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Unidade 6 — Reprodução 20
1. Reprodução assexuada 20
1.1. Estratégias reprodutoras 20
2. Reprodução sexuada 22
2.1. Meiose e fecundação 22
2.2. Reprodução sexuada e variabilidade 26
3. Ciclos de vida: unidade e diversidade 28
Geologia
O crescimento dos organismos e a renovação das suas estruturas ao longo da vida são possíveis na medida em que as células
possuem a informação necessária que lhes permite reproduzirem-se e diferenciarem-se, originando, assim, novas células
especializadas em determinadas funções.
O núcleo é um organelo celular que se encontra limitado por uma dupla membrana — o invólucro nuclear —, com poros
nucleares que permitem a comunicação. No interior contém o nucleoplasma, que apresenta filamentos de DNA associados a
proteínas, a cromatina. Um cromossoma corresponde à unidade morfológica e fisiológica da cromatina. O estado de
compactação do cromossoma pode variar de acordo com o organismo, o tipo de célula e o seu estádio de desenvolvimento. O
cariótipo corresponde ao número e à forma dos cromossomas característicos de uma espécie. O núcleo pode conter um ou mais
nucléolos, estruturas esféricas constituídas, essencialmente, por proteínas e ácidos nucleicos (Figuras 1 A e 1B).
Este ácido nucleico apresenta uma estrutura dupla, isto é, possui duas cadeias polinucleotídicas, que se enrolam uma na outra
helicoidalmente. As duas cadeias unem-se pelas bases azotadas através de pontes de hidrogénio (ph): 3 ph unem as bases de
guanina às de citosina e 2 ph unem as bases de timina às de adenina. As bases azotadas encontram-se voltadas para dentro,
devido ao seu carácter hidrofóbico (não reagem com a água), enquanto o grupo fosfato e a pentose se encontram voltadas para
o exterior, pois são hidrofílicas (reagem facilmente com a água).
As bases azotadas são complementares, isto é, unem-se sempre do mesmo modo. A adenina liga-se sempre à timina e a
guanina à citosina, ou seja, uma base púrica (anel duplo) liga-se sempre a uma base pirimídica (anel simples). Este facto faz com
que a relação A + C / T+G seja constante e igual a 1.
As duas cadeias polinucleotídicas que constituem a dupla cadeia de DNA são antiparalelas, isto é, desenvolvem-se em direções
opostas. Cada cadeia desenvolve-se no sentido 5' → 3', o que leva a que numa ponta se encontre a extremidade 3’ de uma
cadeia e a 5’ da outra cadeia.
Esta proposta de estrutura do DNA foi enunciada por James Watson e Francis Crick (1953), sendo conhecida pelo modelo de
Watson e Crick (Figura 3).
Figura 3 Estrutura do DNA. Legenda: P - fosfato; Ac- açúcar (pentose); A - adenina; T - timina; C - citosina; G - guanina.
Replicação do DNA
A informação das características genéticas de um indivíduo encontra-se codificada na sequência de nucleótidos do DNA, pelo
que, quando um progenitor transmite as suas características genéticas aos seus descendentes, ter-lhe-á de fornecer uma cópia
(réplica) do seu DNA.
O mecanismo biológico que permite a formação de cópias de DNA chama-se replicação. A replicação consiste na formação de
duas cadeias-filhas de DNA a partir da cadeia progenitora, sendo estas cadeias geneticamente iguais à cadeia progenitora,
permitindo, deste modo, não só a transmissão das características hereditárias como a sua conservação.
A replicação é um processo semiconservativo, pois cada uma das duas cadeias-filhas formadas contém uma cadeia
polinucleotídica da dupla cadeia progenitora.
Segundo o modelo semiconservativo, a cadeia de DNA abre por intermédio de uma enzima (DNA-polimerase) que provoca a
quebra das pontes de hidrogénio existentes entre as bases azotadas das duas cadeias polinucleotídicas. Cada uma destas duas
cadeias abertas serve de molde à formação de duas novas cadeias de DNA que se formem por complementaridade das bases
azotadas, tendo os nucleótidos origem em nucleótidos livres que se encontram no nucleoplasma.
Os nucleótidos ligam-se uns aos outros por ação enzimática e no sentido 5' 3', ou seja, as duas novas cadeias crescem em
sentidos opostos (Figura 4).
Figura 4 Replicação semiconservativa do DNA
Estrutura do RNA
O ácido ribonucleico (RNA) apresenta três variedades com características estruturais próprias:
— o RNA, cuja função é transportar mensagens do núcleo para os ribossomas, durante a síntese proteica, constitui o RNA
mensageiro (RNAm ou mRNA);
— o RNA com a função de transportar aminoácidos para os ribossomas durante a síntese proteica constitui o RNA de
transferência (RNAt ou tRNA);
— o RNA que participa na constituição dos ribossomas constitui o RNA ribossomático (RNAr ou rRNA).
Qualquer que seja a variedade do RNA, este apresenta uma estrutura simples, constituída por uma única cadeia
polinucleotídica, que pode dobrar em alguns casos, estabelecendo-se então as ligações complementares A = U e G = C. O RNA é
constituído por nucleótidos que se unem de modo que o último nucleótido da cadeia se ligue pelo grupo fosfato ao carbono 3'da
pentose do nucleótido anterior a ele, no sentido 5' → 3' (Figura 5).
É possível distinguir os ácidos nucleicos, DNA e RNA, quer do ponto vista químico quer estrutural (Tabela 2).
Tabela 2 Comparação dos ácidos nucleicos
DNA RNA
Constituído por nucleótidos de DNA Constituído por nucleótidos de RNA (ribonucleótidos).
(desoxirribonucleótidos). A pentose é a ribose.
A pentose é a desoxirribose. As bases azotadas são a adenina (A), o uracilo (U), a
As bases azotadas são a adenina (A), a timina (T), a guanina (G) e a citosina (C).
guanina (G) e a citosina (C). A relação adenina e uracilo, guanina e citosina é variável.
A relação adenina e timina, citosina e guanina é Constituído por uma cadeia simples polinucleotídica.
sensivelmente constante. Localiza-se preferencialmente no citoplasma, ocorrendo
Constituído por uma dupla cadeia polinucleotídica. também no núcleo.
Localiza-se preferencialmente no núcleo, existindo Existem três variedades: RNA ribossomático (rRNA), RNA
também nas mitocôndrias e nos cloroplastos. mensageiro (mRNA) e RNA de transferência (tRNA).
Existe apenas uma variedade. Intervém na síntese proteica e na constituição dos
Responsável pela transmissão das características nucléolos e dos ribossomas.
hereditárias e controlo da atividade celular. A sua concentração varia de espécie para espécie e de
A sua concentração é constante para cada espécie. célula para célula.
O mecanismo de biossíntese proteica consiste na síntese de proteínas, macromoléculas constituídas por conjuntos maiores ou
menores de aminoácidos e cuja síntese se realiza nos ribossomas, que são organelos citoplasmáticos pequenos que podem
apresentar-se isolados ou agrupados. Cada ribossoma é constituído por duas porções, designadas por pequena subunidade e
grande subunidade.
A síntese proteica é controlada pelo DNA, uma vez que é dele que provém a informação genética necessária à síntese. Assim, foi
necessário descobrir o código que traduzia a colocação de determinado aminoácido numa determinada sequência peptídica.
Como só há quatro nucleótidos diferentes, quer de DNA quer de RNA, e existem vinte e três aminoácidos diferentes, é
necessária a junção de três nucleótidos (tripleto) para se obter um número de combinações (43 = 64 possibilidades) suficientes,
de modo a cobrir a totalidade dos aminoácidos.
A sequência de nucleótidos do DNA contém informação sob a forma de um código, o código genético, que determina a
ordenação dos aminoácidos nas proteínas. O código genético é um código de correspondência entre os quatro nucleótidos que
entram na composição dos ácidos nucleicos e os vinte aminoácidos que entram na composição das proteínas. A mais pequena
unidade de mensagem genética é um tripleto formado por três nucleótidos consecutivos. Um tripleto do mRNA designa-se por
codão e um do tRNA designa-se por anticodão.
A síntese de uma proteína é um mecanismo complexo, que se inicia no núcleo e termina no citoplasma, ao nível dos ribossomas.
O processo de síntese inicia-se no DNA, logo num código de nucleótidos, e termina com a tradução destes nucleótidos em
aminoácidos, envolvendo diferentes etapas: a transcrição, a migração e a tradução.
Na tabela 3, encontram-se resumidos os principais acontecimentos que ocorrem em cada uma das etapas referidas.
Tabela 3 Mecanismo de síntese proteica (Figura 6)
Mecanismo da síntese proteica
1.º Ocorre no núcleo e consiste na formação de uma cadeia de mRNA a partir de uma sequência da cadeia de DNA, que
contém a informação da proteína a sintetizar.
2.º A formação de qualquer tipo RNA (mRNA, tRNA, rRNA) é considerada uma transcrição.
3.ª A totalidade do processo ocorre no núcleo.
4.a A transcrição compreende duas fases:
— Síntese de ribonucleótidos:
A molécula de DNA é aberta por uma enzima (RNA-polimerase) que provoca a quebra das pontes de hidrogénio
entre as bases azotadas, abrindo, deste modo, a cadeia do DNA.
Transcrição
Por complementaridade das bases, vão-se unindo os ribonucleótidos, originando um pré-mRNA. A síntese de
RNA ocorre no sentido 5' → 3', sendo apenas utilizada uma das cadeias de DNA.
À medida que a enzima vai passando a cadeia de DNA fecha, restabelecendo-se as pontes de hidrogénio entre as
bases azotadas.
— Maturação ou processamento:
O pré-mRNA é constituído por sequências codificáveis (exões) e por sequências não codificáveis (intrões).
Para que não haja interrupção na sequência de aminoácidos codificados, o mRNA tem de ter, na sua totalidade,
significado genético. Por este motivo ocorre um processamento ou maturação do pré-mRNA.
Enzimas específicas retiram as sequências não codificáveis de pré-mRNA (intrões), deixando apenas as
sequências codificáveis (exões).
Formação de uma cadeia de mRNA, em que cada codão codifica um aminoácido.
Migração A migração consiste na passagem do mRNA do núcleo para o citoplasma.
A tradução consiste na descodificação da mensagem, contida no mRNA, em aminoácidos, levando, deste modo, à de
síntese de uma proteína.
A tradução inicia-se pela ligação da cadeia de mRNA à subunidade menor do ribossoma.
Ativação dos aminoácidos através do fornecimento de ATP aos aminoácidos. Estes aminoácidos ativados vão ser
ligados a uma enzima e a um tRNA.
Este complexo movimenta-se em direção ao ribossoma, ligando-se o anticodão (tripleto de tRNA) ao codão
Iniciação
(tripleto de mRNA), cujas bases azotadas são complementares. Esta união efetuou-se no local P (ou peptidil) do
ribossoma.
O primeiro codão da cadeia de mRNA a ser traduzido é o codão de iniciação (AUG), que corresponde à colocação
do aminoácido metionina.
Após a colocação do aminoácido metionina, ocorre a ligação da subunidade maior do ribossoma ao conjunto,
tomando-se ativo.
Tradução
Esta fase corresponde à ligação dos aminoácidos seguintes da cadeia polipeptídica, através de ligações
peptídicas.
Após a ativação do ribossoma, este encontra-se com o local P ocupado, estando livre o local A (ou aminoacil).
Alongamento
Ocorre uma segunda ativação de um aminoácido, que se liga ao respetivo tRNA e à enzima, formando-se um
novo complexo. Este complexo desloca-se para o ribossoma, onde se ligam, por complementaridade, o codão e o
anticodão, no local A. Este segundo aminoácido liga-se, através de uma ligação peptídica, à metionina.
O ribossoma avança três bases (um codão), libertando-se o tRNA da metionina. O local P passou a estar ocupado
pelo segundo aminoácido, ficando livre o local A.
O processo continua com um terceiro aminoácido, quarto aminoácido, etc.
A síntese da cadeia polipeptídica termina quando o ribossoma chega a um codão de finalização (UAA, UAG,
UGA).
Finalização
Quando o local A de um ribossoma encontra um codão de terminação, como não tem nenhum anticodão
complementar nem traduz nenhum aminoácido, a síntese termina.
O último tRNA desliga-se, a subunidade maior e menor do ribossoma separam-se, ficando novamente o
ribossoma inativo, a cadeia de mRNA desagrega-se e a cadeia polipeptídica liberta-se.
A síntese proteica (biossíntese de proteínas) apresenta três características fundamentais (Tabela 4):
Tabela 4 Características da síntese proteica
Característica Descrição
É um processo no qual participam vários intervenientes (DNA, RNA, aminoácidos, ribossomas, enzimas, ATP
Complexidade
e outros).
É um processo que, na generalidade, é rápido. A rapidez varia com a organização celular (é mais rápido nas
Rapidez
células eucarióticas) e com o tipo de célula num organismo pluricelular.
A mesma sequência de DNA pode ser transcrita várias vezes. A cada um dos mRNA formados podem-se ligar
Amplificação vários ribossomas (polirribossoma). Desta forma, cada ribossoma traduz a mesma mensagem, ou seja,
formam-se várias cadeias polipeptídicas iguais.
Alterações do material genético
Os genes localizam-se nos cromossomas e correspondem às unidades estruturais da transmissão da informação genética. Um
gene é uma porção de DNA com um número variável de nucleótidos. Ao conjunto dos genes típicos de uma espécie denomina-
se genoma.
Mutação é um termo utilizado para designar uma nova característica surgida nos descendentes, não evidenciada pelos
progenitores e que se transmite, sem alterações, aos indivíduos da geração seguinte. O termo mutação também pode referir-se
a toda e qualquer alteração na quantidade, organização e conteúdo do material genético. Chamam-se mutantes aos indivíduos
afetados por uma mutação.
Existem dois tipos fundamentais de mutações: as mutações génicas e as cromossómicas. As mutações génicas são aquelas que
ocorrem quando ocorre uma alteração num gene, que, como consequência, passa de uma forma a outra. Estas mutações,
localizadas e pontuais, manifestam-se nos indivíduos mutantes (ex:. um erro na replicação).
1.1. Mitose
Ciclo celular
A divisão celular constitui um mecanismo fundamental para o crescimento, reprodução e manutenção das características físicas
e genéticas dos indivíduos.
Quando a célula não se encontra em divisão, os cromossomas encontram-se espalhados no núcleo sob a forma de cromatina
dispersa. Quando a célula entra em divisão, os cromossomas transformam-se em estruturas altamente condensadas, sendo
visíveis ao microscópio ótico sob a forma de filamentos curtos e espessos.
Cada filamento de DNA associado a proteínas de um cromossoma denomina-se cromatídio. Em determinadas fases da vida da
célula, os cromossomas têm um único cromatídio; noutras fases, possuem dois cromatídios idênticos que se ligam numa região
denominada centrómero (Figura 7).
O ciclo celular é constituído por duas etapas: a interfase, que corresponde ao período compreendido entre o fim de uma divisão
celular e o início de outra, e a fase mitótica, que corresponde ao período de divisão propriamente dito.
A interfase inclui o tempo do ciclo celular compreendido entre duas mitoses sucessivas, que corresponde a cerca de 90% da
duração do ciclo e é um período de intensa atividade celular necessária para que a célula se possa dividir. A interfase
compreende três períodos (Tabela 5):
A fase mitótica corresponde a um processo de divisão nuclear, em que uma célula-mãe origina duas células-filhas que mantêm a
mesma quantidade de cromossomas e o mesmo teor e características de DNA.
O processo mitótico é semelhante para todos os seres vivos, apresentando algumas diferenças em alguns, nomeadamente nas
plantas.
Na fase mitótica consideram-se duas etapas: a mitose (cariocinese) e a citocinese.
A mitose corresponde a um conjunto de transformações complexas durante as quais o núcleo das células se divide (cariocinese).
A mitose compreende quatro subfases: prófase, metáfase, anáfase e telófase (Tabela 6)
Tabela 6 Subfases da mitose
Mitose
Características
Etapa caracterizada por uma desorganização nuclear.
