Você está na página 1de 24

UNIDADE 5

INICIAÇÃO À PESQUISA CIENTÍFICA

PESQUISA CIENTÍFICA:
POR ONDE COMEÇAR?

INTRODUÇÃO

Olá! Seja bem-vindo à segunda unidade do curso Iniciação à Pes-


quisa Científica. Esta unidade tem por objetivo apresentar as etapas do
método científico, os métodos e os estágios da pesquisa científica, prin-
cipalmente no que se refere à identificação do problema de pesquisa e
do tema, e da formulação de objetivos e hipóteses.

BONS ESTUDOS!!!
w w w. u s f . e d u . b r
37
PÁGINA

INICIAÇÃO À PESQUISA CIENTÍFICA


MÉTODO CIENTÍFICO
A partir do momento que o homem ansiou por conhecer o mundo
e aquilo que fazia parte dele, passou a repetir, ainda que sem per-
ceber, etapas para resolver suas dúvidas, ou apenas no campo do
pensamento ou na prática. Desde que ele percebeu que as árvores
de uma determinada região davam frutos em uma época e em outra
época eram outras árvores que davam seus frutos, criou rotas de
peregrinação para se aproveitar dos frutos das diferentes árvores.
Isso, dentro do campo científico, é o que chamamos de método.
Segundo Appolinário (2015, p.11) o método “é um procedimen-
to ou um conjunto organizado de passos que se deve realizar para
atingir determinado objetivo”. O método científico nada mais é do
que seguir passos para atingir um objetivo, que se relaciona dire-
tamente com o conhecimento de uma área específica, e que pas-
sa pela observação, pela definição do problema, pela elaboração
de hipótese, verificação científica, análise e síntese.

APPOLINÁRIO, Fábio. Metodologia Científica. Cengage


Learning Editores, jun. 2015. [Minha Biblioteca]. Disponível
na Biblioteca Virtual
w w w. u s f . e d u . b r
38
PÁGINA
INICIAÇÃO À PESQUISA CIENTÍFICA

Embora o método científico siga essa ordenação, não é tão


simples assim. Ao longo do tempo, vários filósofos e cientistas
foram desenvolvendo seus próprios métodos de interpretação
do universo. Os pensadores gregos empregavam a observação
como primícias para responder às questões filosóficas e existen-
ciais da época. Muito tempo depois, na idade média, passamos
por um período de escuridão, em que pensar não era bem aceito
pelos senhores feudais e pela igreja da época.
O desenvolvimento do método científico só ocorreu no prin-
cípio da modernidade, alicerçado pelo movimento importante da
época chamado de Revolução Científica. Entre seus importantes
expoentes, estão três que criaram os vários métodos de pesquisa
(ANDRADE, 2012):

• Método dedutivo (desenvolvido por René Descartes),


que baseia-se no esclarecimento das ideias por meio
do raciocínio que leva a conclusões verdadeiras elabo-
radas a partir de deduções lógicas;

• Método indutivo (desenvolvido por Francis Bacon), que


diz que somente por meio da observação pode conhe-
cer algo novo. Esse método é muito utilizado nas Ciên-
cias da Natureza, como botânica, zoologia, geologia e
mineralogia;

• Método experimental (desenvolvido por Galileu Galilei),


baseada na formulação de uma hipótese que pode ser
testado por meio de experiências. Esse método é bas-
tante comum nas ciências físico químicas, nas quais os
w w w. u s f . e d u . b r

problemas podem ser matematizados.


39
PÁGINA

INICIAÇÃO À PESQUISA CIENTÍFICA


Quem foram René Descartes, Francis Bacon e Galileu
Galilei?
A resposta mais curta é: foram grandes pensadores/cientis-
tas que revolucionaram o modo de fazer a pesquisa científica.
Mas talvez a resposta mais longa contextualize melhor a impor-
tância desses e de outros expoentes da Revolução Científica.

A Revolução Científica foi um período de iniciação à


luz da pesquisa científica, que ocorreu de 1543 a 1687.
Em 1543, Nicolau Copérnico publicou o livro Sobre a
revolução dos orbes celestes e, em 1687, Isaac Newton
publicou o livro Princípios matemáticos da filosofia natu-
ral. Ambas as obras se relacionam ao desenvolvimento
da física, em especial pela observação da astronomia,
e marcam o início e o final do tempo onde a ciência foi
redefinida. Esse período, unido ao Renascentismo e à
Reforma Protestante, são considerados o marco para o
início da modernidade. Muitos consideram o período das
Grandes Navegações como o início das transformações
e da quebra da ruptura com o mundo aristotélico e o
período da Antiguidade anterior (MARCONDES, 2016).
Em resumo, a Revolução Científica teve influência di-
reta no nosso modo de agir e pensar a ciência, e criou
bases fortes para que inovações ocorressem, como a
própria Revolução Industrial. Muitos nomes foram im-
portantes nesse período, tais como:

