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BradoLiterario Bimensal | Sai ao 1º e ao 15º dia de cada mês

DESTAQUES
P6. O PAI PERDOA W.
Livingston Larned
Jornal Literario Electronico (PDF) de Distribuiçao Gratuita
PROSAS
Ano II, Nº19 | Maputo, segunda-feira, 1.8.2022 | Director: Leonel Ivo
P9. DESTINO DE Sob Dispensa de Registo/GABINFO/2021
MASSASSE Hahamela
wa Bato
P11. O MEU PAI NAO
SABIA SER VIUVO
Gaspar Pagarache

GALERIA
P13. Isack Aly Amade

BRADO POÉTICO
P14. TU AI E EU AQUI
Bruxinha MMS
P15. JEITO DE AMAR
Pedro Ferro
P15. CLAMOR DE ES-
PERANÇA Yunnick
Chan-Xe
P16. SONHAR Paulino
Tholle
P17. O AMOR QUE
NUNCA ACONTECEU
Salvador dos Santos

Por: Nito Ivo tos estavam jogados num canto esqueci-


Desde o surgimento do Brado Literá- do na sua casa, e estabeleceu a condição
rio temos lidado com várias pessoas ta- de que jamais o seu pseudónimo fosse
lentosas, que publicam os seus textos no associado ao seu verdadeiro nome, co-
nosso jornal, cujos amores pela escrita mo se fosse ela procurada por algum
haviam sido truncadas por alguma críti- crime, ou como se estivesse a cometer
ca mordaz. Um bom exemplo é uma das algum ilícito grave ao escrever.
nossas mais assíduas escritoras, moça Então, porquê uma escritora promis-
cheia de talento literário, que tinha sim- sora acabou por criar uma concha pro-
plesmente parado de escrever porque tectora a volta do seu próprio talento? A
passou a acreditar que escrevia tão mal resposta tem única palavra: CRÍTICA.
que sequer merecia ser lida. Quando nos Pois é! Ela havia sido criticada quando
procurou, por insistência de um parente se aproximara de uma prestigiada edito-
dela, havia alguns anos que os seus tex- ra afim de se inteirar da possibilidade de

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“Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas” Nito Ivo 1 de Agosto de 2022 2

publicar os seus trabalhos, mas a crítica tão pouca confiança na sua habilidade no
feriu-lhe tanto o precioso orgulho e vai- escrever que, durante a noite, foi às es-
dade, abalou-lhe o senso de importância, condidas colocar no correio o seu pri-
destruiu-lhe a autoconfiança e gerou um meiro manuscrito, para que ninguém ris-
infinito ressentimento se dele. Contos após contos foram recu-
Para a nossa alegria, aos poucos os sados. Finalmente chegou o grande dia.
nossos sinceros elogios aos textos que Um conto foi aceito. Não recebeu di-
ela nos envia, e algumas edições nos nheiro pelo mesmo, mas o editor o elogi-
seus trabalhos, foram lhe proporcionan- ou, deu-lhe consideração. Ele ficou tão
do um novo alento, um novo sentido de contente que vagou pelas ruas com lágri-
vida, que inclui voltar a sonhar em ser mas a escorrerem pela face.
escritora. Com efeito, no mês de Maio, O elogio, o incentivo que recebeu por
ela participou num concurso de poesia ver um conto seu no prelo, mudou toda
cujo júri atribui-lhe o segundo lugar. Fo- sua carreira, e, não fosse isto, talvez pas-
ram imensos os agradecimentos que nos sasse toda a vida naquele infecto arma-
endereçou por resgatá-la daquela letargia zém, pregando rótulos. Nome dele é
e descrença do seu talento em que havia Charles Dickens (1812 — 1870).
sido empurrada por uma crítica. Hoje, No caso do Brado Literário, um dos
apesar de não ter ainda resgatado total- momentos mais difíceis do nosso quoti-
mente a autoconfiança, vem dado passos diano é dizer aos que nos enviam seus
firmes no sentido de publicar o seu pri- textos que nãos os poderemos publicar
meiro livro. fundamentado a nossa decisão com algu-
Elogiar, mas não criticar — este é o ma crítica. Mas isso raramente sucede.
conceito básico dos ensinamentos de B. Grande maioria dos trabalhos literários
F. Skinner (1904 — 1990). Este grande aqui publicados passam por profundos
psicólogo demonstrou, através de experi- trabalhos de edição. Preferimos fazer
ências com animais e seres humanos, isso do que criticar a quem com muito
que, quando se diminui a crítica e se en- esforço nos envia seus textos, porque
fatiza o elogio, as coisas boas que as pes- sabemos que uma palavra em falso pode
soas fazem recebem reforço e as coisas matar o escritor que dá os primeiros pas-
más são atrofiadas por falta de atenção. sos na literatura, mas ao contrário, um
Nos primeiros anos do século XIX, elogio pode acender a luz de esperança e
em Londres, um rapazola sonhava em autoconfiança, tal como o menino de dez
ser escritor, mas tudo parecia conspirar anos que desejava ser cantor, mas o seu
contra tal desejo. Não pôde permanecer primeiro professor o desencorajou:
na escola mais de quatro anos; o pai foi “Você não pode cantar. Ademais, não
encarcerado por dívidas, e o rapazola, tem voz. Quando canta parece o sibilar
por vezes, experimentou as agruras da do vento nas venezianas”. Mas a mãe do
fome. Finalmente, conseguiu um empre- pequeno, uma pobre camponesa, enlaçou
go no qual pregava rótulos em potes de -lhe com os braços e despejou-lhe elogi-
graxa, num armazém fétido e cheio de os fraternos, dizendo que tinha certeza
ratos; dormia, com mais dois outros que ele podia cantar. Ela chegou a andar
companheiros, num quarto de atmosfera descalça para economizar dinheiro com
irrespirável, quase junto à tesoura que o propósito de pagar aulas de canto. O
sustentava o telhado, nas águas-furtadas incentivo desta mãe camponesa e o seu
de um dos cortiços de Londres. Tinha encorajamento mudaram inteiramente a
“Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas” Nito IvoBrado1 Literário
de Agosto 1-8-2022
de 2022 3