Os cromossomas condensam, tornando-se cada vez mais grossos, curtos e mais visíveis, individualizando-se os dois
cromatídios, unidos por um centrómero.
Prófase
acromático.
O alinhamento é efetuado pelos centrómeros, ficando os braços dos cromatídios voltados para fora.
Etapa caracterizada pela ascensão polar dos cromossomas-filhos.
O centrómero sofre clivagem e os cromatídios de cada cromossoma separam-se, tornando-se cromossomas
Anáfase
independentes (cromossomas-filhos).
O número de cromossomas (2n) não se altera.
O teor de DNA foi reduzido a metade (Q), pois ocorreu uma separação dos cromatídios de cada um dos cromossomas
iniciais
Ocorre a reorganização celular.
A membrana nuclear reorganiza-se à volta de cada conjunto de cromossomas-filhos.
Telófase
Os nucléolos reorganizam-se.
O fuso acromático desorganiza-se.
Os cromossomas descondensam-se e tornam-se mais longos e menos visíveis.
A célula fica constituída por dois núcleos com a mesma informação genética.
A citocinese corresponde à divisão do citoplasma e da membrana citoplasmática e, portanto, à individualização de duas células-
filhas. Este processo inicia-se, em regra, no decorrer da mitose, mais propriamente no final da anáfase e durante a telófase .
A citocinese apresenta aspetos diferentes consoante se trate de uma célula animal ou vegetal. Na célula animal, devido à
presença da membrana celular, a divisão ocorre por efeito de um estrangulamento. Na zona do plano equatorial da célula
forma-se um anel contrátil de microfilamentos proteicos que, ao contraírem, vão puxando a membrana citoplasmática para
dentro, provocando um estrangulamento que separa a célula-mãe em duas células-filhas.
Na célula vegetal, a existência de uma parede celular rígida impede a possibilidade de um estrangulamento citoplasmático.
Deste modo, vesículas golgianas (aparelho de Golgi) alinham-se na zona equatorial, fundindo-se e originando uma estrutura
chamada fragmoplasto, que irá originar o sistema membranar das células-filhas. A membrana das vesículas golgianas originará a
membrana citoplasmática de cada célula-filha, que posteriormente serão recobertas por fibrilas de celulose que darão origem às
paredes celulares.
Variação do teor de DNA ao longo do ciclo celular
O DNA, ao longo do ciclo celular, sofre uma duplicação, passando de Q (Q refere-se a quantidade) a 2Q, e uma redução,
passando de 2Q a Q (Figura 11). No período G1, imediatamente após a fase mitótica, a célula possui Q de DNA, já que cada
cromossoma é constituído por um cromatídio, logo uma só cadeia de DNA. Como esta célula vai sofrer uma nova mitose, o seu
DNA vai ser reposto na totalidade, o que acontece durante o período Sem que ocorre a replicação semiconservativa do DNA. No
final do período S, a célula possui 2Q de DNA. Esta quantidade não sofre alteração até ao final da metáfase. Na anáfase há
redução do teor de DNA, uma vez que ocorre a separação dos cromatídios de cada cromossoma, migrando os cromossomas-
filhos para poios opostos da célula. Como cada cromossoma--filho tem apenas um cromatídio, o DNA foi reduzido a metade
(passa de 2Q a Q), pois apenas existe uma cadeia de DNA. Apesar do número de cromossomas se manter constante ao longo de
todo o ciclo celular, a sua constituição varia. Assim, após a fase S da interface, cada cromossoma passa a ser constituído por dois
cromatídios, uma vez que ocorreu a replicação do DNA. Após a anáfase, cada cromossoma passa a ser constituído por um
cromatídio, uma vez que se verifica a ascensão polar dos cromatídios-irmãos de cada cromossoma.
Ao longo do processo de desenvolvimento dos seres vivos multicelulares, sucedem vários mecanismos através dos quais células
geneticamente idênticas se especializam no sentido de executarem uma ou várias funções. A diferenciação celular é, então, o
processo pelo qual as células de um organismo começam a tornar-se diferentes na sua forma, composição e função. Assim,
surgem no indivíduo populações de células distintas, que formam estruturas, órgãos e sistemas que interagem entre si e
desempenham as diversas funções necessárias à sua sobrevivência.
Todas as células possuem um potencial de diferenciação. As células com maior potencial são, portanto, menos diferenciadas e
apresentam maiores possibilidades de diferenciação ao longo do processo células indiferenciadas. Já as mais diferenciadas, ou
completamente diferenciadas, perderam, em grande parte ou totalmente, o seu potencial – células diferenciadas ou
especializadas.
A diferenciação e, portanto, a regulação da expressão dos genes obedece a mecanismos precisos de cujo funcionamento
depende a vida da célula e a vida do indivíduo. Estes mecanismos são influenciados por fatores extracelulares e intracelulares.
As radiações, substâncias tóxicas (p. ex.: constituintes do fumo do tabaco) e determinados vírus são exemplos de fatores que
controlam o mecanismo de expressão dos genes. A influência destes fatores pode conduzir ao aparecimento de células
anormais, como as células dos tumores. O cancro ou neoplasia maligna (tumor maligno), por exemplo, resulta de alterações nos
mecanismos de controlo do ciclo celular. As células dividem-se descontroladamente e podem adquirir características de
malignidade. As células dos tumores malignos podem, então, invadir os tecidos vizinhos ou espalhar-se por outras partes do
corpo — metastização.
A clonagem pode definir-se como o processo através do qual se conseguem, por sucessivas divisões celulares (de modo
assexuado), um ou mais indivíduos geneticamente idênticos entre si e ao organismo que lhes deu origem, cada um dos quais
designados por clone.
Reprodução
Os seres vivos reproduzem-se de forma a garantir a sobrevivência da sua espécie. Através da reprodução são originados seres
vivos semelhantes aos progenitores. Desta forma é assegurada a substituição da geração anterior. Existem dois tipos
fundamentais de reprodução: assexuada e sexuada.
1. Reprodução assexuada
A reprodução assexuada leva à produção de indivíduos geneticamente idênticos ao progenitor e entre si. Os descendentes com
estas características constituem clones. Neste tipo de reprodução, o processo de divisão celular é a mitose.
2. Reprodução sexuada
A reprodução sexuada possibilita a formação de descendentes diferentes entre si, como consequência da mistura de genes
provenientes dos progenitores. Neste processo de reprodução, duas células, os gâmetas, unem-se para formar a primeira célula
do descendente, o ovo ou zigoto. A união dos gâmetas denomina-se fecundação.
Mecanismo da meiose
A meiose (Figura 14) é um processo de divisão nuclear que permite que uma célula diploide origine quatro células haploides.
Este processo decorre em duas divisões: a divisão I e a divisão II.
A divisão I é reducional, pois, durante as suas quatro etapas, ocorre uma redução do número de cromossomas para metade,
acompanhada por uma redução da quantidade de DNA. No final da divisão I formam-se duas células com n de cromossomas e
2Q de DNA. A divisão II é equacional, pois o número de cromossomas mantém-se, embora o teor de DNA se reduza para
metade. No final desta etapa, cada uma das duas células anteriormente formadas origina duas células, cada uma com n de
cromossomas e Q de DNA.
No final das duas divisões da meiose formam-se quatro células com n de cromossomas e Q de DNA, ou seja, os cromossomas
foram reduzidos para metade e o DNA para 1/4.
Na tabela 9 encontram-se resumidas as principais características de cada uma das etapas da meiose.
Tabela 9 Etapas da meiose
Meiose
Características
Divisão I ou reducional
Os cromossomas começam a condensar, tornando-se cada vez mais grossos, curtos e visíveis.
Os cromossomas homólogos emparelham, originando as ilíadas cromossómicas ou bivalentes. Os genes de cada
cromossoma homólogo justapõem-se, ocorrendo a sinapse. Deste modo, cada bivalente passa a ser constituído por
Prófase I
quatro cromatídios e dois centrómeros, surgindo as tétradas cromatídicas. Durante a sinapse podem originar-se
pontos de quiasma, isto é, pontos de cruzamento/recombinação entre os cromossomas homólogos. Nos pontos de
quiasma pode ocorrer crossing-over, isto é, ocorrer uma troca de segmentos de cromatídios não irmãos de
cromossomas homólogos. O crossing-over é um dos responsáveis pela variabilidade genética, já que altera o
conteúdo genético dos cromossomas homólogos.
Forma-se o fuso acromático, a partir de microfilamentos proteicos, com origem nos centríolos.
A membrana nuclear e os nucléolos desorganizam-se.
É caracterizada pela formação da placa equatorial.
Os bivalentes organizam-se no plano equatorial do fuso acromático, originando a placa equatorial. O plano equatorial
Metáfase I
é definido pelos pontos de quiasma entre os cromossomas homólogos, estando os centrómeros voltados para os
poios opostos.
A orientação dos cromossomas homólogos na placa equatorial é efetuada ao acaso, o que introduz variabilidade
genética nos seres vivos que se reproduzem sexuadamente.
Verifica-se ascensão polar dos cromossomas homólogos. Desta forma, ocorre a separação dos cromossomas
homólogos, migrando cada cromossoma para poios opostos.
Anáfase I
Cada cromossoma passa a ser constituído por dois cromatídios unidos por um centrómero (não ocorre a clivagem dos
centrómeros).
Esta etapa é responsável pela redução cromossómica existente na meiose, assim como do teor de DNA. Durante esta
fase, o número de cromossomas é reduzido para metade (passa de 2n a n), assim como o teor de DNA (passa de 4n a
2n). O núcleo diploide origina, no final da etapa, dois núcleos haploides.
Ocorre reorganização celular.
Telófase I
Ocorre ascensão polar dos cromossomas-filhos. O centrómero sofre clivagem e os cromatídios de cada cromossoma
Anáfase II
separam-se, originando dois cromossomas-filhos. Cada cromossoma-filho passa a ser constituído por um
centrómero e um cromatídio.
Há redução do teor de DNA (passa de 2Q a Q), não existindo alteração do número de cromossomas (n).
A membrana nuclear reorganiza-se à volta de cada conjunto de cromossomas-filhos.
Telófase II
Os nucléolos reorganizam-se.
0 fuso acromático desorganiza-se. Os cromossomas tornam-se cada vez mais finos e flexuosos.
A citocinese pode iniciar-se durante a anáfase II e prolongar-se pela telófase II.
No decorrer da meiose, existe uma redução do número de cromossomas (2n a n) e duas reduções do teor de DNA (4Q a Q). O
número de cromossomas é reduzido a metade durante a anáfase I, quando ocorre a separação dos cromossomas homólogos,
originando-se dois núcleos haploides, já que cada um deles possui apenas um cromossoma de cada par de homólogos. Os
cromossomas passam de 2n a n. No decorrer da anáfase II, não há qualquer alteração no número de cromossomas, pois, nesta
fase, existe separação dos dois cromatídios de um cromossoma, o que origina dois cromossomas--filhos, um para cada núcleo
filho, pelo que se mantém o número de cromossomas. A quantidade de DNA sofre duas reduções. A primeira redução ocorre na
anáfase I e a segunda na anáfase II. No decorrer da anáfase I, o teor de DNA reduz para metade, de 4Q para 2Q, devido à
separação dos cromossomas homólogos, ficando dois núcleos com metade dos cromossomas, logo com metade dos cromatídios
e, por isso, com metade do DNA. Durante a anáfase II, dá-se a separação dos cromatídios e a clivagem dos centrómeros. Como
cada cromossoma-filho é constituído por apenas um cromatídio, então possui apenas uma cadeia de DNA. Desta forma, a
quantidade de DNA passa de 2Q (dois cromatídios) para metade, ou seja, Q (um cromatídio). O valor inicial de DNA na prófase I
deve-se à replicação do DNA durante o período 5 da interface que precedeu a meiose (Figura 15).
Figura 15 Variação do teor de DNA no decorrer da meiose
Meiose
Ocorre em células germinais para a produção de gâmetas ou esporos.
Origina quatro células-filhas germinais, cujo número de cromossomas é metade do da célula-mãe. As células resultantes
possuem apenas um cromossoma (cromatídio) de cada par de homólogos.
Uma célula diploide origina quatro células haploides.
A célula que sofre meiose é sempre diploide.
A informação genética das células-filhas é diferente entre si e a célula-mãe, devido à separação ao acaso dos homólogos e
à ocorrência de crossing-over.
A quantidade de DNA das células-filhas é a quarta parte da célula-mãe.
Há emparelhamento de cromossomas homólogos com possibilidade de crossing-over (prófase I).
Há formação de tétradas cromatídicas (prófase I).
O centrómero só se divide na anáfase II.
Na anáfase I, os centrómeros não se dividem e os cromatídios irmãos não se separam. Sobem aos poios cromossomas com
estrutura dupla, ou seja, cada um com os seus dois cromatídios. Na anáfase II, ocorre a divisão dos centrómeros e sobe aos
poios um cromatídio de cada cromossoma.
Ocorrem duas divisões sucessivas, sendo a divisão II igual à mitose.
Na metáfase I, os cromossomas colocam-se aos pares em placa equatorial. Em cada bivalente, o centrómero de um
cromossoma está voltado para um polo e o centrómero do seu homólogo está voltado para outro polo. O plano equatorial
é definido por quiasmas, ou seja, pontos de ligação entre os cromossomas de cada par.
Os gâmetas são produzidos em estruturas especializadas — as gónadas e os gametângios. As gónadas são as estruturas
responsáveis pela produção de gâmetas nos animais. As gónadas masculinas são os testículos e as femininas são os ovários. Nos
testículos são produzidos os gâmetas masculinos, os espermatozoides, enquanto nos ovários são produzidos os gâmetas
femininos, os óvulos. Nos animais, os gâmetas são haploides, uma vez que resultam do processo meiótico. Os gâmetas
masculinos são pequenos e móveis, enquanto os femininos são maiores e imóveis. Assim, diz-se que, nos animais, existe
anisogamia, isto é, os gâmetas são morfologicamente e fisiologicamente diferentes. Os gametângios são as estruturas
responsáveis pela produção de gâmetas na maior parte das plantas. Os gametângios masculinos são os anterídios e os
femininos são os arquegónios. Nos anterídios são produzidos os gâmetas masculinos, os anterozoides, enquanto nos
arquegónios são produzidos os gâmetas femininos, as oosferas. Em cada arquegónio só é produzida uma oosfera, enquanto
num anterídio se produzem numerosos anterozoides. Estes deslocam-se em ambiente húmido até à oosfera, que se encontra no
interior do arquegónio, onde ocorre a fecundação.
As duas estratégias principais de reprodução sexuada são o hermafroditismo e o unissexualismo. Os organismos hermafroditas
são aqueles que possuem, simultaneamente, os dois sistemas reprodutores (masculino e feminino) e, consequentemente, são
capazes de produzir os dois tipos de gâmetas. Alguns animais e numerosas plantas são organismos hermafroditas. O
hermafroditismo pode ser suficiente ou insuficiente. No primeiro caso, a fecundação ocorre entre os gâmetas provenientes do
mesmo indivíduo, isto é, ocorre autofecundação. No segundo caso, mais frequente, ocorre fecundação cruzada, isto é, verifica-
se troca de espermatozoides entre os dois indivíduos que se cruzam, apesar de ambos possuírem os dois sexos. A
autofecundação é vantajosa em organismos imóveis ou naqueles que têm dificuldade em encontrar parceiros. No entanto, é um
processo que conduz a uma diminuição da variabilidade genética e, consequentemente, a uma diminuição da capacidade de
adaptação às variações ambientais.
A fecundação cruzada é o processo típico de fusão dos gâmetas no unissexualismo. Nos animais unissexuais, a fecundação
cruzada depende da capacidade de mobilidade e do local onde ocorre a fecundação. Assim, se o critério for o local onde ocorre
a fecundação, esta pode ser interna ou externa. A primeira ocorre no interior do organismo da fêmea, enquanto a segunda
ocorre em meio líquido. A fecundação externa exige uma produção abundante de gâmetas, de forma a garantir o sucesso da
fecundação. No entanto, a maioria dos gâmetas perde-se, pelo que este tipo de fecundação é um processo biologicamente
ineficiente. Pelo contrário, a fecundação interna é um processo mais vantajoso, uma vez que, ao produzir menos gâmetas e ao
aumentar a eficiência da fecundação, permite uma poupança dos recursos energéticos e materiais dos organismos envolvidos.
