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Epopeia
Fábula
Apólogo
Crônica
Conto
Novela
Romance
Poema narrativo
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“Como uma grande música que se pode reescutar
infinitamente, também os grandes romances são feitos
para repetidas leituras.”
KUNDERA, Milan. Os Testamentos traídos:
ensaios. Tradução Teresa Bulhões Carvalho da
Fonseca, Maria Luiza Newlands Silveira. São
Paulo: Companhia das Letras, 2017.
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“A virtude paradoxal da leitura é a de nos
abstrair do mundo para achar-lhe um
sentido.”
PENNAC, Daniel. Como um romance.
Tradução Leny Werneck. Rio de Janeiro:
Rocco, 1993.
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DIREITOS DO LEITOR
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“Pois, sem andar mascarada, como é o caso de
milhares de outras ficções que nos cercam, nos
invadem e nos definem, a literatura diz o que deve ser
dito: “Sou uma ficção”, ela anuncia, amem-me pelo
que sou. Usem-me para experimentar sua liberdade,
para repelir os seus limites, para descobrir e animar
sua própria criatividade. Sigam os meandros dos meus
personagens e façam deles os seus, deixem que eles
expandam o seu universo. Sonhem-me, sonhem
comigo, nunca se esqueçam de sonhar.” HUSTON,
Nancy. A Espécie fabuladora. Tradução Ilana
Heineberg. Porto Alegre: L&PM9 Editores, 2012.
“A vida e o romancista”
“O romancista – tal é seu mérito e seu risco – está tremendamente
exposto à vida. Outros artistas se recolhem, pelo menos em parte;
fecham-se sozinhos por semanas a fio com uma travessa de maçãs e
uma caixa de tintas, ou com um rolo de pautas musicais e um piano.
Quando saem, é para esquecer e se distrair. Mas o romancista nunca
esquece e raramente se distrai. Enche o copo e acende o cigarro,
provavelmente goza de todos os prazeres da conversa e da mesa, mas
sempre com a sensação de que está sendo estimulado e manipulado
pelo tema de sua arte. Sabores, sons, movimentos, algumas palavras
aqui, um gesto ali, um homem entrando, uma mulher saindo, mesmo o
automóvel que passa na rua ou o mendigo que se arrasta pela calçada,
e todos os vermelhos, azuis, luzes e sombras da cena pedem sua
atenção e despertam sua curiosidade.”
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“É-lhe impossível deixar de receber impressões, assim como é
impossível a um peixe no oceano deixar de ter a água
passando pelas guelras. Mas, se essa sensibilidade é uma das
condições da vida do romancista, é evidente que todos os
escritores de livros duradouros sabiam controlá-la e usá-la
para seus fins. Terminavam o vinho, pagavam a conta e iam
embora sozinhos, para algum quarto solitário onde, com
esforço e hesitação, em agonia (como Flaubert), com luta e
precipitação, em tumulto (como Dostoiévski), dominavam,
fortaleciam e convertiam suas percepções no tecido artístico
que elaboravam.”
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E, assim, começou o
romance:
Na Idade Média:
a) Língua vulgar
b) Composições em língua
vulgar
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Os germes do romance como
fabulação:
c) Composições literárias de
cunho narrativo,
primitivamente em verso, com
fabulação intrincada e
envolvente
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1)Experiências romanescas da Idade Média tardia
I)Romance sentimental - fabulação acerca
do sentimento amoroso, reflexão sobre a
condição amorosa, número limitado de sequências
narrativas, final trágico, matriz da vertente psicológica
do romance.
Exs.: 1) Elegia de Madona Fiametta, 1343-1344
(Giovanni Boccaccio, 1313-1375)
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2) História de dois amores (1488) - Enéas Sílvio Picolomini, futuro
Papa Pio II (1405-1464)
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2) Romance de cavalaria – enredo abordando
questões amorosas e aventuras, número expressivo de
sequências narrativas, final satisfatório para os heróis.