vida do filho. E de facto ele viria a tornar dentemente da área de trabalho. Quere-
-se o maior cantor de ópera da sua época. mos também despertar o interesse para a
Falamos de Enrico Caruso (1873 — leitura integral do livro.
1921). Carnegie conta que na manhã de um
A crítica mordaz fez com que o sensí- sábado, 15 de abril de 1865, agonizava
vel Thomas Hardy, um dos mais finos Abraham Lincoln num quarto de modes-
romancistas que já apareceram na litera- ta casa de cômodos que ficava em frente
tura inglesa, abandonasse para sempre os ao Teatro Ford, onde John Wilkes Booth
trabalhos de ficção. A crítica levou Tho- o alvejara. O enorme corpo de Lincoln
mas Chatterton, o poeta britânico, ao sui- estava estendido diagonalmente numa
cídio. A crítica e a rejeição dos trabalhos desconjuntada cama, muito pequena para
artísticos de Hitler fizeram-no um ho- ele. Uma reprodução barata do famoso
mem bastante revoltado, que viria poste- quadro de Rosa Bonheur, The Horse
riormente a devastar a europa numa Fair, estava à cabeceira da cama e a páli-
guerra horrível. da chama amarela do bico de gás ilumi-
Mais do que qualquer explicação a nava veladamente o ambiente. Quando
respeito do poder destrutivo ou construti- Lincoln agonizava, disse o Stanton, mi-
vo da crítica, apresentamos “Como Fazer nistro da Guerra: “Aqui está o mais per-
Amigos e Influenciar Pessoas”, a primei- feito governante que o mundo já viu”.
ra obra clássica de autoajuda, escrita em Qual o segredo de Lincoln no seu êxi-
1936 por Dale Carnegie (1888 — 1955), to no trato com os homens? Gostava ele
tendo vendido mais de 50 milhões de da crítica? Oh, sim! Quando ainda jo-
cópias em todo mundo, com tantas ou- vem, não somente criticou, mas escreveu
tras milhares de partilhas pela internet, e cartas e poemas ridicularizando e lança-
é dos livros preferidos de muitas pessoas va tais cartas nas estradas, em pontos
bem-sucedidas. Este livro possui concei- onde tinha a certeza de que seriam en-
tos fundamentais das relações humanas, contradas. Uma delas haveria de provo-
sendo essencial para conquistar novas car-lhe ressentimentos que duraram toda
amizades, aprofundar relacionamentos, a vida. Sucedeu no outono de 1842, quan-
influenciar pessoas e exercer melhor o do ridicularizou um belicoso político cha-
papel de liderança, mas no presente arti- mado James Shields. Lincoln o satirizou
go ater-nos-emos no capítulo que trata numa carta anônima publicada no Spring-
da crítica. field Journal. A cidade riu às gargalhadas.
O nosso objectivo com este artigo, tal Shields, sensível e orgulhoso, foi presa
como todos os nossos, é dar mostrar al- fácil da indignação. Descobriu o autor da
guma luz no desenvolvimento pessoal carta, montou no seu cavalo, procurou
dos nossos leitores. Os exemplos a se- Lincoln e o desafiou para um duelo. Lin-
guir parecem passar um tanto distante da coln não queria lutar. Era contra os duelos,
literatura, mas entendemos que a nature- mas não pôde recusar, pois tratava-se da
sua honra. Coube a Lincoln escolher a ar-
za da crítica é sempre a mesma, indepen-
“Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas” Nito Ivo 1 de Agosto de 2022 4

