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R747r
ISBN 978.85.209.4021-1
CDD: 869.98
CDU: 821.134.3(81)-8
SUMÁRIO
O romance morreu?
A pornografia começou com a Vênus de Willendorf?
Primeiras lembranças de Nova York
La rubia cabeza de Fonseca
Exitus letalis
Ambiguidades, simbolismos, metáforas, obscuridades, enigmas,
alegorias
Pipoca
Cinema e literatura
Jack, o Estripador
Viagens
Reminiscências de Berlim
O maior órgão do corpo
O mar, a praia e o sol
Macacos escritores
Rosalía de Castro
Masturbação
Desventuras de um dendrólatra
Copa do Mundo: alegria e sofrimento
Michael Jackson
O som e a fúria
Viveca
Loja de botox a varejo
Dinheiro, magreza & livros
O macho está com os dias contados?
Spam
Visitando Israel
O quinto suspeito
José — uma história em cinco capítulos
As crônicas do José (Sérgio Augusto)
Fonseca exibe lado íntimo em coletânea (Marcelo Pen)
O autor
Notas
O ROMANCE MORREU?
Muito antes de publicar o meu primeiro livro eu já ouvia
dizer que o romance, a literatura de ficção estavam mortos.
Parece que a primeira morte teria sido anunciada ainda em
1880, não obstante, como todos sabem, Emily Dickinson,
Tchekhov, Proust, Joyce, Kafka, Maupassant, Henry James, o
nosso Machado, Eça, Mallarmé, as Brontë, Fernando Pessoa
(um pouco mais tarde) estivessem ativos naquela época.
iré a Santiago,
Iré a Santiago.
Iré a Santiago.
iré a Santiago.
iré a Santiago.
Iré a Santiago
irei a Santiago
irei a Santiago.
irei a Santiago.
Irei a Santiago
Irei a Santiago.
irei a Santiago.
Irei a Santiago.
Irei a Santiago.
Irei a Santiago.
Irei a Santiago.
Irei a Santiago.
irei a Santiago.
irei a Santiago.
O mar afogado na areia,
irei a Santiago.
Irei a Santiago.
Irei a Santiago.
EXITUS LETALIS
Em matéria de leitura eu sou onívoro, ou polífago, se
preferem. Leio tudo que aparece na minha frente. Mas as duas
leituras que prefiro são poesia e bula de remédio. Guardo, ou
guardava, todas as bulas dos remédios que consumia (mas não
sou hipocondríaco), e fiquei muito desgostoso quando a caixa
cheia delas sumiu. Até hoje não sei se alguém a furtou (havia
bulas não apenas em português, mas em inglês, francês, espanhol
e alemão; muitas vezes eu comprava um remédio só para ter uma
bula, mesmo se fosse em uma língua com a qual eu estivesse
pouco familiarizado), se foi uma vingança soez de algum inimigo
ou excesso de zelo da faxineira ao limpar o chamado Quarto dos
Macacos, um cômodo que tenho na minha casa. O que aconteceu,
o sumiço da caixa de bulas, é um mistério. Ela não possuía
nenhum valor de mercado, e eu não tenho inimigos, ainda mais
terríveis a ponto de fazer um agravo dessa natureza, roubar um
bem que me era tão precioso. E as faxineiras estão proibidas de
entrar no Quarto dos Macacos, a não ser acompanhadas por mim.
A minha empregada fixa é maníaca por limpeza e sempre diz
palavras desanimadoras sobre a bagunça do Quarto dos Macacos.
Não obstante ela seja obrigada a ler uma hora por dia — qualquer
um das centenas de livros que tenho na minha estante — sob
pena de eu torcer o braço dela, nunca a obriguei a ler bula de
remédio. Ela não pode ser a responsável. Mas o certo é que
aquele acervo fantástico de mais de mil bulas desapareceu, para
meu profundo desgosto.
Primeiro doente: “Não sei. Acho que tem a ver com essas
pintas escuras da minha cabeça. Deve ser uma daquelas
intervenções a laser. Mas não estou preocupado, o meu médico
e a minha família cuidam bem de mim.”
Então o texto literário pode ser enigmático? Pode, desde que não
seja um criptograma maçante. A poesia pode ter uma
imponderabilidade desconcertante, mas ao mesmo tempo
atraente. O poeta Wallace Stevens, ao examinar os principais
critérios referentes à criação poética, disse que ela deve ser
abstrata, além, é claro, de dar prazer.
Vantagens da literatura
Seria M.J. Druitt, que uns dizem ter sido advogado, outros
que era um médico? Não, muito improvável, segundo a
maioria das pesquisas.
A pele até que pode desempenhar esse papel, sendo tão rica
e multifária. Antes de mais nada, é dotada de uma opulência de
terminais nervosos que a tornam um importante órgão sensorial,
fonte do primeiro dos nossos cinco sentidos — o tato. Ou seja,
joga no mesmo time do olho, do ouvido, da língua e do nariz.
Mas essa é a menor de todas as suas virtudes. A pele nos
protege contra agressões químicas e físicas, age como um filtro,
permitindo uma infinidade de mutações biológicas, sintetizando
vitaminas essenciais ao crescimento e também à calcificação
dos ossos. E finalmente os vasos sanguíneos que a cobrem
mantêm a nossa temperatura constante e permitem o processo
de exalação, através dos poros, de partículas líquidas, isso que
chamam de transpiração. Resumindo, a pele protege,
metaboliza, harmoniza, informa.
Um país me atrai pela sua história, pela sua língua, pelo seu
povo e, também, é claro, pela sua geografia. A história e a
língua galegas eu conheço e admiro intensamente. Antes de
visitar a Galícia, meus amigos que lá haviam estado, alguns
para fazer a peregrinação a Santiago de Compostela,
afirmavam não existir país mais lindo nem povo mais afável
do que os galegos.
Sabemos que quem não tem um livro também não quer ter
dois. Mas quem tem dois acaba querendo ter três, e depois
quer uma estante pequena, e depois uma estante cobrindo toda
uma parede. Começa a frequentar livrarias e sebos. Acaba
igual ao José Mindlin. E isso é um problema? É. Vai faltar
espaço. Até (ou principalmente) para as bibliotecas públicas
esse problema existe e sempre existiu, mesmo no mundo
antigo, em que as coleções de escritos eram pequenos
depósitos de manuscritos de pele de cabra ou rolos de papiro.
Com a invenção de Gutemberg e as que se seguiram, a
produção de livros cresceu vertiginosamente em todo o
mundo. As bibliotecas públicas estão sufocadas de livros, pois
partem do critério de que devem ter tudo que é publicado.
José
LONGING
Just to change into a tree, grow for ages, not hurt anyone.
“Belo Horrível”
Sérgio Augusto
EQUIPE EDITORIAL
Daniele Cajueiro
Janaína Senna
Guilherme Bernardo
Adriana Torres
Leandro Liporage
Pedro Staite
Allex Machado
Maicon de Paula
Vinícius Louzada
DIAGRAMAÇÃO
Filigrana
CAPA
Retina 78
Notas