• Nicolau Copérnico; • Galileu Galilei;


• Andreas Vesalius; • Johannes Kepler;
• Leonardo Da Vinci; • William Harvey;
• Michel de Montaigne; • René Descartes;
w w w. u s f . e d u . b r

• Willian Gilbert; • Robert Boyle;


• Francis Bacon; • Isaac Newton etc.
40
PÁGINA

Eles desenvolveram a ciência nos campos da astro-


nomia, da física, da matemática e da medicina.
INICIAÇÃO À PESQUISA CIENTÍFICA

René Descartes (Figura 1) viveu de 1596 a 1650 e


é um dos mais importantes filósofos da modernidade,
com destaque na matemática (na qual desenvolveu o
método das coordenadas e o produto cartesiano), na
psicologia (na qual discutiu a subjetividade da consci-
ência e propôs o método introspeccionista), e na me-
dicina (em que formulou a visão mecanicista do corpo
humano). Para Descartes, as ideias podem servir de
base para o conhecimento e foi com esse pensamen-
to que ele desenvolveu seu método indutivo (MAR-
CONDES, 2016).

Figura 1 – Desenho esquemático de René Descartes e seu plano cartesiano

Fonte: SHAPIRO, 2016.


41
PÁGINA

Francis Bacon (1561-1626 – Figura 2), foi um dos mais


importantes influenciadores da Modernidade, especial-
mente no que tange ao desenvolvimento da metodologia
científica. Exerceu cargos altos na sociedade da época

INICIAÇÃO À PESQUISA CIENTÍFICA


na área jurídica, chegando a ser lorde chanceler no reina-
do de Jaime I, e recebendo o título de Visconde de Saint
Albans, mas caiu em desgraça pela desavença política
entre rei e parlamento. Sua importância se deve pela dis-
cussão do método científico, em que apresenta a impor-
tância da ciência experimental para o desenvolvimento
da lógica científica. Mais do que isso, ele defendeu que
a ciência experimental auxiliaria no desenvolvimento da
sociedade, contribuindo para o bem-estar das pessoas.
Essa ciência experimental só seria alcançada por meio
da libertação do pensamento humano frente aos estig-
mas existentes e ao poder inicial da observação da na-
tureza, sem preconceitos. Para Bacon conhecer é saber
fazer (MARCONDES, 2016).

Figura 2 – Desenho esquemático de Francis Bacon

w w w. u s f . e d u . b r

Fonte: BORTHOLETTI, 2018.


42
PÁGINA

Porém, foi Galileu Galilei (Figura 3), que estabeleceu


a ciência experimental de fato. Galileu (1564-1642), ao
lado de Copérnico e Newton, foi um dos mais importan-
tes expoentes da Revolução Científica, e um dos mais
INICIAÇÃO À PESQUISA CIENTÍFICA

conhecidos em função de sua defesa política do helio-


centrismo e do processo de inquisição que sofreu. Es-
tudou medicina e ciências naturais, tornando-se profes-
sor de matemática na Universidade de Pádua em 1591,
onde inventou o telescópio e com ele pôde observar as
montadas da lua, as luas de Júpiter a composição da
Via Láctea, o que representou sua quebra de ideias, se
“convertendo” ao heliocentrismo de Copérnico, pelo qual
foi perseguido pela Inquisição Romana. Seu método ba-
seia-se em analisar os dados da natureza (resolução),
construir um modelo matemático que expresse os dados
essenciais em teoremas e leis, deduzindo consequên-
cias a partir dele (composição), e comprovar pela expe-
rimentação se as leis formuladas e as consequências
ocorrem realmente (MARCONDES, 2016).

Figura 3 – Desenho esquemático de Galileu Galilei à esquerda e


Representação de Galileu utilizando seu telescópio para estudar as estrelas
w w w. u s f . e d u . b r

Fonte: BARAR, 2011.


43
PÁGINA

INICIAÇÃO À PESQUISA CIENTÍFICA


Dessa forma, hoje definimos o método científico com um caso
particular que envolve diversos tipos de outros métodos, no qual
estão claramente definidas as seguintes etapas:
• a identificação de um fenômeno do universo que necessite
de explicação que é chamado de observação;
• a produção de uma explicação provisória sobre esse fenô-
meno, que denominamos de hipótese;
• a execução de um teste para prova a explicação, chamada
de experimentação;
• a análise e a conclusão para verificar se a explicação é verda-
deira, que chamamos de generalização (appolinário, 2015).

