. Mas como era a conversa?
algo muito atrativo. Três décadas depois, não estavam mais se falando.
escultor Jacob Epstein. Kitty tinha os mesmos grandes olhos da tia, mas
não sua segurança e vivacidade. Era tímida, o que fazia parte daquilo
canadense do aço Sir James Dunn. Ela posou para um retrato em 1950,
ano em que estava se preparando para casar com Michael Wishart, filho
não era apenas que o noivo fosse o filho de Lorna, ou que ele agora
tendo um caso com a noiva, Anne Dunn, mas o fato de que ele e Michael
noivo e a mãe do noivo, não surpreende que Freud tenha optado por não
não só dela. No entanto, Kitty foi para ele seus olhos e ouvidos, e
durante a festa ela foi vista por outros convidados indo ao telefone para
incomum – com seu amante mais velho, Eric Hall, e Jessie Lightfoot,
uma mulher idosa que fora sua babá quando criança. O apartamento
edifício que outrora fora a casa do pintor John Everett Millais. Bacon
usava o amplo espaço nos fundos do apartamento – que tinha sido uma
como estúdio por outro ocupante anterior, o fotógrafo E.O. Hoppé. Uma
estrado, todos usados por Hoppé para fazer seus retratos magníficos,
chuva”.
chuva obscurece tudo, exceto seu queixo e sua boca, que está aberta para
trilho semicircular que cria um espaço que lembra uma arena. (Bacon,
que era extremamente teatral, usaria esse recurso repetidas vezes nas
décadas seguintes.)
com Winnie Firth, cuja família, de Sheffield, havia feito fortuna com o
aço; mas continuou a se intitular “Capitão Bacon”. Era tido como
álcool era banido da casa, mas ele se permitia apostar nas corridas de
cavalo, nas quais raramente obtinha sucesso. Dirigia o lar segundo linhas
militares.
ou era o que Bacon dizia. (Grande parte desse período de sua vida só é
baixo de sua mãe. Teve uma explosão de ódio e expulsou o filho de casa.
quando era adolescente havia nutrido sentimentos eróticos por seu pai,
depravado”.
veia modernista. Morava com sua antiga babá, Jessie Lightfoot – uma
mulher que significava mais para ele que sua própria mãe. Nanny [babá]
vida. Ela passava a maior parte do dia tricotando nos fundos do estúdio
Era quase cega. No entanto, no sentido mais amplo, olhava por Bacon.
abastecimento pródigo das festas, mas ainda assim era útil. Montando
mas, depois de anos de convivência com Bacon e sua babá, optou por
Mas sua recepção foi fraca, e Bacon ficou desiludido. Assim, em quase
desencadeou nele uma severa crise de asma. Hall o levou para fora da
saindo de seu carro num comício nazista. A pintura já não existe, mas,
Cromwell Place. Foi lá que Freud viu Pintura pela primeira vez.
A PARTIR DE 1945, Freud ia muitas vezes à tarde ao estúdio de Bacon na
morte. Muito do que ele tentou fazer deu errado – parecia desajeitado,
confiante.
Freud estava estupefato – tanto pela atitude de Bacon com sua obra
como pelas imagens que ele trazia. “Às vezes”, disse ele, “eu passava
E ele tinha feito tudo naquele mesmo dia. Curioso … Às vezes ele
retalhava as telas. Ou dizia que estava exasperado e sentia que não eram
boas, e as destruía.”
das roupas, se apoderara de sua linha. Ele estava jogando, também, com
saltados. Representava o cabelo fio por fio. Sua pintura mais poderosa
tempo depois, “que seu trabalho tinha uma relação imediata com a
maneira como ele sentia a vida. O meu, por outro lado, parecia muito
qualquer coisa … Francis, por outro lado, tinha ideias que concretizava e
admirava. O modo como ele era completamente cruel com seu próprio
trabalho.”
óleo. Ele manejava a tinta com uma veemência que não tinha nada a ver
interrupção.
MAS O QUE AFETOU Freud tão fortemente quanto o trabalho de Bacon foi
tinha uma maneira de lidar com as pessoas e situações que foi uma
era a violência. Se Francis estava lá, ele dizia: ‘Você não acha que
nas pessoas. Francis não era nem um pouco didático. Mas poderíamos
Quero dizer, devia haver alguma outra maneira de lidar com isso.”
guerra, a atmosfera era vibrante e permissiva: “De certa maneira ela era
nasceu em Berlim, mas não teve tanta sorte; seus pais morreram num
tipo de lugar, como lembrou Daniel Farson, amigo de Bacon, “onde não
se podia ter muito por dez tostões, mas onde se podia ter um monte por
de Freud.
ao seu redor, derramando seu charme, que parecia ter algo de vulcânico
negócios vestido de terno, por exemplo – e dizia: ‘Não faz sentido ser
falar de tudo. Diga-me, quais são suas preferências sexuais?’ Não raro,
sua vida. Obviamente, não é possível extrair coisas que não são parte da
envolvimento comigo”.
Anne Dunn diria mais tarde que Freud “tinha uma fascinação por
Bacon como por um herói, mas não acho que isso tenha sido
intenso, mas assimétrico. Bacon tinha atração por Freud, que tinha um
modo de falar sobre arte que Bacon achava irresistível e tentava imitar.
ávido por aprender o que pudesse de seu jovem amigo. Freud era “mais
segundo William Feaver. Mas Bacon era indiferente (ou Freud assim
não sei.”) Freud, por outro lado, uma das poucas vezes em sua vida,
de Bacon, agora se via pego numa luta para se manter fiel a seu próprio
Havia, além disso, outro fator complicador: por muito tempo, Freud
“Isso faria uma diferença completa para mim durante três meses”,
disse Freud.
artisticamente falando. Mas isso não quer dizer que suas realizações até
despertar o interesse dos jovens. Ninguém era melhor nisso”. Ele forjou
em Palace Gate, onde era exposto a uma coleção que incluía quadros de
dos quais ele guardou pelo resto da vida: Geschichte Aegyptens [História
revolucionário.
Bacon era de fato a antítese do seu. Enquanto Freud dava duro em seus
“apenas pegar a tinta e fazer quase qualquer coisa para sair da fórmula
própria estrutura”.
trabalho de Lucian é que ele é realista sem ser real.” Se a crítica foi
injusta em 1988, deve ter sido muito mais nos anos 1940 e 1950, quando
Bacon nem sequer precisava dizê-lo em voz alta: com seus métodos de
agora estão entre suas obras mais famosas. Alguns foram feitos a pastel,
Garota com folhas [Girl with Leaves], Garota com casaco escuro [Girl
in a Dark Jacket], Garota com rosas [Girl with Roses] e Garota com
retrato de Bacon.
Michael Wishart disse que posar para Freud era “uma experiência
só cada cílio, como cada fio de cabelo, cada mínimo vinco no lábio
tremendo.”
Monte Carlo. Era um lugar que ele já conhecia bem, e seria sua
grandeza”, disse ele certa vez, “ainda que seja uma grandeza da
“você pode também tentar fazer dela um tipo de grandeza em vez de ser
certo. No entanto, a grandiosidade, no final das contas, não era bem seu
estilo.
Mas isso tudo era o que ele apreciava em Monte Carlo também.
jogar. Sempre foi fascinado pelo risco. “Ele atraía o perigo e desafiava a
sorte por meios que ele próprio inventava”, escreveu um velho amigo.
Por exemplo, havia em seu estúdio uma grande mesa feita do vidro de
uma janela, e ele deliberadamente punha sobre ela um peso cada vez
começou a jogar a sério muito cedo. Durante a guerra, disse ele, “eu ia a
caves onde se jogava, e elas eram frequentadas por pessoas muito rudes.
perdia sem parar, e estava quase indo embora, quando então ganhava de
novo, e continuava para perder mais. Costumava ficar seis, sete, oito
Jogar, para Freud, era uma emoção visceral, e talvez, também, uma
uma filosofia – como havia se tornado para Bacon, cuja propensão mais
extrema e teatral pelo jogo seduzia Freud, assim como a bela retórica
que Bacon usava para explicar seu hábito. O jogo estava em total
jogador: “só quando se vai bem longe é que se pode ir longe o bastante”,
como ele dizia. Na verdade, ele exagerava muitos aspectos de seu modo
de fazer arte, e boa parte de suas pinturas, especialmente nos anos 1940
seu famoso retrato do papa Inocêncio X. Sua ambição, disse ele, era
arte David Sylvester, “e sempre desejei, até certo ponto, ser capaz de
colaboraram, sem dúvida, seu nome ilustre, sua aparência, seu jeito
existencialismo”.
Minton. Entre 1951 e 1955, ocupou pelo menos oito lugares diferentes.
fascinante intercâmbio ocorreu entre Freud e Bacon. Cada artista fez sua
para ambos.
numa pose parecida com a que Bacon adotou nos três desenhos que
Freud fez dele em 1951. Eles mostram Bacon [ver fig. 2] com a camisa
você devia fazer isto porque acho que aqui embaixo é mais importante.”
trapos usados na pintura, com uma perna erguida na cama e seu grande
esbelteza improvável. Seus olhos, no único dos três desenhos em que são
Esse tipo de coisa não era seu forte. Mas a própria tentativa de buscar
algo novo – tentar vestir as roupas do amigo, por assim dizer, para ver
como elas cabem em si mesmo – nos diz algo sobre a influência que
artística e interpessoal.
Fig. 2. Lucian Freud, Estudo de Francis Bacon, 1951.
caído por Francis”. Sylvester era sensível a isso porque, como ele
de camurça”, disse.
Bacon pediu a Freud para posar para ele em seu estúdio. A pintura que
continuariam a ser).
influência de Freud sobre Bacon nunca foi tão simples quanto identificar
“Estar com ele é como pôr o dedo num soquete elétrico e ficar ligado à
rede elétrica por meia hora”, disse Louisa Liddell, uma moldureira que
posou para ele anos depois. Bacon não era imune a seu efeito sobre as
pessoas.
vida.” É bem possível que tenha sido Freud, com seu faro para o
um padrão para o futuro) foi que, quando Freud chegou, encontrou sua
parede [ver fig. 3]. Uma forma preta plana, como a sombra do fotógrafo
juntas nunca foi o forte de Bacon), seus olhos eram dois pontinhos e
empreendida por Max Brod. O que Kafka tinha a ver com Freud é
impossível dizer, e talvez não seja mesmo o que importa: era uma
O retrato não tem nada de especial. Não chega nem perto das
Freud.
que mais tarde falou sobre o efeito que as pessoas provocam no espaço e
sobre seu desejo de tentar pintar o ar em volta de seus modelos bem
como os próprios modelos: “A aura emitida por uma pessoa é uma parte
dela tanto quanto sua carne.” Mas Bacon também dizia abertamente que
sozinho. “Pode ser apenas que isso se deva a meu lado neurótico”, disse
minha frente.”
lhe perguntou se ele estava dizendo que o processo da pintura era “quase
“Exatamente. E acho que os métodos por meio dos quais isso é feito
são tão artificiais que, no meu caso, o modelo que está diante de mim
presença do sujeito o inibia, disse ele, porque, “se eu gosto deles, não
quero praticar na frente deles a agressão que lhes faço em meu trabalho.
sobre a amizade e o próprio amor. A amizade real, ele disse certa vez,
aquilo que mais ama” – que não passava de outra versão da entrada do
diário de Degas: “As pessoas que mais amamos são as pessoas que mais
poderíamos odiar.”
incomuns” de Freud:
resgatados de debaixo de sua cama quando ele morreu, muitos dos quais
clássicos. Eles têm o impacto, como escreveu seu amigo Daniel Farson,
Deakin tinha seus amigos, mas era também bastante odiado. George
uma perversidade implacável, tais que é surpreendente que ele não tenha
Deakin tirou mais de quarenta retratos por encomenda sua. Para criar o
sido capaz de registrar qualquer coisa que nos é apresentada como fato
Freud deve ter se influenciado por esse tipo de conversa. Mas ainda
Só bem mais tarde é que Freud articulou essas intuições, mas elas já
retrato, a ideia (pelo menos, é como ele parece tê-la vendido) era
mar do Soho onde Bacon gostava de ser o centro das atenções. Freud
“não só como uma pessoa do mundo da arte, mas como… não sei…
conhecê-las”.
para ficar prontos. Sua ideia de retrato tinha a ver com escrutínio lento e
para posar. “Mal consigo ficar sentado por muito tempo”, contou a
Essa é uma das razões pelas quais sofri de pressão alta toda a minha
vida. As pessoas dizem: Relaxe! O que é que elas querem dizer? Nunca
– não sei como fazer isso.” (Comparem essa fala com a de Freud:
“Minha ideia de lazer tinha a ver com essa sensação prazerosa de ter
horas a cada dia – não deve ter sido fácil, nem para o artista nem para o
modelo. Freud lembrou muito tempo depois que Bacon “se queixava
bastante de posar – o que ele sempre fazia com tudo –, mas não para
mim. Ouvi falar, sabe, pelas pessoas no pub”. E era de fato uma questão
de posar, de ficar sentado: Freud sentava-se tão perto de Bacon que seus
Freud. É difícil imaginar uma situação mais tensa. Tanto mais quando se
O QUADRO FOI TERMINADO, mas nunca foi para o Wheeler’s, porque, antes
do fim de 1952, foi comprado pela Tate, junto com outra obra-prima
indica que ele viu o retrato de Bacon enquanto estava sendo pintado.
com todo o cabelo, enquanto a foto de Deakin corta logo acima da linha
do cabelo.
Bacon pintado por Freud antes que ele fosse para a Tate. Impressionado,
Ele era mais jovem, também – o que ajudava. Deve ter observado o
de Freud com Caroline teve em Bacon seu anjo mau, o caso de Bacon
com o ex-piloto e lutador Peter Lacy foi observado por Freud a uma
incomum. Ele não amava nenhuma de nós. Mas devia saber que ela o
começou.
inviolado de sua boa educação. “Ela não era fácil socialmente – tudo se
passava aos solavancos e silêncios”, disse seu amigo Alan Ross, editor
nervoso, mas a cortejou. Eles se conheceram num baile formal dado por
Ann Rothermere. Ann, que havia posado para Freud em 1950, levava
depois que seu primeiro marido morrera no front em 1944, mas já vinha
com seu amigo Noël Coward, mas na maior parte do tempo morando
com Fleming. O caso foi descoberto por seu marido em 1951; eles se
estavam lá, e ela disse: ‘Espero que você encontre alguém com quem
queira dançar’, esse tipo de coisa. E então subitamente havia essa pessoa
sentidos, e uma pessoa desleixada, parecia que não tinha tomado banho.
Mas então alguém me disse que de fato não tinha. Fui até ela e dancei,
vezes ativamente oposta às expectativas dos outros. Isso incluía sua mãe,
escreveu Ivana Lowell, sua filha com o roteirista Ivan Moffatt. A própria
ele era muito afetado, usava umas suíças compridas, que ninguém na
na multidão, e conseguia”.
O mundo que Freud agora adentrava era novo para ele. Se ele estava
impressionou a irmã de Caroline, Perdita, por ser “tão tímido que não
conseguia olhar ninguém nos olhos. Ele ficava com a cabeça baixa, os
Freud não era só um artista e boêmio, claro; ele era judeu. E isso –
mesmo seu nome sendo Freud – não era uma grande vantagem nos
optou por não reagir. Mas, na vez seguinte que Freud topou com
O CASO DE FREUD com Caroline não tardou a pegar fogo. Eles eram
na cama [Girl in Bed] [ver prancha 4], um dos vários belos retratos de
Caroline que fez naquele ano. Outro foi Garota lendo [Girl Reading].
modelo não podiam estar mais próximos. A testa dela tem um tom lilás,
se lembrava “da obsessão mais do que da pessoa”. Mas ele era louco por
Caroline, e ela absorvia sua vida mental e emocional de tal maneira que
era difícil para ele trabalhar. “Eu não conseguia pensar em mais nada.”
para ela e disse: ‘Vou fazer alguns desenhos em suas unhas.’ E então fez
com Michael Kimmelman. Afirmou que foi Picasso que fez o contato
se chegava por uma escada espiral externa. Então, “fomos para lá,
precipita inteiro em cima de mim. Tudo que senti foi medo. Eu ficava
dizendo: ‘Desça as escadas, desça.’ Ele dizia: ‘Não, não, estamos juntos
sobre os telhados de Paris.’ Foi muito absurdo, e para mim Picasso era
espaço para fazer amor, com todas aquelas pombas. E pensar quantas
outras pessoas ele tinha levado para lá… Será que elas foram até o fim?
mas não agora, porque estava fazendo o retrato de sua mulher.” (Na
assim como a vida das pessoas mais próximas a ele. Kitty estava grávida
Mas seu casamento estava desfeito. Garota com cachorro branco seria o
que em quase todos os seus quadros até então. Mas é difícil dizer se
Fleming (ela tinha se casado com Ian em março daquele ano) – para
ataque dos alemães. Dessa vez, no lugar da Terra Nova, onde o comboio
fundo o ar fresco.”
foi revelado a Freud. Mas ele não se deixaria abater. Foi até lá e
“Tudo que eu sabia era que ela estava na Espanha, e eu tinha o número
pintura mais ambiciosa até então – num duplo retrato de Caroline e sua
retribuir-lhe – com a ajuda da esposa: “Sei que pedi a ela algum dinheiro
mesmo por ele, pois ele conhecera alguém especial lá.” Ela não só lhe
deu o dinheiro, como também disse: “Tem alguma outra coisa que você
realmente queira?”
seus nervos, disse Bacon depois, haviam ficado abalados. Ele era
acreditava Bacon, de ter herdado dinheiro) e seu humor: “Ele podia ser
natural, fazendo uma observação divertida após a outra, sem mais nem
Bacon já tinha mais de quarenta anos, mas dizia que pela primeira
disse ele, e não parecia se dar conta de que ele, Bacon, era na verdade
pintura, ditado por Lacy – que não tinha paciência para as distorções
Convidou Bacon para ficar com ele. Quando Bacon perguntou como
realidade caótica.