ma. Confiando na extensão dos seus bra- com um rio transbordante, impossível de
ços, escolheu as compridas espadas de ca- ser transposto, e o exército vitorioso da
valaria; tomou lições no manejo da -mesma União à retaguarda. Lee caíra numa ar-
com um graduado de West Point. No dia madilha. Não podia escapar. Lincoln viu
designado, ele e Shields encontraram-se isso. Era uma oportunidade única para
num trecho de areia do rio Mississipi, dis- capturar o exército de Lee e pôr, imedia-
postos a lutar até à morte; no último minu- tamente, um ponto final na guerra. As-
to, porém, os padrinhos resolveram sus- sim, empolgado pela realização da gran-
pender o duelo. de esperança, Lincoln ordenou a Meade
Este foi o mais triste incidente pessoal que atacasse Lee sem demora, sem mes-
da vida de Lincoln. Foi, porém, para ele, mo ouvir um conselho de guerra para
uma valiosa lição na arte de tratar as pes- tomar tal decisão. Lincoln mandou suas
soas. Nunca mais escreveu uma carta ordens pelo telégrafo e um mensageiro
insultuosa. Nunca mais ridicularizou nin- especial foi enviado a Meade, pedindo
guém. E, desde então, jamais criticou uma ação imediata.
qualquer pessoa por coisa alguma. E que fez o general Meade? Justa-
De tempos em tempos, durante a mente o oposto. Convocou um conselho
Guerra Civil, Lincoln colocou sucessiva- de guerra, em flagrante violação às or-
mente, à testa do exército do Potomac dens de Lincoln. Hesitou. Retardou. Te-
vários generais, e todos eles — McClel- legrafou toda espécie de desculpas. Fi-
lan, Pope, Burnside, Hooker, Meade — nalmente, as águas baixaram e Lee esca-
erraram tragicamente, levando Lincoln a pou pelo Potomac, com as suas forças.
andar de um lado para outro em desespe- Lincoln ficou furioso. Tomado do
ro. Metade dos norte americanos conde- maior desapontamento, escreveu a Mea-
navam rancorosamente os generais, mas de. Convém notar que, neste período da
Lincoln, com malignidade para nenhum sua vida, Lincoln já era extremamente
e com caridade para todos, manteve-se prudente e muito comedido na lingua-
em paz. Uma das máximas que sempre gem. Desse modo, a carta que se segue,
repetia era: “Não julgueis, se não quiser- escrita por Lincoln, em 1863, era uma
des ser julgados”. evidência de sua mais severa censura.
E, quando a esposa e outros falavam
asperamente dos sulistas, Lincoln repli- Meu caro general!
cava: “Não os critiquem; são eles exata- Não posso acreditar que o senhor ha-
mente o que nós seríamos sob idênticas ja compreendido a extensão do infortú-
condições”. nio no tocante a fuga de Lee. Ele esteve
Contudo, se algum homem teve opor- nas suas mãos, e se tivesse apertado o
tunidade para criticar, certamente este cerco, com os seus últimos sucessos, o
homem foi Lincoln. Tomemos apenas de agora representaria o fim da guerra.
um exemplo: Mas, depois do que sucedeu, a guerra
A batalha de Gettysburg foi travada prolongar-se-á indefinidamente. Se o
durante os três primeiros dias de julho de senhor não pôde atacar Lee, segunda-
1863. Durante a noite de 4 de julho, Lee feira passada, com a certeza de vitória,
começou a retirar-se para o sul, enquanto como poderá fazê-lo no sul do rio, quan-
tempestades de chuva inundavam todo o do poderá contar com muito menor for-
país. Quando Lee, com o seu exército ça, apenas dois terços da tropa que esta-
vencido, chegou ao Potomac, deparou va nas suas mãos? Nada justifica tal es-
“Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas” Nito Ivo 1 de Agosto de 2022 5

perança e eu não acredito que o senhor “você conhece alguém a quem deseja
possa agir com eficiência. Sua oportuni- modificar, aconselhar e melhorar?” e
dade áurea já passou, e eu me confesso responde “excelente! Isso é muito bom.
verdadeiramente sentido com isso”. Estou inteiramente a favor. Mas por quê
Que supõe o leitor haver feito Meade não começar por si mesmo? De um pon-
ao ler tal carta? Meade nunca viu esta to de vista eminentemente egoísta é mui-
missiva. Lincoln nunca a enviou. Foi to mais proveitoso do que experimentar
encontrada entre os papéis de Lincoln, melhorar os outros, e um pouco menos
depois da sua morte. perigoso”
Dale Carnigie, que foi um grande es- E quando se critica, algumas vezes
tudioso da vida de Lincoln, opina que acaba-se por se ouvir coisas de que não
depois de escrever a carta, Lincoln olhou se gosta, tal como a máxima do casal em
para fora das janelas e disse para si mes- lua-de-mel. Disse ele à jovem esposa:
mo: “espere um minuto. Talvez eu não — Querida! Tu serias perfeita não
deva ser tão temerário. É muito fácil pa- fossem alguns defeitinhos que os posso
ra mim, comandante, sentado aqui na ajudar a sanar.
Casa Branca, dar ordens a Meade para Ela ferida no orgulho, mas esconden-
atacar; mas se eu estivesse lá em Gettys- do por detrás de um sorriso fingido, dis-
burg, e tivesse visto tanto sangue como se-lhe:
Meade viu durante a última semana, e os — Que fofo amor! Mas saiba que fo-
meus ouvidos estivessem ainda cheios de ram justamente esses defeitinhos que não
gritos e gemidos dos feridos e dos mori- me permitiram arranjar um homem me-
bundos, talvez eu não sentisse tanta ân- lhor do que tu! Se me mudares pode ser
sia para atacar. Se eu tivesse o tempera- que apareçam.
mento tímido de Meade, talvez fizesse Carnegie aconselha que, “se você e
justamente o que ele fez. De qualquer eu quisermos evitar amanhã um ressenti-
modo, a água já está em baixo da ponte. mento que poderá prolongar-se por dé-
Se eu mando esta carta, ela aliviará cadas e durar até a morte, sejamos in-
meus sentimentos, mas fará também com dulgentes e não critiquemos, pois assun-
que Meade procure justificar-se. Fará to nenhum justifica a crítica”.
Meade condenar-me. A carta provocará “Não falarei mal de nenhum ho-
ressentimentos incompatíveis com a sua mem”, disse Benjamin Franklin, “... e
qualidade de comandante e poderá forçá falarei tudo de bom que souber de cada
-lo a renunciar ao seu posto no exérci- pessoa.” e, no mesmo livro, é citado que
to”. “um grande homem demonstra sua
Lincoln atirou a carta para o lado, grandeza pelo modo como trata os pe-
porque aprendera, numa dura experiên- quenos” e logo narra que Bob Hoover,
cia, que as críticas violentas e as repre- famoso piloto de teste, bastante solicita-
ensões redundam sempre em futilidade. do para realizar acrobacias aéreas, de-
A dado passo, o livro questiona: pois de uma dessas demonstrações em