Atualmente, consideram-se outros métodos relacio-


nados às etapas de trabalho, tais como os métodos:
• histórico, que busca explicações nos acontecimentos
passados;
• comparativo, que compara semelhanças e diferenças
em um tema de pesquisa;
• estatístico, que utiliza os conceitos matemáticos para
explicar a realidade; e
• os estudos de caso, que se baseiam em estudos es-
pecíficos a um local, uma empresa, etc. e que dificil-
mente se repetiriam exatamente da mesma forma em
outro local (MEDEIROS, 2014).
w w w. u s f . e d u . b r
44
PÁGINA
INICIAÇÃO À PESQUISA CIENTÍFICA

Podemos agrupar os métodos também de acordo com a área


do conhecimento como: ciências formais ou matemáticas, ciên-
cias naturais ou biológicas, ciências morais e sociais, brevemente
descritas na Tabela 1.

Tabela 1 – Divisão das Ciências

Tipos de ciência Características

Lidam unicamente com abstra-


Ciências formais
ções, ideias e estruturas conceituais.

Estudam os fenômenos concer-


Ciências naturais nentes à biologia, à física e à química
(vida, ambiente, etc.).

Ciências sociais, como a psicolo-


gia, a sociologia e a economia dedi-
Ciências sociais
cam-se à investigação dos fenôme-
nos humanos e sociais.

Fonte: APPOLINÁRIO, 2015.

As ciências formais ou matemáticas incorporam a medida das


grandezas, do qual fazem parte a álgebra, a aritmética, a geo-
metria, a física, a química. São áreas que levam em conta a ob-
servação de um fenômeno, a criação de hipóteses sobre esse
fenômeno, a experimentação e a indução que nada mais é que
modelagem matemática na forma de equação para esse fenô-
w w w. u s f . e d u . b r

meno (Tabela 2), caracterizando-se, portanto, inicialmente, como


método indutivo e depois como experimental. São assim a inércia
de Newton, a conservação das massas de Lavoisier e a teoria da
relatividade de Einstein.
45
PÁGINA

As ciências naturais ou biológicas comtemplam os estudos dos seres


vivos, de sua estrutura e composição química, das trocas que fazem com

INICIAÇÃO À PESQUISA CIENTÍFICA


o ambiente mediante reações químicas ou processos físicos. Fazem parte
dessa área a botânica, a zoologia, a biogeografia, a biologia marítima, a
ecologia, a paleontologia, a anatomia, a taxionomia, a citologia, a histo-
logia, a genética, a fitopatologia, a patologia, a embriologia, a medicina
veterinária, a evolução. O método de pesquisa mais utilizado é o indutivo,
que também pode culminar no método experimental. Fazem parte desses
métodos as leis genômicas de Mendel, comprovada por modelos mate-
máticos, que segue as etapas contidas na Tabela 1. Entretanto, no campo
da Biologia, a experimentação, embora de grande importância, apresenta
séria dificuldade em razão da complexidade dos fenômenos. Assim, a bo-
tânica e a zoologia se desenvolveram, por exemplo, por estudos de ana-
logias, através da associação das semelhanças, seguida de classificação,
para se determinar a qual reino e a qual família pertence o ser vivo.

Tabela 2 – Etapas dos métodos das ciências matemáticas e naturais

Etapa do método Descrição


Avaliar com sensibilidade as características do
objeto de pesquisa. Ser detalhista na observação e
1) Observação
não ter pressa no término da observação, utilizando
todos os órgãos do sentido de forma racional.
Levantamento das causas de um certo compor-
tamento observado. A hipótese nada mais é do que
2) Hipótese
uma suposição provisória que será provada na se-
quência da pesquisa.
É o estudo prático do fenômeno provocado
artificialmente no sentido de se provar a hipótese.
3) Experimentação
Deve-se ter paciência e ser imparcial durante a
experimentação.
w w w. u s f . e d u . b r

Consiste na generalização de uma relação de


4) Indução causalidade que se torna lei. Quase sempre é pos-
sível utilizar um modelo matemático para tal.
46
PÁGINA

Inércia de Newton
O inglês sir Isaac Newton (1642-1727 – Figura 4), é famoso pela
INICIAÇÃO À PESQUISA CIENTÍFICA

sua importância na Revolução Científica, uma vez que conseguiu


integrar as diferentes teorias de outros expoentes do período. Sua
principal obra foram os livros Princípios Matemáticos da Filosofia
Natural (1686), no qual alia a observação da física e da astronomia
com os cálculos matemáticos que explicavam os fenômenos, por
exemplo, da movimentação dos corpos celestes, da gravitação uni-
versal, entre outras. O livro I traz sua teoria sobre a movimentação
dos corpos, que deram origem a três leis importantes, sendo a mais
conhecida da lei da inércia, seguida do princípio fundamental da
dinâmica e da lei da ação e reação (MARCONDES, 2016).