Embora Bacon passasse bastante tempo em Long Cottage, nunca se
destrutivo demais até mesmo para ele. Lacy, disse ele, “era tão neurótico
que nunca daria certo morarmos juntos”. Em seus acessos de fúria, ele
podia causar desde danos físicos horrendos a Bacon até destruir suas
encontrava-se com eles mais do que eles se davam conta. Caroline disse
mais tarde que ela e Freud jantaram com ele “quase todas as noites
vulnerável afetavam as relações entre seus amigos até quando ele estava
ausente.
sodomitas [The Buggers] [ver prancha 5], foi sua primeira pintura de um
casal, tendo sido produzida em 1953, durante o segundo ano de seu caso
mutilados. Mas o cenário não é uma arena de luta. É uma cama, com
exposto em público.
disse Bacon. “Pode ser tão violento quando foder, como um orgasmo ou
Duas figuras foi exibida pela primeira vez numa sala do segundo
uma pintura que ele conservou até morrer. Ficava pendurada no segundo
autodestrutivo.
Caroline recordou-se de Bacon vindo a um almoço no Wheeler’s
vento”, escreveu.
“Ele disse que o médico tinha lhe comunicado que seu coração
toda a noite, mas Lucian e eu fomos para casa muito deprimidos. Ele
ano que estavam casados, mas alguma coisa ia mal. Freud estava
começando a sentir que a mulher, apesar de seu brilho, sua beleza e seu
jeito não convencional, talvez fosse mais do que ele era capaz de
aguentar. “Era preciso ser muito amoroso para obter o melhor dela”,
grande caos.”
A figura que paira, ansiosa, no fundo, contra uma luz do sol difusa
Começou a beber a sério, o que arruinou toda a sua vida adulta, nesses
era muito importante manter o controle. Foi Bacon que conduziu essa
sedutor.
disse, numa construção ardilosa característica, que “se existe algo como
culpa, o mínimo que posso dizer é que a culpa foi toda minha”. A
é certo que a mentalidade de Freud durante esses anos foi infectada pela
FOI CAROLINE quem deixou Freud, e não o oposto. Ela saiu de casa uma
telhado. “E assim tive que ser uma espécie de babá dele por um tempo”,
disse Lumley.
sempre se conta essa história – num táxi em Nova York em 1977. Ele
estava voltando para casa depois de uma tentativa final de reatar seu
abandonado para ficar com Blackwood muitos anos antes, mas que
Garota na cama.
PARA BACON, esses anos entre 1952 e 1956 foram, segundo seu biógrafo,
uma doença pavorosa. Eu não desejaria isso para o meu pior inimigo”.
como artista.
foram destruídos, seja por Lacy ou pelo próprio Bacon. Em geral, ele
Bacon disse, mais tarde, que Lacy odiou sua pintura desde o
precisamente por isso que o atraíam tanto. Qualquer que fosse o motivo
A relação não podia durar para sempre. Mas Bacon estava disposto a
Bacon com Lacy. Quanto mais alucinado e violento Lacy ficava, tanto
mais Bacon parecia amá-lo. Era uma situação que confundia e chateava
fúria, atirou Bacon por uma janela. Ambos estavam bêbados, o que deve
ter salvado Bacon: ele caiu quatro metros e meio e sobreviveu, mas seu
lembrança meio século depois, “um de seus olhos estava pendurado para
entre eles era uma coisa sexual. Não entendi mesmo nada isso.” Mas o
resultado foi que Freud, pelo menos segundo suas lembranças, ficou sem
falar com Bacon por cerca de três ou quatro anos depois desse episódio.
explodir por pressões internas”. Lacy, por sua vez, havia entrado num
pacto fatal com o sinistro Mr. Dean: para pagar sua conta no bar, tocava
mais ele tocava, mais aumentava sua conta, o que afastava qualquer
Dean’s”.
arrefeceu. Mais de uma vez, Bacon foi visto caminhando pelas ruas à
noite, todo surrado. A certa altura, o cônsul britânico foi chamado para
fosse o mascote dos três. Mas as pinturas que exibiu tinham sua força
três anos de sua vida. Entre elas havia dois retratos de Kitty (Garota
roubado.
Num momento em que sua arte estava num estado de fluxo máximo e
começa com a afirmação de que seu objetivo como artista era produzir
devem provir daquilo que o obceca tanto na vida a ponto de ele nunca
seus temas “sob a mais rigorosa observação: se isso for feito, dia e noite,
“está tão associado a eles quanto sua cor ou cheiro … Portanto, o pintor
tema.”
seu apelo, por conta disso, era largamente sentimental, Freud também
sua habilidade para adquirir vida própria. “Um pintor deve pensar, de
tudo o que vê, como estando lá inteiramente para seu uso e prazer. O
vez que o modelo que ele copia tão fielmente não será pendurado ao
lado do quadro, já que o quadro estará ali sozinho, não importa nem um
Freud posteriormente afirmou que seu antigo “método era tão árduo
que não havia espaço para a influência”. Mas isso mudou quando Bacon
entrou em cena.
crise, ainda que de progresso lento, em sua arte. Ela afetou não só o
intimidade e vínculo. Isso nunca mudou. O que mudou foi sua maneira
que conferem uma vida tão incrível a seu retrato de Bacon. Agora havia
desapareceu.
trabalhar.”
Freud passou a pintar de pé, e, como ele mesmo disse, “nunca mais
com tinta mais viscosa. Estava tentando tornar suas pinceladas mais
aventura arriscada.
depois que estavam além de seu entendimento. Teria sido por isso que
ingênuo e tolo?
Uma inferência similar – uma acusação de ingenuidade, dessa vez a
olhos arregalados.
estilo “infantil” não era uma afetação. Havia nele algo deliberado, um
muitos dos gigantes da arte do século XX, entre os quais Paul Klee, Joan
Miró, Picasso e Matisse, todos inspirados na arte das crianças. Mas era
próprio Freud foi mais rápido do que alguns para compreender isso.
isso.
Não está claro quanto tempo durou a ruptura entre os dois. Freud
disse que foram anos, outros dizem que foram apenas semanas. Mas o
assustadoramente labiríntica.
atingiu um recorde mundial para uma obra de arte num leilão, sendo
Como que para compensar o que dera errado com Lacy, Freud
forma mais íntima quando Dyer posou para ele, duas vezes, em 1965 e
1966.
que George Dyer respondesse por ele: “Lucian pegou muito dinheiro
maldoso”, disse ele. “O problema mesmo com ele foi que meus preços
muito dinheiro.’ O que era estranho, porque antes disso, durante muito
suspeito que tinha a ver com o álcool. Era impossível discordar dele
sobre qualquer coisa. Ele queria admiração, e não lhe importava de onde
ela viesse. Em certa medida, ele perdeu sua graça. Mas seus modos
que era escrito, mas pensava que, se tudo aquilo fosse verdade, eu devia
dizer: “Acho que você enlouqueceu, mas desejo-lhe boa sorte”, e nunca
década de 1980, quando Freud está próximo dos seus sessenta anos e as
pessoas já não podem ignorar o que está saindo de seu estúdio, pois tudo
momento.)
dedica mais atenção aos traços faciais de seus modelos do que a suas
psicologia e de status social. Em vez disso, ele passa a ser uma função,
também por toda a Europa e, por fim, nos Estados Unidos. Autores
lados.
trabalho – insistia que sua pintura deveria evitar a todo custo o tédio da
“ilustração”. “Não quero contar uma história”, disse a Melvyn Bragg.
“Não tenho nenhuma história para contar.” Ele queria é que sua pintura
ele foi um dos pintores mais empolgantes do século XX. Mas em muitos
deixadas vazias e sem vida. Ele passou a contar cada vez mais com
parecia fazer pouco mais do que ilustrar sua própria retórica – enquanto
evitar.
PERTO DO FINAL DA VIDA, Freud disse a William Feaver estar tão tomado
pelo trabalho que “percebi que, no grande quadro que estou fazendo,
estava fazendo algo delicado, e não só usei o pincel grande como ele
como estão gritando vai funcionar. Se você sabe o que quer, pode usar
EDGAR DEGAS
pintura [ver prancha 6] mostra Manet recostado num sofá enquanto sua
O quadro pode ser visto hoje num pequeno museu de arte moderna
fita negra. Sua saia é de um cinza azulado claro, com listras pretas que
do qual vê-se o rosado de sua pele, exceto nas costuras, que Degas
Suzanne.
A TELA QUE DEGAS escolheu para esse retrato do casal não é muito
entre um quarto e um terço dele – está vazia, sem pintura. Quando nos
foi cortada e substituída por um novo pedaço de tela. Esse pedaço foi
Suzanne era uma holandesa robusta, mas bonita, loura e com faces
coradas. Era também uma excelente pianista, de modo que fazia sentido
desejariam ter por perto. Degas não era exceção. Na época em que
Manet havia sete anos. Mas devia sentir que Manet ainda não tivera a
para posar para um retrato foi talvez uma maneira não só de selar essa
dele, fazer algum tipo de afirmação sobre a vida íntima desse homem
fugidio. E ele estava seguro de que, em certa medida, esse algo tinha a
desses dois homens, mais isso se confirmava para ele. Degas era como
Algum tempo depois (ninguém sabe quanto), Degas fez uma visita
sabemos o que ele disse para explicar o feito. Degas, podemos imaginar,
comigo”.
Manet lhe dera depois de um jantar em que Degas quebrara uma travessa
Ameixas.”
juiz de alto escalão e, por fim, membro do Tribunal. Sua mãe, Eugénie-
advogado, como o pai. Mas ele mostrou pouca aptidão, e ainda menos
em seguida abandonou. Ele gostava mesmo era de arte. Seu tio materno,
Édouard Fournier, incentivou-o a levar adiante seu intento e até lhe deu
Degas.
Em 1848, um ano de revoluções por toda a Europa, Manet pediu
espetáculo bastante revoltante para nós”) e foi picado por uma cobra
preparar para ser artista. E então, no ano seguinte, 1850, Manet se viu
Léon.
ENVOLVER-SE NESSA LIGAÇÃO secreta com a professora de piano
contratada pelo pai foi apenas uma das muitas infrações que marcaram a
total consciência de que seu filho era rebelde, obstinado. Pareciam ter
decência burguesa. A situação foi ainda pior para a família Manet por
causa da posição social especial de seu pai. Não só Auguste era juiz do
imediatamente.
Manet, por sua vez, foi padrinho de batismo de Léon. E assim, por
Em outras palavras, Manet vivia uma vida dupla – não tanto por
nascimento de Léon e seus primeiros anos de vida. Tudo foi muito bem
imaginar. Mas parece certo que contribuiu para uma pressão, uma
tensão, que jaz não muito abaixo da superfície leve e tranquila de sua
arte.
final daquele mesmo ano, 1851, Luís Napoleão orquestrou o golpe que
públicos para assuntos mais privados. Manet era parte dessa tendência
geral, mas suas convicções políticas ardiam fortemente sob sua aparente
Chegaram a ser detidos durante várias noites – embora mais por sua
introspectivo, meditativo.
estudos com Couture, que era apenas progressista o bastante para sugerir
um fundo escuro e vazio – foi exposta no Salão de 1861, seu efeito foi
público acorria aos milhares para ver um amplo recorte das mais
Tudo isso estava prestes a mudar. Mas, para um pintor nos anos
ano não, ele diligentemente submetia seu trabalho ao Salão. Às vezes era
aceito, às vezes não. O que ele detestava era a atmosfera de clichê que
lenço branco preso por baixo de seu chapéu preto foram o bastante para
Courbet com uma discrição, uma leveza e um desprezo pelas regras que
nada disso, e sim uma espécie de falso realismo, um jogo estético casual,
Algo que tinha a ver não apenas com o tema, mas também com o modo
sem nunca ter sido sua intenção, o líder de facto de uma geração mais
com um cavalete e uma placa para gravura, tentando copiar uma pintura
pintores; portanto, não foi nenhum acaso ele ter ido parar na galeria que
sobre o assunto.
encontro produziu um efeito oposto. Degas mais tarde contou que nunca
esqueceria a lição que recebeu de Manet naquele dia, “junto com sua
duradoura amizade”.
família abastada, como a de Manet. Seu avô, Hilaire, levara uma vida
Paris. Ela morreu quando Degas, seu primeiro filho, tinha treze anos.
adiantou: ele havia sido contaminado pelo vírus da arte. Era claramente
muito talentoso e não seria demovido de seu desejo, de modo que o pai
avôs viúvos e não menos do que quatro tios solteiros. O celibato era
solteiros do voto.
A despeito dessas restrições sociais mais amplas, não se casar era
mentalidade monástica ficou incutida dentro dele. “As coisas mais belas
fervor. Havia algo semimítico: “Os antigos viram tudo, entenderam tudo,
Mas levou a cabo uma ideia de arte acadêmica: isto é, ela se baseava em
“Posso lhe garantir”, disse ele anos depois, “nenhuma arte é menos
conservador. Mas era visto – ou fora visto, nos anos 1820 e 1830 – como
estavam no movimento.
Não surpreende que sua filosofia tenha feito sucesso com a geração
mais jovem, incluindo Manet, que abraçou o amor de Delacroix pela cor,
em levar suas pinturas aonde queria que elas estivessem, e as ideias que
ponto de vista estético, seu trabalho simplesmente não era nem uma
coisa nem outra. Trabalhou em pinturas como Jovens espartanos
dezenas de desenhos – que estão entre alguns dos mais belos desenhos
inacabada.
maneira tão rápida e fluente que a pessoa era conquistada antes mesmo
de se dar conta. Seu rosto, no qual Émile Zola detectou “um requinte e
isto é, ele sabia como ouvir: demonstrava atenção com repetidos acenos
Quando, por exemplo, anos depois, Zola lhe enviou o prefácio que havia
atacar tão bem quanto você, só pode ser um prazer ser atacado.”
1861 (um retrato de seu filho Léon fantasiado), foi seguida em rápida
Exalavam vida. Manet tinha nesse momento uma sensação de que podia
retrato de corpo inteiro do rapaz; depois, fez o mesmo com uma mulher
bem jovem chamada Victorine Meurent – que era seu novo modelo
favorito –, chegando até a esboçar uma tourada atrás dela. Não fazia
interna de que suas ideias, por mais estranhas que fossem, de alguma
natimortas.
épocas. “Nosso Rafael”, observou seu pai, “ainda está trabalhando, mas
dois anos depois, em outra carta: “O que posso dizer sobre Edgar?
que Manet, “cujo olho e cuja mão são a própria certeza” (como ele
ele mais tarde se queixou ao artista inglês Walter Sickert. “Em tudo o
e nunca acerto.”
Ele provavelmente sentia-se igualmente invejoso ao observar a
Manet ajudou a fazer Degas sair de si mesmo. Seu exemplo fez Degas
aspecto talvez mais impressionante de Manet a essa altura era seu senso
influências nos anos 1860. Mas o relacionamento com Manet foi o mais
“Será que eu não poderia encontrar uma boa pequena esposa, simples e
estado que permitia aos artistas conservar sua liberdade, sua força, seu
cérebro e sua consciência. Era por causa das mulheres, acreditava
agitado quando um jovem pintor lhe falou de seus planos para se casar:
“E se você a ama e ela for bonitinha, é o pior de tudo”, disse ele. “A sua
arte está morta! Um artista não devia conhecer nenhuma outra paixão a
não é um amor legítimo”, disse ele certa vez, “não nos casamos com ela,
sempre foi associada com uma entrada de seu diário, bastante ambígua,
parcialmente rasurada, de 1856, quando Degas tinha 21 anos. Ele parece
encontro vergonhoso:
“Acho impossível dizer o quanto amo aquela garota, pois para mim
vergonhoso … uma garota indefesa. Mas vou fazer isso com a mínima
frequência possível.”
Degas.
Matisse e Picasso, era uma das muitas pessoas que conheciam Degas
alguma outra coisa. Mas, o que quer que fosse, sua arte tinha uma
A COISA MAIS DIFÍCIL do mundo, às vezes, é ser o que você é. Manet, pelo
menos nesse aspecto, parecia não ter esse problema. Para Degas,
contudo, não era tão fácil. Sua persona social bem protegida não
própria pele. Manet deve ter percebido isso nele. E o próprio Degas, por
certo, tinha consciência disso, o que o corroía. Aos vinte anos, tinha
uma obsessão incomum por si mesmo; aos trinta, já produzira não
nenhum dos outros pintores talentosos que conhecia bem; não queria,
obscuridade.
que não era o caso. Mas – como admitiu em uma carta comovente a
melhor sobre si mesmo. Naquela época, escreveu, “eu me sentia tão mal
formado, tão mal equipado, tão fraco, ao passo que me parecia que meus
que pensar dele, ou como era visto a seus olhos. Esses olhos, escuros e
privado, de onde era mais fácil emitir juízos. Se, por um lado, isso o
outro, na verdade, Degas não era nem um pouco mais fácil consigo
falar bastante. (Essa é uma história que Lucian Freud gostava de contar.)
dia se virou para Sickert e disse: “Você sabe que não precisa fazer isso,
realista, per se. Sua inspiração, além da própria cidade, era Baudelaire.
escreveu certa vez. “Seria para mim uma volúpia que me compensaria
lisonjeira.