BRADO LITERÁRIO — Jornal Literário Electrónico (PDF)


Director: Leonel Ivo (Nito Ivo)
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Sob Dispensa de Registo WhatsApp: +285 82 540 0000 | bradoliterario@gmail.com
GABINFO/2021 Maquetização: Sautel, Lda.
“O Pai Perdoa” W. Livingston Larned 1 de Agosto de 2022 6

San Diego estava de volta à casa em Los abasteça o meu F-51”.


Angeles. A 300 pés de altura ambos os O que a maioria das pessoas teria fei-
motores da aeronave repentinamente pa- to? Provavelmente teriam criticado, con-
raram. Através de uma hábil manobra, denado, dito toda espécie de impropé-
ele conseguiu aterrar e, embora ninguém rios. E o que teria acontecido? O mecâ-
se tenha ferido, o avião ficou bastante nico provavelmente tentaria se defender
danificado. e se justificar pelo erro. A crítica teria
Após proceder à aterragem de emer- ferido o seu precioso orgulho e vaidade
gência, a primeira providência de Hoo- do individuo, abalado seu senso de im-
ver foi examinar o tanque do avião. Tal portância, destruído sua autoconfiança e
como suspeitara, o aparelho da Segunda gerado ressentimento. tal ressentimento
Guerra Mundial tinha sido abastecido pode acabar com os funcionários, distan-
com combustível errado. Voltando ao ciar os membros da família e destruir
aeroporto, pediu para ver o mecânico amizades.
que tinha abastecido o avião. O rapaz se Dale Carnegie recomenda que no lu-
mostrou profundamente abalado com o gar de criticar e condenar os outros, deve
erro que havia cometido. Quando Hoo- -se procurar compreendê-los. Procurar
ver se aproximou dele, lágrimas escorri- descobrir por que fazem o que fazem.
am-lhe pelas faces. Acabara de causar a Essa atitude é muito mais benéfica e in-
perda de um avião extremamente dispen- trigante do que criticar; e gera simpatia,
dioso e por pouco não causou a perda de tolerância e bondade.
três vidas. Era de se imaginar a fúria de Lembre-se que “qualquer idiota pode
Hoover, as palavras cruéis que esse pilo- criticar, condenar e queixar-se. A maio-
to meticuloso e orgulhoso de si desfe- ria dos idiotas faz isso. Mas é preciso ter
charia contra o rapaz. Mas Hoover não caráter e autocontrole para ser compla-
repreendeu o mecânico; ao contrário, cente e saber elogiar.” — em Como Fa-
abraçou-lhe e disse: “Para lhe provar que zer Amigos e Influenciar Pessoas
tenho certeza de que jamais voltará a fa-
zer o que fez, quero que você amanhã Fim

O Pai Perdoa
W. Livingston Larned

Dale Carnegie sublinha que comumente os pais se vêm tentados a criticar os seus fi-
lhos, mas sugere que antes de o fazerem leiam um dos clássicos do jornalismo norte
americano, “Father Forgets” (O pai perdoa), que passamos a reproduzir.

Escute, filho: enquanto falo isso, tu saltado por uma onda sufocante de re-
estás deitado, a dormir, uma mãozinha morso. E, sentindo-me culpado, vim para
enfiada debaixo do teu rosto. Entrei sozi- ficar ao lado da tua cama. Estava a pen-
nho e sorrateiramente no teu quarto. Há sar em algumas coisas, filho: tenho sido
poucos minutos, enquanto eu estava sen- intransigente consigo. Por exemplo, na
tado a ler o jornal na biblioteca, fui as- hora em que te vestias para ir à escola,
“O Pai Perdoa” W. Livingston Larned 1 de Agosto de 2022 7