Os ciclos de vida que podemos encontrar nos seres vivos são ciclos de vida haplontes (algas como a espirogira), diplontes
(mamíferos como o Homem) e haplodiplontes (fetos como o polipódio), possuindo cada um destes ciclos de vida características
que os tornam únicos (Tabela 13).
Tabela 13 Diferentes tipos de ciclos de vida
Características Ciclo haplonte Ciclo diplonte Ciclo haplodiplonte
Meiose Pós-zigótica Pré-gamética Pré-espórica
Indivíduo adulto Haploide Diploide Haploide e diploide
Estruturas haploides Indivíduo adulto Gâmetas Indivíduo adulto
(n cromossomas) Gâmetas Gametófito
Gâmetas
Esporos
Estruturas diploides Ovo ou zigoto Indivíduo adulto Indivíduo adulto
(2n cromossomas Gametófito Esporófito
Ovo ou zigoto Ovo ou zigoto
Alternância de fases Existe. Existe. Existe.
nucleares A haplófase é mais A diplófase é a mais A diplófase e a haplófase possuem o mesmo
desenvolvida. desenvolvida. desenvolvimento, tornando-se a diplófase
progressivamente mais desenvolvida.
Alternância de Não Não Gerações esporófita e gametófita com diferentes graus
gerações* de desenvolvimento.
*Considera-se que ocorre alternância de gerações quando existe, em cada uma das fases nucleares, uma entidade adulta multicelular. A geração responsável
pela formação de gâmetas, haploide, é a gametófita. A geração esporófita, diploide, é responsável pela formação de esporos.
A espirogira é uma alga verde (Clorófita) filamentosa e muito simples. Esta alga, que se pode reproduzir assexuadamente e
sexuadamente, possui um ciclo de vida haplonte e, consequentemente, uma meiose pós-zigótica (Figura 16). A espirogira possui
alternância de fases nucleares, pois ao ocorrer meiose e fecundação, mecanismos biológicos complementares, as células passam
de diploides a haploides e vice-versa. A meiose é pós-zigótica, uma vez que ocorreu sobre o zigoto. O indivíduo adulto é
haploide, sendo o zigoto a única célula diploide. Os gâmetas revelam isogamia morfológica e anisogamia funcional, isto é, as
células dadora e recetora são morfologicamente iguais mas funcionalmente diferentes. A espirogira também se reproduz
assexuadamente por fragmentação, quando as condições do meio em que vive são favoráveis.
O Homem é um mamífero que se reproduz sexuadamente, possui um ciclo de vida diplonte e, consequentemente, uma meiose
pré-gamética (Figura 16). O Homem é um ser vivo diplonte, uma vez que a quase totalidade do seu ciclo de vida ocorre na fase
diploide. A meiose é pré-gamética, ou seja, ocorre para a formação dos gâmetas. Os gâmetas (fase haploide), ao fundirem-se,
originam o ovo ou zigoto que, por mitoses sucessivas e por diferenciação celular, origina um indivíduo adulto. O ciclo biológico
do Homem apresenta alternância de fases nucleares, isto é, ocorre uma fase diploide e uma fase haploide. A primeira começa
com a fecundação (fusão dos gâmetas) e termina com a meiose e a segunda começa com a meiose e termina com a fecundação.
As únicas entidades haploides do ciclo biológico do Homem são os gâmetas.
As plantas conhecidas por fetos, como o polipódio, são exemplo de plantas da classe das Filicíneas (Divisão das Traqueófitas).
Estas plantas caracterizam-se por possuírem xilema e floema, apresentarem grandes folhas e disseminarem-se através de
esporos, uma vez que não possuem semente. O polipódio é um ser vivo haplodiplonte, pois possui uma meiose pré-espórica e
um indivíduo multicelular adulto haploide e outro diploide (Figura 16). A meiose decorre nas células-mães dos esporos, no
interior dos esporângios, originando os esporos. O polipódio possui alternância de fases nucleares. A diplófase inicia-se com o
desenvolvimento do ovo e termina com a formação dos esporos durante a meiose. A haplófase inicia-se com o desenvolvimento
de um esporo e termina com a fecundação. A diplófase é constituída pelo zigoto, indivíduo adulto (esporófito), esporângios e
células-mães dos esporos, sendo mais desenvolvida que a haplófase. A fecundação é dependente da água, uma vez que os
anterozoides possuem flagelos para se movimentarem na água em direção à oosfera.
Figura 16 Ciclos de vida
O Homem intervém nos ciclos de vida dos organismos através dos impactes provocados pelas numerosas atividades humanas.
Assim, a intervenção do Homem no ciclo de vida dos animais pode resultar de:
aumento do efeito de estufa, responsável por alterações climáticas que influenciam o ciclo de vida de numerosos
organismos. Se existem organismos que se adaptam às novas condições, existem outros, porém, cujos impactes causados
poderão levar à sua extinção;
acumulação de substâncias tóxicas no ar, solo e água. Algumas destas substâncias poderão intervir diretamente do ciclo de
vida de seres vivos, como, por exemplo, na produção de gâmetas;
destruição de habitats que constituem zonas de reprodução.
Unidade 7 - Evolução biológica
Todos os seres vivos da Terra resultaram da evolução de organismos muito simples, que surgiram há mais de 3 mil milhões de
anos (M.a.). A enorme biodiversidade atual é o resultado de um longo processo de evolução biológica, através da qual a vida
tem passado desde que surgiu.
1. Unicelularidade e pluricelularidade
Existem dois tipos fundamentais de células, de acordo com o grau de organização estrutural — as células procarióticas e as
células eucarióticas. Os organismos constituídos por células procarióticas denominam-se procariontes, enquanto aqueles que
são constituídos por células eucarióticas dizem-se eucariontes (Tabela 14).
Os procariontes surgiram na Terra há, pelo menos, 3500 M.a. e evoluíram sozinhos durante cerca de 2000 M.a. Estes seres vivos
continuam a adaptar-se e a evoluir num planeta em permanente mudança. Os procariontes ocupam uma grande variedade de
habitats e revelam uma grande diversidade de formas e funções. Assim, os primeiros seres vivos foram unicelulares e
procariontes, e é a partir deles que toda a vida evoluiu (Figura 17).
Figura 17 Provável evolução dos seres vivos a partir dos seres procarióticos unicelulares.
O aparecimento dos eucariontes, a partir das células procarióticas, foi o primeiro passo evolutivo. Para explicar o aparecimento
das células eucarióticas, existem duas hipóteses: a hipótese autogénica e a hipótese endossimbiótica (Figura 18 e Tabela 15).
invaginando para o interior da célula procariótica, especializando-se posteriormente. Estas invaginações, depois de
especializadas, originaram os diferentes organitos membranares, que são típicos das células eucarióticas.
As células eucarióticas surgiram a partir de associações endossimbióticas que se estabeleceram entre várias células
Hipótese endossimbiótica
procarióticas. De acordo com esta teoria, o sistema endomembranar surgiu devido a invaginações da membrana
citoplasmática, e as mitocôndrias e os cloroplastos resultaram de um processo evolutivo a partir de células procarióticas
que estabeleceram relações de endossimbiose com células hospedeiras de maiores dimensões, passando a viver dentro
delas. Com o avançar do tempo, estas células perderam grande parte da sua autonomia, tornando-se organitos da
célula hospedeira. Os procariontes ancestrais das mitocôndrias seriam células heterotróficas aeróbias e as dos
cloroplastos seriam células fotossintéticas. Esta é a hipótese mais aceite, pois é fundamentada através da organização
das mitocôndrias e dos cloroplastos. Qualquer um destes organitos possui DNA e ribossomas semelhantes aos das
células procarióticas, possuem as suas próprias membranas internas, além de se dividirem independentemente da
célula que os contém.
O aparecimento da célula eucariótica trouxe vantagens evolutivas aos seres vivos que por elas eram constituídos. Algumas
dessas vantagens são:
aumento do número de cromossomas, o que introduziu uma maior variabilidade genética na célula, logo uma maior
capacidade de adaptação ao ambiente;
o núcleo, como centro coordenador da célula, permitiu um maior controlo das atividades celulares;
o número e a variedade de células eucarióticas aumentou através dos mecanismos de seleção.
Os primeiros indivíduos eucarióticos eram unicelulares, sendo o seu número reduzido quando comparado com os procariontes.
No entanto, como estes eram favorecidos pela seleção natural, o seu número foi aumentando, o que permitiu a formação de
células eucarióticas com características semelhantes. Surgem, deste modo, as colónias de seres unicelulares. Estas colónias
eram constituídas por um conjunto de células sem qualquer interdependência funcional entre elas, isto é, cada célula
continuava a funcionar isoladamente das restantes células.
Posteriormente, começou a surgir uma certa interdependência funcional entre alguns indivíduos, como é o caso da colónia
Volvox (Protista). Esta colónia apresenta interdependência estrutural, mantendo unido um elevado número de células,
possuindo a nível reprodutor uma diferenciação celular, já que algumas das células da colónia têm a função reprodutiva. A
diferenciação que existe é praticamente nula, não se podendo considerar que haja diferenciação de tecidos, e, por isso, a Volvox
não é um ser multicelular. No passado, colónias eucarióticas semelhantes ao Volvox evoluíram, adquirindo sucessivamente,
diferenciação de tecidos, diferenciação de órgãos e, por fim, diferenciação de sistemas. Tornaram-se, assim, organismos
pluricelulares com um grau crescente de diferenciação. Estes indivíduos pluricelulares possuem um elevado número de células
eucarióticas, unidas entre si, por isso com interdependência estrutural, e que apresentam diferenciação de sistemas, possuindo,
por isso, interdependência funcional.
O aparecimento da pluricelularidade trouxe vantagens evolutivas para os seres vivos nos quais esta característica surgiu.
Algumas dessas vantagens são as seguintes:
As dimensões dos seres vivos aumentaram, o que permitiu uma maior especialização de determinados conjuntos celulares
destes seres vivos.
A especialização dos mecanismos energéticos permitiu um melhor aproveitamento energético.
Desenvolveram-se os mecanismos de coordenação das várias funções, permitindo que os seres vivos se tornassem mais
independentes relativamente ao meio.
Permitiu uma maior variabilidade de indivíduos, contribuindo para uma maior adaptação destes ao ambiente.
2. Mecanismos de evolução
De uma forma muito simples, a evolução biológica é a descendência, com modificações, resultante de diferentes gerações a
partir de ancestrais comuns. Esta definição abrange a microevolução — mudanças na frequência de um gene numa população
de uma geração para a seguinte — e a macroevolução — a formação de espécies diferentes, a partir de um ancestral comum, ao
longo de várias gerações.
A evolução biológica não é simplesmente um acumular de mudanças ao longo do tempo. Existem muitos exemplos de mudança
sem que ocorra evolução. Assim, as árvores que perdem as suas folhas e as montanhas que crescem e são erodidas são casos de
mudança, mas não são exemplos da evolução biológica, uma vez que não envolvem a transmissão de características
hereditárias. A ideia central da evolução biológica é que toda a vida na Terra resultou de um antepassado comum. Evolução não
significa superioridade ou perfeição. No essencial, a evolução é uma questão de sobrevivência num meio em constante
alteração.
2.1. Evolucionismo vs. fixismo
Ao longo da História foram propostas duas teorias explicativas da atual biodiversidade: o fixismo e o evolucionismo. Segundo o
fixismo, as espécies são vivas e imutáveis (fixas) e criadas independentemente umas das outras, enquanto para o evolucionismo
as espécies atuais são o resultado de lentas e sucessivas transformações sofridas pelas espécies do passado, ao longo do tempo.
As teorias fixistas mantiveram-se sem contestação até meados do século XVIII, sendo confrontadas com as teorias evolucionistas
a partir do século XIX.
Fixismo
O fixismo corresponde à primeira tentativa de explicação da biodiversidade dos seres vivos. Surgiu numa época em que vigorava
a teoria geocêntrica, em que o mapa-mundo não tinha os contornos de hoje e em que vigorava o poder da religião. Desta forma,
as teorias que surgiam nesta altura refletiam o pensamento da época. Se os seres vivos eram criados por um Deus, então estes
seres eram perfeitos, pois um Deus não produz nada imperfeito e deste modo não necessitariam de mudar. As três correntes
fixistas, explicativas da biodiversidade, têm em comum o facto de não aceitarem alterações nos seres vivos, isto é, estes são
imutáveis, mantendo-se inalterados ao longo dos tempos (Tabela 16).
As teorias evolucionistas tiveram dificuldades de implementação na sociedade, visto que estas revolucionaram as ideias numa
época em que a religião possuía tanto ou mais poder que o Estado. Deste modo, as teorias de Lamarck e, posteriormente, de
Darwin tiveram de apresentar fortes argumentos para provarem o que postulavam.
Lamarck foi o primeiro cientista a apresentar uma teoria explicativa da forma como se processa a evolução dos seres vivos, o
lamarckismo. No entanto, esta teoria, atualmente, só é referenciada devido à sua importância histórica e não pelo seu valor
científico, pois Lamarck foi o primeiro cientista a apresentar uma explicação para a evolução, a explicar os registos fósseis e a
biodiversidade através da evolução, a acreditar que a Terra tinha uma idade muito superior ao que se julgava e a considerar que
a adaptação dos seres vivos ao ambiente foi o fator evolutivo mais relevante.
Da aplicação dos princípios da teoria lamarckista ao exemplo das girafas, temos (Figura 19):
As girafas habitavam meios em que predominavam as plantas herbáceas e arbustivas de que se alimentavam.
Estas girafas, sem qualquer variabilidade intraespecífica, possuíam pescoço e patas curtas.
O ambiente modificou-se, tendo desaparecido a vegetação herbácea e arbustiva e surgindo, de forma predominante, a
vegetação arbórea.
As girafas, para não morrerem de fome, sentiram necessidade de se modificar, de forma a poderem alimentar-se.
Para chegarem às árvores, ou seja, ao alimento, as girafas esticaram continuamente as patas e o pescoço (lei do uso e
desuso), de forma que estes se desenvolveram.
A totalidade das girafas, num tempo relativamente curto, adquiriu novas características, ou seja, o pescoço e as patas
compridas.
As características adquiridas são transmitidas à descendência, que passa a possuir patas e pescoço compridos (lei da
transmissão das características adquiridas).
Charles Darwin foi o cientista que conseguiu implementar a teoria evolucionista como teoria explicativa da biodiversidade. Esta
teoria evolucionista é também conhecida por teoria de Darwin-Wallace, dado que os cientistas, trabalhando
independentemente, chegaram às mesmas conclusões, tendo chegado a partilhar ideias (tabela 17)
Da aplicação dos fundamentos da teoria darwinista ao exemplo das girafas temos (Figura 20):
Existia uma população de girafas que apresentava variabilidade intraespecífica, isto é, umas possuíam o pescoço e patas de
reduzidas dimensões, outras de médias dimensões e outras de grandes dimensões.
Nesta população, o crescimento era controlado pela quantidade e tipo de alimento existente no meio.
Esta população travava uma luta pela sobrevivência, sendo selecionados os seres mais aptos e eliminados os menos aptos.
As girafas que possuíam os pescoços e patas de maiores dimensões estavam adaptadas a um meio em que predominava o
alimento arbóreo, pelo que conseguiam chegar ao alimento, e deste modo sobreviviam.
As girafas que possuíam o pescoço e as patas de menores dimensões estavam menos adaptadas a um meio em que
predominava o alimento arbóreo, pelo que não conseguiam chegar
Ocorreu, deste modo, uma seleção natural, que selecionou os indivíduos mais aptos (as girafas de pescoço e patas de
maiores dimensões) e eliminou os indivíduos menos aptos (as girafas de pescoço e patas de menores dimensões).