Nascido em 1821, ele era dez anos mais velho que Manet e um
travou amizade com Manet em meados dos anos 1850, grande parte de
século XIX – já tinha sido feita. Sua amante, Jeanne Duval, estava
quadros que os artistas submetiam aos Salões anuais. Tudo isso condizia
inexpressivo, enigmático.
EM 1863, apenas dois anos depois de seu sucesso no Salão com O cantor
receber uma petição de protesto contra o rigor do júri daquele ano para o
atraente e agradável. É claro que não deve ser considerado uma cena da
estaria uma mulher sem roupa fazendo no meio de um parque? Por que
crítico chamou-a de “uma farsa, uma ferida aberta indigna de ser assim
exibida”.
Salão graças à sua forte cor local, sua simplicidade e seus contrastes
1861. Sabia que seria um erro recuar. Incentivado por seus defensores,
optou então por tornar-se mais audacioso, tanto no estilo como nos
temas.
Não obstante, a cada nova tela submetida ao júri, a intensidade dos
– sagrado e profano – era, por si só, uma provocação. O Cristo morto foi
mal recebido. Até mesmo pessoas cujo apoio anterior havia animado
havia visto anjos para saber se tinham costas e asas grandes. Até
última galeria – tão alto que não era possível dizer “se você estava
chovem sobre mim como granizo. Ainda não tinha me visto em tal
enganado.”
ALGUÉM ESTAVA ENGANADO. Mas quem?
de depravação.
“Devo então lhe falar de você. Devo tentar mostrar-lhe o seu valor. O
as brincadeiras o irritam; ninguém sabe como lhe fazer justiça etc. etc.
Você acha que é o primeiro homem nessa situação? Você tem mais
achincalhados. E não morreram por isso. E, para não lhe dar motivo
demais para orgulho, direi que esses homens são modelos, cada qual em
primeiro na decrepitude de sua arte. Espero que não fique bravo comigo
por tratá-lo tão sem cerimônia. Você sabe a amizade que lhe tenho.”
O fato é que nenhum pintor do século XIX fora maltratado pela crítica
da arrebentação: de pé, queimado pelo sol, até sorrindo (ele pediu, não
“Os ataques de que fui alvo destruíram em mim a mola da vida”, disse
jovem de pintores, ele estava apaixonado demais por seu velho herói
Baudelaire. Ninguém, nesse sentido, foi mais útil para ele do que Edgar
Degas.
Manet não era tolo, e devia saber que pensar em Degas como uma
além disso, ele sabia como Degas era ambicioso. Nesses primeiros anos
sua cartola, apoiado numa das pernas, uma das mãos em repouso no
desenhista tão bom quanto Ingres, mas sua mão segura também podia,
Mais de uma vez, teve de recorrer a uma faca em pinturas nas quais
dos anos 1860 era o Café Guerbois. O Guerbois consistia em duas salas
frente para a rua, era uma mulher que ficava no caixa. Era decorada no
Era no Café Guerbois que, duas ou três vezes por semana, vários
e cúmplice de Degas.
para jogar bilhar na sala do fundo. Ali, a atmosfera era mais escura, mais
claros.”
precisava.
Todo grupo desse tipo, por mais informal que seja, tende a
Batignolles. Mas como sua conexão com ele era mais estreita do que a
havia um maior equilíbrio entre ele e Degas nos cenários íntimos dessas
música deve ter sido notada por Suzanne e os outros músicos. Ele podia
não ser tão naturalmente sociável como Manet, mas era muito mais
noção que temos de nós ainda não está, em certa medida, formada,
como ocorria com Degas àquela altura, é preciso se apressar para formá-
la.
Mas é necessário que nos forcemos a isso, uma vez que a outra
Nos anos 1860, enquanto estava ficando mais próximo de Manet não
pouco a pouco se consolidou numa linha clara entre eles. Era visível na
tela, mas tinha menos a ver com o estilo de pintar ou com o tema e mais
com uma atitude filosófica. Resumia-se à noção muito diferente de cada
acabou se sentindo ameaçado por isso, foi sem dúvida porque havia
longe da luz.
EM SUAS REFLEXÕES, pensando sobre Manet, Degas parece ter notado que
nem tudo era como parecia com seu amigo talentoso. Manet tinha fama
Manet tinha escondido seu caso com Suzanne de forma tão efetiva e
por tanto tempo que, quando mencionou que estava indo à Holanda para
“Ele está partindo hoje à noite para a Holanda, de onde trará uma
qualquer suspeita.
posteriormente que nunca soube ao certo quem era seu verdadeiro pai.
febril que hoje envolve sua identidade. Alguns estudiosos afirmaram que
Léon era, na realidade, filho de Auguste Manet. Mas é difícil dar crédito
mistério de por que Léon nunca ter sido legitimado, mesmo depois de
afirmou ela, se Auguste Manet fosse o pai, porque isso significava que
mais boêmios de Manet isso era frequente, mas suas famílias não eram
do pai de Degas.
mas isso também lhe fez mal. Tabarant estava convencido de que essa
retratos que Manet fez de Léon, graças aos quais passou muito tempo
próprio tempo, estar atualizado, Degas também, por sua vez, estava
Mas aos poucos algo novo surgiu, algo que só ele, Degas, poderia ter
produzido.
gesto que Degas repetiu muitas vezes depois), contribui para uma
retrato do século XX, esse detalhe parece muito sutil. Mas na época foi
totalmente inovador.
É AÍ QUE O RELACIONAMENTO de Degas com Edmond Duranty torna-se
ópera), mas ninguém tinha muita certeza. Ele criou, com Champfleury,
suíço Johann Kaspar Lavater no final do século XVIII, e este, por sua
livro era ilustrado com desenhos de vários “tipos” faciais sobre fundos
pudessem ser lidos em seu semblante era mais corriqueira do que nunca.
para transmitir sua posição social. Em vez disso – e cada vez mais –, as
chinelo”. Não eram os rostos a chave para o retrato? Não era por uma
boa razão que as pessoas prestavam atenção especial a eles? Mas não
qualquer rosto.
diferença entre ele e Manet. Como muitos artistas, tinha uma relação
competitiva com a literatura. Portanto, era profundamente atraído pela
pudesse nos falar mais da vida interior de uma pessoa do que toda a
O rosto ainda era essencial; o que Degas buscava transmitir é que era
diferente.
lançar-se nesse retrato do casal Manet, “e, acima de tudo, dar a seus
que a verdade (Poe de novo) “nem sempre está dentro de um poço. Com
efeito, no que toca aos conhecimentos mais importantes, acredito que ela
em total acordo com essa ideia. Seus quadros mais famosos refletem
acontece.”
Degas deve ter admirado alguns aspectos de tudo isso. Mas não
cinquenta de suas pinturas. Mas o tiro saiu pela culatra. A mostra não
vendeu nada, deixando-o com uma dívida de 18 mil francos com a mãe.
No ano seguinte, caiu em séria depressão. Estava de luto por seu amigo e
confidente Baudelaire, que morrera no final de agosto de 1867. Sua
produção diminuiu até quase parar. Parecia-lhe que tudo que arriscava
mais massacres da crítica. “Aí vem o mar de lama”, ele dizia. “A maré
está chegando.”
ERA UMA SITUAÇÃO GRAVE, mas talvez também fosse indiretamente útil,
modo que, por volta de 1868, Degas percebia que algo não ia bem com o
amigo. Ele estava preocupado. Mas, ao mesmo tempo, deve ter ficado
saía de sua cabeça. O importante é que Degas era alguém em quem ele,
planejado.
Manet podia encontrar alento nisso. Tentando se animar, teve uma
Londres em primeira classe, ida e volta, por 31,50 francos.” Mas havia
em que dia vamos chegar para que ele possa nos servir de intérprete e
guia.”
quero hoje é fazer algum dinheiro. E já que eu penso, assim como você,
que não há muito o que fazer em nosso estúpido país, no meio dessa
Degas: “Acho que devíamos explorar o terreno por lá, pois isso poderia
uma lista dos horários do trem e sugeriu que eles tentassem partir na
possível.”
Whistler em Londres.
pintou o casal Manet no final daquele ano. Manet teria ficado lisonjeado.
Londres. Não se sabe por quê. Pode ser simplesmente que o momento
Manet – onde este sem dúvida impressionaria a todos por ser mais
O que ele não conseguia entender era por que Degas, que a essa
não tinha viajado com ele. “Degas foi mesmo idiota por não ter ido
Fiquei sabendo por Duranty que ele está se tornando um pintor da ‘alta
sociedade’; por que não? É uma pena que ele não tenha ido a
Londres…”
exatamente o que ele fez. Três anos depois, empreendeu sua própria
viagem até lá – sem Manet –, e, um ano após essa primeira visita, estava
vendendo seus quadros através de Thomas Agnew, um marchand da
Bond Street. Por volta de 1880, Degas era uma celebridade na Inglaterra.
‘Monsieur Manet, como vai, aonde está indo?’, fico desapontado, pois aí
desprezo de Degas pelo Salão, pelos críticos e pela maioria de seus pares
receber elogios de onde quer que viessem, Degas detestava a ideia de ser
costas para o espectador, mas olhando para o lado, de modo que seu
rosto barbado, com os cabelos ruivos e cílios louros, seja visto de perfil.
Bellelli revela, como escreveu Paul Jamot em 1924, o “gosto [de Degas]
incessante. Ele havia sido planejado para sua estreia no Salão. Mas,
Degas tinha muito apreço por ela. E só agora, depois de uma lacuna
logo foi informado de que havia sido aceito pelo júri. Mas, quando
exibição por tanto tempo, e agora, depois de ter finalmente feito sua
saúde era frágil e, além disso, estava de luto pelo próprio pai (cuja morte
recente explica seu vestido preto e o retrato dele na parede logo atrás).
Ela temia, genuinamente, pela própria sanidade. “Creio que você vai me
ver morrer neste canto remoto do mundo, longe de todos aqueles que
Morar com os Bellelli foi a única experiência “de dentro” que Degas
teve da vida conjugal, e aquela não era uma vida feliz. A experiência
apreciava (dizem que ele adorava Haydn), seu interesse era casual.
anos, tinha uma assinatura para frequentar a ópera. Seus gostos eram
irmã de Dihau, Marie, uma pianista que dava aulas de canto; e o tenor e
psicologia.
algo que não lhe saía da cabeça desde que pintara Mulher sentada ao
lado de um vaso de flores. Sua ideia era que, quando as pessoas estão
com Manet.
Manet, por sua vez, deve ter ficado entusiasmado pelos vários
desenhos e gravuras que Degas já havia feito dele. Essas imagens leves,
da parte da pessoa que as criou. Manet deve ter ficado curioso sobre o
que Degas faria, num veio similar, na pintura. Mas esses trabalhos
antes de Bazille ter sido morto num assalto contra os alemães na Guerra
autoridade de Manet (ele é o único dos seis homens barbados que está
e até fazer ajustes nos quadros de seus amigos. Segundo Bazille, foi o
próprio Manet que pintou a figura alta mostrada de lado, segurando uma
paleta. Essa figura é Bazille, e fica claro pela postura de seus corpos que
Manet.
Em todo caso, essa era a fachada pública de Degas. Será que seus
amigos tinham como saber que esse era o mesmo Degas que, em
coração ser “um instrumento que enferruja se não for usado”? Que
Natal de 1867 – não muito tempo depois de sua decepção com A família
Bellelli –, ele fez o primeiro esboço de uma pintura a que mais tarde se
como seu retrato de Manet e Suzanne –, ela foi chamada de “uma obra-
Conhecida hoje como Interior, ela foi por muitos anos referida como
Degas pessoalmente e insistiam que esse era o título pretendido por ele.
obstruir a saída para a mulher, ele projeta uma sombra ameaçadora que
segredos violados.
moderna. Assim, pensou nesse quadro quase como uma cena de uma
peça de teatro.
pintura acabada não seja uma ilustração direta, parece ter sido inspirada
Zola era amigo de Manet. Eles tinham ficado mais próximos nos
dois anos anteriores, desde que Zola escrevera uma defesa inflamada de
Zola como “pueril” e, melhor ainda, como “um gigante estudando uma
defender sua arte. Seu romance Thérèse Raquin foi publicado em série
assim como sua ligação com Baudelaire, que era alvo de difamações,
não deve ter ajudado Manet. Alguns críticos, que de modo geral não
pode produzir.”
Em Interior – porém nunca outra vez (esta seria sua última “pintura
Laurent fechou cuidadosamente a porta atrás de si e ficou ali encostado por um momento,
olhando para o quarto com ar inquieto e constrangido … Thérèse estava sentada numa
cadeira baixa à direita da lareira. Com o queixo apoiado na mão, olhava fixamente as chamas
vivas. Ela não se virou quando Laurent entrou. Vestida com uma anágua e um corpete
rendados, era de uma brancura crua sob a ardente claridade do fogo. O corpete havia
A lareira não aparece em Interior, mas quase tudo o mais está lá.
exemplo, não condiz com uma noite de núpcias –, parece provável que
Degas tenha extraído alguns deles (o papel de parede floral, “uma cama
outono de 1868).
segredo compartilhado que era penoso demais para carregar. Eles podem
ter conseguido o status de marido e mulher, mas estavam, como os
pintura de Degas.
vários sentidos, elas eram uma imagem espelhada de Manet e seus dois
de sua classe e idade, via-se dividida entre uma pressão, vinda de dentro
uma vantagem para uma mulher dos anos 1860 que pretendesse se casar.
numa série de pinturas que fez dela nos anos seguintes. Estas, doze ao
atributos que confere a Morisot (um leque, uma fita negra, um ramo de
violetas, uma carta), sentimos a descontração inimitável de Manet
são neutras. Deixam claro que ela era alguém que Manet não queria nem
adular, nem tratar como brinquedo, mas com quem queria competir. Era
inebriado por elas. Sem dúvida, Berthe e suas irmãs, Edma e Yves,
que havia se acendido entre ela e Manet, fez esforços para cortejá-la.
Será que ele achava que podia competir com Manet? Sem dúvida,
sendo solteiro, deve ter sentido que seu direito de tentar conquistá-la se
Não era raro que ele passasse dias inteiros na casa delas na rue Franklin.
ao meu lado, fingindo que ia flertar, mas seu flerte limitou-se a um longo
comentário sobre o provérbio de Salomão: ‘A mulher é a desolação do
justo.’”
quase trinta anos. Mas, sendo ela mesma uma pintora, Berthe tinha
forma hábil, a atração mútua entre Manet e Morisot era uma fonte de
confusão privada para ambos. Berthe tinha as irmãs e a mãe como apoio
tinha vinte anos. Foi um sucesso imediato com o hispanófilo Manet. Ela
retrato. Quando a mãe de Berthe fez uma visita ao ateliê de Manet com
Berthe: “Nesse momento”, escreveu, “você não está em seus [de Manet]
Madame Morisot podia gostar de Manet tanto quanto todo mundo, mas
sabia que a situação não era saudável. Ela estava preocupada com a filha.
Escreveu a Edma contando ter encontrado Berthe “na cama com o nariz
contar que sua “paixão por Manet” chegara ao fim (afinal, agora estava
disse. Sentia atração por ele, por sua inteligência, seu modo de ver
Salomão deve ter sido muito astuto e picante”, disse a Berthe. “Você
pode achar que sou tola, se quiser, mas, quando penso em todos esses
pintores, digo a mim mesma que quinze minutos de conversa com eles
estão sendo ditas claramente. Não podemos saber o que Degas pretendia
sério era o galanteio a Berthe. Como muitos artistas, ele se sentia mais à
observar que nessa mesma época, no começo de 1869, ele deu um leque
retrato duplo comovente que fez nessa época, logo depois do casamento
babados e poás, com fitas negras em volta do pescoço, num sofá floral
Degas.
ENQUANTO MANET ESTAVA pintando Eva Gonzalès, Degas passava mais
tempo que nunca na casa das Morisot. Ele havia persuadido a irmã mais
velha de Berthe, Yves, a posar para um retrato, o que lhe deu a desculpa
para estar lá todos os dias. Para Manet, que não conseguia ficar sozinho
com Berthe sem múltiplas damas de companhia, isso deve ter sido
motivo para ressentimento. Será que ele, de alguma forma, alertou Degas
para ficar longe de Berthe? Ele conhecia Degas muito bem para saber
qual era seu ponto fraco. Fez, então, o que podia. Conversando com
que não era “capaz de amar uma mulher, muito menos de dizer a ela que
e nada mais.”
ignorasse.
dizendo.