Figura 4 – Desenho representativo de Isaac Newton e suas contribuições para a


Revolução Científica

Fonte: TORRES, 2018.

A lei da inércia diz, basicamente, que um corpo perma-


nece em repouso se estiver em repouso ou permanece em
movimento se estiver em movimento a não ser que sofra a
ação de uma força externa que altere o seu estado normal
w w w. u s f . e d u . b r

(NEWTON, 1686).

O livro completo de Isaac Newton pode ser encontrado na indi-


cação de leitura a seguir:
47
PÁGINA

Indicação de Leitura: NEWTON, Isaac. Philosophiae Naturalis


Principia Mathematica. Londini, 1686. Disponível na Biblioteca Virtual.

Uma divulgação científica interessante desse e de outros fenô-

INICIAÇÃO À PESQUISA CIENTÍFICA


menos da física é realizada pelo GREF – Grupo de Reelaboração
do Ensino de Física do Instituto de Física da Universidade São
Paulo (USP). Observe na Figura 5 o início da divulgação desse
tópico (GREF, 1998, p. 57).
Figura 5 – Divulgação Científica sobre a Lei da Inércia
Na sequência do texto, o GREF (1998) explica a aplicação da Lei

Fonte: GREF, 1998, p. 57.

da Inércia na parada de um grande meio de transporte, como um bar-


w w w. u s f . e d u . b r

co ou uma espaçonave, explana sobre o porquê de não sentirmos os


movimentos de translação e rotação do planeta Terra e relaciona a Lei
da inércia de Newton com a famosa Lei da Relatividade de Einstein.
Leia esse interessante texto na Indicação de Leitura a seguir.
48
PÁGINA

GREF. Grupo de Reelaboração do Ensino de Física. Leitu-


ras de Física: GREF Mecânica para ler, fazer e pensar. [São
Paulo: USP]. 1998. Disponível na Biblioteca Virtual.
INICIAÇÃO À PESQUISA CIENTÍFICA

Lei da Conservação das Massas de Lavoisier


Antoine Lavoisier (1743-1794 –
Figura 6 – Desenho representativo
Figura 6), é considerado o Pai da de Lavoisier em seu laboratório
Química pelas diversas influências
que exerceu no nascimento des-
sa ciência. Lavoisier teve grande
influência no desenvolvimento da
linguagem química, sendo um dos
responsáveis pelo estabelecimento
de uma sistematização na nomen-
clatura de compostos químicos por
meio da publicação de seu famoso
livro Traité Élémentaire de Chimie
(traduzido para Tratado Elementar
da Química) em 1789 (CARVA-
LHO, 2012). Sua importância no
desenvolvimento de equipamentos Fonte: SILVA, 2019.
científicos é considerada um marco
da sua época. Um desses equipamentos desenvolvidos e aper-
feiçoados foi a balança, com a qual elaborou a lei famosa que
amplamente repetimos e readequamos para o tratamento lúdico
conforme a necessidade: “Na natureza nada se perde, nada se
cria, tudo se transforma”. O nome verdadeiro da lei é Lei da Con-
servação das Massas, mas a frase anterior é muito mais expres-
siva e repetida.
Em suma, a lei diz que em qualquer processo químico a massa
w w w. u s f . e d u . b r

inicial e somada dos reagentes é igual à massa final e somada dos


produtos. A grande influência de Lavoisier se deu no estudo dos ga-
ses resultantes dos processos de combustão. Ele precisou inventar
equipamentos para medir a massa dos gases resultantes de uma
49
PÁGINA

reação química, quando ninguém conseguia “enxergar” esses gases.


As ideias que perduravam na época se relacionavam a teoria do
flogístico, segundo a qual se acreditava que a combustão consis-
tia no desprendimento de corpos inflamáveis. Lavoisier consegue
identificar que a combustão necessita de ar desflogisticado para

INICIAÇÃO À PESQUISA CIENTÍFICA


acontecer, ou seja, a combustão necessitava do oxigênio e não
da propriedade de inflamabilidade (VIDAL; CHELONI; PORTO,
2007). Estudos sobre a combustão permitiram o início da expe-
rimentação aplicada à respiração, à fotossíntese e à calorimetria.
Veja na Figura 7 a representação do laboratório de Lavoisier onde
podemos ter uma ideia da invenção de equipamentos tão comuns para
os experimentos realizados (SCIENCE HISTORY INSTITUTE, 2017).
Figura 7 – Lavoisier em seu laboratório: experimentos sobre a respiração de um
homem em repouso

Fonte: Cortesia da Edgar Fahs Memorial Collection, Department of Special Collections,


University of Pennsylvania Library.