Na população de girafas começaram a predominar as girafas de pescoço e patas compridos, pelo que, reproduzindo-se
mais, iriam aumentar de número, enquanto as girafas de pescoço e patas curtos, sendo em menor número, reproduziam-se
menos e o seu número iria diminuir (reprodução diferencial).
A população passou a ser constituída, maioritariamente, por girafas de pescoço e patas compridos, transmitindo esta
característica mais apta à descendência.
Durante o século XX, novas áreas da Ciência vieram ampliar o conceito de evolução. O neodarwinismo ou teoria sintética da
evolução explica a causa da diversidade dos seres vivos a partir das frequências genéticas, isto é, no fundo genético das
populações (o fundo genético corresponde ao conjunto de todos os alelos que fazem parte dessa população). A evolução é, por
isso, devida a alterações das suas características genéticas. População é, por isso, a unidade evolutiva, pois é sobre os indivíduos
das populações que se fazem sentir os agentes evolutivos.
A teoria neodarwinista, ao contrário da teoria darwinista, é uma teoria completa, na medida em que explica as causas da
variabilidade intraespecífica existente nas populações que sofrem evolução. Esta variabilidade, ou seja, a variedade de formas
existente nos indivíduos, deve-se, essencialmente, a duas causas: a ocorrência de mutações e de recombinações génitas. As
mutações são o elemento que introduz a novidade genética, enquanto a recombinação dos genes, durante a meiose e a
fecundação ao acaso, aumentam a variabilidade genética, logo a variabilidade intraespecífica.
Argumentos do evolucionismo
A teoria da evolução contém princípios aceites pela maior parte da comunidade científica e unifica todos os conhecimentos da
Biologia. A análise do processo evolutivo é crucial para a compreensão da vida.
Os argumentos de que a evolução ocorreu são inúmeros, sendo as principais os referidos na tabela 19.
Tabela 19 Argumentos evolucionistas
Argumento Exemplos
Órgãos homólogos
Anatómicos Órgãos análogos
Órgãos vestigiais
Fósseis de seres vivos
Paleontológicos
Fósseis de transição
Embriológicos Desenvolvimento embrionário dos vertebrados superiores
Citológicos Teoria celular
Indivíduos semelhantes em locais muito afastados
Biogeográficos
Indivíduos diferentes em locais próximos
Argumentos anatómicos
Os argumentos anatómicos baseiam-se em estudos de anatomia comparada, a qual realça as semelhanças e as diferenças das
estruturas anatómicas dos indivíduos. A apoiar este argumento encontram-se os órgãos homólogos, os órgãos análogos e os
órgãos vestigiais.
Os órgãos homólogos são estruturas que apresentam o mesmo plano de organização interna e de desenvolvimento
embrionário, logo com um ancestral comum, mas que possuem função e forma diferentes (Figura 21).
Neste caso está o braço de um homem e a barbatana de uma baleia.
A existência dos órgãos homólogos permite concluir que ocorreu uma evolução divergente entre estes seres, pois se existe um
ancestral comum, uma estrutura comum e se na atualidade eles são morfológica e funcionalmente diferentes é porque através
do tempo se afastaram, o que significa que divergiram. Esta evolução divergente resulta de uma adaptação dos seres a
diferentes ambientes, ou seja, sujeitos a diferentes pressões, o que no caso da existência de vários nichos ecológicos se pode
traduzir na ocorrência de uma radiação adaptativa.
Os órgãos análogos correspondem a estruturas que não apresentam qualquer organização interna semelhante, logo não existiu
nenhum ancestral comum; no entanto, a sua forma e função são semelhantes (Figura 21).
A análise das estruturas análogas permite concluir que os seres foram submetidos às mesmas condições ambientais, ou seja, às
mesmas pressões seletivas, às quais se adaptaram da mesma forma, ocorrendo, por esse motivo, uma evolução convergente.
É importante referir que, quando se fala em órgãos homólogos e órgãos análogos, se está a referir apenas a estruturas e não a
indivíduos, e, caso se trate de um indivíduo, então fala-se de homologia e em analogia. Isto prende-se com o facto de um
mesmo indivíduo poder possuir, simultaneamente, órgãos análogos e órgãos homólogos, dependendo do referencial de
comparação.
Os órgãos vestigiais representam, como o nome indica, vestígios de órgãos que já foram mais desenvolvidos no passado. Estes
órgãos são também um argumento evolucionista, na medida em que a sua redução nos transmite alteração nos seres vivos,
representando uma evolução regressiva. São exemplos de órgãos vestigiais o apêndice, o dente carniceiro e o cóccix humanos,
os dedos laterais do cavalo, as asas do quivi, o osso pélvico na baleia.
Argumentos paleontológicos
Os argumentos paleontológicos baseiam-se na análise e interpretação dos fósseis, que podem ser os fósseis de formas extintas,
os fósseis de transição e os "fósseis vivos". As formas fósseis extintas e a sua sequência demonstram a evolução dos indivíduos,
permitindo a elaboração de árvores filogenéticas.
Os fósseis de transição ou formas sintéticas correspondem a fósseis de indivíduos que apresentavam características de duas ou
mais classes atualmente distintas, permitindo-nos concluir que essas classes tiveram um mesmo ancestral comum e que
sofreram um processo de evolução divergente. O Archaeopteryx, o lchthyostega e as Pteridospérmicas são três exemplos de
fósseis de transição.
O Archaeopteryx corresponde a um indivíduo que possuía características de ave (penas e bico) e de réptil (cauda e dentes),
sendo, por isso, o ancestral destas duas classes animais. O Ichthyostega corresponde a um indivíduo que possuía características
de peixe e de vertebrado terrestre, sendo, por isso, o seu ancestral. As Pteridospérmicas eram plantas que possuíam
características das atuais Pteridófitas e das Gimnospérmicas.
Os fósseis vivos, apesar de não serem um verdadeiro fóssil, são indicadores acerca da ancestralidade e via evolutiva de
determinados grupos de seres vivos, como é o caso da planta Psilotum.
Argumentos embriológicos
A análise de vários embriões de vertebrados permitiu a constatação de várias analogias no seu processo embrionário.
A ontogenia corresponde ao desenvolvimento de um indivíduo, enquanto a filogenia corresponde à evolução de uma espécie.
Os embriões dos vertebrados possuem muitos aspetos comuns, permitindo a sua análise comparativa estabelecer homologias
entre as diferentes estruturas, e deste modo a sua filogenia. Assim, quanto mais longas forem as fases ontogénicas
(características embrionárias) comuns, filogeneticamente mais próximos estão os indivíduos.
Argumentos citológicos
Este argumento baseia-se na teoria celular. Da análise desta teoria, pode concluir-se que, sendo todos os seres vivos
constituídos por células que apresentam a mesma morfologia e fisiologia, então todos os seres vivos evoluíram a partir dessa
mesma célula eucariótica.
Argumentos biogeográficos
Este argumento baseia-se na observação de seres vivos em diferentes áreas geográficas. Em muitos casos, a observação dos
seres vivos aí presentes permitiram o traçado de linhas evolutivas. A análise de seres vivos presentes em diferentes áreas
geográficas permitiu constatar o seguinte:
a ocorrência de semelhanças nítidas entre seres que habitam locais geograficamente distantes;
a ocorrência de grande diversidade intraespecífica em seres vivos que habitam locais geograficamente próximos.
No primeiro caso encontra-se a fauna e a flora das ilhas Tristão da Cunha, da África e da América. Os três locais,
geograficamente distantes, possuem espécies animais e vegetais muito semelhantes, o que é explicado pelo facto de os três
locais já terem estado juntos, tendo posteriormente os seres vivos evoluído sujeitos às mesmas condições ambientais.
No segundo caso encontram-se as tartarugas das ilhas Galápagos e os marsupiais australianos. As diferentes espécies de
tartarugas existentes nas ilhas Galápagos são explicadas pelos diferentes nichos ecológicos que o ancestral destes seres
encontrou e aos quais se adaptou. Também as várias espécies de tentilhões das ilhas Galápagos são explicadas por uma radiação
adaptativa, existindo tantas espécies de tentilhões quantos os nichos ecológicos. Os marsupiais australianos são explicados pela
separação da Austrália do continente asiático, tendo posteriormente os marsupiais sofrido uma evolução diferente da dos
restantes mamíferos placentários, pois os nichos ecológicos encontrados eram diferentes, pelo que ocorreu uma diferente
adaptação ao meio.
1. Sistemas de classificação
A sistemática corresponde à separação os seres vivos em grupos consoante as suas características, tendo em conta o seu
processo evolutivo, isto é, a comparação das características de diferentes seres vivos de forma a definir a sua linha evolutiva. A
taxonomia é o ramo da Biologia que se ocupa da classificação dos seres vivos em grupos, segundo critérios definidos, e lhes
atribui um nome — nomenclatura.
A classificação filética utiliza, como forma de representação, cladogramas e árvores filogenéticas (Figura 15). O traçado do
cladograma baseia-se em caracteres ancestrais ou primitivos, caracteres derivados e caracteres adquiridos. Um carácter que
seja compartilhado por vários indivíduos devido há existência de um ancestral comum entre eles é um carácter primitivo. Se ao
longo da linha evolutiva de uma espécie há uma característica que diverge das restantes, permitindo, deste modo, traçar novas
linhas evolutivas, essa característica é uma característica derivada. Um carácter adquirido será aquele que é introduzido de novo
numa linha evolutiva e que resulta da adaptação do ser vivo ao meio. As árvores filogenéticas representam relações
filogenéticas entre os seres vivos, pondo em evidência a sua história evolutiva
1.2. Taxonomia e nomenclatura
Atualmente, as categorias taxonómicas são: reino, filo, classe, ordem, família, género e espécie. Nas plantas, o termo filo é
substituído pelo termo divisão. As referidas categorias constituem um sistema hierarquizado, isto é, o reino contém os filos, os
filos contêm as classes, as classes contêm as ordens e sempre deste modo até à espécie (Figura 24).
A hierarquia taxonómica continuou a ampliar-se, sendo também de considerar as categorias acima e abaixo das principais
categorias taxonómicas, o que leva à existência de trinta taxon (categoria taxonómica) diferentes (taxa = plural de taxon). Para
as categorias intermédias inferiores utilizam-se os prefixos infra e sub, utilizando-se o prefixo super para as categorias
superiores, surgindo assim os taxon subespécie, superclasse e infraordem.
O número de seres vivos em cada categoria taxonómica vai diminuindo do reino para a espécie; no entanto, as suas
semelhanças vão sendo cada vez maiores. A espécie é, por isso, o único agrupamento natural, sendo a base da classificação. A
comparação, entre si, de dois seres vivos pertencentes à mesma classe vai apresentar menos semelhanças do que se os mesmos
seres vivos pertencessem ao mesmo género.
Ao classificarmos um ser vivo atribuímos-lhe sempre um nome para, assim, lhe darmos uma identidade própria. A existência de
regras de nomenclatura a nível mundial, tal como a atribuição de um nome científico, permite que em qualquer parte do
mundo se identifique facilmente não só o ser vivo mas também o grupo taxonómico a que este pertence, e, deste modo, um
conjunto de características. No entanto, nem sempre existiram as leis que regulamentam a atribuição de nomes científicos,
tendo estas surgido pela existência de uma enorme dificuldade em atribuir um nome científico e trabalhar com ele. Lineu foi
responsável pela criação do sistema que atualmente se usa e que obedece a um conjunto de regras de nomenclatura,
nomeadamente (Figura 25):
O nome da espécie escreve-se com duas palavras latinas, sendo a primeira um substantivo escrito com inicial maiúscula, e
corresponde ao nome do género a que a espécie pertence; a segunda palavra, escrita com inicial minúscula, designa-se por
epíteto ou restritivo específico (nomenclatura binomial).
O nome dos grupos superiores à espécie consta de uma única palavra, um substantivo escrito com inicial maiúscula
(nomenclatura uninominal).
O nome da subespécie escreve-se colocando à frente do nome da espécie um terceiro termo, designado por epíteto ou
restritivo subespecífico (nomenclatura trinominal).
Os nomes genéricos, específicos e subespecíficos devem ser escritos em itálico e, quando em manuscritos, devem ser
sublinhados.
O nome do género corresponde à primeira palavra da espécie.
À frente da designação científica deve escrever-se o nome, ou a sua abreviatura, do taxonomista que, pela primeira vez,
atribuiu aquele nome científico à espécie.
Com o desenvolvimento do microscópio, Copeland identifica, dentro do Reino Protista, um conjunto de seres vivos que não
possuem núcleo. Surge, neste momento, a classificação dos seres vivos em quatro reinos, com a criação do Reino Monera, que
engloba a totalidade dos seres vivos procarióticos.
Em 1969, Whittaker propõe uma nova classificação dos seres vivos, desta vez apoiando-se no seu nível trófico, nutrição e
organização da estrutura, surgindo então a classificação em cinco reinos, com a introdução do Reino Fungi, que englobava os
seres vivos decompositores.
Em 1979, o mesmo Whittaker, verificando que não havia uniformidade de critérios no Reino Plantae e no Reino Protista, altera
a composição destes reinos. Whittaker propõe então que as Algas (Plantas na classificação de 1969), porque não possuem
diferenciação de tecidos e nem todas são multicelulares, sejam incluídas no Reino Protista (Tabela 21).
O risco geológico é um processo natural ou não que afeta de forma adversa o ser humano (tanto no que se refere à sua vida
como aos seus bens). Pode ser também considerado como o produto da probabilidade de ocorrência de determinado
acontecimento, pelas consequências para o Homem, se tal acontecimento se verificar. De uma forma geral, pode afirmar-se
que:
o risco será tanto maior quanto maior for a ocupação antropogénica da área afetada;
os riscos geológicos antropogénicos foram fortemente amplificados desde a Revolução Industrial;
o risco associado a determinado acontecimento tem aumentado de forma significativa com a passagem do tempo, devido,
principalmente, ao crescimento demográfico.
Uma classificação possível dos riscos geológicos é a seguinte (Tabela 23):
Tabela 24 Tipos de riscos geológicos
Tipo Exemplos
Cheias
Sismos
Vulcões
Riscos geológicos naturais Deslizamentos
Radioatividade natural
Elementos dissolvidos na água
Queda de meteoritos
Riscos geológicos Sismicidade induzida
antropicamente Amplificação de cheias
amplificados Contaminantes na cadeia alimentar
Acidentes nucleares
Riscos geológicos de
Resíduos nucleares
origem tecnológica
Produtos sintéticos
O ordenamento do território surge como uma resposta à diminuição da vulnerabilidade das populações aos riscos geológicos,
contribuindo, ao mesmo tempo, para um desenvolvimento sustentável. O ordenamento do território é entendido como a
organização do espaço biofísico, tendo em conta a sua ocupação e utilização de acordo com as capacidades e características que
apresenta.
Os rios são os agentes geológicos mais importantes na erosão, no transporte e na deposição de sedimentos, e a sua influência é
visível na maioria das paisagens. Os rios são cursos de água superficiais e largos que podem desaguar noutro rio, num lago ou no
mar. No perfil de um rio, consideram-se os seguintes elementos: leito de rio, leito de cheia, leito de seca e margens (Figura 28 e
Tabela 25).
Figura 28 Perfil transversal de um rio.