Um casamento, está claro, nunca é apenas um relacionamento entre
los. O que pode tê-lo irritado com o retrato de Degas de seu casamento
não era, talvez, nada tão tépido, ou tão literal, quanto o suposto fracasso
delicada com Berthe. Também pode ter sido alimentado por sua suspeita
Manet, afundava num atoleiro. Ademais, Degas era alguém que viera a
Manet tenha sido atiçada pela frustração conjugal. Afinal, foi a imagem
teria sido talvez provocado por uma briga terrível com Suzanne? Como
casal, deviam ser bastante compatíveis. Mas seu casamento fora eivado
crise criativa e à paixão frustrada por Berthe Morisot, Manet pode muito
Degas contra o casamento era, de certo modo, justificado: será que ele –
Manet pode ter imaginado – teria sido mais livre para criar, inventar e
Além disso, havia o fato de que o olho de Degas, seu modo de olhar
enxergava o mundo, ele as separava, para melhor ver do que eram feitas.
contemplar o retrato de seu casamento feito por Degas, Manet pode ter
questão então agora é: será que ele sabia o que estava fazendo com sua
sua crença sincera na primazia do poeta mais velho. É claro que ele,
sentido, ele era, como Ingres, o artista imenso e ciumento que “não
Por alguma razão, Coleridge não percebia muito bem esse lado de
sustenta Fenton, sem sequer dar-se conta do “que ele, Coleridge, estava
fazendo”.
mesmo piano. Era como se ele quisesse dizer: Veja. Era assim que devia
espelho na parede de trás aparece um relógio, que havia sido dado à mãe
fazê-lo direito.
menos pesada.
Quando estavam competindo, havia cumprimentos velados, bem
como críticas: “Manet está desesperado”, disse Degas certa vez, “porque
mais lisonjeiras.”
seus estilos aproximaram-se nos anos 1870, quando eles adotaram uma
Manet, por sua vez, deixou de lado a obsessão pelo realismo falso,
a pintar ao ar livre, deixando entrar cada vez mais luz em seus quadros.
relatou uma visita que ele fez ao ateliê de Manet: “Degas olhou para os
desenhos e os pastéis. Fingiu que seus olhos estavam cansados e que não
conseguia ver bem. Não fez quase nenhum comentário. Pouco tempo
depois, Manet cruzou com o amigo, que disse: ‘Encontrei Degas outro
encantado por tudo que você lhe mostrou.’ Manet disse: ‘Ah, o
desgraçado…’”
depois de casar com Manet. Mas também era a pior: Eugène não era
retrato de Eugène.
perna foi amputada. A operação foi em vão. Onze dias depois, ele
morreu.
Degas em sua coleção particular. Quando, por outro lado, Degas morreu,
ele cogitou transformar em museu, fora reunida nos anos 1890, mais de
uma década depois da morte precoce de Manet. Foi nessa época que ele
tornou uma obsessão. Além das dezenas de Manets (alguns dos quais ele
após sua morte, em 1917, a coleção abalou o mundo da arte com a força
pinturas.
sob ataque. O baque surdo das bombas podia ser ouvido de dentro da
fugiu para um lugar seguro. A maior parte daqueles que fugiram não
restaurar, recuperar.
Sua coleção, nesse sentido, tinha algo de compensador: era uma maneira
para Degas, com o passar dos anos, permanecer ligado a pessoas que, na
singular de sua amizade com Manet –, Degas era guiado por um instinto.
Ele não podia considerar para sempre que o ataque de Manet a sua
pintura fosse um ataque contra ele. “Como esperar que alguém ficasse
(“Que linda telinha ela era!”, recordou), ele mais tarde tentou recuperá-
Entretanto, ele fez o que pôde para consertar sua pintura de Manet e
aconteceu: “Ao protelar dia após dia, ela acabou ficando daquele jeito
para sempre.”
Anos depois, porém, Degas fez o máximo para reparar uma outra
tela danificada – uma criação não dele, mas de Manet. Era uma das seis
pinturas que Manet havia realizado no final dos anos 1860 – mesma
Uma vez que Manet era Manet – e uma vez que em muitos aspectos
como evitar fazer isso? Até que ponto deveria ser explícito? E que exato
do esquadrão de fuzilamento?
o de exibi-la.
Suzanne lamentou mais tarde. “Quantas coisas bonitas ele poderia ter
uma vez, não sabemos por quê – em uma seção da versão de A execução
general Mejía. Depois de sua morte, seu herdeiro, Léon, tendo deixado a
feito um trapo”, disse. Ele vendeu então a Vollard a parte central da tela,
remanescentes, e fez o melhor que pôde para reuni-las numa única tela.
de Degas em 1918.
FAZIA APENAS dezoito meses que Manet havia morrido quando Degas
deixado apenas com o que não poderia ser tirado de mim – não muito …
Assim fala o homem que quer terminar sua vida e morrer sozinho, sem
nenhuma felicidade.”
HENRI MATISSE
Henri Matisse fez sua primeira visita ao ateliê de Pablo Picasso. Foi até
tímida de doze anos, estava constrangida por ser vista passando pela
situações eram precárias, mas, pela primeira vez, depois de anos de luta
anteriores, de modo que parecia natural que eles quisessem agora que
Picasso e Matisse se conhecessem. Os Stein queriam ser testemunhas
rigoroso. Suas superfícies eram tão lisas que a peça parecia tremer com
embora ele fosse mais velho do que Picasso, sua reputação como artista
podia não só tolerar rivais, mas se dar bem em sua presença. “Creio que
há de travar”, disse ele certa vez. “Aceitei influências, mas sempre soube
como dominá-las.”
BAIXO, mas de constituição sólida, Picasso tinha se mudado de
Barcelona para Paris havia menos de dois anos. Ainda não era fluente
Matisse, que usava cabelos curtos, barba espessa, óculos e tinha uma
ruga vertical que lhe dividia a testa em duas, morava do outro lado de
haviam tido uma vida fácil. Durante muitos anos, tinham vivido em
Matisse não conseguir comprar novas telas; ele tinha de raspar a tinta de
Amélie foi ameaçada por algumas das muitas vítimas do golpe. Seus
Além disso, tinham três filhos, o que tornava ainda mais importante que
para completar seis anos. Seu irmão, Jean, tinha sete. Marguerite era a
mais velha. Ela tinha uma covinha no queixo e o cabelo ondulado, que
seus grandes olhos escuros. Mas a fita era mais do que apenas um
Nessa ocasião, Picasso, aos dezenove anos, não tinha sequer se instalado
em Paris. Suas esperanças de fazer isso com algum estilo receberam um
Vollard não levou a nada. O sucesso imediato que parecia prometer foi
vida de Picasso.
Ele tinha ido a Paris pela primeira vez em outubro de 1900. Uma de
que havia algo errado. Ela só teve tempo de escorregar para debaixo da
mesa quando Casagemas tirou uma pistola do bolso e atirou nela. Sem
perceber que havia errado, ele virou a arma para a própria têmpora,
gritou “Et voilà pour moi!” [Para mim, chega] e se matou. Morreu no
assombrado pelo que acontecera – tanto mais porque pouco depois ele e
talento. Ele havia posto a perder todas as vantagens que obtivera com a
– não o dele – que estava por toda parte. No outono anterior, depois de
chapéu idiota”. O alvoroço foi tão grande que Matisse só foi uma vez à
exposição, e proibiu sua mulher, Amélie, de visitá-la, para que não fosse
mostrar à mãe, Anna, ela ficou perplexa: “Isso não é pintura!”, disse.
passado pelo caso Humbert. Mais escândalo era a última coisa que
desejavam.
De volta ao ateliê, porém, ele persistiu – não havia como voltar atrás
fazendo, a inteligência intransigente que estava por trás daquilo. Era uma
ignorar.
revista, Gil Blas, como o líder de uma nova escola de pintura. Sua
Salão dos Independentes, uma mostra pública, criada nos anos 1880,
sancionado.
mais esperançosa.
Picasso antes de dirigir sua atenção a Matisse, Leo Stein havia adquirido
dois Picassos antes de comprar qualquer obra de Matisse. Entretanto,
corpo inteiro, o corpo de perfil, a cabeça virada para o pintor. Ela usa
provável que tenha dormido) vestida para sua primeira comunhão. Era
quadro, ela largou o garfo e a faca e disse: ‘Agora você acabou com o
meu apetite.’”
A reação divertida de Gertrude é ainda mais memorável pela ironia
importava na época era que Picasso agora tinha aberto um caminho com
eles. Seu trabalho tinha sido comprado por um homem que estava
e articulados do novo século. Ainda que tivesse pouco a dizer a Leo (ele
para saber o quanto seu apoio podia ser importante. Assim, lisonjeou-o
LEO STEIN USAVA ÓCULOS com aros de ouro e tinha uma barba comprida
sua ânsia pela arte desafiadora, obscura ou surpreendente. Ele não tinha
despontante.
Era uma dupla estranha, porém impressionante. Mas não foram por
na mesma rua que Gertrude e Leo. Mas logo mudaram-se para o terceiro
Madame.
Sarah, uma mulher arguta, persuasiva, era tão ávida por conhecer
arte quanto Leo, e logo começou a competir com sua cunhada Gertrude.
QUANDO LEO APRESENTOU Picasso a Gertrude, o fato de ela não ter
poderosa, perversa e tinha uma risada, segundo Mabel Weeks, amiga dos
alma em afinidade com a dele. Ele sabia que sua tarefa era conquistá-la.
exceção. Mais tarde ela contou que posou para Picasso noventa vezes.
Isso significava que, várias vezes por semana, Gertrude tinha de cruzar
leque. Não está claro se era Picasso que estava mais interessado em
tratava de decidir sobre a aquisição de arte, não era Gertrude que exercia
Leo e Sarah não só eram mais conhecedores de arte, como também mais
escuros, o nariz delgado e atrevido, e ela traz uma fita negra larga em
volta do pescoço.
A essa altura, obviamente, cerca de três décadas depois de tê-la
estava a par dos escândalos que a obra do pintor havia provocado nos
7.
afluíram aos milhares) era se aquelas pinturas deviam ou não ser levadas
segurando o que parece ser um leque. Ela vira o rosto para encarar o
– nem Matisse.
lançarem ao século XX, foi Matisse, mais do que qualquer outro, que
evidente que foram motivados por ele – pela força de sua inteligência,
sua elegância mesmo sob pressão, sua combinação surpreendente de
Amélie, teve imediata simpatia por ela. Amélie era forte. “Estou no meu
elemento”, disse ela anos depois, “quando a casa pega fogo.” Ao fazer
sua oferta inicial para Mulher com chapéu, os Stein tentaram negociar
trato respiratório superior. Sua respiração ficou tão obstruída que ela
ela respirasse, mas por algum tempo sua vida ficou por um fio. Quando
quase a matou. Ela acabou se curando, mas sua laringe e traqueia foram
danificadas, e desde então sua saúde era delicada. Frágil demais para ir à
infelizes vivendo com a mãe, Marguerite foi morar com o pai, que já
formaram um vínculo forte. Mas era ao pai que Marguerite era mais
ligada. Ele vira sua vida quase escapar-lhe, e também como a separação
anos, seu ateliê se tornara para ela uma espécie de refúgio, e, quando ela
cresceu, Matisse passou a depender cada vez mais da filha. Ela ajudava a
organizar suas tintas, pincéis e telas. Posava para ele. De uma maneira
começou tarde. Suas primeiras experiências com tinta foram aos 21 anos
que, quando, aos sete anos, a própria Marguerite chegou tão perto da
posava nua – de pé, tensa, os cabelos presos num coque – para uma
interesse especial pelos trabalhos que eles faziam com lápis, pincéis e
para combinar com o vestido e uma fita larga preta em volta do pescoço
vontade, três anos antes. Conchita tinha sete anos e Picasso, treze,
só lhes restava rezar e fazer a menina acreditar que tudo ficaria bem.
Mas não estava tudo bem – e Picasso sabia. Ele estava angustiado,
único ato que tinha conseguido realizar na vida – o único poder que ele
desenhos. Seus dotes eram tão abundantes e óbvios que seu pai, ele
assim, havia certa lógica no que Picasso fez em seguida, como conta seu
desenharia.
talento fora do comum, uma vocação, e que, embora ainda não saiba
era decerto uma barganha feita de má-fé, que ele nunca estivera de fato
Picasso”.
Dois anos depois, aos quinze, como que para repassar ou exorcizar
Picasso sua primeira viagem a Paris. A pintura mal foi notada e logo
consigo.
Possuía uma fachada de um andar que dava para a rua, mas atrás
Entre seus outros habitantes nos cinco anos que Picasso lá viveu
Olivier. Ela era muito mais alta do que ele. Gorducha, tinha olhos
uma tia solteira, que a forçara a se casar com o funcionário de uma loja
chamado Paul-Émile Percheron quando tinha dezoito anos. Percheron a
habitar um mundo encantado onde a vida deve ser tão maravilhosa que
uma sessão de pose, encontrou-o na cama com uma menina nua de doze
ou treze anos, que havia posado para ele. “Que hipócrita!”, escreveu ela,
crianças!”
instalado de maneira definitiva em Paris. “Já faz algum tempo que venho
na escala social, nem discernir sua idade. Tudo nele a intrigava. Mas,
nitidamente enfeitiçado por ela – de uma forma que não se repetiria com
mais ninguém. “Ele larga tudo por mim”, ela escreveu. “Seus olhos
imploram por mim, e ele trata tudo que deixo de lado como uma relíquia
ele lhe implorou que parasse de posar para outros artistas, decidiu pôr
ser namorados – mas que queria ficar amiga dele. Picasso ficou
(até para os padrões atuais). Ele ainda não tentara a mão na crítica de
e frescos.
FERNANDE, por sua vez, conhecera um belo artista catalão chamado
Sunyer – um revés para Picasso. Mas ela não estava totalmente satisfeita.
Sunyer a estimulava fisicamente, mas ela não sentia que ele a amasse de
geral”, escreveu Fernande. Sob o efeito do ópio, ela sentiu uma simpatia
emoções estavam sendo estiradas para além dos limites de seu próprio
eu. Ele ficou menos piegas; seus interesses pareceram ampliar-se. Suas
finalmente foi morar com ele no final de 1905. Sob a influência do amor,
tormento para Picasso. Seu francês era pobre, e, quando ele começou a
conduta adulta não tinha nada a ver com o comportamento dos amigos
criativa.
que enchem o escritório, e eles também têm uma coleção muito boa de
caloroso e agradável. Mas ela notou que, quando o assunto era arte,
ouvintes e fazer com que concordassem com ele. Ele tinha uma mente
Isso era algo que Picasso, com sua percepção quase sobrenatural
para a fraqueza nos outros, também deve ter captado. Ele deve ter
que ele estava fazendo com a cor era inegavelmente sem precedentes na
história da arte ocidental. Ele estava apavorado pelo que tinha
de seu trabalho”.
posição. Já tinha Derain, Braque e vários outros do seu lado. Por que
ponto Picasso era magnético, e deve ter notado desde o começo que o
cabia invejar. Assim, uma outra parte de Matisse deve ter percebido
como era improvável que Picasso – por mais jovem que fosse – viesse a
era, para Picasso, território soberano. Era um lugar em que ele tinha
como escreveu Fernande, seu ateliê era “tão quente quanto uma
motivo que levava Matisse até lá, ele já não tinha acesso a esse tipo de
gosta de ostentar sua liberdade diante dos mais velhos. Se, na casa dos
da entrada do ateliê, Matisse deve ter sentido a diferença entre sua vida e
uma vida que ele reconhecia. Também ele vivera muitos anos na pobreza
com certeza olhou em torno com avidez, esperando ver alguma nova
Matisse com afeto e respeito; mas talvez também com alguma apreensão
pouco tempo antes, de modo que a questão ainda não fora processada.
Ele não se furtava de provocar através de sua arte as pessoas que faziam
Fernande – atestou que seu olhar tinha um efeito semelhante sobre elas.
Assim, é possível que Matisse tenha notado, com certo mal-estar, como
interessantes. Mas não havia nada que ele pudesse achar extraordinário.
Nada nem de longe tão ousado quanto o que o próprio Matisse estava
fazendo então. Assim, para ele, não havia nada a perder tecendo alguns
mas, do mesmo modo, “gostava de ouvir a opinião dos outros”. Ele tinha
qualquer pessoa”.
Mas é claro que é sempre delicado falar com alguém sobre suas
pouco velada, talvez, real ou imaginária… O que quer que Matisse tenha
piscado de novo, como se tentando comparar o que estava ali com o que
ele tinha visto de Matisse na casa dos Stein. E a cada minuto teria ficado
o viu, Leo Stein levou um susto. A mais recente realização do artista era
enlevante – tão rica que quase cegava. Mas a visão não tinha muita
total.