Para conhecer mais sobre a história de Lavoisier, navegue


pelo site: https://www.sciencehistory.org/historical-profile/antoine
-laurent-lavoisier
w w w. u s f . e d u . b r
50
PÁGINA

Teoria da Relatividade de Einstein


Albert Einstein (1879-1955 – Figura 8), é considerado
um gênio fora de seu tempo. Na verdade, muitos acreditam
que ainda não estamos Figura 8 – Fotografia de Albert Einstein
INICIAÇÃO À PESQUISA CIENTÍFICA

vivendo o tempo de Eins-


tein. Desde criança foi um
incontido com as questões
da ciência, tudo era motivo
para que Einstein se per-
guntasse: “Mas porque é
dessa forma?”. Não foi um
bom aluno, pois foi incom-
preendido pelos professo-
res da época. Por isso e
porque era um incontido se
transformou em autodida-
ta. Se interessou pela ação
do magnetismo e pela sua
relação com a eletricidade
desde muito cedo e isso
o acompanhou por toda a
vida (STRATHERN, 1998).
Fonte: ENCYCLOPEDIA BRITANNICA.

Vivendo uma vida miserável e pobre, Einstein só tinha


cabeça para a ciência. Em 1905 publicou na famosa revista
Annalen der Physik os artigos: “Sobre um ponto de vista
heurístico acerca da produção e da transformação da luz”,
de forma a explicar a natureza da Luz, atuando ora como
partículas independentes bastante semelhantes a um gás,
mas com massa de repouso nula (fótons), ora como ondas,
com características puramente ondulatórias; “Uma nova de-
terminação do tamanho das moléculas”; “Sobre o movimen-
to de pequenas partículas suspensas em um líquido esta-
cionário, segundo a teoria cinética molecular do calor”, na
qual propôs que as partículas de pólen suspensas na água
w w w. u s f . e d u . b r

eram bombardeadas pela moléculas invisíveis que forma-


vam o líquido e que isso causava o movimento browniano,
ou seja, nesse artigo Einstein provou a existência dos áto-
51
PÁGINA

mos; “Sobre a eletrodinâmica dos corpos em movimen-


to”, no qual propôs a teoria da relatividade especial, na
qual os conceitos e leis do espaço e do tempo só podem
reivindicar validade na medida em que permanecem em
relação clara com as experiências (STRATHERN, 1998).

INICIAÇÃO À PESQUISA CIENTÍFICA


A teoria da relatividade especial representou a ruptura
da mecânica clássica de Newton, na qual tempo e espaço
eram únicos e verdadeiros. Einstein formulou uma teoria
nova que propunha uma explicação totalmente nova do
universo. Vários, antes dele propuseram pequenos ajus-
tes, mas ele foi o que quebrou totalmente o paradigma. Ele
aceitou que o espaço e o tempo eram relativos e por isso a
velocidade da luz é constante através do espaço indepen-
dente da fonte da luz ou do observador estarem ou não
em movimento, e não existe movimento absoluto e nem
existe ausência total de movimento, o que significa que
a velocidade é relativa ao referencial que a define. Duas
contradições que representam o quão brilhante ele foi na
elaboração da teoria, que se resumem na explicação de
que à medida que a velocidade se aproxima da velocidade
da luz, o tempo se torna mais lento (STRATHERN, 1998).
Foi somente após dois anos de extensos estudos
matemáticos que chegou à famosa equação E = mc2,
na qual E é energia, m é massa e c é a velocidade da
luz. Isso explicava a quantidade enorme de energia li-
berada pelo sol e explicada a radioatividade que estava
sendo estudada recentemente (STRATHERN, 1998).
A teoria não parou aí, mas avançou para o patamar do
que conhecemos como Teoria da Relatividade Geral, na
qual foi incluída a gravitação ao fenômeno tempo-espaço,
capaz de abranger corpos que se deslocam em movimento
relativamente acelerado sob a ação de um campo de ener-
gia emanado pela própria matéria, a gravidade. Pensando
na luz com sua característica dual (onda e partícula) che-
gou à conclusão de que, para um feixe de luz atravessar
w w w. u s f . e d u . b r

um campo gravitacional, se curvaria (pela característica de


partícula), e isso tornaria a distância entre dois pontos mais
curta. Todos os estudos posteriores culminaram, em 1916 na
52
PÁGINA

publicação na revista Annalen der Physik, em um artigo inti-


tulado “O fundamento da teoria da relatividade geral”, parte
confirmada em 1919 por experimentos realizados em pleno
Eclipse Solar (STRATHERN, 1998).
INICIAÇÃO À PESQUISA CIENTÍFICA

Indicação de Leitura: STRATHERN, Paul. Einstein e a rela-


tividade em 90 minutos. Rio de Janeiro: Zahar, 1998. E-book.
[Minha Biblioteca]. Disponível na Biblioteca Virtual.