A atividade geológica de um rio compreende a erosão, o transporte e a sedimentação. A erosão consiste na remoção de
materiais resultantes da alteração das rochas do leito do rio e das margens. O transporte corresponde ao deslocamento, pela
corrente de água, dos detritos rochosos removidos por erosão. A carga sólida de um rio é constituída por materiais dissolvidos,
materiais em suspensão e materiais que sofrem transporte no fundo. Este transporte pode fazer-se por arrastamento, rola-
mento ou saltação dos materiais. A sedimentação corresponde à deposição dos materiais, quando diminui a capacidade de
transporte de um rio. A sedimentação é influenciada pelas dimensões e peso dos detritos e pela velocidade da corrente
As cheias são fenómenos naturais provocados por precipitação intensa de curta duração, por precipitação muito prolongada,
por fusão de gelo ou, ainda, pela rutura de diques e barragens. Durante uma cheia, o excesso de água faz aumentar o caudal dos
rios, o que provoca o extravasamento das águas e a inundação das margens. As cheias podem ter um grande impacto, quando
há ocupação antrópica do leito de cheia. A prevenção de danos materiais e humanos causados pelas cheias pode ser conseguida
através de medidas:
estruturais, como a adoção de sistemas de retificação dos cursos de água, a construção de barragens e de canais de
escoamento;
não estruturais, como o ordenamento da construção em leitos de cheia e da sua ocupação por outras atividades humanas, a
preservação de solos e a informação das populações.
Uma das possíveis medidas de controlo de cheias é a construção de barragens. Uma barragem é uma barreira artificial que
permite a retenção de água com vários objetivos. Assim, a construção de barragens permite (Figura 29):
regular o caudal dos rios;
a retenção de água na albufeira, que evita cheias a jusante (lado de uma corrente contrário ao da nascente e para onde
correm as águas; o contrário de jusante é montante);
outras utilizações da água, como a produção de energia hidroelétrica, o abastecimento das populações, as atividades de
recreio ou a irrigação de terrenos agrícolas.
No entanto, estão associados às barragens vários impactes negativos, como, por exemplo:
retenção de sedimentos a montante da barragem (o que vai ter consequências no regime de sedimentação litoral, como
vamos ver mais à frente);
destruição ou desequilíbrio dos ecossistemas da zona, pela inundação de áreas anteriormente emersas, e interferência com
as migrações de peixes.
A acumulação de sedimentos nas albufeiras das barragens e a extração de inertes (areias e outros materiais) podem ter como
consequência:
desaparecimento de praias fluviais;
descalçamento de pilares de pontes, podendo originar a sua queda;
alterações das correntes;
redução na quantidade de sedimentos que chegam ao mar.
Figura 29 Acumulação de
sedimentos nas barragens.
3.2. Zonas costeiras
A zona costeira é a região da interface entre o continente e o mar, e é dominada por processos originados nas bacias
hidrográficas dos rios afluentes, por processos oceanográficos e atmosféricos. A maioria da população mundial concentra-se nas
zonas costeiras dos continentes. Em Portugal, que possui uma grande extensão de costa (cerca de 900 km), é no litoral que se
verifica a maior densidade populacional e que se localizam as principais cidades.
A zona costeira é, então, a zona de transição do continente para o oceano. Nessa transição, é possível distinguir formas de
erosão e de deposição, como as arribas e as praias, respetivamente (Tabela 26).
As arribas são linhas de costa alta e de declives abruptos, constituídas por material rochoso consolidado e com escassa
cobertura vegetal. As arribas encontram-se sujeitas a uma intensa abrasão marinha, ou seja, ao desgaste provocado pelo
rebentamento das ondas nas rochas. Assim, na base das arribas, podem existir plataformas de abrasão, que são superfícies
relativamente planas e próximas do nível do mar onde se encontram os escombros resultantes do desmoronamento das arribas.
As praias são formas de deposição litoral que apresentam um declive suave constituídas, essencialmente, por sedimentos
transportados pelos rios.
São múltiplos os fatores responsáveis pela erosão costeira. Embora alguns desses fatores sejam naturais, a maioria é
consequência direta ou indireta de atividades antrópicas. Os principais fatores antrópicos responsáveis pela erosão costeira e
consequente recuo da linha de costa são:
elevação do nível do mar como consequência do incremento do efeito de estufa;
ocupação da faixa litoral com construções (habitações, empreendimentos turísticos, zonas de lazer e outras);
destruição de defesas naturais, como dunas e vegetação costeira;
diminuição da quantidade de sedimentos, devido à construção de barragens e/ou exploração de inertes nos rios;
obras de engenharia costeira, nomeadamente as que são implantadas para defender o litoral, como, por exemplo, os
esporões.
Na generalidade, existem três formas básicas de solucionar a erosão costeira provocada por fatores antrópicos:
Proteção, ou seja, construir obras de engenharia costeira, como paredões (ou enrocamentos, são estruturas longitudinais,
desenvolvendo-se ao longo da praia), esporões (ou molhes, são obras de proteção costeira perpendiculares à linha de costa,
geralmente construídos em material rochoso, mas podendo ser em betão ou peças de betão) e quebra-mares (são estru-
turas longitudinais destacadas, geralmente paralelas à linha de costa) que impeçam a destruição do património construído
e/ou a invasão do litoral pelo mar. É uma solução localmente eficaz, mas que causa distúrbios na dinâmica litoral a nível
regional. Para além de ser uma solução muito dispendiosa, ela própria pode ser uma causa para o aumento da erosão litoral
(Figura 30).
Retirada estratégica, ou seja, desocupar a faixa costeira que previsivelmente virá a ser perturbada nas próximas décadas,
transferindo para local seguro as construções mais importantes e destruindo as menos importantes. Do ponto de vista
ambiental é, talvez, a solução mais correta, pois deixa a Natureza funcionar naturalmente.
Adaptação, ou seja, efetuar intervenções de proteção ligeira nos trechos da faixa litoral de maior importância e efetuar uma
gestão costeira que tenha em atenção a elevação do nível do mar e o recuo da linha de costa. São exemplos de adaptações
a estabilização de arribas, a reconstrução dunar e alimentação artificial das praias com inertes.
Os movimentos em massa podem ser provocados por causas naturais ou antropogénicas. Os fatores naturais envolvidos nos
movimentos em massa podem ser distinguidos em condicionantes e desencadeantes (Tabela 27).
A prevenção dos movimentos em massa pode fazer-se através das seguintes medidas:
elaboração de cartas de ordenamento do território, com definição de áreas apropriadas para diferentes atividades
humanas;
elaboração de cartas de risco geológico que permitam distinguir as áreas de maior e de menor risco, podendo, desta forma,
assegurar uma correta distribuição da população;
remoção ou contenção dos materiais geológicos que possam constituir perigo. A contenção pode ser feita através de muros
de suporte (com ou sem drenagem de águas), de redes e de pregagens.
4. Processos e materiais geológicos importantes em ambientes terrestres
Uma rocha é um corpo natural formado por associações estáveis de minerais compatíveis entre si e com o meio ambiente em
que foram gerados. Um mineral é uma substância sólida, natural, inorgânica, com uma composição química bem definida ou
variável dentro de determinados limites.
Figura 32 Fenómenos geológicos relacionados com a formação de rochas sedimentares — ciclo sedimentar.
A análise do esquema da figura 18 permite evidenciar cinco etapas fundamentais no ciclo sedimentar:
I. Meteorização — é o conjunto das alterações químicas e físicas das rochas quando expostas ao tempo. Os processos de
meteorização podem ser químicos e físicos.
II. Erosão — é o conjunto de processos naturais que provocam a remoção dos sedimentos formados pela meteorização. Os
agentes de erosão são a gravidade, os glaciares a água corrente e o vento.
III. Transporte — é o conjunto de processos naturais que favorecem a deslocação dos sedimentos desde as áreas de
alimentação até às bacias de sedimentação. Os agentes de transporte são a água, o vento, a gravidade e o gelo.
IV. Sedimentação — em determinadas condições do meio (pH, Eh, concentração de sais e outras substâncias, profundidade da
água, grau de agitação, salinidade, temperatura, humidade, etc.), os materiais transportados depositam-se, constituindo os
sedimentos. A sedimentação é fortemente condicionada pela velocidade do agente transportador e pelas dimensões e
diversidade dos materiais.
V. Diagénese — é o conjunto de transformações mecânicas e químicas que convertem o sedimento em rocha. Este conjunto
de transformações é designado por diagénese, que compreende as seguintes fases: compactação; cimentação;
recristalização; alterações químicas. Esta etapa do ciclo sedimentar será tratada mais à frente.
Sedimentogénese
Em determinadas condições propícias, os materiais transportados depositam-se, constituindo sedimentos. Este processo é
designado por sedimentação.
Os sedimentos são constituídos por detritos de outras rochas (clastos), minerais resistentes à meteorização química, minerais
formados como consequência da meteorização química, minerais resultantes da precipitação de substâncias em solução e
produtos biogenéticos. A sedimentação é condicionada pela velocidade do agente transportador, pelas dimensões das partículas
e pela densidade dos materiais.
O aspeto estrutural mais característico da maioria das rochas sedimentares é a sua ocorrência em camadas ou estratos de
espessuras muito variáveis, que resultam do processo natural de deposição por ação da gravidade.
Uma rocha aflorante (rocha que aparece na superfície terrestre) fica exposta à ação dos vários agentes de geodinâmica externa
(ramo da Geologia que estuda as modificações da crusta terrestre provocadas pela ação modeladora de agentes externos),
como a água, o ar, o vento e a ação dos seres vivos, que provocam alterações físico-químicas. Chama-se meteorização ao
conjunto de processos que provocam a desintegração e a decomposição das rochas e dos minerais, em virtude da ação dos
agentes de geodinâmica externa. Como consequência da meteorização, as rochas aflorantes vão sendo desgastadas e os
materiais resultantes deste processo são transportados para outros locais. Chama-se erosão a este desgaste das rochas
aflorantes, como consequência da meteorização.
A meteorização pode ser de dois tipos distintos (Tabela 28), embora a sua atuação sobre as rochas seja conjunta.
A meteorização física (Tabela 29) provoca nas rochas o alargamento de fraturas e fendas que conduzem à sua desagregação em
fragmentos de dimensões sucessivamente menores. Como consequência deste processo, a superfície de rocha exposta à ação
dos agentes de meteorização aumenta. Este aumento de superfície exposta facilita, ainda mais, a continuação dos vários
agentes de meteorização, bem como a ação da erosão.
Tabela 29 Agentes de meteorização física
Agente Descrição
Grandes amplitudes térmicas diárias (ex.: deserto) – os diferentes minerais que constituem uma rocha
Variações de
sofrem dilatações e contrações sucessivas. O resultado deste processo culmina com a fraturação das
temperatura
rochas que, como consequência, perdem coerência e sofrem desagregação.
Congelação e A água que penetra nas fraturas, fendas, poros ou interstícios das rochas, por diminuição da temperatura,
descongelação da pode congelar. A água, quando congela, aumenta de volume. Assim, o aumento de volume vai provocar o
água alargamento das fraturas e dos interstícios das rochas, o que causa posterior desagregação.
A água que circula nas fraturas e interstícios das rochas possui sais dissolvidos. Por vezes, esses sais
Cristalização de
podem precipitar e originar cristais. O crescimento destes cristais, no interior de fraturas e interstícios das
sais
rochas, provoca o seu alargamento e posterior desagregação.
O crescimento das raízes de árvores e arbustos, a atividade de certos animais (escavação) e a atividade do
Ação dos seres
ser humano (pedreira, minas, construções, poluição) contribuem largamente para o alargamento de
vivos
fraturas e para a desagregação das rochas.
Ação mecânica das O embate das ondas nas costas rochosas e o choque dos materiais (calhaus e areia) por elas transportados
ondas contribuem para o aumento da fraturação e fragmentação das rochas do litoral.
(abrasão marinha)
Ação mecânica da As correntes fluviais e marítimas, o vento e as torrentes que se formam após um forte chuvada
água e do vento transportam detritos de várias dimensões que, ao chocarem com as rochas, provocam o desgaste e a
(abrasão eólica) fragmentação.
Muitas rochas formam-se em condições de pressão e temperatura muito diferentes daquelas que se
Descompressão
verificam na superfície da Terra. Quando, por ação de movimentos tectónicos, estas rochas são expostas à
dos maciços
superfície, sofrem uma descompressão. Como consequência deste processo pode resultar a formação de
rochosos
diáclases (famílias de fraturas).
A meteorização química (Tabela 30) consiste na alteração química ou decomposição de certos minerais e na sua transformação
noutros minerais mais estáveis nas novas condições ambientais. Como, em muitos destes processos, intervêm os seres vivos, a
meteorização pode ser designada por bioquímica.
acidificação da água pode ser um processo natural quando, por [1] CO2+ H2O →H2CO3
exemplo, o CO2 atmosférico ou o CO2 existente na atmosfera do Certos minerais de rochas carbonatadas, como a
solo reage com a água, originando ácido carbónico (H2CO3) [1]. calcite.
Esta água acidificada reage com minerais carbonatados (p. ex. CaCO3 + H2CO3 → Ca(HCO3)2
calcite), alterando-os [2].
A hidratação e a hidrólise são dois processos que agem Os silicatos constituem um exemplo típico de
conjuntamente. Em primeiro lugar, a hidratação provoca a minerais afetados por este tipo de reações.
hidratação
Hidrólise e
incorporação de água na estrutura dos minerais e, em segundo [1] 2 KAISi3O8 + 6 H2O + CO2 → Al2Si2O5(OH)4 + 4
lugar, a hidrólise provoca a alteração do mineral pela água [1]. O SiO2+ K2CO3+ 4 H2O
CO2, na presença de água, origina ácido carbónico, que contribui
para o aumento da concentração de hidrogenião (H+), o que conduz
à aceleração do processo de hidrólise.
Minerais ricos em ferro reagem facilmente com o O2 e oxidam-se Certos minerais, como as olivinas, as piroxenas,
Oxidação
(perdem eletrões). Em minerais ferromagnesianos, o ferro ferroso as anfíbolas e as biotites, são ricos em ferro,
(Fe2+) reage com o O2 e forma o ferro férrico (Fe3+) [1]. O aspeto podendo, eventualmente, sofrer oxidação.
mais visível desta alteração consiste na coloração avermelhada [1] 4 FeSiO3+ O2 → 2 Fe2O3 + 4 SiO2
adquirida por estes minerais.
Transporte e sedimentação
No processo que conduz à formação de rochas sedimentares participam vários agentes de transporte e de sedimentação. Os
principais agentes de transporte envolvidos no ciclo sedimentar são a gravidade, a água e o vento. Ao longo do transporte, as
partículas sedimentares sofrem várias alterações, nomeadamente o arredondamento e a granotriagem.
O arredondamento corresponde à perda das arestas dos clastos devido ao atrito com as rochas da superfície e ao choque entre
eles. Geralmente, um maior grau de arredondamento dos clastos está relacionado com uma maior duração do seu transporte. A
granotriagem corresponde à seleção e separação dos clastos de acordo com o tamanho, forma e densidade. Considera-se que
um sedimento é bem calibrado quando os clastos possuem a mesma dimensão (Figura 33).
A sedimentação verifica-se quando o agente transportador perde energia e os sedimentos se depositam. Também é considerada
sedimentação a acumulação de sedimentos orgânicos ou de materiais que precipitam, como a halite ou o calcário. São exemplos
de ambientes de sedimentação o fundo do mar ou de lagos, os vales, os rios, os recifes de coral, as praias ou as dunas. A
deposição ocorre, principalmente, em meio aquático, originando, normalmente, camadas sobrepostas de forma horizontal e
dispostas paralelamente — os estratos. Cada estrato é delimitado por um teto, estrato que se encontra acima, e por um muro,
estrato que fica por baixo. A superfície de separação entre estratos chama-se junta de estratificação (Figura 34).
Por vezes, a estratificação não é horizontal. Designa-se por estratificação entrecruzada a estrutura de lâminas ou camadas que
se cruzam e truncam em ângulos e que foram depositadas dentro de um processo contínuo de sedimentação, sem ocorrer
discordância (Figura 34).
Quando não ocorre cimentação, as rochas são constituídas por detritos soltos, sendo, por isso, denominadas rochas
desagregadas (p. ex. areia de uma praia). Se, pelo contrário, ocorrer cimentação, as rochas são designadas por rochas
consolidadas (p. ex. arenito).
Identificação de minerais
Um mineral é uma substância sólida, natural, inorgânica, com uma composição química bem definida ou variável dentro de
determinados limites. Um mineral é considerado um cristal quando possui textura cristalina, ou seja, apresenta homogeneidade
a nível estrutural nas três dimensões do espaço, apresentando, por isso, as mesmas propriedades químicas e físicas em todos os
seus pontos. Caso o mineral não apresente homogeneidade interna, então dizemos que ele apresenta textura vítrea ou amorfa.