Porém, como ocorrera com Mulher com chapéu, Stein logo se
Cavalos tomando banho. Seria uma grande tela mostrando meninos nus
Qualquer que fosse a opinião que se pudesse ter sobre elas, eram
O QUE ACONTECEU nos dezoito meses seguintes foi um drama sem igual
deliberada.
contente de ser amigo dele como também que não via muita coisa em
Os dois se viam bastante. Picasso era uma presença certa nos Stein e
Vollard.
consciência das opiniões dos outros. Queria muito ser visto estendendo
Matisse.
impressionistas, que por tanto tempo lutaram na pobreza: Manet, que foi
para eles, e não havia razão para pensar que seria mais fácil para Matisse
Esse era o impulso básico de Matisse. Mas, é claro, uma vez que ele
de tomar. Para Picasso, o cálculo era diferente. Ele sempre fora cercado
de gente que reconhecia sua preeminência, e não podia tolerar a ideia de
ser um seguidor.
sabe] que qualquer salto que você tenta dar sempre vai cair de pé.” Ao
que Picasso replicou: “Sim, isso é verdade até demais, porque fui
composição. O que quer que eu faça, não preciso quebrar a cabeça como
pintor.”
noites nos Stein, Picasso e Fernande dormiam até tarde. Por volta das
que ela e o marido logo não estariam colecionando nada além dele) –
lugares mais importantes para qualquer pessoa que tivesse interesse pela
Naquela época, afora a cacofonia dos Salões anuais, o único lugar para
Stein – tinham feito com que mesmo esse museu, repleto de paisagens e
com uma era anterior. As coisas eram muito mais empolgantes ali perto,
era sempre um problema, uma vez que nenhuma das casas dos Stein
tinha instalação elétrica. Para as cores fortes dos Matisses, a luz de vela
não era ideal (Picasso, ao contrário, sempre gostou dos efeitos mágicos
Para muitos que passavam por lá, ir aos Stein era quase como ir a um
cética, que muitas vezes saía confusa e perplexa com os quadros nas
VOLLARD ESTAVA ENTRE os muitos que iam à casa dos Stein. No final de
dólares hoje) foi uma dádiva divina. Ele teria preferido estar em posição
dinheiro veio num bom momento. Apesar da atenção que seu trabalho
estava recebendo, ele ainda estava perto de falir. Os Stein tinham lhe
surpreendente numa carta de Leo Stein: “Tenho certeza de que você vai
ficar satisfeito em saber”, ele escreveu, “que Picasso fez negócios com
Vollard. Ele não vendeu tudo, mas vendeu o suficiente para ter paz de
espírito durante o verão e talvez por mais tempo. Vollard ficou com 27
A VENDA DE PICASSO a Vollard foi sem dúvida uma grande bênção. Ele
também passava por lá. E uma vez que todos os Stein, mas
falar nele, isso significava que, na verdade, Matisse também estava lá,
rosto de Gertrude, dizendo a ela que precisava parar. “Não a vejo mais
Lavoir, longe de Gertrude, longe dos sábados nos Stein, longe, acima de
tudo, de Matisse.
até outubro. Picasso foi para a Espanha. Levando Fernande com ele, foi
que causara tal impressão em sua terra natal que ir para Paris, o centro
do mundo da arte, foi a única opção de verdade que teve. Os cinco anos
passados não tinham sido fáceis. Mas agora, graças ao interesse dos
Mas em Gósol, para onde o casal escapou depois, algo ainda mais
viveram uma espécie de lua de mel, que também foi, para Picasso, uma
nunca foi mais forte e mais emocionante do que durante essa temporada
de verão em Gósol.
alvoroço venal da cidade; longe dos poetas, dos pornógrafos, das drogas
transformados.”
linhas ficaram mais firmes, mais decididas, criando volume e massa com
constante de Matisse.
por quem Picasso ficou bastante afeiçoado, adoeceu com febre tifoide (a
fatal que Marguerite Matisse havia contraído). Assim que Picasso, que
detestava doenças e era assombrado pela morte da irmã, Conchita, soube
trem.
percevejos.
sugestão de toda uma nova maneira de ver – mais interna que externa.
Gertrude quis que Matisse também pintasse seu retrato, mas ele
marrom). Além disso, havia outros aspectos nos quais Picasso parecia
anatômica.
urgência que Picasso em parte deve ter fornecido, ele estava tentando
fauvistas. De modo que era um lugar a que ele retornava, um ano depois,
incompletas.
completa. Não era a primeira vez que Matisse se via inseguro em relação
a Leo Stein (a audiência mais compreensiva com que ele podia contar),
Collioure.
Renegar o quadro pode ter sido uma brincadeira – ele logo depois
admitiu “que era uma experiência dele” –, mas era uma brincadeira
a seguir. Era uma ideia que ele vinha aplicando em seu trabalho. Mas
formular um ensaio breve que ele pretendia publicar. “Na arte”, escreveu
estava no cerne de suas próprias crenças sobre arte. Ele também gostou
maior.
Picasso.
uma compulsão, de modo que ele também deve ter gostado da ideia de
consciente a essa altura de que nada que tinha inventado até então era
Lautrec, pela fase El Greco, pelas fases Van Gogh e Gauguin. Tinha sido
natural, talvez: ele só tinha 25 anos) seus esforços ainda não eram reais.
caminho de algum lugar, mas era óbvio que ainda não tinha chegado lá.
A pintura Dois nus, com suas estranhas deformações, sugeria que estava
haviam levado até lá. E, ainda assim, havia algo ali – algo com frescor e
poderia ter feito. E parece ter intuído que a única maneira de garanti-lo
algo irreconhecível.
Picasso por nove meses e exigindo todas as suas reservas de energia. Ele
seu amigo André Salmon, ele estava “inquieto. Virava as telas para a
ter conversado muito sobre sua grande tela com a namorada – exceto
além disso, veio à tona de novo. Picasso a pegara flertando com outro
de sair – a não ser em sua companhia. Isso significava que ele tinha de
prostituta.”
Pellerin. O resultado foi que Picasso redobrou seus esforços para puni-la
em sua tela.
Matisse estava em Collioure. Mas em março ele voltou a Paris com uma
pintura que, mais uma vez, ameaçou frustrar seu jovem rival.
palmeira pintado de forma grosseira. Matisse, cujo bem mais valioso era
abandonada.
que levou as mãos para o alto, resolvido a não tentar mais seguir
Matisse.
Mas os Stein compraram Nu azul e instalaram-no imediatamente nas
paredes da rue de Fleurus. Num dos salões de sábado, Picasso foi visto
“Nem eu”, replicou Picasso. “Se ele quer fazer uma mulher, que faça
uma mulher. Se quer fazer uma decoração, que faça uma decoração. Mas
treze anos e era filha de uma prostituta francesa que trabalhava num
Se a decisão foi ideia de Fernande, não deve ter sido tomada sem o
pequena, tenham optado por uma menina mais velha, da mesma idade
evitaria que ela “pulasse a cerca”, liberando-o para seguir sua obsessão
criativa sem restrições. Ou talvez ele tivesse outras razões para gostar da
ateliê de Matisse. Será que ele não poderia se beneficiar, assim como
todos. Fernande a mimava, tanto mais porque ela própria era filha
ilegítima e sofrera nas mãos de uma mãe adotiva cruel. Vestia a menina
revisar seu grande quadro. Um mês depois, ele achou que tinha feito um
tinha feito. Mesmo pelos critérios que ele próprio havia inventado, não
alguma coisa, mas ainda não tinha chegado lá (como ele esperava e
suspeitava), não sabia como concluir. Não havia ninguém para lhe dizer.
Havia, porém, uma pessoa que, no outono anterior, sem querer lhe
SEIS MESES ANTES, Picasso tinha ido à rue de Fleurus num sábado à
minutos do apartamento dos Stein. Havia lá, como mais tarde lembrou,
ficou fascinado por essas esculturas. Elas pareciam isentas das ideias
Gertrude. Era uma estatueta de madeira feita pelos vilis do Congo, uma
que fariam suas emoções e sensações perdurarem. Para ele, esses objetos
relação com seu interesse pela arte dos filhos – não porque considerasse
pensavam, então devia haver algo em que valia a pena prestar atenção.
nesses objetos deve tê-lo atraído; mas o fato de terem despertado grande
ele queria ser tido como seguidor do francês. E, além disso, estava
de Gósol.
colegas quando falavam desses objetos até então inauditos. De modo que
não deve ter sido por acaso que, seis meses depois de Matisse ter-lhe
mostrado a figura vili, na época em que seu embate com Les demoiselles
sozinho. Queria ir embora. Mas não saía. Fui ficando. Fui ficando.
esculturas como as outras. Não mesmo. Eram coisas mágicas … eram intercesseurs,
mediadoras; desde então aprendi a palavra em francês. Contra tudo – contra os espíritos
que tudo é desconhecido, é inimigo! Tudo! … Entendi para que os negros usavam suas
esculturas … [Os fetiches] eram armas. Para ajudar as pessoas a não ficarem mais sob a
“Les demoiselles deve ter vindo a mim naquele mesmo dia”, Picasso
concluiu, “mas não por causa das formas: porque era a minha primeira
por quê. A acreditarmos nele, foi ali, no Trocadéro, que toda a sua
de sua rivalidade com Matisse. Para alguém tão tomado pela luta para se
tribais dificilmente teria sido mais significativa. Elas eram armas, disse
máscaras africanas.
renovadas. Numa série de estudos que fez em tinta sobre papel, as estrias
seus quadros, unindo o primeiro plano ao fundo. Mas, em vez das linhas
estilhaçamento que pode muito bem ter refletido seu estado de espírito.
africana era muito diferente do que o que Matisse via nela. Era mais
radical, mais potente. A descoberta, segundo seu relato, não só era mais
Matisse, por sua vez, nunca teria dramatizado sua concepção de arte
a magia e o exorcismo.
sublimação, era o que importava a Matisse, o que não era o caso com
A curto prazo, o que estava em jogo, para Picasso, era sua habilidade
para levar a cabo sua grande tela – dotá-la com o tipo de força e
capacidade de chocar que superaria a dissonância de A alegria de viver
seguir o seu exemplo. Mas, na época, ele parece ter ficado tão inseguro a
respeito do que havia feito quanto todo mundo. Era exagerado? Ele tinha
ter certeza era que havia feito algo nunca antes visto. Se funcionava, ou
se a invenção como um todo – os rostos discordantes, os empréstimos da
numa cadeira, examinando o pé. Uma bacia de banho pode ser vista no
menina.
Não demorou para que Fernande sentisse que não tinha outra
se mudado. O longo caso de amor entre eles parecia ter chegado ao fim.
mas seus avanços criativos tiveram um custo. Sua obsessão com Les
respeito. O quadro ficou em seu ateliê por quase dez anos. E na maior
terminado.
Matisse deve ter tido relação com suas dúvidas. Na realidade, ele
las, apenas por solidariedade. Sua própria inabilidade para ver, para
perseguia desde a reviravolta fauvista dois anos antes. Ela era a fonte de
sua ansiedade.
Matisse já tinha ouvido falar do estado de espírito de Picasso e de
sua estranha nova pintura antes de chegar a Paris. Ele tinha saído de
com que o rico colorido das tintas a óleo que, em seguida, viu em
ambos tão inteligentes, tão articulados, tão ávidos para incutir suas
cuja relação com Matisse estava ficando mais próxima. O desfecho nessa
época crucial foi que Leo e Gertrude começaram a se afastar de Matisse
Sarah e Michael.
MATISSE VIU Les demoiselles pela primeira vez logo depois de sua volta
marchand Félix Fénéon. Ficou surpreso, para dizer o mínimo, e deve ter
cometido mais uma vez o erro de falar demais, ou dizer a coisa errada,
Fernande disse que Matisse ficou furioso quando viu a pintura e jurou se
Segundo o relato mais crível, ele teria dito, mais discretamente, porém
agora, roubava ideias que não compreendia muito bem para produzir
ousado.
estava calado.
visitas ao ateliê de Matisse, o artista que, além disso, sabia como era
HAVIA, É CERTO, muita coisa em Les demoiselles que Matisse deve ter
que ele havia acabado de ver na Itália. Como não se sentir provocado
imaginou que sua descoberta seria adotada de uma forma literal tão
flagrante.
Mas havia algo mais nessa pintura, algo mais fundamental – algo que
não tinha nada a ver com empréstimos, roubos ou sabotagem. Era sua
ambivalente demais para que ele a lesse com clareza. Ele deve ter
estava de fato lhe dizendo era que ele não podia pretender que Picasso
fosse nem seu protégé, nem seu seguidor: Picasso era senhor de si
moderno –, mas com uma ideia muito diferente do que isso significava.
tentando fazer. Isso não teria importado, mas a questão é que os esforços
risco.)
desde então, Matisse vinha seguindo um caminho cada vez mais pessoal.
lo.
No final das contas, Matisse era solitário demais para ser líder de um
por ser extremamente feio e bizarro (“por que esse desdém odioso pela
quanto a de Picasso.
dúvida, isso era o mais difícil de tolerar. Leo Stein lembrou uma ocasião
em que, numa fila num ponto de ônibus, Picasso ficou furioso. “As
coisas não deviam ser assim”, disse ele. “Os fortes deviam ir na frente e
do outono.
A permuta foi planejada em detalhes. Deu-se no ateliê de Picasso no
reticente.
pintores o havia seguido. O quadro que ele tinha pintado parecia a todos
um trabalho de Picasso.
modo que deve ter sido desconfortável para Matisse carregá-la debaixo
Para Picasso, foi uma escolha notável – tanto mais porque fazia
pouco tempo que ele havia devolvido sua filha adotada de treze anos.
Tudo que sabemos é que ele conservou o quadro pelo resto da vida.
de ter a confirmação de que Picasso levava a sério seu interesse pela arte
não aguentavam esperar pelo fim do jantar. E, assim que terminou, assim
dois minutos de lá] onde, pobres, mas sem medo de fazer sacrifícios em
Divertimo-nos a valer”.
NO FINAL DE 1907, com a lembrança ainda fresca da primeira vez que viu
artigo que seria redigido por Apollinaire. O artigo foi encomendado pelo
finalmente saiu – não onde ele queria, mas numa publicação rival.
Matisse:
Eu teria considerado isso uma covardia e uma falta de sinceridade comigo mesmo. Creio que
quando confrontada com outras personalidades. Se o conflito for fatal e ela sucumbir, é
fortes.
1908, uma escola – uma tentativa, que durou pouco, de combater o que
paciente Matisse, abrindo caminho nessa selva da arte, vê seus seguidores se desviando a
torto e a direito por caminhos vadios. Ele ouve suas próprias palavras especulativas sendo
distorcidas, mal interpretadas … Ele dirá, talvez: “Para mim, o triângulo equilátero é um
absoluta numa pintura, seria uma obra de arte.” Ao que o pequeno aloprado Picasso, afiado
como um açoite, espirituoso como o diabo, louco varrido, corre para seu ateliê e concebe
entrou num café, viu Picasso e seus amigos e aproximou-se deles para
Para Matisse, que havia encontrado Picasso muitas vezes nos anos
desoladoras.
se com esse novo e ousado Picasso – o Picasso que não era apenas um
cultivar sua amizade. Como que para provar que não estava irritado, no
do espanhol.
Matisse, seu talismã (“se Cézanne está certo, então eu estou certo”, disse
cubismo.
frente da sala de aula, fez o melhor que pôde para ignorar o aumento do
desenvolver sua própria pauta, mergulhando cada vez mais fundo nos
europeia.
bastidores; por Gertrude Stein, que muito fez para fomentar o início do
deve ter irritado o pintor, dado seu papel não intencional ao cunhar o
termo.
imprevista.
DEPOIS DE SEU PRIMEIRO rompimento, em 1907, Picasso e Fernande
1913 foi também o ano em que o pai de Picasso morreu e, logo depois, o
Recuperou-se lentamente.
surpreendiam, era talvez porque queriam que esses dois pintores fossem
Jardim de Luxemburgo.
pinturas que ele havia feito da filha em 1914 e 1915, época em que
Marguerite tinha vinte anos. Ela estava ficando mais segura de si, mais
(todos com flores) e uma blusa ou vestido diferente. Tinha até começado
aplicou tinta a óleo bem rala, mas com cores vivas, num vocabulário
Marguerite consentiu.
não souberam o que fazer com ela. Depois de algum tempo, pediram
família pelo resto da vida – assim como Picasso fez com o retrato de
ADAM PHILLIPS
entediava”, disse seu amigo Edwin Denby. E ele não gostava de ficar
da maior parte dos dez anos em que se conheciam o sentimento era mais
Mas as coisas não haviam começado assim, e esse papel não lhes cabia
muito bem. Na realidade, para ambos, a pressão para agirem como rivais
diante de uma audiência que parecia inflar a cada mês tinha se tornado
desgastante e absurda.
[ver fig. 4]. O desenho é tão delicado que sentimos ser possível apagar as
mesma pessoa? De Kooning disse mais tarde que sim – que ele
de fato tinha um meio-irmão, Koos, e que ele era, para todos os efeitos,
não existissem. Em 1926, aos 22 anos, ele deixou sua Holanda natal
contar a ninguém – nem a seus pais, nem à sua amada irmã Marie (que
Fig. 4. Willem de Kooning, Autorretrato com irmão imaginário, c.1938, lápis sobre papel, 33,3 ×
26 cm.
Numa vida marcada pelo temperamento para a evasão (tanto em seus
Novo Mosa, um canal artificial num delta formado pelos rios Reno e
estava para se casar de novo, mas seu filho Willem era um obstáculo, um
pai. Mais tarde, talvez por culpa, tentou fazer com que os outros
o que levou a uma longa batalha para recuperar sua guarda. Mas Stevens
De Kooning tinha oito anos quando Cornelia teve outro bebê, dessa
decoração, Gidding & Zonen. Seus dotes foram logo reconhecidos pelo
coproprietário da firma, Jay Gidding, que o convenceu a se inscrever
uma mesa.
obrigados a retomar essa mesma posição semana após semana, mês após
mês. O efeito final, disse De Kooning, era “como uma fotografia, só que
mais romântica”.