ralhei contigo por não limpares apropria- graus da escada. Bom, meu filho, não
damente o rosto com a toalha. Chamei-te passou muito tempo e meus dedos se
a atenção por não teres limpado os sapa- afrouxaram, o jornal escorregou por en-
tos. Gritei furioso contigo por teres dei- tre eles, e um medo terrível e nauseante
xado alguns dos teus pertences no chão. tomou conta de mim. Que estava o hábi-
Durante o matabicho, também impli- to a fazer de mim? O hábito de ficar
quei com algumas coisas. Tu derramaste achando erros, de fazer reprimendas. Era
chá fora da chávena; não mastigaste a dessa maneira que eu te vinha recompen-
comida; puseste os cotovelos sobre a sando por seres uma criança. Não que
mesa; passaste manteiga demais no pão. não te amasse; o facto é que eu esperava
Quando foste brincar e eu estava de saí- demais da juventude. Eu te avaliava pe-
da, tu levantaste a mão para mim e dis- los padrões da minha própria vida.
seste: “tchau, pai!” e, franzindo o cenho, E havia tanto de bom, de belo e de
em resposta te disse: “endireite esses verdadeiro no teu caráter. Teu coraçãozi-
ombros!” nho era tão grande quanto o sol que su-
De tardezinha, tudo recomeçou. Vol- bia por detrás das colinas. E isto eu per-
tei e quando cheguei perto de casa vi-te cebi pelo teu gesto espontâneo de correr
ajoelhado, jogando berlindes. Tuas mei- e de dar-me um beijo de boa noite. Nada
as estavam rasgadas. Humilhei-te diante mais me importa nesta noite, filho. En-
de seus amiguinhos dizendo que “meias trei na penumbra do teu quarto e ajoelhei
são caras. Se tu as comprasses tomaria -me ao lado da tua cama, envergonhado!
mais cuidado!” Imagine isso, filho, dito É uma expiação inútil; sei que, se tu
por um pai! estivesses acordado, não compreenderias
Mais tarde, quando eu lia na bibliote- essas coisas. Mas amanhã eu serei um
ca, lembras-te de como me procurou, pai de verdade! Serei teu amigo, sofrerei
timidamente, uma espécie de mágoa im- quando tu sofreres, rirei quando tu rires.
pressa nos seus olhos? Quando afastei Morderei minha língua quando palavras
meu olhar do jornal, irritado com a inter- impacientes quiserem sair pela minha
rupção, você parou à porta: “O que é que boca. Eu irei dizer e repetir, como se fos-
você quer?”, perguntei implacável. se um ritual: “ele é apenas um menino.
Tu não disseste nada, mas saíste a Um menininho!”
correr num ímpeto na minha direção, Receio que o tenha visto até aqui co-
passaste teus braços em torno do meu mo um homem feito. Mas, olhando-te
pescoço e me beijou; teus braços foram agora, filho, encolhido e amedrontado no
se apertando com uma afeição pura que seu ninho, certifico-me de que és um be-
Deus fazia crescer no teu coração e que bê. Ainda ontem estiveste nos braços da
nenhuma indiferença conseguiria extir- tua mãe, a cabeça deitada no ombro dela.
par. A seguir tu te retiraste, subindo de- Exigi muito de você, exigi muito.

Errei por este velho mundo durante um terço de século até


que ele mesmo começou a ensinar-me que, noventa e nove
vezes em cem, nenhum homem já se criticou por coisa
alguma, não importando quanto possa ele estar errado.
Dale Carnegie
1 de Agosto de 2022 8

Retracto

S. Mugabe: 85 601 0527


“Destino de Massasse” Hahamela wa Bato 1 de Agosto de 2022 9

Destino de Massasse
Por: Hahamela wa Bato
Raci, grande mulher, analfabeta sem todos os dias. Contra as espectativas de
querer. Raci, a sua filha muito cedo engravidou
Foi no tempo em que se vivia sem de um homem muito mais velho e foi ao
prazer, quando a régua não só se encar- lar. Massasse continuo com os estudos.
regava de manter a disciplina, mas tam- Raci não acreditava no relógio, mas
bém se fazia presente em todos momen- sempre se antecipava do alvorecer para
tos da aula. Desde a introdução, motiva- acordar o filho Massasse que dormia nu-
ção e avaliação. A sua mãe a levava para ma cubata de macuti, cuja porta era feita
ensinar a machambar e consequentemen- de caixas. Com uma voz carinhosa e es-
te alguns dias se atrasava ou até mesmo perançosa dizia:
faltava à escola, por isso a régua soava — Massasse, Massasse, wuga2!
nas suas mãos, acompanhadas de per- No primeiro alarme da mãe, Massasse
guntas como: continuava a enroscar-se cada vez mais
— Vais faltar mais? Ainda por cima nas mantas, mantendo-se num silêncio
não fizeste T.P.C? Porquê? Heim! de melancolia, pensando na enorme dis-
Então, muito cedo, Raci abandonou a tância que lhe esperava de casa para es-
escola. Não demorou, teve dois filhos: cola, porque tinha de a percorrer a pé
um rapaz e uma rapariga, os quais esfor- sobre um tapete de capim orvalhado que
çou-se para que não tivessem destino tão lhe molhava as suas calças mal embai-
desinfeliz quando o dela. Sozinha os sus- nhadas e as sandálias já cansadas, e ain-
tentou. Com os dois filhos à volta da fo- da a brisa gelada que lhe penetrava até à
gueira, quando o fumo fosse na direcção medula óssea.
de Massasse dizia com o sorriso tatuado Raci insistia com a voz mais autoritá-
na cara: ria:
— Isso é sinal de que quando cresce- — Nyari keni wuga u hongola
res serás pfhumu1. Quando o fumo te xikwatuno. Una gedwa 3.
persegue é sinal de nobreza. — Dizia Diante da insistência Massasse reunia
Raci, passando suavemente a mão na coragem necessária para enfrentar a sua
cabeça do filho, ou de longe acariciando peregrinação da madrugada, com cader-
amendoim na peneira. nos segurados nas mãos, até à casa dos
Massasse recebia as previsões sobre o seus amigos Gumanhane e Gigulane,
seu futuro com um sorriso arreganhado. localizadas no caminho da escola. En-
Acreditava que um dia esquecer-se-ia quanto juntos caminhavam traçavam os
dos momentos difíceis que vivia, princi- seus sonhos.
palmente dos dias chuvosos que tinha de — No dia que eu começar a trabalhar
se esquivar da água que infiltrava impie- quero comprar sapatos bonitos, comprar
dosamente pelo macuti cansado de ata- roupa, bicicleta, muita comida, tudo o
ques de ratos que comiam produtos agrí- que eu gostar. — Era o sonho de Mas-
colas que a sua mãe conseguia produzir. sasse. Todos o sabiam. Ele também so-
Acreditava que esquecer-se-ia das ma- nhava em ter um carro para levar todas
drugadas friolentas indo à escola e da as crianças desfavorecidas para a escola.
fome que sulcava o seu estômago quase Sonhava também em construir muitas
“Destino de Massasse” Hahamela wa Bato 1 de Agosto de 2022 10