Os minerais apresentam um conjunto de características que permitem a sua identificação. Algumas dessas características são
determinadas no campo, outras, pelo contrário, necessitam de ser estudadas no laboratório devido aos instrumentos
necessários.
A diferente composição química, assim como a diferente organização estrutural da matéria, são os grandes responsáveis pelas
diferentes propriedades mineralógicas.
As propriedades mineralógicas podem ser analisadas perante um ponto de vista químico e físico. Assim, quando determinas a
cor de um mineral estás a caracterizar uma propriedade física (Tabela 32) e quando analisas a sua reação com os ácidos estás a
analisar uma propriedade química.
O mineral cujo valor de uma dada propriedade se altera com a direção é um mineral anisotrópico para essa propriedade. Se,
pelo contrário, o valor de uma dada propriedade é independente da direção considerada, o mineral é isotrópico para essa
propriedade. Significa isto que um mesmo mineral pode ser simultaneamente isotrópico para uma propriedade e anisotrópico
para outra propriedade.
Tabela 32 Propriedades físicas identificativas dos minerais
Propriedade Definição Classificação
A densidade relativa corresponde à relação entre o peso de um determinado Balança de Jolly
volume do mineral e o peso de igual volume de água a 4 °C é dada pela
Densidade
fórmula:
D= P (peso do mineral no ar) / P — P' (peso do mineral na água)
A dureza relativa de um mineral corresponde à resistência que este 1. Talco
apresenta a ser riscado por outro mineral ou por determinado objeto. 2. Gesso
Reflete a força das ligações atómicas na estrutura cristalina. Pode ser 3. Calcite
referida por comparação com os termos da Escala de Mohs. Um mineral que 4. Flurite
risque e seja riscado por um termo da escala, ou se não se riscarem 5. Apatite
Dureza
mutuamente, possui a mesma dureza. Um mineral risca todos os termos da 6. Ortóclase
escala de menor dureza que a sua e é riscado por todos os que possuem 7. Quartzo
maior dureza. 8. Topázio
9. Corindo
10. Diamante
A clivagem corresponde à capacidade que um mineral apresenta de romper Fácil / Difícil
segundo planos cristalinos de rutura fácil, originando formas geométricas Distinta / Indistinta
Clivagem
típicas de cada mineral. Perfeita / Imperfeita
Inexistente
A fratura corresponde ao modo como parte um mineral, quando este não se Concoidal
Fratura rompe segundo os planos de clivagem. Escamosa
Granulosa
A cor de um mineral corresponde à forma como este absorve a luz natural Alocromático
Cor
difusa. ldiocromático
A risca de um mineral corresponde à cor do mineral quando este é reduzido Risca de cor forte
Risca ou traço a pó. Risca de cor branca
Risca da cor do mineral
O brilho corresponde à reflexão da luz na superfície do mineral. Brilho metálico
Brilho ou lustre Brilho submetálico
Brilho não metálico
As propriedades químicas dos minerais estão relacionadas com a sua composição química, com a natureza dos átomos e dos
iões que os compõem. Assim, por exemplo, o sabor salgado permite determinar a presença de halite, enquanto a efervescência
produzida por ação de um ácido deteta a presença de minerais carbonatados, como a calcite.
Rochas detríticas
Neste tipo de rochas, os sedimentos podem apresentar-se soltos, constituindo rochas não consolidadas (rochas detríticas
desagregadas), ou então estar ligados por um cimento (resultante de precipitação), formando rochas consolidadas (rochas
detríticas agregadas).
O critério utilizado nos sistemas de classificação das rochas sedimentares detríticas é predominantemente textural, constituindo
escalas granulométricas (Tabela 33).
Tabela 33 Escala granulométrica de Wentworth
Designação do detrito Dimensões em mm Designação do sedimento solto Designação da rocha consolidada
Blocos > 256
Seixos, calhaus 256 a 64 Brechas
Cascalheiras
Cascalho 64 a 8 Conglomerados
Areão 8a2
Areia grosseira 2 a 1/4 Arcose
Areia média 1/2 a 1/8 Areia Grauvaque
Areia fina 1/8a 1/16 Arenito
Silte 1/16 a 1/256 Silte Siltito
Argila < 1/256 Argila Argilitos
Nas rochas detríticas, os detritos ou clastos podem ou não estar ligados por um cimento. Para além desta característica, este
tipo de rochas é caracterizado pelo tamanho dos grãos, pela distribuição granulométrica dos clastos e pela forma dos clastos. Na
tabela 34 estão descritos os principais tipos de rochas detríticas.
Rochas quimiogénicas
A precipitação de materiais dissolvidos, responsável pela formação das rochas sedimentares quimiogénicas, pode ocorrer devido
à evaporação da água ou devido à alteração de condições da solução, como, por exemplo, a variação da pressão ou da
temperatura.
As rochas formadas por cristais que precipitam durante a evaporação da água têm textura cristalina e designam-se por
evaporitos, como, por exemplo, o sal-gema e o gesso. O sal-gema é constituído pelo mineral halite (NaCI) e forma-se por
evaporação em lagos salgados ou baías, ao longo do oceano. O gesso é um mineral de sulfato de cálcio (CaSO4, 2H2O), formado
pela evaporação de águas salgadas em lagos.
Os calcários são rochas constituídas, essencialmente, por calcite, um mineral de carbonato de cálcio (CaCO 3). A calcite pode
precipitar como resultado de processos inorgânicos ou pela ação de organismos vivos, pelo que existem calcários quimiogénicos,
calcários biogénicos e calcários com origem mista. Este tipo de calcários resulta, principalmente, da precipitação de carbonato
de cálcio, provocada por fenómenos físico-químicos (variações do pH, temperatura e pressão). Este fenómeno pode ser ou não
desencadeado pela atividade biológica de organismos fotossintéticos.
Mas, afinal, como precipita o carbonato de cálcio? A proporção de CO2 que pode dissolver-se nas águas depende de vários
fatores externos, como a pressão e a temperatura. A pressão atmosférica aumenta a solubilidade do CO 2, enquanto a
temperatura fá-la diminuir. O CO2 dissolvido na água origina ácido carbónico (H2CO3) e este último, por sua vez, dissocia-se nos
iões H+ e HCO3- da seguinte forma:
H2O + CO2 <=> H2CO3 <=> H+ + HCO3-
Como consequência do aumento dos iões H na água, esta torna-se ácida e, nestas condições, a proporção de iões Ca2+ que
+
As reações descritas no caso dos calcários de origem quimiogénica são reversíveis, isto é, o CO2 atmosférico pode ser dissolvido
nas águas pluviais, acidificando-as (forma-se ácido carbónico), o que provoca a meteorização química dos calcários por remoção
do ião HCO3- que se encontra em solução.
Como consequência da reversibilidade das referidas reações forma-se uma paisagem típica das regiões calcárias, conhecida por
modelado cársico (Tabela 35).
Tabela 35 Elementos típicos de uma paisagem cársica
Designação Descrição
São elementos da paisagem cársica que se formam como resultado da meteorização química do calcário. Em
Lapiaz consequência desta ação, a rocha fica esculpida por sulcos e cavidades que fazem lembrar um conjunto de
ruínas.
É uma argila que se acumula no interior dos sulcos e cavidades que formam o lapiaz. A terra rossa é constituída
Terra rossa por argila, óxidos de ferro e calcário dissolvido. A tonalidade geralmente vermelha destas argilas é uma
consequência da presença de óxidos de ferro.
Galerias Resultam da ação química das águas subterrâneas que circulam no interior dos maciços calcários. O trabalho
permanente de dissolução do calcário leva ao aparecimento de pequenas cavidades — as galerias — e de
Grutas amplas cavidades — as grutas.
Estalactites Estas estruturas formam-se por precipitação de carbonato de cálcio a partir das águas subterrâneas, originando
depósitos com grande variedade de formas. Morfologicamente podem considerar-se dois grandes tipos de
Estalagmites formações resultantes destes depósitos: as pendentes (formadas a partir do teto), designadas por estalactites,
e as formadas no pavimento da gruta, que se designam por estalagmites. Quando uma estalactite se une com
Colunas uma estalagmite, forma-se uma coluna.
Rochas biogénicas
São rochas formadas, essencialmente, por sedimentos de origem orgânica, ou seja, que resultam, direta ou indiretamente, da
intervenção de organismos. De entre as rochas com esta origem podemos considerar alguns tipos de calcários, os carvões e os
petróleos.
Os calcários biogénicos podem ser formados essencialmente pela acumulação de conchas de seres vivos marinhos. Estes seres
vivos fixam o carbonato de cálcio, formando peças esqueléticas, como é o caso das conchas. Quando estes organismos morrem,
as conchas acumulam-se no fundo do oceano, onde podem ser cimentadas por carbonato de cálcio. Os calcários assim formados
são designados por calcários conquíferos. Nos locais em que existem corais, podem-se formar calcários como resultado da
acumulação de polipeiros, carapaças de ouriços-do-mar, conchas e fragmentos de algas. Estes calcários são designados por
calcários recifais.
Os carvões e o petróleo (hidrocarbonetos naturais) são exemplos de materiais carbonáceos, ou seja, são materiais sedimentares
que possuem uma origem diretamente relacionada com a acumulação de sedimentos orgânicos. No processo que levou à sua
formação houve intervenção direta da matéria orgânica resultante dos seres vivos, animais ou vegetais, que sofreram
transformações químicas por ação de bactérias anaeróbias.
A génese dos petróleos e dos carvões está relacionada com a fossilização de matéria orgânica proveniente, essencialmente, do
plâncton e da flora continental, para o petróleo e para os carvões, respetivamente. A evolução dessa matéria orgânica requer a
existência de um conjunto de condições favoráveis, tais como:
meios em que se verificam condições anaeróbias;
ambientes costeiros lagunares ou meios lacustres;
afundimento progressivo dos sedimentos nas bacias de sedimentação como consequência de fenómenos tectónicos;
como consequência da subsidência anterior, os sedimentos deslocam-se para meios em que se verifica ausência total de
oxigénio;
nestas condições, os sedimentos orgânicos são transformados, devido à ação de organismos anaeróbios e às novas
condições de temperatura e pressão.
O carvão resulta da transformação de restos de vegetais acumulados no fundo de pântanos, lagunas e deltas fluviais, através da
ação de bactérias anaeróbias que provocam a decomposição dos hidratos de carbono e do enriquecimento progressivo em
carbono.
A turfa é um produto carbonoso, rico em matérias voláteis e pobre em carbono, que resulta da transformação superficial, por
bactérias anaeróbias, de musgos e de plantas herbáceas em ambientes continentais pantanosos ou em zonas de difícil
drenagem.
Os carvões húmicos (verdadeiros carvões minerais) resultam da acumulação de detritos vegetais de origem continental, ricos
em celulose e lenhina, em bacias costeiras lagunares ou em bacias lacustres. Através de uma rápida subsidência, estes
sedimentos orgânicos, recobertos por sedimentos terrígenos, são transformados, primeiro por decomposição e depois por
diagénese, em carvões húmicos. O processo de evolução dos resíduos vegetais para carvões deve-se a transformações
bioquímicas e transformações geoquímicas.
De acordo com o grau de evolução dos detritos vegetais, formam-se diferentes tipos de carvões, tais como as lignites, as hulhas
e a antracite.
Um carvão é caracterizado pelas suas propriedades físico-químicas, como cor, brilho, densidade e dureza. Para além destas
propriedades, um carvão pode ser caracterizado pela relação entre a quantidade de substâncias voláteis e a quantidade de
carbono total (Figura 35).
Figura 35 Gráfico de classificação dos carvões, de acordo com a sua riqueza em carbono e sua relação com a quantidade de voláteis. O gráfico também põe em
evidência a relação entre a riqueza em carbono e o potencial calorífico de um carvão.
Da análise do gráfico podem retirar-se as seguintes conclusões: (1) O processo de evolução dos detritos vegetais varia com a
profundidade. Assim, esta relação traduz-se por uma perda progressiva de compostos voláteis e água e um enriquecimento em
carbono, com o aumento da profundidade. Este processo evolutivo é designado por incarbonização; (2) O potencial calorífico
dos carvões é tanto maior quanto maior for a percentagem de carbono e menor for a percentagem de voláteis e água.
O petróleo (significa óleo de pedra) bruto é um líquido oleaginoso, menos denso que a água, de cor geralmente escura e odor
acre. O petróleo é constituído, para além dos hidrocarbonetos, por azoto, enxofre e oxigénio.
A formação do petróleo, a partir de matéria orgânica acumulada nos sedimentos, é o resultado de uma série de fatores que, ao
atuar conjuntamente, originam os hidrocarbonetos. Estes fatores pertencem a três categorias: biológicas, físico-químicos e
geológicos.
Fatores biológicos — A matéria orgânica acumulada nos sedimentos pode tem origem na morte de organismo marinhos, como
plâncton, que, ao acumularem-se no fundo, integram os sedimentos. A transformação da matéria orgânica (proteínas e lípidos)
em petróleo consiste num aumento da relação C/N, isto é, enriquecimento em carbono (C) e em hidrogénio, e empobrecimento
em oxigénio e azoto (N). Este fenómeno ocorre em ambientes redutores, nos quais sobrevivem bactérias anaeróbias que iniciam
as transformações da matéria orgânica.
Fatores físico-químicos — Para a formação do petróleo não são necessárias temperaturas e pressões elevadas. Calculou-se que
a pressão necessária não excede os 175 kg/cm2 e que o intervalo de temperaturas se situa entre os 80 °C e os 120 °C. Acima
desta temperatura formam-se apenas hidrocarbonetos gasosos.
Fatores geológicos — São vários os fatores geológicos que condicionam a formação do petróleo, sendo talvez o mais importante
a existência de armadilhas petrolíferas (figura 36), isto é, estruturas geológicas favoráveis à acumulação de petróleo que
impedem a sua migração até à superfície. Assim, o petróleo não é perdido e pode ser explorado de forma rentável. As arma-
dilhas petrolíferas podem ser estruturais ou estratigráficas. As primeiras são o resultado de movimentos de origem tectónica,
como dobras ou falhas. As segundas resultam de variações litológicas existentes em determinado meio sedimentar.
Num jazigo petrolífero é possível distinguir as seguintes formações geológicas (Tabela 36):
Designação Descrição
E a rocha na qual ocorre todo o processo evolutivo que leva à transformação dos detritos orgânicos em
Rocha mãe
hidrocarbonetos.
Rocha-armazém ou São formações geológicas (arenitos, conglomerados, rochas carbonatadas) porosas e permeáveis que
Rocha-reservatório recebem e armazenam o petróleo que migra da rocha-mãe.
São formações geológicas impermeáveis, geralmente constituídas por rochas argilosas, que impedem a
Rocha-cobertura
migração e dispersão do petróleo até à superfície.
O estudo dos sedimentos e das rochas sedimentares possibilita a realização da datação de muitas formações, mas também a
reconstituição de ambientes antigos — paleoambientes —, em que a formação dessas rochas ocorreu. As rochas sedimentares
preservam determinadas estruturas que ajudam a compreender as condições da sua formação, como, por exemplo: as marcas
de ondulação (ripple marks), as fendas de retração, as marcas de gotas de chuva, as figuras de carga, as pegadas de animais, as
pistas de reptação e as fezes fossilizadas (coprólitos). A reconstituição dos paleoambientes é realizada com base no princípio das
causas atuais, segundo o qual o presente é a chave do passado, na medida em que o conhecimento dos fenómenos atuais
permite inferir acerca dos acontecimentos que ocorreram no passado.
Os fósseis são vestígios de seres vivos ou da sua atividade que, num determinado momento da História da Terra, viveram no
nosso Planeta. Para que os restos orgânicos possam conservar-se e cheguem a fossilizar, é necessário que, após a morte, o
organismo seja rapidamente incluído num material protetor, que o preserve dos agentes que iriam provocar a sua
decomposição. A existência de partes duras nos organismos e a sua inclusão imediata em sedimentos finos são fatores que
favorecem a fossilização (Tabela 37).