Nem tudo que De Kooning fazia era tão refinado como os exercícios
e muitas vezes exageradas. Isso ficou com ele e conformou sua arte
America Line, sem sucesso. Tentou então muitas vezes embarcar como
deram em nada. Por fim, uma conexão tênue com um homem que estava
planejando voltar a Nova York, mas não tinha recursos para pagar a
como não levou nada consigo – nem mesmo o portfólio com seus
trabalhos de arte que planejava usar para procurar emprego nos Estados
os Estados Unidos tinham tudo a ver com o que Philip Roth chamou
embora seja difícil dizer em que medida. E também deve ter feito
ele encontrou essa amizade tantas vezes nos primeiros anos de sua
De Kooning fez o que ele mandou e viu que o outro aluno estava
Kooning que o professor falara exatamente a mesma coisa para ele: “Vá
Uma história similar foi encenada anos depois, num palco muito
POLLOCK ERA O MAIS novo de cinco irmãos. Era o mais mimado – por
Tingley, Iowa, com pais adotivos cujo nome de família era Pollock.
LeRoy era tratado como mão de obra barata pelos Pollock, e por
sombria, LeRoy tentou mudar seu nome de volta para McCoy, mas não
significavam que ele seria seu último filho. Em consequência, ele foi
JACKSON ERA UM MENINO sensível com imaginação febril. Seu irmão mais
óbvio para todos que ele tinha talento. Mas ambição artística era a
pessoas, inclusive sua própria família, por seu espírito sensato e maduro.
Jackson, nove anos mais novo, ficava encantado. “Quando Jackson era
recordou sua mãe, Stella, “ele sempre dizia: ‘Quero ser artista como
haviam conferido. Enviava para casa cópias de The Dial, uma revista
pouco nos últimos anos, quando você amadureceu tão rápido. Agora
que valha a pena, e não que seja desperdiçada … Fico satisfeito que você
qualquer aptidão óbvia, ele decidiu de uma vez por todas seguir Charles
Manual Arts sua falta de habilidade técnica era exposta o tempo todo.
numa base de meio período, meio dia por semana. Ele parecia não estar
vida de Pollock na arte foi uma luta para encontrar uma maneira de
vejo um pouco diferente dos outros”, disse ele certa vez. “Quando estou
caindo, está tudo bem; quando estou escorregando, digo: ei, isso é
interessante!”
mais envolvido com a arte moderna nessa época, ela poderia ter tido
1930 e começo dos anos 1940, podemos vê-lo lutar sem seu arsenal
parecem não saber onde ficar. Seu amigo Edwin Denby, crítico de dança,
foi uma das primeiras pessoas que adquiriram seu trabalho nesse
em comparação não só com Charles e com seu irmão Sande (que, como
Charles, desenhava o tempo todo e com facilidade), mas também com
festa. Pollock a viu tocando piano e ficou fascinado por sua serenidade.
observá-la estudar. Ela tocava cinco horas por dia. Pollock ficava
nunca mostrou o que tinha feito – presumivelmente porque, por mais que
ele tentasse, nunca achava que estava bom. “Meu desenho, vou lhe dizer
péssimo parece que falta liberdade e ritmem [sic] é frio e sem vida. não
vale a pena pagar o correio para enviá-lo … a verdade é que nunca fiz
com ele e perco o interesse … mas sinto que vou virar algum tipo de
artista que nunca provei a mim nem a ninguém que tenho em mim.”
si mesmo – embora fosse certamente parte dele (“essa dita parte feliz da
vida de uma pessoa jovem para mim é uma droga de inferno”, escreveu a
disse Sande, “teria dito que ele devia jogar tênis ou ser encanador.”
NO VERÃO DE 1930, uma época de convulsão econômica e instabilidade
política por todo o país (a quebra de Wall Street tinha ocorrido menos de
seis meses antes), Charles e Frank – outro irmão de Pollock, que estava
Angeles. Charles levou Jackson para ver Prometeu – uma nova obra do
nessa obra, sua figura heroica delineada contra uma fornalha de chamas
Nova York era a única cidade nos Estados Unidos naquela época
com Charles. Ele e seus alunos tinham uma missão. Empregando uma
Isso significava que seus quadros deviam ser vistos pelo máximo de
ação para mudar o mundo. Para Jackson, que tinha um ego frágil e cujo
objetivo de vida pronto. Ele aderiu à causa e logo adotou Benton e sua
tivesse mais talento do que ele – ou seja, a maior parte de seus colegas.
gostava; Benton e Rita não foram os únicos seduzidos por esse seu lado.
um colega de classe, “ele dava uma olhada rápida para você, quase como
ofensivo com uma das convidadas, uma moça solteira chamada Rose,
Pegou um machado que tinha usado antes para cortar lenha para a estufa
e o ergueu por sobre a cabeça de Marie. “Você é uma boa garota, Marie,
Quanto à arte, Gorky era implacável e frio. Ele se tinha na mais alta
conta, e sabia a diferença entre o que era grande e o que era falso. (“Ah,
então você tem ideias próprias!”, disse quando viu pela primeira vez o
(O fato é que ele encontrou outra mulher e formou uma segunda família
casa do pai que lhe serviu de base para pintar as duas versões de O
perda.
PARA DE KOONING, Gorky era a encarnação da integridade. Assim, ele
outros viram algo. “Quero lhe dizer que acho magníficos os pequenos
esboços que você deixou por aqui”, escreveu a Pollock. “Sua cor é rica e
bela. Você tem jeito, meu velho – tudo que deve fazer é continuar
assim.”
pais reais, além de seus irmãos, quase todo mês. Quando, em 1935,
apartamento na East 8th Street, 46, onde Jackson viveria nos dez anos
seguintes. Ele continuou ali depois que Sande se casou com a namorada,
raramente era capaz de cumprir sua cota. Passou a beber de modo mais
mais importante em sua vida adulta. Ficaram juntos de 1941 até a morte
o breve mas estupendo sucesso que teve sem ela a seu lado (e muitas
vezes bem ali no ringue com ele). Krasner era sua maior defensora.
ouvido um convite direto para fazer sexo e não parava de pisar em seus
então tentava sair dela”, lembrou seu amigo Herman Cherry. “É como
insultar alguém e depois ir beijá-lo e dizer: ‘Oh, foi sem querer.’” Ele
recorria à lisonja – o que quer que fosse necessário (supondo que não
Krasner parece ter se rendido, e sua hostilidade inicial com Pollock foi
amenizada. Não se sabe se ela foi ou não para casa com ele aquela noite;
Kooning.
OLHANDO AGORA PARA De Kooning nos anos 1930, é evidente que ele
palpitava nele – todos que entravam em sua órbita o sentiam. Mas o que
ele tinha de fato realizado era muito pouco. Estava falido. Falava um
meus quadros.”
beleza rude e seu carisma físico (era baixo, mas bem constituído), ele
Pantuhoff, por sua vez, achou mais fácil – e mais compensador, tanto
atraíram Krasner. Mas ele bebia muito, era fútil e tinha um lado
De acordo com Fritz Bultman (que pode ou não ter razão), “o lado
Pantuhoff sempre falava dele. Ela se impressionou com o que viu, e não
cair no chão. Humilhada, Krasner afagou seu ego ferido com uma rápida
significativos como artista não foi nada prescrito por Benton. Foi a
com materiais inusitados, foi uma delas. Assim como sua proximidade
inconsciente.
mais tarde admitiria, que Pollock tinha tudo para ser “um grande
depois. “Era difícil para os outros artistas verem o que Pollock estava
Graham fez mais do que talvez qualquer outra pessoa para tirar a arte
Unidos em 1920. Muitas das declarações que deu sobre sua vida
pregressa (o fato de ter recebido uma Cruz de São Jorge, por exemplo)
estava presente.” Ele também tinha uma perspectiva sobre a vida – uma
Kooning almejavam.
Ela era representada por uma pintura, perdida desde então, chamada
bebedeira. Sua arte estava ficando mais interessante a cada ano, mas sua
situação pessoal era péssima. Não fazia muito tempo que ele tinha se
havia jurado a Sande que nunca teria uma criança enquanto Pollock
inapto para o serviço militar. Nada disso fez bem à sua autoestima. Ele
palavra. Tive uma convicção, quando conheci Jackson, de que ele tinha
que Pollock “aceitava qualquer espaço que se abrisse a ele”. Ele estava
Pollock para conhecer uma pessoa que ela sentia que ele devia conhecer.
que ela já tinha achado tão irresistível quanto agora Pollock era para ela.
Kooning com seu sotaque holandês arrastado, a voz rouca; Pollock com
inclinado a dizer qualquer coisa, e Krasner, que tinha deixado para trás a
ali, tinha à sua frente um representante em carne e osso. Ele não podia
deixar de ficar fascinado. Pollock, por sua vez, estava atento ao efeito
quem era grande, quem estava por cima e quem estava por baixo – pode
estavam cada vez mais absorvidos pela questão de sua grandeza latente,
A forma lisonjeira com que Graham apresentou Pollock deve ter sido
desde Miró”.
Krasner. Para ela, era a ratificação, a prova de que seus instintos tinham
tinham uma presença real. Sem afetação. O que mostravam era obscuro,
sentimento direto.
Até esse ponto, Pollock tinha estado envolvido numa longa batalha
não através de suor e trabalho, pela via da intuição e não por cálculo
obstinado.
óbvio para quase todo mundo que ele não era tecnicamente dotado e que
essa falta de aptidão com o desenho comprometia tudo que tentava fazer
Só podemos imaginar, então, como deve ter sido para Charles, Frank
e Sande Pollock, para Tom e Rita Benton, para John Graham e sem
todos.
O sucesso, quando chegou, veio rápido. Havia muitos anjos bons
mesmo ano, enviara por navio sua coleção de arte moderna – que incluía
trabalhos de Picasso, Ernst, Miró, Magritte e Man Ray. Seu pai havia
fabulosamente ricos. Seu tio era Solomon Guggenheim, que veio a criar,
Ray e Djuna Barnes (cujo romance No bosque da noite fora escrito sob
Yves Tanguy, entre outros. Ela se via, cada vez mais, não só como uma
Estados Unidos.
Em Nova York, pouco mais de um ano após sua chegada, ela abriu
dele.
lembrava uma janela retangular. Uma faixa larga ondulante de cor bege
superfície.
Não acho que ele deva ser incluído.” Mas o reticente Mondrian não
cederia à pressão. “Não tenho certeza”, disse ele por fim. “Estou
trabalho mais interessante que vi até agora nos Estados Unidos … Você
precisa prestar atenção nesse homem.” Como a admiração de
Guggenheim por Mondrian era imensa, ela não precisou de mais nada
pôs-se a trabalhar.
The New York Times, The New Yorker, The New York Sun, Partisan
trabalhos a “um caleidoscópio que não foi bem sacudido”. Mas isso
pouco importava. Nunca antes nos Estados Unidos um jovem artista
This Century. Foi em sua resenha dessa mostra que Greenberg chamou
suficientemente fortes.”
com empolgação crescente. Ele já tinha quarenta anos, oito a mais que
sentia que o sucesso de Pollock era do tipo que, com alguma sorte,
formando em torno da arte moderna – uma arte que, além disso, estava
sendo produzida não por algum arrogante surrealista europeu com ares
disciplinada”.
caminho.”
retumbante de fama que prefigurava, foi apenas uma marola – ainda era
Guggenheim inspirou ciúme entre os colegas artistas, mas não foi nada
véspera do prazo, nem sequer havia começado. Krasner foi para a cama
vizinhas passavam por cima. Aquilo não se parecia com nada que havia
sido pintado até então, nem na Europa nem nos Estados Unidos. Era um
lareira.
passou de uma noite, a que Pollock deu sequência com outro episódio
frenético de bebedeira.
sido em parte responsável por isso: Putzel certo dia levou Guggenheim a
em 1938, quando ela era uma estudante de arte de vinte anos. Ao vê-lo
num bar, ela ficou impressionada, como disse posteriormente, por “seus
menos imediatamente dela. Adorava seu jeito direto, seus belos cabelos
que contou bastante para De Kooning. Elaine era miúda, mas tinha uma
a artista Hedda Sterne, que havia se casado com ele “porque alguém lhe
anos 1940, mas depois disso seu relacionamento foi sempre tenso. Eles
eram, cada qual a seu modo, excessivos e insensatos. Elaine era sociável
East 11th. Em várias ocasiões, passava a noite lá. Tinha muito pouco
que não havia ganhado o suficiente e portanto não tinha imposto algum a
pagar.) Logo, começou a fazer pinturas abstratas sobretudo em esmalte
branco e preto – porque não tinha dinheiro para comprar tintas mais
resistiu.
(o Atlântico, disse ele, era a única coisa que podia ser comparada às
… Ele ficava diante da maldita xícara de café umas duas horas. Aí,
trabalhar algumas horas, mas o que conseguia fazer nessas poucas horas
HERÓI SE LIBERTA”.
1943-44 e culminando com seu salto ainda maior em 1946, têm essa
interna que não tinha nenhuma consideração por regras e desejava, num
lado contrário do pincel e até gravetos para fazer marcas nas superfícies
visitar Krasner e Pollock. Ele viu no chão do estúdio uma tela inacabada
menos ousadas, uma vez que na maioria delas a tinta fora aplicada da
chão e disse: “Interessante. Por que não faz oito ou dez destas?”
ele criou pinturas que cobriam suas grandes telas de lado a lado. Os
Suas mechas de tinta eram como um labirinto que “não tem nenhuma
saída principal, bem como nenhuma entrada principal, pois cada
e saída”.
PEGGY GUGGENHEIM foi uma das primeiras pessoas a ver essas pinturas e
ver que eram inéditas. Ninguém havia pintado assim antes. E algo nelas
Eu tinha ciúme dele – de seu talento. Mas ele era uma pessoa notável. Fazia coisas tão
fantásticas … Ele tinha essa maneira extremamente rápida de avaliar pessoas novas.
Estávamos sentados a uma mesa e algum amigo jovem entrava. Pollock nem sequer olhava
para ele, só acenava com a cabeça – como um caubói – como que a dizer: “cai fora”. Essa era
a sua expressão favorita – “Cai fora!”. Era muito engraçado, ele nem sequer olhava para o
cara…
De Kooning continua:
Franz Kline me contou uma história sobre um dia em que Pollock chegou todo arrumado.
Ele ia levá-lo para almoçar – estavam indo a um lugar chique. No meio da refeição, Pollock
notou que o copo de Franz estava vazio. Ele disse: “Franz, tome mais vinho.” Encheu o
copo e ficou tão absorto olhando o vinho ser derramado que esvaziou toda a garrafa. A
bebida cobriu a comida, a mesa, tudo. Ele disse: “Franz, tome mais vinho.” Como uma
criança, achava que era uma ideia fantástica – todo aquele vinho sendo derramado. Aí,
então, pegou nas quatro pontas da toalha de mesa, levantou-a e a pôs no chão. Na frente de
todas aquelas pessoas! Ele pôs a maldita toalha no chão, pagou e o deixaram ir embora. É
maravilhoso que ele tenha feito isso. Os garçons não deram a mínima e havia um cara na
acolhedora e estava cheia de gente bebendo. As janelas eram pequenos painéis de vidro.
Pollock olhou para um cara e disse: “Você está precisando de um pouco de ar”, e deu um
soco numa janela. No momento foi muito delicioso – tão beligerante. Como crianças,
tão diferente do que Freud via em Francis Bacon: era algo que tinha a
me mais próximo, mais parte da pintura, pois dessa maneira posso andar
dela … Quando estou na minha pintura, não sei bem o que estou
sob seu controle. E, com frequência, como Pollock, girava a tela. (Isso é
resistência, dizendo que ainda não estava pronto – em fazer sua primeira
Egan.
misturar suas cores na tela, de modo que suas linhas brancas curvas e
aplicada por cima dos pretos mais fechados e brilhantes muitas vezes se
comprimir o espaço e construí-lo, ora com linha, ora com tom, ora com
olhamos essas pinturas, que o artista está dominado por alguma coisa –
esforços de Egan pareciam ter ido por água abaixo. Nada fora vendido.
Mas nem tudo estava perdido. A exposição pode ter sido ignorada
a ser censurada por uma destreza realmente grande, pois a destreza tem
suficiente, de acordo com Greenberg, para fazer dele “um dos quatro ou
por Pollock três anos antes. Esse holandês expatriado, tão admirado por
seus colegas artistas, tão íntegro a ponto de ter se recusado a mostrar seu
Kooning surgia com uma maneira de pintar que era direta, forte e até
Meio-Oeste que esguichava tinta sobre uma tela no chão era ainda mais
difícil. Essa era a realidade. Além do mais, a partida precipitada de
Gorky não estava bem naquela época, como Pollock devia saber.
Dois anos antes, seu estúdio havia pegado fogo. Depois, ele passara por
Durante a festa, ele estava apontando um lápis com uma faca quando
Pollock não era de agir de modo calculado. Mas é provável que, dada
ataque a ele como uma forma indireta de descarregar seu ciúme sobre o
sucesso de De Kooning. Nesse caso, não seria a última vez que Pollock
seu efeito: nos anos seguintes, De Kooning passou cada vez mais tempo
desenvolver seu novo estilo de pintura. Mas ainda era tão errático e
e amassado por noventa dólares e agora dirigia pelas ruas de Long Island
mãe de Pollock, Stella, que ouvira falar do carro, escreveu uma sinistra
advertência a seu irmão Frank: “Ele não deveria dirigir & beber [ou] ele
todo mundo, rasgá-lo em pedaços. Foi, então, até a janela, que ficava
descoberto que sua amada mulher, Agnes, tinha tido um caso com o
um novo médico. Seu nome era Edwin Heller, e Pollock confiou nele de
embalado por enseadas pantanosas e pelo mar aberto, ele estava com a
The Nation, disse que Pollock havia feito mais do que o bastante para
entre as quais uma das mais “radicais” era a pintura drip vertical de
gravata”.
em geral, e o fez com seu vigor incisivo de sempre. Ele adorava emitir
juízos. Nos anos seguintes, fez uma promoção veemente de sua visão
que aplicou nem sempre resistem a um exame cético, sua escrita, não
estúdio e, sem ser requisitado, começou a dar conselhos. “Ele sabia tudo
A Life sabia que alguma coisa estava para acontecer. Contava com
lo em ação.