Leis de Mendel
Figura 9 Gregor Johann Mendel (1822-1884 –
Fotografia de
Gregor Figura 9), foi outro grande cientista que
Mendel
soube utilizar a experimentação na ela-
boração de suas leis. Monge e professor,
fez vários experimentos genéticos com
ervilhas, que todos nós aprendemos um
dia nas aulas de biologia, que culminaria
na elaboração de suas leis. Seus estu-
dos foram feitos em 1863, publicados em
1866 nos anais da Natural History Socie-
ty de Brno, mas só tiveram real impor-
tância após 1900, quando os botânicos
Hugo de Vries, na Holanda; Carl Correns,
na Alemanha, e Erich von Tschermak-
Seysenegg, na Áustria, buscavam indivi-
Fonte: PIERCE, 2017.
dualmente literaturas que embasassem
suas ideias com relação à hereditariedade (ASTRAUKAS et
al., 2009).

Resumidamente, Mendel utilizou a ervilha de jardim (Pi-


w w w. u s f . e d u . b r

sum sativum), que tem pétalas da flor que se fecham im-


pedindo que grãos de pólen entram ou saiam, o que faz
com essa espécie tenha que se autofertilizar, portanto, com
53
PÁGINA

variação genética mínima de uma geração para outra. Em seus


experimentos, cruzou plantas baixas e altas e verificou que as
plantas geradas eram híbridas, e as baixas eram perdidas. De-
pois, as híbridas geravam numa proporção 3:1 plantas altas e bai-

INICIAÇÃO À PESQUISA CIENTÍFICA


xas na próxima geração, o que permitiu que ele concluísse que
as plantas baixas deixavam seu código na geração das híbridas.
Estavam definidos os termos dominantes e recessivos. Atualmen-
te chamamos de genes dominantes ou recessivos (SNUSTAD;
SIMMONS, 2018).
A textura de semente, a cor de semente, a forma de vagem,
a cor de vagem, a cor de flor e a posição da flor também foram
estudadas por Mendel e também resultaram na proporção 3:1
quando as características eram estudadas uma a uma (SNUS-
TAD; SIMMONS, 2018). A Figura 10 ilustra os principais aspec-
tos estudados por Mendel em seus experimentos.

Figura 10 – Fotos e desenhos utilizados por Mendel sobre a ervilha Pisum sativum nos
seus estudos de hereditariedade. Ele examinou 7 características que apareciam nas
sementes e nas plantas que cresciam a partir das sementes

Fonte: PIERCE, 2017.


Com os experimentos, Mendel percebeu que os genes tinham
duas cópias de cada gene que poderiam ser iguais ou diferentes,
e que essas cópias eram incorporadas aleatoriamente durante a
reprodução das plantas. Dessa forma, Mendel constatou que a
hereditariedade ocorria em função dos cruzamentos genéticos e
w w w. u s f . e d u . b r

que os recessivos não influenciavam em uma geração mas po-


diam aparecer na subsequente (SNUSTAD; SIMMONS, 2018).
54
PÁGINA

As leis de Mendel podem ser resumidas da seguinte


maneira:
1ª Lei: As células sexuais devem conter apenas um
fator (ou unidade de herança) para cada característica a
INICIAÇÃO À PESQUISA CIENTÍFICA

ser transmitida. Cada característica é condicionada por


um par de fatores, um herdado do pai e outro herdado da
mãe, que se separam na formação dos gametas com a
mesma probabilidade;
2ª Lei: Na formação dos gametas, os principais pares
de fatores se segregam independentemente, de tal forma
que cada gameta recebe apenas um fato de cada par. To-
dos os tipos possíveis de gametas serão produzidos nas
mesmas proporções (SNUSTAD; SIMMONS, 2018).

SNUSTAD, D. Peter; SIMMONS, Michael J. Fundamen-


tos de Genética. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2018. E-book. [Minha Biblioteca]. Disponível na Biblioteca
Virtual.