Tabela 37 Processos de fossilização
Processos de Descrição
Fossilização
É um processo de fossilização muito raro em que se verifica a conservação completa dos
Mumificação indivíduos, incluindo os seus tecidos moles. Tal é possível por inclusão num meio assético. São
+
mineral.
É um tipo de fossilização que se caracteriza pela ausência do organismo que fossiliza, o qual se
Impressões
encontra representado na rocha por um molde das características morfológicas externas (molde
orgânicas
externo) ou do interior das cavidades (molde interno).
São também designadas icnofósseis. Está ausente qualquer parte do organismo fossilizado, o qual
se encontra representado apenas por vestígios da sua atividade. São exemplos de marcas as pistas
Marcas
de locomoção de animais e vestígios fossilizados das atividades nutritiva (gastrólitos e coprólitos)
-
Na reconstituição de paleoambientes são extremamente importantes os fósseis de idade e os fósseis de fácies (Tabela 38)
Os geólogos reconstituem o registo da formação sedimentar a partir de alguns estratos incompletos que sobreviveram à ação
dos agentes modeladores da crosta terrestre. A parte da Geologia que se dedica a realizar esta ordenação é a estratigrafia, isto
é, a ciência que se ocupa do estudo, da descrição, da correlação de idades das sequências estratigráficas. Uma sequência
estratigráfica é uma sucessão de estratos. Para poder levar a cabo a ordenação espacial dos estratos, é necessário recorrer a um
conjunto básico de princípios (Tabela 39)
A fácies de um estrato sedimentar é dada pelo conjunto de características litológicas desse estrato e pelo seu conteúdo em
fósseis. A fácies dos estratos reflete o ambiente sedimentar que esteve presente aquando da sua formação. Os vários tipos de
fácies que correspondem a diferentes ambientes de sedimentação podem ser continentais (fluviais, desérticos, lacustres,
glaciários), de transição (deltaicos, lagunares, estuarinos) ou marinhos (litorais, neríticos, batiais) (Figura 37).
Figura 37 Diferentes tipos de fácies.
A fácies estratigráfica permite conhecer e interpretar os ambientes do passado, ou paleoambientes, por comparação com os
ambientes atuais que dão origem a uma fácies semelhante.
Os princípios da estratigrafia permitiram estabelecer correlações entre rochas sedimentares espalhadas por todo o planeta e
proceder à sua datação relativa. As características dos estratos sedimentares e o seu conteúdo em fósseis estão na base da
divisão do tempo geológico em unidades geocronológicas marcadas por determinados acontecimentos e formas de vida.
Os Éons são as unidades geocronológicas mais amplas.
As Eras são divisões do tempo geológico que se caracterizam pela abundância de determinados organismos e estão separadas
por períodos de crise biológica e de extinções em massa. As Eras ainda se encontram divididas em Períodos e estes, por sua vez,
em Épocas (Figura 38).
O magma corresponde a uma mistura complexa de materiais, predominantemente silicatados, que se encontram total ou
parcialmente no estado de fusão, contendo ainda uma fração volátil (vapor de água, dióxido de carbono, óxidos de enxofre,
amoníaco, etc.), sendo menos denso que as rochas encaixantes que o envolvem. Devido a esta diferente densidade, o magma
ascende até à superfície terrestre, diminuindo, por esse motivo, a sua temperatura, o que provoca a sua consolidação em
diferentes locais da crosta terrestre.
O magma andesítico (Tabela 40 e Figura 39) é intermédio (50% a 60% de sílica), origina rochas com uma composição
semelhante à da crosta continental, embora, por vezes, estas se encontrem longe da crosta continental. Verifica-se, porém, que
são regiões em que ocorre o choque de placas continentais com placas oceânicas, formando-se zonas de subdução, que
arrastam consigo grandes quantidades de sedimentos em profundidade. O aumento da pressão e da temperatura com a
profundidade, acrescido de um aumento de água, provoca a fusão dos materiais. Assim, a mistura de material da crosta conti-
nental com material da crosta oceânica e os sedimentos origina um magma de composição intermédia — o magma andesítico.
Se este magma ascender rapidamente à superfície, através de fenómenos vulcânicos, origina os andesitos; se solidificar em
profundidade, origina o diorito.
Os magmas riolíticos (Tabela 37 e Figura 39), ácidos (superior a 65% de sílica) e muito viscosos, resultam da fusão parcial da
crosta continental, devido a um aumento de pressão e temperatura provocado pelo choque de duas placas continentais. Se este
magma solidifica em profundidade, origina os granitos; caso consolide à superfície, origina o riólito.
A cristalização é condicionada por fatores internos e externos. Os fatores internos estão relacionados com a natureza química
dos elementos que constituem o cristal (p. ex., o raio iónico). Os principais fatores externos que condicionam a cristalização são
a agitação do meio em que se encontram, o tempo, o espaço disponível e a temperatura. Assim, quanto mais calmo estiver o
meio, quanto mais lento for o processo e quanto maior for o espaço disponível mais desenvolvidos e perfeitos são os cristais
obtidos. As partículas vão-se organizando ordenadamente nas diferentes direções do espaço, o que determina um crescimento
harmonioso.
Em condições de formação ideais, esta organização interna manifesta-se na sua forma exterior, formando minerais delimitados
por superfícies planas. Na situação oposta, formam-se minerais informes, isto é, sem superfícies planas. Assim, as condições de
cristalização podem levar à formação de cristais euédricos, se o mineral é totalmente limitado por faces bem desenvolvidas;
subédricos, se o mineral apresenta parcialmente faces bem desenvolvidas; e anédrico, se o mineral não apresenta qualquer tipo
de faces.
Um cristal pode, então, ser definido como um sólido homogéneo de matéria mineral que, sob condições favoráveis de
formação, pode apresentar superfícies planas e lisas, assumindo formas geométricas regulares. Pelo contrário, a matéria amorfa
ou vítrea caracteriza-se pela ausência de ordenação interna, isto é, as unidades básicas (átomos, iões ou moléculas) que a
constituem estão dispostas de uma forma totalmente aleatória.
Apesar de existirem muitos critérios para a classificação dos minerais, a mais utilizada é aquela que os agrupa tendo em
consideração as suas características fundamentais: a composição química e a estrutura. Assim, podem distinguir-se classes de
minerais como, por exemplo, os elementos nativos, os óxidos, os carbonatos, os nitratos, os boratos e os silicatos.
Os silicatos são a classe mais importante, pois representam cerca de 25% de todos os minerais conhecidos. A granada, o
epídoto, o berilo, a turmalina, as piroxenas, as anfíbolas, as micas, os feldspatos e o quartzo são exemplos de silicatos
pertencentes a diferentes famílias.
Apesar de os minerais serem caracterizados por uma estrutura e composição química estáveis, existem exceções, ou seja, é
possível a ocorrência de minerais com a mesma composição química mas estrutura diferente e outros que possuem a mesma
estrutura, apesar de serem quimicamente diferentes.
As olivinas são minerais cuja composição química pode ser expressa pela fórmula (Fe,Mg) 2SiO4. Dada a semelhança de tamanho
entre os átomos de ferro (Fe) e os de magnésio (Mg), eles podem intersubstituir-se na estrutura cristalina, de forma parcial ou
total. Neste último caso, formam-se olivinas puras:
uma constituída apenas por ferro e sílica — a faialite, Fe2SiO4;
outra constituída apenas por magnésio e sílica — a forsterite, Mg2SiO4.
Entre estes dois extremos, todas as composições são possíveis, sem que, no entanto, ocorram transformações ao nível do
arranjo e disposição da estrutura cristalina. Trata-se de um caso de isomorfismo. As substâncias, como a olivina, que, embora
quimicamente diferentes, apresentam a estrutura interna idêntica e formas externas semelhantes designam-se por substâncias
isomorfas. Um conjunto de minerais como as olivinas, que, mantendo constante a sua estrutura interna, variam de composição,
chama-se série isomorfa ou solução sólida, e os cristais constituídos designam-se por misturas sólidas ou misturas isomorfas.
Para além das olivinas, existem outras séries isomórficas, como é o caso, por exemplo, de um grupo de feldspatos designados
por plagioclases, que são silicatos em que o Na+ e o Ca2+ se podem intersubstituir (Figura 41)
Podem ocorrer na Natureza minerais que, apesar de terem a mesma composição química, apresentam redes cristalinas
diferentes. Este fenómeno é designado por polimorfismo. O carbonato de cálcio (CaCO3), por exemplo, pode formar dois
minerais diferentes, a calcite e a aragonite. O carbono também pode cristalizar em dois minerais diferentes, o diamante e a
grafite, com arranjos diferentes dos átomos de carbono que os constituem, que refletem condições de formação muito
diferentes. A grafite cristaliza em condições próximas das existentes à superfície, enquanto o diamante forma-se a grandes
profundidades.
Diferenciação magmática
A maior parte dos magmas, formados no interior da Terra, consolidam em profundidade no interior de câmaras magmáticas.
Durante a ascensão magmática, a sua temperatura vai baixando, pelo que vão sendo atingidos os pontos de cristalização de
alguns minerais que, fracionadamente, vão cristalizando (cristalização fracionada), tornando-se, por esse motivo, mais densos e
separando-se do magma residual por efeito gravítico (diferenciação gravítica). Durante esta ascensão, o magma vai atravessar
rochas encaixantes a uma menor temperatura, pelo que vai reagindo com elas e alterando a sua composição inicial (assimilação
magmática).
A consolidação de um magma envolve três processos: cristalização fracionada, diferenciação gravítica e assimilação magmática.
À medida que ocorre o arrefecimento de um magma basáltico, o ponto de cristalização dos materiais que o constituem vai
sendo atingido. Os primeiros minerais a cristalizar são aqueles que são ricos em óxidos de ferro, magnésio e cálcio, ou seja, as
piroxenas, olivinas e plagiocláses cálcicas (anortite). Com a contínua descida da temperatura, vão ser atingidos os pontos de
cristalização de outros minerais (anfíbola, biotite, plagióclases calcossódicas), já mais pobres em óxidos de ferro, magnésio e
cálcio, mas mais ricos em óxidos de sódio e potássio (alcális). Os minerais ferromagnesianos (olivina, piroxena, anfíbola, biotite),
uma vez formados, separam-se do magma residual, e, porque se tornaram mais densos que este, separam-se por gravidade,
depositando-se no fundo da câmara magmática (diferenciação gravítica). Os feldspatos calcossódicos (plagióclases), uma vez
formados, vão reagir com o magma residual, originando novas plagióclases, com um cada vez menor teor de cálcio e um cada
vez maior teor de sódio. Esta sequência de cristalização (cristalização fracionada), a que se junta a cristalização das últimas
frações, moscovite, ortóclase e quartzo, é conhecida por séries reacionais de Bowen (Figura 42). A série das plagióclases é
conhecida por série das plagióclases ou série contínua, já que elas, uma vez formadas, vão reagindo com o magma residual e
originando outras de composição diferente. A sequência de cristalização dos minerais ferromagnesianos é conhecida por série
dos minerais ferromagnesianos ou série descontínua, já que estes minerais não reagem com o magma residual.
Figura 42 Séries reacionais de Bowen. Os esquemas A e B são diferentes representações das séries reacionais de Bowen.
Embora a composição mineralógica das rochas seja diferente, os elementos químicos que entram na sua constituição são os
mesmos. Como os silicatos são os minerais mais abundantes, o silício e o oxigénio são os elementos mais vulgares, estando estes
associados ao sódio, potássio, cálcio, magnésio, ferro e alumínio, representando-se normalmente estes elementos sob a forma
de óxidos, já que o oxigénio é o elemento mais abundante.
A variedade e percentagem dos óxidos presentes num dado mineral fornece-lhe características específicas e traduz as suas
condições de formação. Assim, se um dado mineral é rico em óxidos de silício (quartzo), potássio (ortóclase), sódio (albite) e
cálcio (anortite) é considerado um mineral félsico (feldspato + sílica), sendo um mineral pouco denso e claro. Pelo contrário, se
predominam os óxidos de ferro e magnésio (olivina, piroxena, biotite), o mineral apresenta uma alta densidade, cor escura,
sendo designado por mineral máfico (magnésio + ferro).
A percentagem de sílica (óxido de silício), de minerais máficos e de minerais félsicos é utilizada para classificar as rochas
magmáticas quanto ao teor de sílica e à cor (Tabelas 41 e 42).
Tabela 41 Rochas magmáticas quanto ao teor de sílica Tabela 42 Rochas magmáticas quanto à cor
As rochas magmáticas não se formam todas nas mesmas condições de pressão e temperatura, pelo que apresentam aspetos
mineralógico-texturais diferentes. É esta a razão de se considerar diferentes famílias de rochas magmáticas, tais como a família
dos granitos, dos sienitos, dos dioritos, dos gabros e do peridotito (Tabelas 44 e 45). A família do granito é constituída por rochas
em que os minerais essenciais são o quartzo, o feldspato potássico e as plagióclases calcossódicas. Estas rochas apresentam, por
isso, uma grande percentagem de minerais félsicos, que lhes confere uma cor clara, sendo classificadas como rochas ácidas e
leucocratas. Verifica-se ainda que, quanto menor é a percentagem de minerais félsicos, maior é a percentagem de minerais
máficos, o que confere à rocha uma cor cada vez mais escura.
Tabela 44 Minerais essenciais e acessórios das principais famílias de rochas magmáticas
Rocha
Granito Sienito Diorito Gabro Peridotito
intrusiva
Rocha extrusiva Riólito Traquito Andesito Basalto (Komatito)
Quartzo Feldspato K
Minerais Feldspato K Plagióclase Olivina
Feldspato K Plagióclase
essenciais Plagióclase Piroxena Piroxena
Plagióclase Anfíbola
Moscovite
Minerais Biotite Olivina
Biotite Piroxena Plagióclase
acessórios Anfíbola Anfíbola
Anfíbola
Mecanismos de deformação
A tensão (ou pressão) resultante dos processos tectónicos é a força exercida por unidade de área (o bar e o pascal são as
unidades mais frequentes). Sobre as rochas podem atuar as tensões litostáticas e as dirigidas. A tensão litostática ou confinante
resulta do peso das rochas suprajacentes e atua uniformemente em todas as direções, provocando uma diminuição do volume
da rocha. A tensão dirigida ou não litostática (ou tectónica) é responsável pela formação das estruturas tectónicas nas rochas
(dobras e falhas). As tensões dirigidas que atuam sobre as rochas podem ser compressivas, distensivas ou de cisalhamento
(Figura 43).
As tensões compressivas conduzem à redução do volume da rocha na direção paralela à atuação das forças e ao seu
alongamento na direção perpendicular. Podem, também, provocar a fratura da rocha. As tensões distensivas conduzem ao
alongamento da rocha, na direção paralela à atuação das forças, ou à sua fratura. As tensões de cisalhamento causam a
deformação da rocha por movimentos paralelos em sentidos opostos.
O limite de elasticidade de uma rocha é geralmente baixo. Esse limite de elasticidade é ultrapassado quando a deformação
provocada por uma força se torna irreversível, mesmo que cesse a atuação da força. A rocha sofre, então, rutura ou fica
deformada de um modo permanente.
As rochas podem exibir vários tipos de comportamentos, de acordo com as condições em que a deformação se processa. Como
as condições variam (temperatura, pressão, presença de fluidos intersticiais), uma mesma rocha pode ter comportamentos
diferentes. As rochas podem apresentar dois tipos básicos de comportamento (Figura 44):
Frágil — as rochas fraturam facilmente, quando são sujeitas a tensões, em condições de baixa pressão e de baixa
temperatura. Este comportamento relaciona-se com a formação de falhas.