Os resultados das sessões de Newman no estúdio da Fireplace Road
quem disse o quê. Mas Pollock deve ter se arrependido de alguma coisa
do que foi dito – como a afirmação de que fora o primeiro pintor em sua
sobre quais eram seus artistas preferidos, ele citou dois: Wassily
revista sob o título: SERÁ ELE O MAIOR PINTOR VIVO DOS ESTADOS UNIDOS?
pintura como se ela fosse uma velha caminhonete. Ele olhava para todo
gasolina”.
O artigo da Life teve um papel fundamental não só na história da
gente ia a uma inauguração, tudo que víamos eram outras pessoas que
Mas foi esperto o bastante para se dar conta de que o jogo tinha mudado.
Pollock havia alcançado o que nenhum deles até então conseguira: ele
que, depois disso, elas não desviariam o olhar sem ter formado uma
resposta que não significasse uma agressão à própria arte. Ele tinha feito
mais do que apenas quebrar o gelo; tinha dado um soco na vidraça que
arte.
Kooning parecia sentir que tudo podia acontecer. Nada mais precisava
Era como se ele estivesse num umbral, tentando decidir em que aposento
queria estar e se deleitando com a incerteza; um estado de ambivalência
era seu lugar criativo ideal. Em seu trabalho, ele alternava imagens
[Excavation] [ver prancha 14]. Com quase dois metros de altura por
quase dois e meio de largura, era a maior tela que ele já tinha pintado.
pincéis, não com tinta derramada ou gotejada. Mas era, à maneira das
“Acho que comecei aqui”, ele observou, apontando o canto superior esquerdo. “Eu disse:
‘Vamos fazer uma tentativa aqui.’ Eu não estava pensando em nenhum método ou maneira
que tivesse realismo. Aí você faz um pouquinho e se sente bem com isso. Aí você diz: ‘Vou
fazer uma abertura aqui e fechar ali’, e desse modo você vai indo, um pouco de cada vez.
Sempre fica bom, porque você consegue continuar com o que está conectado ao que já fez.
Porque se você pega uma seção na qual se sente confortável, pode construir a partir dela,
devagarinho.”
os lados do Atlântico. Ele era descrito como o melhor pintor dos Estados
Pollock pode, em certo sentido, tê-lo ajudado a se soltar. Mas ele ainda
estava torturado por dúvidas e por uma técnica que não dava margem a
futura.
quando, em março de 1950, seu terapeuta, dr. Edwin Heller – que muito
ela implicava, Pollock era uma alma em turbilhão durante esses dias.
diz ele a certa altura – “procuro deixar que ela se manifeste.” E: “Não há
pintando sobre uma placa de vidro com a câmera de Namuth por baixo
E esse foi o começo do fim. Por volta de 1951, depois de três anos
sem álcool – anos em que tudo parecia possível –, Pollock tinha voltado
com a bebida. Mas o que não está claro – o que nunca é claro, uma vez
que a visão turva é a questão central da bebida – é por que ele bebia.
sem dúvida parte de seu atrativo. Havia uma estrutura, uma tolerância
norte-americana nos anos 1930 contra o que era visto como uma ameaça
tema.
certo grau com uma confusão sexual. Enquanto compunha uma história
quanto a beijar uns aos outros”, ele especulou, com um tom de voz entre
chegara a um ponto crítico numa festa dada por Sande. Pollock já havia
fértil. Ele virou-se para Guston, que fazia pinturas alegóricas num estilo
aguento!” Então, ele ameaçou jogar Guston pela janela. Seguiu-se uma
Três anos depois, Pollock estava num jantar oferecido por John Little
e Ward Bennett. (Bennett, que era gay, mais tarde afirmou ter tido a
impressão de que Pollock tinha interesse sexual por ele.) Igor Pantuhoff,
Kooning, do banco do bar. “Ele fez isso uma, duas vezes, e então Kline,
tanta força.’”
posição ingrata de ser a única pessoa próxima dele o bastante para impor
ao menos uma aparência de controle sobre sua vida. Ela aceitou o papel
criativo, mas também sua vida. Ninguém – menos ainda uma esposa –
mal equipado para a fama. Segundo seu amigo Cile Downs: “Ele nunca
não gostam de você tanto quanto gostavam quando era pobre e um zé-
vulnerável à crítica até mesmo dessas obras. Nunca chegou a aceitar sua
legitimidade.
uma catástrofe privada. Mas, durante esse tempo, ele não lutava apenas
protagonistas.
vários anos. Era difícil para Rosenberg perdoar a noite em que Pollock
dizendo que eu nunca tinha tido nada tão bom.” A filha de sete anos dos
direção de Pollock. May tinha ido à janela para enxotá-lo. Foi só então
que viu Krasner no carro. Ficou imediatamente claro para ela que
intelectual. Se isso era uma fonte de insegurança para ele, também era
não tinha medo de ninguém. Não que ele quisesse brigar, mas ele seria
um copo bem alto, encheu-o até a boca com uma bebida e estendeu-o a
que vira surgir nos estúdios de Nova York em meados do século – uma
mundo. Mas sua ideia do indivíduo estava bastante sintonizada com seu
da criação.
modo de tratar a tela como uma arena física, sua disposição para arriscar
tudo, sua ruptura decisiva com o passado. Ainda hoje, mais de meio
Mas Krasner estava certa. Ela tinha lido “American Action Painters” do
começo ao fim e visto como, tendo exposto suas razões no que se referia
de remover tudo que fosse alheio ao próprio meio. Isso significava livrar
WPA e da guerra.
e estragaram a festa.
Greenberg ficou chocado com isso. Mas, para Pollock, que admirava
suas pinturas em branco e preto dos dois anos anteriores. Era suscetível
pintura gotejada, e queria provar do que era capaz aos “garotos que
ers”, De Kooning expôs sua série Mulher pela primeira vez, na Sidney
próprias inovações.
Mas Pollock também ficou confuso com as pinturas. Eram
recuo, uma falta de coragem, como ele suspeitava – e como ele sabia que
Pollock gritou para ele: “Bill, você é um traidor. Está fazendo figuras,
ainda está fazendo a mesma droga. Você sabe que nunca deixou de ser
um pintor figurativo.”
Era a sua exposição, havia defensores seus por lá. Ele disse: “E você,
pergunta. Estaria apenas tentando lembrar Pollock que também ele tinha
por ela. Saiu da exposição e foi até um bar. Pouco tempo depois, deu um
apoio.
dado conta de que não tinha como amarrar sua reputação a um beberrão
disso, fazia três anos que não escrevia sobre o trabalho do pintor.
que qualquer outro artista vivo, a obra de Pollock tornou-se uma espécie
mortal entre o homem e sua arte”. Mas, a essa altura, para a maioria das
pessoas que tinham algum contato com ele, Pollock estava parecendo
De Kooning esperava ficar com alguns móveis dos Braider para a Red
pelo quintal até chegarem a uma trilha do lado de fora que tinha sulcos
profundos pelos muitos anos de uso. O desnível repentino fez com que
todos perceberem o que a causara, deixou ainda mais claro que ele era
Franz Kline e cerca de sessenta outras pessoas estavam lá. Pollock não
fora convidado.
“Eu sabia que havia um esforço para substituir Pollock por eles [De
Kooning, Kline e outros membros do The Club], e … não queria que ele
começaram a caçoar de Pollock dizendo que ele já não era o tal etc. Ele
artista mais famoso dos Estados Unidos, mas não pintava nada fazia
depois das sessões com seu terapeuta mais recente, e tentavam tocar nele
conseguia fazer.
tornado constrangedor.
de uma situação que havia anos vinha deslizando rumo ao caos fora
protegê-lo e promovê-lo, acabara sendo boa para ele ou para ela. Se isso
envenenado. Mês após mês, ano após ano, o veneno se acumulara, até
Aparentemente, não havia nada sério entre eles. Kligman era artista e
que os promoviam, ela era uma estranha, até aparecer certo dia na Cedar
maneira atabalhoada. O escritor John Gruen disse que ela “parecia uma
Elizabeth Taylor mais cheia e mais alta”, e “se via como uma estrela de
dizia respeito aos homens que atraía, também era tímida e ingênua.
algum contato com esse tipo de gente. Quando Pollock, inchado, com o
uma fraude.
E talvez tenha sido isso que fez com que Pollock se atraísse por ela.
molusco sem a concha”, como ele mesmo disse. Também ele era
sexualmente inexperiente (Krasner fora sua única parceira de longa
podia. Certa manhã, Krasner viu Kligman saindo do estúdio que ficava
posição: o novo relacionamento não era algo que iria tolerar. Pollock
Krasner não teve outra escolha senão agir. Resolveu viajar para a
Kligman, por sua vez, estava finalmente livre para realizar seu sonho
que ele era casado com Krasner (e se sentia desamparado sem ela).
havia comprado recentemente num impulso, deu uma guinada para fora
foram até lá. “Fiquei arrepiado”, lembrou Marca-Relli. “Eu disse alguma
Ele saiu até o jardim, onde mais tarde foi encontrado em lágrimas.
DE KOONING, agora, era sem dúvida o número um. Mas é claro que, para
bastante consciente de sua dívida com o colega pintor – não tinha essa
convicção.
Jackson.”
Kligman com Pollock, parecia não ter a mesma relevância para ambas as
sobre o tempo que passou com De Kooning – foi sobre seu tempo muito
mais breve com Pollock. De Kooning, do mesmo modo, quando Jeffrey
Potter lhe perguntou sobre Kligman muitos anos depois, respondeu que
“Ela também gostou de mim, mais tarde. Realmente gostou, mas não
ilegal que nem sequer tinha uma conta no banco. Agora era
violentas. Ele incitou uma mulher a bater em sua cabeça com uma
processo judicial.
começaram a brigar.
“Foi absolutamente horrível”, Gabriella Drudi, uma amiga que
estava lá, contou a Stevens e Swan. “Eles gritavam um com o outro. Por
fim, Bill disse: ‘Por que você não entra lá no túmulo do seu Jackson
Pollock e fica com ele?’ … E Ruth disse: ‘Eu fiquei dois meses com
sobre sua obra. Publicada em 1959, fazia parte de uma série chamada
romântica.
Uma cena – muito maior e mais dinâmica do que o grupo íntimo dos
formado uma espécie de massa crítica. De Kooning foi coroado seu rei.
“Ele levou toda uma geração com ele, como o flautista mágico”,
começaram a fazer fila do lado de fora por volta das 8h15 da manhã. Ao
na vida”.
Kooning estava passando; como era estar no topo da escala; que forças o
Pois era isso que De Kooning estava fazendo agora. E não parou –
não parou por mais de três décadas (ele morreu em 1997). De Kooning
sua porta e dizendo: “Santo Deus, acho que vou morrer. Não consigo
Kooning lhe dissera para se acalmar: “Você está hiperansioso. Essa ideia
de pintar uma figura e destruí-la … isso está fazendo mal a você.” Nas
tremores tão violentos que não lhe permitiam assinar seu nome. “Não
teve de eliminar tudo isso, destruir tudo, tirar da frente, todas essas
pinceladas violentas.”
A VIDA DE De Kooning foi longa, mas sua ascendência, como a de
desenho para que ele o apagasse e apresentasse como seu com o título
importante: sua obra começou a parecer cada vez mais relevante e até
estilo de De Kooning.
históricas estavam contra ele. Numa era que celebrava cada vez mais a
melodrama da vulgaridade.”
disse ele numa famosa frase, “é a razão pela qual a tinta a óleo foi
inventada.” Era uma atitude com que Francis Bacon e Lucian Freud,
bebedeiras autodestrutivas.
Mas também é algo mais: é a história de uma vida que nunca foi
não só tinha uma dívida com Pollock como uma forte relação de
admiração e rivalidade para se esquecer dele. Toda sua atitude para com
Pollock foi profundamente ambivalente. Ele viveu sua própria vida, que
decerto não foi restringida nem definida por Pollock. Mas, através de seu
Édouard Manet, O repouso, c.1870-71, óleo sobre tela, 150,2 × 114 cm.
PRANCHA 9
Preto e branco
FIG. 1
FIG. 2
Coleção particular. © Lucian Freud/ Lucian Freud Archive/ Bridgeman Art Library.
FIG. 3
Whitworth Art Gallery, The University of Manchester, Reino Unido/Bridgeman Images. © The
State of Francis Bacon. Todos os direitos reservados/Artists Rights Society (ARS), Nova
York/DACS, Londres.
FIG. 4
Willem de Kooning, Autorretrato com irmão imaginário, c.1938, lápis sobre papel, 33,3 × 26
cm.
Coleção Kravis. © 2016 The Willem de Kooning Foundation/Artists Rights Society (ARS), Nova
York.
Lâminas coloridas
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Tate, Londres/Art Resource, NY. © The Estate of Lucian Freud. Todos os direitos
PRANCHA 2
2016 The Estate of Francis Bacon/Artists Rights Society (ARS), Nova York/DACS, Londres.
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Coleção particular. © The Estate of Francis Bacon. Todos os direitos reservados, DACS 2016.
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Édouard Manet, O repouso, c.1870-71, óleo sobre tela, 150,2 × 114 cm.
Legado da sra. Edith Stuyvesant Vanderbilt Gerry. 59.027. Museum of Art, Providence, Rhode
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PRANCHA 10
San Francisco Museum of Modern Art. Foto cortesia AMP. © 2015 Sucessão H. Matisse/Artists
Nova York.
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Museum of Modern Art, Nova York. © Sucessão Picasso/Artists Rights Society (ARS), Nova
York. Imagem digital © The Museum of Modern Art/Licenciado por SCALA/Art Resource, NY.
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Dallas Museum of Art, Texas, EUA. Doação do sr. e da sra. Bernard J. Reis/Bridgeman Images.
PRANCHA 14
Images. © 2016 The Willem de Kooning Foundation/Artists Rights Society (ARS), Nova York.
Agradecimentos e fontes
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Art, 1998).
generoso convite para uma palestra cristalizou a ideia para este livro.
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1: Leo Steinberg. Outros critérios. Trad. Célia Euvaldo. São Paulo: Cosac Naify, 2008.