escolas para que os alunos não percor- sam alguns meses que não temos notí-
ressem mais de dez quilómetros só na cias dele. — Justa reclamação de Raci
ida. Abastecer de lanche as escolas para diante de relatos de mortes trazidas de
as crianças não terem de arrancar caju de todo lado.
dono, não tirarem mandioca nas ma- Diante de falta de notícias do Massas-
chambas alheias, vindas da escola, por se, os familiares dirigiram-se às autori-
causa da fome. Ser enxotado… mbafa, dades competentes a fim de ter alguma
mbafaaaaa…. por causa de coisa de do- satisfação, mas ninguém sabia dizer nada
no. sobre o assunto. Chegou uma altura em
Na terra de Raci os homens são obri- que o chefe, quando se apercebesse da
gados a crescer cedo. Depois da décima presença daquela família orientava à se-
classe, devido a falta de escolas secundá- cretária para dizer que ele havia saído
rias na proximidade e de falta de empre- em missão de serviço e estava num sítio
go, Massasse foi entregar-se ao serviço sem rede de telefonia móvel.
militar. Tinha experimentado a venda de Cansados daquele suspense envolto
crédito na rua, de bolinhos de sura que no destino de Massasse, os familiares
mesmo com bênçãos que o pastor dava recorreram a um afamado curandeiro em
pela manhã, de tarde e de noite, não ren- Mambone. Quando lá chegaram o curan-
dia o suficiente. Dava certo só para o deiro disse:
pastor, porque deixava lá o dízimo. — O vosso filho morreu!
Massasse foi aos treinos e ao primeiro Os gritos soltaram-se como os grilos
combate, de onde regressou e também que cantam, prevendo a chegada da chu-
anunciou que: va. As lágrimas surgiram muito rapida-
— Agora eu vou partir para a segunda mente, galgando as abóbadas do rosto e
missão, mas não sei se voltarei, não sei enxutos pelas pontas de capulanas, pelos
porque a situação lá está mal. lenços e pelas mãos pálidas e rugosas de
Passado algum tempo… enxada, catana, pá ou serrote. Ainda as-
— Massasse nunca mais volta, já pas- sim o curandeiro prosseguiu:
— Há khombo4 na vossa família que
deve ser limpo. A guerra foi um meio
para os feiticeiros tirarem a vida do vos-
so filho.
— Pode ajudar-nos a encontrar o cor-
po? — Perguntou em soluços de choro a
recente viúva.
— Ele foi enterrado numa cova gran-
de com os outros. — Dizia o curandeiro.
— Há um espírito que cria barreira. Por
isso quando vocês vão para lá saber, os
chefes fogem. Vê-vos como hienas fedo-
rentas. Mas desta vez não vai acontecer
isso.
Minutos depois, um galo e uma gali-
nha encontravam-se para serem sacrifi-
cados em prol dos homens, um litro de
thonthontho5 e ervas secas estavam no
“O meu pai não sabia ser viúvo” Gaspar Pagarache 1 de Agosto de 2022 11

mesmo sítio. Os familiares entraram na para um povoado a fim de se divertir.