Exs.: Lancelot, ou o cavaleiro da carreta (romance cortês
em verso, (c. 1176-1181). escrito a pedido de Marie de
France, Condessa de Champagne.
Perceval, ou a história do Santo Graal (c. 1181-1191) -
Chrétien de Troyes (1130-1191), a partir de escrituras de
Filipe da Alsácia, conde de Flandres.
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“O conde ama justiça reta e lealdade e santa Igreja. Detesta toda vilania. É mais dadivoso do
que pensam. Dá segundo o Evangelho, sem hipocrisia nem artifício, dizendo: “Não saiba tua mão
esquerda o bem que fará a mão direita! Saiba-o apenas quem receber, e Deus, que vê todos os
segredos e conhece tão bem todos os mistérios que estão no coração e nas entranhas.”
Por que o Evangelho diz: “Que tua mão esquerda não saiba o que faz tua mão direita”? Porque
a mão esquerda significa glória falsa que vem de hipocrisia enganadora. Já a direita representa
caridade que não se vangloria de suas boas obras; ao contrário, dissimula-os tão que ninguém fica
sabendo, exceto aquele que tem por nome Deus e caridade. Deus é caridade. Deus é caridade; e
quem vive em caridade, segundo escreve São Paulo (em quem vi e li isso), em Deus e Deus nele.
Portanto, sabei em verdade que as dádivas do conde Filipe são de caridade. Porém jamais fala
disso a alguém, exceto o seu coração generoso que o incita a fazer o bem. Não vale então mais que
Alexandre, que nunca se ocupou de caridade nem de qualquer outro bem? Naturalmente não podeis
ter dúvida. E Chrétien não se empenhará em vão, ele que, por ordem do conde, ocupa-se em rimar a
melhor história jamais escrita em corte real. É o CONTO DO GRAAL, cujo livro o conde lhe
patrocinou. Vede agora como se desincumbe da tarefa.”
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“Quem pouco semeia colhe pouco. Quem quiser bela
messe lance o grão em terra tão boa que Deus lhe devolva
duzentas vezes, pois em terra que nada vale a boa semente
seca e definha.
Chrétien faz aqui semeadura de um romance a que dá
começo; e o semeia em tão bom lugar que sem proveito não
pode ficar. Pois trabalha para o mais nobre que já existiu no
império de Roma: o conde Filipe de Flandres, que vale mais
do que Alexandre, de quem cantam louvores por toda parte.
Mas Alexandre nem sequer se compara ao conde, que está
livre de todas as fraquezas e de todos os vícios que existiam
reunidos naquele rei.
Tal é o conde, qual nunca dá ouvidos a vil zombaria
ou tolice, sentindo pesar quando ouve falarem mal de
outrem, não importa quem seja.
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“Foi no tempo em que as árvores florescem, as folhas,
matas e prados enverdecem, os pássaros cantam
docemente seu latim pela manhã e todos os entes
inflamam-se de júbilo. Então, na Gasta Floresta
solitária, o filho da viúva levantou-se. Vivamente selou
seu cavalo de caça, pegou três dardos e saiu do solar
materno. Dizia consigo mesmo que iria ver os
gradadores que estavam semeando a aveia com doze
bois e seis grades.”
TROYES, Chrétien de. Perceval ou o romance do
Graal. Tradução de Rosemary Costhek Abílio. São
Paulo: Martins Fontes, 1992. p. 25-26.
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II) Renascimento
Ex: Diana (1558 -1559) -
Jorge de Montemor
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Exs.: Astrée (1607-1616) - romance pastoril, em cinco partes, Honoré d’Urfé
(1568-1625)
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c.2 romance picaresco - descrição realista da sociedade e dos
costumes da época
Protagonista – pícaro, representação do anti-herói, indivíduo
rebelde, ao padrão de comportamento vigente em seu tempo.
Romance autobiográfico, efeito de palco giratório (MUIR, 1975, p.