Já as ciências morais e sociais contemplam o estudo do ho-


mem como ser dotado de razão e de liberdade, sendo divididas
em psicologia, história e ciências sociais. “A ciência moral, que
tem como objeto o estudo da verdade, que é a lógica; o estudo do
belo, que é a estética; e a ciência política, que procura determinar
as leis gerais de qualquer sociedade.” (SANTOS; PARRA FILHO,
2012, p. 71). As ciências que trabalham com fatos decorrentes de
observação utilizam o método indutivo e as ciências morais, que
se preocupam com o ideal, utilizam o método dedutivo.

Método dedutivo (desenvolvido por René Descartes),


w w w. u s f . e d u . b r

que baseia-se no esclarecimento das ideias por meio do


raciocínio que leva a conclusões verdadeiras elaboradas
a partir de deduções lógicas.
55
PÁGINA

Método indutivo (desenvolvido por Francis Bacon), que


diz que somente por meio da observação pode conhecer
algo novo. Esse método é muito utilizado nas Ciências da
Natureza, como botânica, zoologia, geologia e mineralogia.

INICIAÇÃO À PESQUISA CIENTÍFICA


A história estuda os principais acontecimentos políticos, eco-
nômicos, intelectuais e morais relativos a uma época ou a toda a
humanidade. O desenvolvimento da pesquisa é um processo len-
to baseado na documentação encontrada para um determinado
povo, ou pela transmissão da tradição ao longo do tempo, ou pela
análise de monumentos pertinentes. Quase sempre se direciona
para o uso de ciências auxiliares, como geografia, economia, de-
mografia, sociologia, cronologia, arqueologia, hermenêutica, heu-
rística, esfragística, antropologia, criptologia e a própria psicologia
(SANTOS; PARRA FILHO, 2012).

A psicologia estuda o homem enquanto ser único, podendo ser


aplicada experimentalmente como a ciência que estuda os fenô-
menos da consciência e suas leis e suas inter-relações com o
mundo físico e social (SANTOS; PARRA FILHO, 2012).
A sociologia tem como objetivo estudar as instituições e as ma-
nifestações da vida social, bem como as alterações das próprias
w w w. u s f . e d u . b r

instituições, baseando-se em aspectos sociais e políticos, de for-


ma a caracterizar a maneira de pensar, as atividades realizadas, os
costumes, as leis, os tipos de instituições existentes na sociedade
e sua forma de conduzimento. Os métodos mais utilizados são o
56
PÁGINA

dedutivo e indutivo, mas também pode-se fazer uso dos métodos


comparativo, histórico, estatístico, monográfico, formal, funcional,
compreensivo ou ecológico (SANTOS; PARRA FILHO, 2012).
INICIAÇÃO À PESQUISA CIENTÍFICA

Indicação de Leitura: SANTOS, João Almeida; PARRA FILHO,


Domingos. Metodologia Científica. 2. ed. Cengage Learning Edi-
tores, abr. 2012. Cap. 3. E-book. [Minha Biblioteca]. Disponível na
Biblioteca Virtual.

Agora que você conhece o que é método, seus tipos e as áreas


de pesquisa aos quais cada método melhor se adapta, vamos,
enfim, estudar o que é pesquisa.

Fonte: 123rf
w w w. u s f . e d u . b r
57
PÁGINA

INICIAÇÃO À PESQUISA CIENTÍFICA


CONCLUSÃO
Nessa unidade você aprendeu sobres os
diferentes métodos de pesquisa e sobre as
grandes contribuições de vários cientistas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução à metodologia do traba-
lho científico: elaboração de trabalhos na graduação, 10ª edição. Atlas,
09/2012. E-book. [Minha Biblioteca]. Disponível em: https://integrada.
minhabiblioteca.com.br/#/books/9788522478392/cfi/0!/4/4@0.00:0.00.
Acesso em: 20 fev. 2019.

APPOLINÁRIO, Fábio. Metodologia Científica. Cengage Learning Edi-


tores, 06/2015. E-book. [Minha Biblioteca]. Disponível em: https://integra-
da.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788522122424/cfi/0!/4/2@100:0.00.
Acesso em: 19 fev. 2019.