cova, onde ficaram de cócoras. Em se- Infelizmente foi tido como inimigo, e
guida, o curandeiro pegou o galo e mas- consequentemente assassinado. O corpo
tigou umas raízes e soprou ao redor da estava numa vala comum, já foi exuma-
cabeça da ave e no seu ânus, enquanto na do e decorrem análises laboratoriais para
mão direita brilhava uma faca branquís- identificação. Nos próximos dias fare-
sima e afiadíssima, que minutos depois mos entrega do corpo.
rasgou-lhe a boca, horizontalmente sa- De facto, uma semana depois, o corpo
grando e batendo as asas raivosamente. de Massasse chegou à sua casa. A sua
O curandeiro girava-lha em redor dos esposa estava gravida de seis meses.
corpos dos familiares, banhando-os de Chorava sem parar; Raci tinha perdido
sangue aspergido pela ave. Enquanto a seu pfhumu. Massasse tinha morrido.
ave batia as asas e sucumbia nas mãos Não existe. Foi-se.
do curandeiro, cada um falava do espíri- As marcas da guerra e do terrorismo
to mau para que saísse do seu corpo e serão como conto ou fábula, suas desgra-
para que os caminhos se abrissem e que ças transmitir-se-ão de geração em gera-
tudo desse certo. Depois do galo foi sa- ção.
crificada a galinha. Por fim foram lava-
dos com água quente que continha raí- Glossário
1
zes. Rei em giTonga.
2
E de facto, no dia seguinte foram bem Acorda.
3
recebidos pelo chefe, e tiveram toda in- Estou a dizer para acordar. Vais-te atra-
formação. sar à escola.
4
Azar, má sorte.
— Massasse foi morto. Era um fim- 5
Aguardante artesanal.
de-semana, ele deixou o seu grupo e foi

O meu pai não sabia ser viúvo


Por: Gaspar Pagarache

... A minha mulher não que trouxesse mulheres à casa, usava um


Morreu, apenas encarnou ditado, um ditado só dele: esta é a tua
no corpo de outras mulhe- mãe, apenas com a aparência diferente.
res [...] — Dizia meu pai, Pedroca E sorria, alegremente. E eu ficava ali, na
Dámela varanda, pensamentando-me com as sau-
dades. Um dia o meu pai chorou. Chorou
Foi assim que ele se tornou num tanto que a mulher com a qual estava
vacabundeador solitário. Sem ajuda ne- correu, fugiu, assustada. Vou contar-vos
nhuma. Nenhumas, no plural. A minha o sucedido...
mãe dizia: quando eu morrer, meu mari- Certa vez, Pedroca Dámela penetrou
do, ama as outras assim como me amas. escondidamente no seu quarto com uma
Mas, pobre homem, não entendia as pa- tal de Lembramina. Ela foi a única que
rábolas da sua própria esposa. fez meu velho se recordar da minha mãe.
Meu velho, Pedroca Dámela, sempre Nessa noite, após a penetração sigilosa
“O meu pai não sabia ser viúvo” Gaspar Pagarache 1 de Agosto de 2022 12

do meu velho, eu saí para o exterior da com o seu jeito. O meu é um pecado.
casa, sem incômodos nem perturbação. — Se é um pecado, por que o faz?
Fiquei ali, perante a lua e as estrelas. — Porque tudo o que é pecado é
Olhava as estrelas como se olhasse o bri- bom.
lho dos olhos da minha mãe. Olhava a Fiquei pensativo, sem o que respon-
lua cheia como se eu visse o redondear der. Foi quando ele se deu conta de que
do seu corpo. A escuridão lembrava-me, estava descamisado.
sem colocação nem supressão, a sua pele — Xiii, estou descamisadamente
escura e macia. Enquanto eu embarcava num. Vamos para dentro que eu preciso
nessas saudades inevitáveis, assustei-me. colocar uma camisa.
Vi Lembramina, toda ela despida, cor- — Antes, meu pai, responde-me uma
rendo para fora do quintal. Atrás dela coisa?
estava o meu velho, com o peito fora a — E é qual essa coisa?
gritarolar. Fiz, novamente, uma pausa. Calcu-
— Lembramina, regressa, por favor! lava a intensidade e o impacto que aque-
Não vai mais acontecer. – E franziu a la pergunta causaria. Mas, achei cora-
testa, tristonho. gem.
Eu, no meu canto, sorria, sigiloso e — Pai, por que anda a trazer essas
disfarçado. mulheres aqui a casa, a toda hora?
— Meu filho, o que fazes aqui fora? – — Ó, Pedrozinho. Sabes, o homem
Apontou a palavra para mim. nunca sabe ser viúvo. As mulheres é que
— Estou apenas a adormecer os pen- sabem viver na viuvez. Outras aulas da
samentos. vida, meu filho, vais entender quando
— Que pensamentos? fores grande. — Encerrou caminhando
Primeiro fiz uma pausa, sem lingua- para dentro.
gem nem língua, em seguida respondi. E era assim que ele me ensinava con-
— Das saudades da mamã. selhos. Tempos depois, quando as aven-
— Áh! Bom... Eu...– Quis ele conti- turas do velho cessaram, aproximou-se
nuar, mas o interrompi. de mim e revelou: sabes, meu filho, a
— E você, pai, adormecendo os pen- diferença entre o vivo e o morto, é que o
samentos? vivo ensina-nos a viver e o morto ensina-
— Sim, mas é claro que sim. nos que viver é uma tentativa saudável
— E de que maneiras procura ador- de adiar a morte inevitável. E, confiden-
mecer os pensamentos? ciando apenas às minhas orelhas, acres-
Nem respondeu, apenas simulou um centava: a tua mãe ensina-me as duas
sorriso e disse: coisas...
— Cada um é cada um. Cada um

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Galeria: Isack Aly Amade 1 de Agosto de 2022 13

Artista: Isack Aly Amade Galeria


Obra artesanal feita à base de material reciclável (jornal e papelão)
“Tu aí e eu aqui” Bruxinha MMS 1 de Agosto de 2022 14

Tu aí e eu aqui
Por: Bruxinha MMS
Por onde as correntezas desse mar te levaram a
atracar
Onde mal sei e mal dizes
O teu sorriso continua a brilhar?
E os seu sonhos?
Ao alto ainda conseguem-te levar?