), com o protagonista analisando a cena social.
Exs.: Vida de Lazarillo de Tormes (1554, anônimo)
Vida de Guzmán de Alfarache (1599, 1604) Mateo Alemán)
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c.3. A Princesa de Clèves (1678) (Madame de Lafayette)
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“Pois bem – disse ela, caindo de joelhos – vou fazer uma confissão
que nunca se fez a um marido. Mas a inocência de meu
comportamento e de minhas intenções me dá força. É verdade que
tenho motivos para me afastar da corte e desejo evitar os perigos que
às vezes rondam as pessoas da minha idade. Jamais dei provas de
fraqueza. Nem as aparentaria se ganhasse a liberdade de me afastar da
corte ou se ainda tivesse minha mãe para me valer. Por mais arriscada
que seja esta minha resolução, tomo-a com alegria para me conservar
digna de meu marido. Peço-lhe mil perdões se tenho sentimentos que
o desagradam. Ao menos nunca o desagradarei pelos meus atos. Penso
que para fazer o que faço é preciso muita amizade e estima por um
marido como jamais se teve. Tenha piedade de mim, ame-me ainda, se
puder.” LAFAYETTE, Madame de. A Princesa de Clèves. Tradução
de Léo Schlafman. Rio de Janeiro: Record, 2004. p. 122.
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d.1. Inglaterra
a) Daniel Defoe
Vida e extraordinárias e portentosas aventuras
de Robinson Crusoé de Yorque (1719)
Moll Flanders (1722)
b) Samuel Richardson
Pamela, ou a virtude recompensada (1740)
Clarissa Harlowe (1748)
c) Tobias Smolett
As Aventuras de Roderick Randon (1748)
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d.2. França
Abade Prévost
Manon Lescaux (1733)
b) Marivaux
Vida de Mariana (1741)
c) Jean-Jacques Rousseau
Júlia ou a Nova Heloísa (1774)
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d) Choderlos de Laclos
As Ligações perigosas (1782)
e) Bernardin de Saint-Pierre
Paulo e Virgínia (1788)
d. 3. Alemanha
Goethe
Werther (1774)
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f) Segunda metade do séc. XIX
Romance realista/naturalista
“O romance não examina a realidade, mas sim a existência. A existência não é o que aconteceu, a existência é
o campo das possibilidades humanas, tudo aquilo que o homem pode tornar-se, tudo aquilo de que é capaz.
(Kundera, 1988, p. 42)
O romancista não é nem historiador nem profeta: ele é explorador da existência. (Kundera, 1988, p. 43)
KUNDERA, Milan. A Arte do Romance. Tradução de Teresa Bulhões C. da Fonseca e Vera Mourão. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1988.
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▪ BARTHES, Roland et al. Análise Estrutural da Narrativa. Tradução Maria
Zélia Barbosa Pinto. Petrópolis: Vozes, 1971.
▪ BERNARDO, Gustavo. O livro da metaficção. Ilustrações Carolina
Kaastrup. Rio de Janeiro: Tinta Negra Bazar Editorial, 2010.
▪ BORGES FILHO, Osires; BARBOSA, Sidney (Org.). Poéticas do espaço
literário. São Carlos, SP: Editora Claraluz, 2009.
▪ BRADBURY, Malcolm & McFARLANE, James. Modernismo: guia geral.
Tradução Denise Bottmann. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
▪ BRADBURY, Malcolm. O Mundo moderno: dez grandes escritores.
Tradução Paulo Henriques Britto. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
▪ BRANDAO. Luís Alberto. Teorias do espaço literário. São Paulo:
Perspectiva; Belo Horizonte, FAPEMIG, 2013.
▪ DOURADO, Autran. Poética de romance, matéria de carpintaria. São Paulo:
DIFEL, 1976.
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FORSTER, E. M. Aspectos do romance. Tradução Maria Helena Martins. Porto
Alegre: Globo, 1974.