Índice
Abramovich, Roman, 1
Abrams, Ruth, 1
Agnew, Thomas, 1
Apollinaire, Guillaume, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9
artistas conceituais, 1
artistas pop, 1
ARTNews, 1, 2
Astruc, Zacharie, 1
Auden, W.H., 1
Auerbach, Frank, 1-2, 3
Auping, Michael, 1
Bacon, Eddy, 1, 2
adolescência em Paris, 1
aparência, 1, 2
definição de arte, 1
Degas e, 1-2, 3
deslocamento psíquico e, 1
e a bebida, 1, 2, 3-4, 5
exposições, 1, 2, 3, 4, 5-6, 7
Freud como rival e/ou amigo, 1, 2, 3, 4-5, 6-7, 8, 9-10, 11, 12, 13,
homossexualidade e, 1, 2-3
jogo e, 1, 2-3
primeiro “manifesto”, 1
realismo e, 1-2
retrato e, 1, 2, 3, 4, 5-6, 7, 8, 9
séquito cult, 1
— obras:
Crucificação, 1
Duas figuras, 1-2, 3
Velázquez, 1
Pintura, 1, 2, 3
Balthus, 1
Barnes, Djuna, 1
Barr, Alfred, 1, 2, 3
Bataille, Georges, 1
Baudelaire, Charles, 1, 2, 3, 4, 5-6, 7-8, 9-10, 11, 12-13, 14, 15, 16, 17
Baziotes, William, 1
Beaton, Cecil, 1
Belcher, Muriel, 1
Bennett, Ward, 1
Benton, Rita, 1, 2, 3, 4
Bérard, Christian, 1, 2
Berenson, Bernard, 1
Berenson, Mary, 1
Berlim, Alemanha, 1, 2
Bernadotte, Jean-Baptiste (posteriormente Carlos XIV da Suécia), 1, 2
Bizet, Georges, 1, 2
Bonnard, Pierre, 1, 2
Bowery, Leigh, 1
Bowles, Paul, 1
Brancusi, Constantin, 1
British Council, 1
retrospectiva de Freud e, 1, 2, 3
Brookeborough, visconde, 1
Buhler, Bobby, 1
Bultman, Fritz, 1, 2
Bunce, Louis, 1
Burckhardt, Rudy, 1
Burgess, Gelett, 1
Burroughs, William, 1
Calmon, Camille, 1
Camus, Madame, 1
Carmen (Mérimée), 1
Cassatt, Mary, 1
Cézanne, Paul, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9
cubismo e, 1
Três banhistas, 1, 2
Champfleury, 1, 2, 3
Cherry, Herman, 1
Chesneau, Ernest, 1
Churchill, Randolph, 1
Citkowitz, Israel, 1
Claus, Fanny, 1
Cocteau, Jean, 1, 2, 3
color field, 1
Connolly, Cyril, 1, 2, 3
Corot, Camille, 1, 2, 3
Couture, Thomas, 1, 2, 3
Coward, Noël, 1
cubismo, 1, 2, 3-4, 5
Curtiss, Mina, 1
Daily Mail, 1
Dalí, Salvador, 1
Daumier, Honoré, 1
David, Elizabeth, 1
Davis, Stuart, 1
Dawson, David, 1
De Chirico, Giorgio, 1
De Kooning, Marie, 1, 2
De Kooning, Willem:
afastamento da família, 1
ansiedade de, 1
Bacon comparado a, 1
crítico Greenberg e, 1
exposição na McMillen, 1
exposições, 1, 2, 3, 4
expressionismo abstrato e, 1
falta de vendas, 1, 2
fama e, 1-2, 3
Gorky e, 1-2, 3, 4
influência de, 1
influências sobre, 1
pobreza de, 1, 2, 3
Pollock como rival ou amigo, 1-2, 3-4, 5, 6, 7-8, 9-10, 11, 12-13,
resenhas críticas, 1
significado do nome, 1
sobre arte, 1
sucesso de, 1, 2
— obras:
Escavação, 1, 2, 3, 4
De Nittis, Giuseppe, 1
De Stijl, 1
Degas, Auguste, 1, 2, 3
Degas, Edgar, 1
como anglófilo, 1
dandismo e, 1
desejo de isolamento, 1
Duranty e, 1-2
entrada de diário, 1
grupo Batignolles e, 1
inovação na pintura, 1
14-15
marchand Vollard e, 1
mentalidade monástica, 1, 2, 3
método de trabalho, 1
mulheres e, 1-2
na Itália, Moreau e, 1
o retrato e, 1, 2-3, 4
primeiras pinturas, 1, 2
realismo e, 1
sobre pintura, 1, 2
transformação da arte e, 1
virtuosismo de, 1
— obras:
A filha de Jefté, 1
Interior (O estupro), 1, 2, 3, 4, 5, 6
Jovens espartanos, 1
Delectorskaya, Lydia, 1
Deleuze, Gilles, 1
Delvau, Alfred, 1
Demetrion, James, 1
Denis, Maurice, 1
Derain, André, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8
Desnoyers, Fernand, 1
Dial, The, 1
Diamond, Harry, 1
Downs, Cile, 1
Drudi, Gabriella, 1
Duccio, 1
Duchamp, Marcel, 1, 2, 3, 4
Duhrssen, Betsy, 1
Dunn, Anne, 1, 2, 3, 4
Duret, Théodore, 1
Duval, Jeanne, 1
Dyer, George, 1
Eisenstein, Sergei, 1
Eliot, T.S., 1
Encounter, revista, 1
Ernst, Max, 1, 2
expressionismo abstrato, 1, 2, 3
Fagus, Félicien, 1
Fantin-Latour, 1, 2, 3, 4, 5, 6
Farson, Daniel, 1, 2, 3, 4
fauvismo, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8
Feaver, William, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8
Fenton, James, 1, 2
Fillonneau, Ernest, 1
fisiognomonia, 1-2
Fleming, Ian, 1, 2
Fontdevila, Josep, 1, 2
fotografia e cinema, 1
Fournier, Édouard, 1
Fragonard, Jean-Honoré, 1
Freud, Lucian, 1, 2, 3
aparência, 1, 2
Bacon apresentado a, 1
Bacon como rival ou amigo, 1, 2, 3, 4-5, 6-7, 8, 9-10, 11, 12, 13,
Degas e, 1, 2
enquanto judeu, 1
filhos de, 1, 2, 3
fotografia e, 1
galerias para, 1
influência de Courbet, 1
jogo e, 1-2, 3, 4, 5
modelos para, 1
moradias em Londres, 1, 2, 3, 4
morte de, 1
na Jamaica (1952), 1
Picasso e, 1-2
predecessores de, 1
priorado em Dorset, 1, 2
realismo e, 1, 2, 3, 4
riqueza de Blackwood e, 1, 2, 3
2, 3, 4
tipo de artista, 1
— obras:
A supervisora dormindo, 1
Autorretrato (inacabado), 1
Garota na cama, 1, 2, 3
Interior em Paddington, 1, 2
Freud, Sigmund, 1, 2
Fried, Conrad, 1
Fry, Roger, 1
Gauguin, Paul, 1, 2, 3
Gautier, Théophile, 1
Géricault, Théodore, 1
Giacometti, Alberto, 1, 2
Giacometti, Diego, 1, 2
Giambologna, 1
Gidding, Jay, 1
Ginsberg, Allen, 1
Giotto, 1
Gonzalès, Eva, 1, 2
Gowing, Lawrence, 1, 2, 3, 4
Goya, Francisco, 1
Grande Depressão, 1
Gris, Juan, 1, 2
Gruen, John, 1
coleção de arte e, 1, 2
De Kooning e, 1
Pollock e, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7
Guggenheim, Solomon, 1
Guillemet, Antoine, 1
Guinness, Maureen, 1, 2, 3
Guinness, Perdita, 1, 2
Guston, Philip, 1
Hall, Eric, 1, 2, 3, 4, 5
Hals, Frans, 1
Hardwick, Elizabeth, 1
Hartigan, Grace, 1
Havemeyer, Louisine, 1
Heller, Edwin, 1, 2
Hemingway, Ernest, 1
Hendrix, Jimi, 1
Hess, Thomas, 1
Hitler, Adolf, 1
Hofmann, Hans, 1
Holmes, Charles, 1
Holmes, Martha, 1
homossexualidade:
Bacon e Duas figuras, 1-2
Pollock e, 1-2
Honisch, Dieter, 1
Hoppé, E.O., 1
Horizon, revista, 1
Horn, Axel, 1
Hughes, Robert, 1, 2, 3
Hugo, Victor, 1
Hulton Press, 1, 2
Hunter, Sam, 1
impressionismo, 1, 2, 3, 4
James, William, 1
Jamot, Paul, 1
Japão:
Joblaud, Camille, 1
Johns, Jasper, 1
Regrets, 1
Kadish, Reuben, 1
Kahlo, Frida, 1
Kahnweiler, Daniel-Henry, 1, 2, 3, 4
Kandinsky, Wassily, 1, 2
Kentish, David, 1
Kiesler, Frederick, 1
Kimmelman, Michael, 1
Klee, Paul, 1, 2
Kline, Franz, 1, 2, 3, 4, 5
Kochno, Boris, 1
Krasner, Lee, 1-2, 3, 4, 5
Abstração, 1
Kray, Ronnie, 1
La Coruña, Espanha, 1
Lamothe, Louis, 1
land art, 1, 2
Lang, Fritz, 1
Lassooy, Koos, 1, 2, 3
Le Figaro, 1
Le Réalisme, 1
LeBrun, Charles, 1
Lee, Laurie, 1
Leiris, Michel, 1
Lett-Haines, Arthur, 1, 2
Levy, Julien, 1
Liddell, Louise, 1
Life, revista:
Linda la Bouquetière, 1
Little, John, 1
Locke, Nancy, 1
Londres:
dandismo, 1
Louvre, Paris, 1, 2, 3, 4, 5, 6
Lowell, Ivana, 1
Lowell, Robert, 1
Luce, Henry, 1
Luke, David, 1
Lumley, Charlie, 1
Magritte, René, 1
Maître, Edmond, 1
Mallarmé, Stéphane, 1, 2
Malraux, André, 1
Man Ray, 1, 2
Manet, Auguste, 1, 2, 3, 4, 5
Manet, Édouard, 1
aparência, 1-2, 3
como anglófilo, 1
dandismo e, 1
Degas como rival ou amigo, 1, 2, 3-4, 5, 6, 7-8, 9-10, 11, 12-13, 14-
15
em Boulogne-sur-Mer, 1
em Trouville, 1
7, 8, 9, 10, 11
expondo no Salão, 1, 2, 3, 4, 5
exposições, 1, 2, 3
grupo Batignolles e, 1, 2, 3
habilidade no desenho, 1
morte de, 1, 2, 3
“panteísmo” de, 1
pintura ao ar livre, 1
realismo e, 1-2, 3
soirées de quintas-feiras, 1, 2
Zola e, 1
— obras:
Chez Tortoni, 1
Lola de Valence, 1
O balcão, 1
O bebedor de absinto, 1
O suicida, 1
O pífaro, 1
O toureiro morto, 1
Olympia, 1, 2-3, 4
Mann, Thomas, 1, 2
Mantegna, Andrea, 1
Marca-Relli, Conrad, 1, 2
Matisse, Henri, 1, 2, 3
aparência, 1, 2-3
cubismo e, 1, 2, 3-4
elogios de, 1
entrevista de Apollinaire, 1
escultura e, 1-2
exposições individuais, 1, 2
exposições, 1, 2, 3, 4, 5-6, 7
fauvismo e, 1, 2, 3, 4, 5
filhos de, 1
ideia de harmonia, 1
morte de, 1
na Argélia (1906), 1, 2
Norte da África e, 1, 2
14-15, 16-17
pobreza de, 1, 2
residência em Paris, 1
Shchukin e, 1-2
sobre pintura, 1
sobre rivais, 1
tema para, 1, 2, 3
— obras:
Menina nua, 1
Nu azul, 1-2, 3, 4, 5, 6, 7
O luxo, 1
Matisse, Jean, 1
ano de nascimento, 1
família Stein e, 1
Picasso e, 1
Matisse, Pierre, 1
Matta, Roberto, 1, 2
Mauclair, Camille, 1
McBride, Henry, 1, 2
McMullen, Roy, 1
Mercer, George, 1
Mérimée, Prosper, 1
Metrópolis (filme), 1
Metzger, Edith, 1
Meurent, Victorine, 1, 2, 3, 4
Michelangelo, 1
minimalistas, 1, 2
Minton, John, 1, 2, 3, 4-5
Miró, Joan, 1, 2
Mitchell, Sue, 1
arte africana e, 1
busca de um público e, 1
fotografia e, 1
mulheres na, 1
na Espanha, 1-2
pintura ao ar livre, 1
sociedade industrializada e, 1
WPA e, 1-2
Modigliani, Amedeo, 1
Moffatt, Ivan, 1
Molière, 1
Mondrian, Piet, 1, 2
Monet, Claude, 1, 2, 3, 4
Moore, George, 1
Moreau, Gustave, 1, 2
Morisot, Berthe:
Morisot, Yves, 1, 2
Morris, Cedric, 1, 2
Motherwell, Robert, 1
Moynihan, Rodrigo, 1
Munro, Alice, 1
Muybridge, Eadweard, 1, 2, 3, 4
Nadar, 1
Naifeh, Steven, 1, 2, 3, 4
Napoleão Bonaparte, 1
Nation, The, 1, 2, 3
New Yorker, 1, 2
Newman, Arnold, 1
Nicholson, Ben, 1
Nova York:
exposição na McMillen, 1
modernismo em, 1, 2
“The Club”, 1
O’Keeffe, Georgia, 1
Oppi, Ubaldo, 1
Prometeu, 1
Pach, Walter, 1
Pagans, Lorenzo, 1
Paris, 1
Bacon em, 1
Bateau-Lavoir, 1, 2, 3, 4, 5, 6
expatriados em Montmartre, 1
Freud em, 1, 2, 3-4
Picasso em (1946), 1
3, 4, 5, 6, 7, 8
Parsons, Betty, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7
Partisan Review, 1, 2
Pearn, Inez, 1
Pellerin, Jean, 1
Percheron, Paul-Emile, 1, 2
Phillips, Adam, 1
Phillips, William, 1
Picasso, Pablo, 1, 2
aparência, 1, 2
arte africana e, 1, 2-3, 4, 5, 6
bande à Picasso, 1
caráter e personalidade, 1, 2, 3, 4
cubismo e, 1-2
deslocamento psíquico e, 1
dúvidas de, 1
em Paris (1946), 1
fases de, 1
formas facetadas e, 1
infância na Espanha, 1
influência de Cézanne sobre, 1
marchand Kahnweiler e, 1, 2, 3
marchand Vollard e, 1, 2, 3, 4, 5, 6
14-15, 16-17
ópio e, 1, 2
período azul, 1, 2
período rosa, 1
pobreza de, 1
preocupações psicossexuais, 1
2, 3-4, 5, 6, 7, 8, 9, 10
retrato e, 1-2
sucesso financeiro, 1
vida cotidiana, 1
— obras:
A família de acrobatas, 1
Dois nus, 1, 2
O beijo da morte, 1
Picture Post, 1
Três dançarinas, 1
Últimos momentos, 1, 2
Pollock, Elizabeth, 1, 2
Pollock, Frank, 1, 2, 3, 4
bebida, 1-2, 3, 4, 5-6, 7, 8, 9-10, 11, 12, 13-14, 15, 16, 17, 18, 19,
20-21
bloqueio criativo, 1, 2
De Kooning como rival ou amigo, 1-2, 3-4, 5, 6, 7-8, 9-10, 11, 12-
elogios para, 1, 2, 3
falta de vendas, 1, 2
fama e, 1, 2-3, 4, 5, 6, 7
homossexualidade e, 1-2
influências sobre, 1
Mondrian e, 1
morte de, 1, 2
na WPA, 1
pobreza de, 1, 2, 3
10-11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21-22
sucesso de, 1, 2, 3, 4, 5, 6
túmulo de, 1, 2
— obras:
A loba, 1
Catedral, 1, 2
Figura estenográfica, 1, 2
Floresta encantada, 1
Fosforescência, 1
Galáxia, 1
Lúcifer, 1
Masculino e feminino, 1
Mulher-Lua, 1
Mural, 1, 2, 3
Nascimento, 1
Pollock, Sande, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8
Pollock, Stella, 1, 2
pós-impressionismo, 1, 2
positivismo, 1
Potter, Fairfield, 1
Potter, Jeffrey, 1, 2, 3
Poussin, Nicholas, 1
Princet, Maurice, 1, 2
Proust, Antonin, 1, 2
Putzel, Howard, 1, 2, 3
Rafael, 1
Rauschenberg, Robert, 1
Read, Herbert, 1, 2, 3
realismo socialista, 1
realismo, 1, 2, 3
de Courbet, 1
de Freud, 1, 2, 3, 4, 5
de Manet, 1, 2, 3
Degas e o, 1
Duranty e o, 1
regionalismo norte-americano, 1
relacionamentos homossociais, 1
Resnick, Milton, 1
Rimbaud, Arthur, 1
Rivera, Diego, 1
Rodin, Auguste, 1, 2
romantismo, 1, 2-3
Romein, Bernard, 1
Rosenberg, May, 1, 2
Rosenberg, Paul, 1
Rosenshine, Annette, 1
Ross, Alan, 1, 2
Roth, Philip, 1
Rothermere, Ann, 1-2, 3
Rothko, Mark, 1
Russell, John, 1, 2, 3, 4, 5
Salão de Outono, 1, 2, 3, 4
rejeição de Braque, 1
4, 5, 6, 7, 8, 9
Degas e, 1-2, 3
Salmon, André, 1, 2, 3, 4, 5, 6
Sand, George, 1
Sandler, Irving, 1
Satie, Erik, 1
Schapiro, Meyer, 1
Sembat, Marcel, 1
Shchukin, Sergei, 1, 2, 3, 4
Sickert, Walter, 1, 2, 3
Silvestre, Armand, 1
Siqueiros, David, 1
Skelton, Barbara, 1
Smith, Gregory, 1, 2, 3, 4
Smith, Matthew, 1
Soutine, 1
Spurling, Hilary, 1, 2, 3, 4
Stein, Allan, 1, 2
Stein, Gertrude, 1, 2, 3, 4
aparência, 1, 2
Matisse e, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8
Picasso e, 1, 2, 3, 4-5
pinturas de Manet e, 1
sobre Picasso, 1
Steinberg, Leo, 1
Steinberg, Saul, 1
Sterne, Hedda, 1
Stevens, Alfred, 1, 2
Stevens, Mark, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7
Stieglitz, Alfred, 1
Supple, Margaret, 1
surrealismo, 1, 2, 3, 4, 5-6, 7, 8, 9
automatismo psíquico, 1
Sigmund Freud e, 1
Swan, Annalyn, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7
Sylvester, David, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9
Tanguy, Yves, 1
Tennant, David, 1
tête d’expression, 1
Thoré, Théophile, 1
Ticiano, 1
Vênus de Urbino, 1
Tilley, Sue, 1
Time, revista, 1
Toulouse-Lautrec, Henri, 1
Tyler, Parker, 1
Valpinçon, Paul, 1
Vauxcelles, Louis, 1
Velázquez, Diego, 1, 2, 3, 4, 5
Veronese, Paolo, 1
Virgílio, 1
Vollard, Ambroise, 1
Degas e, 1, 2, 3
Gauguin e, 1
Matisse e, 1, 2, 3-4, 5
Picasso e, 1, 2, 3, 4, 5-6
sobre os Stein, 1
Voltaire, 1
Wagner, Richard, 1, 2
Wakehurst, lorde, 1
Warhol, Andy, 1
piss paintings, 1
Weber, Max, 1
Weeks, Mabel, 1
Weindenfeld, George, 1
Whistler, James, 1, 2, 3, 4
Wilde, Oscar, 1
Williams, Tennessee, 1, 2
Wilson, Reginald, 1
Wishart, Ernest, 1
Wishart, Michael, 1, 2, 3, 4, 5
Wishart, Yasmin, 1
Wordsworth, William, 1
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ISBN: 978-85-378-1678-3