Eu cá, onde o meu lago estagnou


Continuo essa menina que tem mil e um amigos
imaginários
Que sonha acordada
Caminha falando só, feito louca que sou

O que foi feito de nós?


Dois amantes profundamente apaixonados
Brado Poético

Ávidos por prazer, amor e um extremo e louco


bem-querer
Hoje nada mais, nada menos que completos estra-
nhos

Trilhou seu caminho, se tornou homem, só não sei


se o que desejavas
Aos 30 continuo sonhadora e sorridente
Se é isso que quis!
Sei lá!
Poder sorrir, mesmo quando devia chorar
Me acalenta e me enche de esperança
Então do lá para cá quero o que a vida me transfor-
mar

Entre o que se tornou indo, e se manteve ficando


Desejo nada mais que conhecimento e inteligência
Para aprender desse ritmo multiétnico contemporâ-
neo da vida
Os truques para aceitar, explorar e transformar o
que ela me trouxer
Dançando, ainda que por vezes chorando
Junto a ela criando e moldando com amor e paci-
ência

Disso tudo me pergunto


Você se pergunta o que me pergunto?
“Clamor de esperança” Yunnick chan-xe 1 de Agosto de 2022 15

Ou sorri como eu?


Pelos mesmos motivos que eu?
Aqueles que um dia, lá atrás, julgamos que hoje
seria tal motivo
Por vezes por se encontrar em mim pensando e
lembrando
Sei lá! Acho que é uma sazonal efémera saudade
Ou perpétua saudade

Jeito de amar
Por: Pedro Ferro
O amor não exige sacrifício
Não é arte nem oficio
O amor é por si mais nada
Faz brilhar jardim de flores murchadas

É uma conexão da alma pura, mas estranha


Brado Poético

Uma crença que silencia a boca


Faz o corpo de um meio de comunicação
Codificado só aos que amam

O amor é um bom da loucura


Uma doença da alma pura
Cuja, cura é um simples amar

Clamor de esperança
Por: Yunnick chan-xe
As crianças de africa chorão
Lágrimas de rios
Sonhos destruídos
Esperanças perdidas
Medos semeados

Levadas a viver encarceradas


Tolhidas dos direitos de ir e vir
Tratadas pior que nada
Destinadas à escravidão eterna

Escravas de sexo
Órgãos extraídos
Sonhos destruídos
“Sonhar” Paulino Tholle 1 de Agosto de 2022 16

As crianças de africa chorão


Rios de lágrimas
Sonhos destruídos
Esperanças perdidas
Medos semeados
Futuro incerto

Logo cedo inocentes


Vendidas como caprinos
Tratadas como objectos
Com vários fins
nenhum agradável
E na imensidão do clamor
Ainda mora uma esperança
De um resgate eterno

Sonhadoras
De um mundo sem violência
Dias felizes
Brado Poético

Noites de luar
E uma paz celestial
As crianças de África um dia vão sorrir

Sonhar
Por: Paulino Tholle
Enquanto tu dormes profundamente
Eu noctívago pelas ruas do sono
E com olhos arregalados
Vigio o rumo dos destinos e sonho

E quando acordares do teu sono


Estarei a vislumbrar de lá do trono
Uma transmutação d'quele sonho
Em uma realidade que só eu disponho

Enquanto acomoda-te e arrasas


No eco do teu presente
Envergam-se em mim asas
E voo para contemplar o horizonte

E quando te fartares do teu cómodo


Desapega-te do sono da aurora
Sacuda a ilusão da zona de conforto
Ergue-te e corra atrás do verdadeiro sonho
“O amor que nunca aconteceu” Salvador dos Santos 1 de Agosto de 2022 17

O amor que nunca aconteceu


Por: Salvador dos Santos
Eu acreditava que seria feliz contigo
Tudo que eu queria era ter-te na minha vida
Mas por causa da sua partida
Tu fizeste cair sobre mim um enorme castigo

Sofro até hoje por saber que foste embora


Eu dizia que te amava, mas tu não acreditaste
Ate hoje, de tanta dor o meu coração chora
Porque muitas vezes te pedi para ficar, mas tu não
aceitaste

Tu me condenaste a viver na solidão


Vivo tão triste só por saber que esse amor se per-
Brado Poético

deu
É tanta tristeza que vive no meu coração
Por causa desse amor que nunca aconteceu

Ate hoje eu não consigo entender


Porquê tu preferiste ir embora ao invés de acreditar
em mim?
Porquê tu preferiste me deixar assim?
Sem motivos para viver

Eu tinha muita esperança de ser feliz


Porque desde muito era o que eu sempre quis
Mas toda esperança desapareceu
Por causa desse amor que nunca aconteceu

Agora não sei o que fazer para te encontrar


Porque até hoje não deixei de te amar
Por favor, vamos recomeçar o tempo que se perdeu
Vamos fazer acontecer, o amor que nunca aconte-
ceu

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Divulgação e Eventos 1 de Agosto de 2022 18

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1 de Agosto de 2022 19

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