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Cronicas
Furtei uma flor daquele jardim. O porteiro do edifício cochilava e eu furtei a flor.
Trouxe-a para casa e coloquei-a no copo com água. Logo senti que ela não estava
feliz. O copo destina-se a beber, e flor não é para ser bebida.
Passei-a para o vaso, e notei que ela me agradecia, revelando melhor sua delicada
composição. Quantas novidades há numa flor, se a contemplarmos bem. Sendo
autor do furto, eu assumira a obrigação de conservá-la. Renovei a água do vaso,
mas a flor empalidecia. Temi por sua vida. Não adiantava restituí-la ao jardim. Nem
apelar para o médico das flores. Eu a furtara, eu a via morrer.
Já murcha, e com a cor particular da morte, peguei-a docemente e fui depositá-la no
jardim onde desabrochara. O porteiro estava atento e repreendeu-me:
– Que ideia a sua, vir jogar lixo de sua casa neste jardim!
Rubem Braga (1913 — 1990), apontado como um dos maiores cronistas brasileiros,
publicou dezenas de livros do gênero, ajudando a defini-lo no nosso país.
O texto que selecionamos foi escrito em 1958 e integra a obra 200 Crônicas
Escolhidas (1978), uma coletânea que reúne os seus melhores escritos produzidos
entre os anos de 1935 e 1977. Aqui, partimos de uma descoberta curiosa acerca do
pavão, animal conhecido pela sua beleza.
deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.
Publicado na obra Para Não Esquecer (1978), este é um dos textos breves e
repletos de lirismo que marcaram a carreira literária de Clarice Lispector (1920 —
1977), além dos seus inesquecíveis romances.
Em "Por não estarem distraídos" podemos encontrar dois personagens sem nome;
pela simples descrição dos eventos, conseguimos perceber que se trata de um casal
apaixonado. No começo, é evidente o entusiasmo enquanto passeiam pela cidade,
totalmente submersos na conversa e na presença um do outro.