ASTRAUSKAS, J.P.; NAGASHIMA, J.C.; SACOO, S.R.; ZAPPA, V. Leis


da Herença por Grepor Johann Mendel: Uma Revolução Genética. Revis-
ta Científica Eletrônica de Medicina Veterinária, n. 13, p.1-6, 2009. Dispo-
nível em: http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/
qYG3dxvYmiF7rSK_2013-6-24-17-32-26.pdf. Acesso em: 16 maio 2019.
w w w. u s f . e d u . b r

BARAR, Frank S.K. Galileo Galilei: Honoured 400 Years Later. 12 de


novembro de 2011. Disponível em: https://www.boloji.com/articles/11615/
galileo-galilei-honoured-400-years-later. Acesso em: 17 jun. 2019.
58
PÁGINA

BORTHOLETTI, Rafael. Francis Bacon: O Problema Fundamental


Do Novum Organum. 21 de abril de 2018. Disponível em: https://me-
dium.com/blog-do-bart/francis-bacon-o-problema-fundamental-do-no-
INICIAÇÃO À PESQUISA CIENTÍFICA

vum-organum-2cea7fd4a39e. Acesso em: 17 jun. 2019.

CARVALHO, R.S. Lavoisier e a sistematização da nomenclatura quí-


mica. Scientia Studia, São Paulo, v. 10, n. 4, p. 759-71, 2012. Disponí-
vel em: http://www.scielo.br/pdf/ss/v10n4/a07v10n4.pdf. Acesso em: 09
maio 2019.

GREF. Grupo de Reelaboração do Ensino de Física. Leituras de Fí-


sica: GREF Mecânica para ler, fazer e pensar. [São Paulo: USP]. 1998.
Disponível em: http://www.if.usp.br/gref/mec/mec2.pdf. Acesso em: 15
abr. 2019.

MARCONDES, Danilo. Textos básicos de filosofia e história das


ciências: a revolução científica. Editora Zahar. 2016. E-book. [Minha
Biblioteca]. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/
books/9788522490271/cfi/0!/4/4@0.00:14.4. Acesso em: 20 fev. 2019.

MEDEIROS, João Bosco. Redação Científica: A Prática de Fichamen-


tos, Resumos, Resenhas, 12ª edição. Atlas, 06/2014. E-book. [Minha
Biblioteca]. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/
books/9788522490271/cfi/0!/4/4@0.00:14.4. Acesso em: 05 fev. 2019.

NEWTON, Isaac. Philosophiae Naturalis Principia Mathematica. Lon-


dini, 1686. Disponível em: https://dl.wdl.org/17842/service/17842.pdf.
Acesso em 09 abr. 2019.

PIERCE, Benjamin A. Genética: Um Enfoque Conceitual. 5ª edi-


ção. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. E-book. [Minha Bi-
blioteca]. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/
books/9788527729338/cfi/6/24!/4/20/2@0:0. Acesso em: 17 jun. 2019.
w w w. u s f . e d u . b r
59
PÁGINA

SANTOS, João Almeida; PARRA FILHO, Domingos. Metodologia


Científica, 2ª edição. Cengage Learning Editores, 04/2012. E-book.
[Minha Biblioteca]. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.

INICIAÇÃO À PESQUISA CIENTÍFICA


com.br/#/books/9788522112661/cfi/0!/4/2@100:0.00. Acesso em 12
jan. 2019.

SCIENCE HISTORY INSTITUTE. Antoine-Laurent Lavoisier. 11


dez. 2017. Disponível em: https://www.sciencehistory.org/historical
-profile/antoine-laurent-lavoisier. Acesso em: 15 maio 2019.

SHAPIRO, Abraham. O Método Cartesiano. 9 de fevereiro de 2016.


Disponível em: http://www.profissaoatitude.com.br/blog/post/o-meto-
do-cartesiano. Acesso em: 17 jun. 2019.

SILVA, André Luis Silva da. Antoine Lavoisier. Disponível em: ht-
tps://www.infoescola.com/biografias/antoine-lavoisier/. Acesso em: 17
jun. 2019.

SNUSTAD, D. Peter, SIMMONS, Michael J. Fundamentos de Ge-


nética, 7ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. E-book.
[Minha Biblioteca]. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.
com.br/#/books/9788527731010/cfi/6/10!/4/6/12@0:62.5. Acesso em:
16 maio 2019.

STRATHERN, Paul. Einstein e a relatividade em 90 minutos. Rio


de Janeiro: Zahar, 1998. E-book. [Minha Biblioteca]. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788537803462/
cfi/6/2!/4/4/2@0:11.6. Acesso em: 15 maio 2019.

TORRES, Richard. Biografía De Isaac Newton. 6 setembro de 2018.


Disponível em: https://williamteacher.wordpress.com/2018/09/06/ima-
genes/. Acesso em: 17 jun. 2019.
w w w. u s f . e d u . b r

VIDAL, P.H.O.; CHELONI, F.O.; PORTO, P.A. O Lavoisier que não


está presente nos livros didáticos. Química Nova na Escola, n. 26, p.
29-32, 2007. Disponível em: http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc26/
v26a08.pdf. Acesso em 15 maio 2019.

Você também pode gostar