Dúctil — as rochas sofrem alterações permanentes de forma e/ou volume, sem fraturarem, em condições de elevada
pressão e elevada temperatura. Este comportamento relaciona-se com a formação de dobras. O comportamento das rochas
em relação à tensão que lhes é aplicada é variável e depende do tipo de rocha, das condições de pressão e temperatura a
que a rocha está sujeita, aquando da atuação da tensão, e da intensidade da tensão.
Figura 44 Comportamento das rochas de acordo com as condições do meio.
As dobras podem ser classificadas segundo dois critérios: disposição espacial dos
elementos da dobra e idade relativa dos estratos da dobra (Tabela 46).
A posição das camadas numa dobra, isto é, a atitude dessas camadas pode ser definida pela direção e pela inclinação das
referidas camadas. A direção da camada é a interseção do plano da camada com um plano horizontal que define uma linha
horizontal, a diretriz. O ângulo formado pela diretriz com a direção N-S geográfica dada pela bússola constitui a direção da
camada. A inclinação dos estratos é o ângulo formado pela pendente (linha de maior declive) com o plano horizontal. A
determinação da inclinação faz-se através de aparelhos chamados clinómetros.
Uma falha (Figura 45) é uma superfície de fratura ao longo da qual ocorreu o movimento relativo dos blocos fraturados. As
falhas podem resultar da atuação de qualquer tipo de tensão em rochas com comportamento frágil.
Os elementos que caracterizam uma falha são os seguintes:
Muro — bloco que se situa abaixo do plano de falha.
Rejeito — movimento relativo entre os dois blocos da falha.
Inclinação — ângulo formado entre o plano de falha e um plano horizontal que o interceta.
Plano de falha — superfície de fratura.
Teto — bloco que se sobrepõe ao plano de falha.
O movimento relativo dos dois blocos da falha está na base da sua classificação (Tabela 47).
As falhas podem surgir associadas e com configurações geográficas designadas por fossas tectónicas ou grabens e maciços
tectónicos ou horsts. Os grabens são blocos rebaixados, geralmente com comprimento maior do que a largura, e delimitados
por sistemas de falhas convergentes para o interior. Os horsts são blocos também de forma linear, delimitados por falhas
divergentes para o interior, e que exibem, com frequência, uma altitude maior do que as áreas contíguas, que são muitas vezes
constituídas por grabens.
4.4. Metamorfismo
As rochas metamórficas resultam da transformação de qualquer tipo de rocha sujeita a um ambiente onde as condições físicas
(pressão, temperatura) e químicas são muito distintas daquelas onde a rocha se formou. O metamorfismo corresponde ao
conjunto de transformações mineralógicas, químicas e estruturais que ocorrem no estado sólido, em vários tipos de rochas,
quando estas são sujeitas a determinadas condições de temperatura, pressão e fluidos de circulação (Figura 46).
Fatores de metamorfismo
Os fatores de metamorfismo, que levam à formação de uma rocha metamórfica, são a temperatura, a pressão, os fluidos de
circulação e o tempo da sua atuação. Como todos estes fatores podem variar, esse facto traduz-se em diferentes graus de
metamorfismo, podendo falar-se de metamorfismo de baixo, médio e elevado grau.
A atuação dos fatores de metamorfismo sobre os materiais vai alterá-los, não só quanto à sua textura, pois sofrem um
esmagamento devido ao aumento da pressão, mas também quanto à sua composição mineralógica, pois com o aumento da
temperatura ocorre a fusão de alguns minerais e a formação de novos, os chamados minerais-índice ou minerais indicadores de
metamorfismo. A composição mineralógica da rocha original é outro fator a ter em conta, pois duas rochas mineralogicamente
diferentes sujeitas aos mesmos fatores de metamorfismo irão originar duas rochas mineralogicamente diferentes.
O aumento da temperatura vai provocar uma maior agitação dos átomos constituintes dos minerais, o que facilita as reações
químicas entre si. Quanto maior a agitação das partículas, menos viscoso é o material e, por isso, mais fácil é a reação entre si, o
que leva à formação de novos minerais. Estes minerais apresentam, por este motivo, uma temperatura típica de
metamorfização, revelando-nos a sua presença numa rocha as condições de temperatura presentes no momento da formação
desta rocha. As fontes de calor que permitem a ocorrência destas alterações são o calor interno da Terra (com origem no calor
remanescente da formação da Terra e do decaimento dos minerais radioativos), o calor fornecido pelas intrusões magmáticas e
o calor produzido pelas fricções dos movimentos orogénicos. A maior ou menor temperatura, assim como a sua maior ou
menor área de atuação, têm efeitos diferentes na rocha original. No caso de o calor ter origem numa intrusão magmática,
também o tipo e a temperatura do magma, o volume e forma da intrusão magmática, assim como a velocidade de cristalização
são fatores que condicionam a temperatura da rocha encaixante. A composição da rocha encaixante é outro fator a ter em
conta, pois, dependendo da sua composição mineralógica, o efeito da temperatura terá efeitos diferentes.
O efeito da pressão sobre as rochas não é tão visível como o da temperatura, pois as alterações que a pressão induz são mais
lentas, sendo as reações químicas mais sensíveis às variações de temperatura do que à pressão. As rochas podem estar sujeitas
a diferentes tipos de pressão, nomeadamente: a pressão litostática ou confinante, a pressão dirigida ou não confinada. A
pressão litostática atua sobre as redes cristalinas dos minerais, modificando-as e originando, deste modo, minerais com a
mesma composição química, mas com estrutura cristalina diferente (polimorfismo). A formação de minerais polimorfos
corresponde a um processo de recristalização, isto é, o mineral vai sofrer um segundo processo de cristalização, provocado pelo
aumento de pressão. A pressão dirigida é devida à existência de movimentos tectónicos compressivos que, por este motivo, não
ocorrem em todas as direções, mas apenas na chamada direção de esforço. Esta forma de pressão leva à formação de minerais
de hábito alongado e lamelar comuns nas rochas metamórficas, e que lhes confere a típica foliação.
Os fluidos são outro fator de metamorfismo que corresponde ao efeito dos fluidos sobre as rochas. Os gases e a água são os
principais fluidos que intervêm na alteração da rocha inicial. A água atua como catalisador, ao permitir a ocorrência de reações
impossíveis em meio seco, retirando iões a um determinado mineral. Isso permite que ele reaja com outro mineral, originando,
deste modo, novos minerais. A presença dos fluidos permite a existência do ultrametamorfismo, pois baixa a temperatura dos
materiais para temperaturas possíveis na litosfera.
O tempo geológico, ou seja, o tempo que demora a atuação destes fatores de metamorfismo, acaba por ser um último fator de
metamorfismo. Quanto maior for o tempo de atuação dos fatores de metamorfismo maior terá sido também o tempo para se
atingir os equilíbrios necessários entre os novos minerais, originados por ação do metamorfismo.
Tipos de metamorfismo
O metamorfismo é um processo geológico no qual intervêm vários fatores simultaneamente, embora uns com mais importância
do que outros. É com base na intensidade de atuação destes fatores que se considera a existência de dois tipos fundamentais de
metamorfismo: o metamorfismo de contacto e o metamorfismo regional (Figura 47).
O metamorfismo de contacto surge devido à ocorrência de uma intrusão magmática que, pela sua elevada temperatura, vai
provocar alterações nas rochas encaixantes, principalmente na textura e na composição químico-mineralógica. O fator
predominante neste tipo de metamorfismo é a temperatura. Quanto maior for a intrusão magmática e mais elevada for a sua
temperatura, maior será o efeito por ela provocado nas rochas encaixantes, assim como maior será a espessura de rochas
alteradas. A faixa de rochas encaixantes que sofre modificações, originando deste modo rochas metamórficas, constitui a
auréola de metamorfismo. Estas auréolas de metamorfismo são concêntricas em relação à intrusão magmática, pois quanto
mais afastado se está da intrusão, mais baixa é a temperatura, logo mais baixo é o grau de metamorfismo. Como cada auréola
de metamorfismo representa um determinado grau de metamorfismo, os minerais que aí estão presentes caracterizam essas
condições de metamorfismo, ou seja, são minerais-índice.
Os minerais-índice presentes em cada zona dependem não só das condições de metamorfismo mas também da composição
mineralógica da rocha que está a ser metamorfizada. Como as elevadas temperaturas favorecem as reações químicas neste tipo
de metamorfismo, formam-se novos minerais e desaparecem antigos minerais, ocorrendo a recristalização de outros.
O metamorfismo regional, que abrange grandes porções terrestres, é a forma mais vulgar de metamorfismo, estando ligado à
existência de zonas orogénicas, ou seja, fortemente comprimidas e dobradas como nas cadeias de montanhas. Este tipo de
metamorfismo é aquele que abrange uma maior variedade de condições de metamorfismo, pois resulta da ação combinada do
calor interno da Terra, da pressão litostática e da pressão dirigida associada aos movimentos tectónicos, sendo caracterizado
por pressões e temperaturas elevadas.
As rochas resultantes deste tipo de metamorfismo envolvem fenómenos de recristalização e deformações mecânicas, devido às
elevadas pressões, apresentando, por esse motivo, alterações texturais e vários tipos de foliação. A formação de rochas
metamórficas nestas condições inicia-se no final da diagénese, no término das condições de metamorfismo de contacto
(metamorfismo de baixo grau), e finaliza já no domínio do ultrametamorfismo (metamorfismo de alto grau).
Dependendo do valor da pressão e da temperatura formam-se diferentes minerais-índice, cuja presença numa dada zona
delimita uma região com um determinado grau de metamorfismo. As superfícies que delimitam essas zonas de igual
metamorfismo chamam-se isógradas, sendo delimitadas pelos pontos onde surgiram pela primeira vez os minerais indicadores
de metamorfismo.
Diversidade e classificação das rochas metamórficas
As rochas metamórficas (Tabela 48) apresentam como principais características a presença de xistosidade e foliação. Estas
características do metamorfismo resultam da atuação da pressão e da temperatura. A xistosidade deve-se à ação da pressão
confinante que provoca a orientação dos minerais em planos paralelos e perpendiculares à direção de esforço, dividindo-se a
rocha facilmente em lâminas. O aumento simultâneo da pressão e temperatura vai provocar uma reorientação dos minerais e
dos minerais neoformados segundo os planos de estratificação originais, conferindo às rochas um aspeto bandado, tal como no
gneisse. Esse aspeto bandado constitui a foliação, correspondendo as bandas claras a minerais como o quartzo e feldspatos e as
bandas escuras a minerais ferromagnesianos, tais como as piroxenas, as anfíbolas, a biotite. Além das características xistosidade
e foliação, qualquer rocha metamórfica apresenta também uma textura, que tal como as restantes características permite uma
caracterização das condições de metamorfismo presentes aquando da formação das respetivas rochas metamórficas. As duas
principais texturas das rochas metamórficas são:
textura granoblástica — os cristais apresentam todos dimensões semelhantes.
textura porfiroblástica — os cristais constituintes da rocha apresentam essencialmente duas dimensões. Ocorrem cristais de
maiores dimensões no seio de uma matriz de menores
Rochas foliadas
Possui cor escura e não se distinguem os minerais. Apresenta uma xistosidade muito nítida. Resulta da
Ardósia
metamorfização regional de baixo grau de argilitos e outros sedimentos de grão fino.
Possui uma cor relativamente clara. Apresenta xistosidade acentuada, sendo as suas superfícies muito
Filádio
brilhantes. Representa um baixo grau de metamorfismo, mas superior ao das ardósias.
As miras, o quartzo e o feldspato são os principais minerais constituintes desta rocha, que apresenta uma
Micaxisto acentuada xistosidade. A presença de cristais de granada, estaurolite e andaluzite indica a existência de
metamorfismo de médio grau a alto grau.
Rocha dura, densa, de cor verde-escura a negra, apresenta xistosidade, sendo constituída essencialmente
Anfibolito por anfíbolas, clorite e plagióclases. Possui granularidade média a grosseira. Rocha que ocorre no
metamorfismo regional de grau médio a elevado.
Apresenta uma alternância de bandas claras com bandas escuras. Possui granularidade evidente. É uma
Gnaisse
rocha de grau de metamorfismo médio a elevado.
Rochas não foliadas
Apresenta diversidade de cores, geralmente escuras. Os cristais que a constituem não possuem orientação
definida, são finos e de idênticas dimensões. Podem ocorrer grandes cristais (porfiroblastos) de estaurolite,
Corneana andaluzite, granadas ou outros minerais típicos de metamorfismo de contacto. Apresenta textura
granoblástica. É muito dura e densa. Rocha formada em metamorfismo de contacto, nas auréolas mais
internas
Possui uma variedade de cores que lhe é conferida pelas diferentes composições químico-mineralógicas que
Mármore pode possuir. Formado principalmente por cristais bem individualizados de calcite e dolomite. Possui
textura granoblástica e faz efervescência com os ácidos. Origina-se a partir do calcário.
Apresenta cores variadas, mas claras, grande dureza e textura granoblástica. É constituído essencialmente
Quartzito
por quartzo recristalizado. Resulta da metamorfização de arenitos siliciosos.
5. Exploração sustentada de recursos geológicos
Consideram-se recursos geológicos os materiais ou formas de energia associadas que fazem parte da geosfera, de natureza
gasosa (ex.: gás natural), líquida (ex.: petróleo) ou sólida (ex.: carvão) que são utilizados em benefício do ser humano. Os
recursos geológicos podem ser renováveis ou não renováveis. Os recursos renováveis são gerados na Natureza a uma taxa igual
ou superior àquela a que são consumidos. Os recursos não renováveis são gerados na Natureza a um ritmo muito mais lento do
que aquele a que são consumidos pelo Homem. Os recursos geológicos não são renováveis, com exceção da água e do calor
interno da Terra.
Denomina-se reserva às concentrações de um recurso geológico, exploráveis economicamente, de acordo com as condições
tecnológicas, ambientais e de mercado que existem no momento atual. O termo recurso refere-se à quantidade de qualquer
material geológico potencialmente explorável (Figura 48).
Recursos minerais
Os recursos minerais incluem numerosos materiais utilizados pelo ser humano e que foram concentrados, muito lentamente,
por uma variedade de processos geológicos. Os recursos minerais podem classificar-se em metálicos e não metálicos.
Os recursos minerais metálicos como ferro, cobre, prata ou ouro encontram-se distribuídos na crosta terrestre, fazendo parte da
constituição de vários materiais em associações diversas com outros elementos.
Chama-se clarke à concentração média de um determinado elemento químico na crosta terrestre e exprime-se em partes por
milhão (ppm) ou gramas por tonelada (g/ton). Um jazigo mineral é um local no qual um determinado elemento metálico existe
numa concentração muito superior ao seu clarke, ou seja, a sua exploração é economicamente viável. Num jazigo mineral,
chama-se minério ao material que é aproveitável, e que tem interesse económico, e ganga ou estéril ao material sem valor
económico que está associado ao minério. A ganga é, frequentemente, acumulada em escombreiras, que são depósitos
superficiais junto às explorações mineiras. A lixiviação das escombreiras (passagem de água através delas com remoção de
substância químicas) pode provocar craves contaminações do solo e da água. Para além disso, causam poluição visual e
aumentam o risco de deslocamentos de terrenos.
Consideram-se recursos minerais não metálicos os materiais de construção e as rochas ornamentais. São materiais abundantes
que, normalmente, não atingem preços elevados (com exceção das pedras preciosas) e que, por essas razões, provêm,
geralmente, de fontes locais. Apesar de o seu valor ser pouco elevado, revelam uma elevada importância económica. Muitos
setores da atividade económica dependem, direta ou indiretamente, do recurso a materiais não metálicos. Um exemplo típico
desta situação é o setor da construção civil. O cimento (obtido a partir do calcário e da marga), os tijolos (argila) e as pedras
ornamentais (mármores e granitos) são exemplos de recursos não metálicos.
Recursos energéticos
Os recursos geológicos energéticos podem ser renováveis ou não renováveis. Os combustíveis fósseis e a energia nuclear são
exemplos de recursos energéticos não renováveis. Pelo contrário, a energia geotérmica é uma fonte de energia limpa e
renovável.
São considerados combustíveis fósseis o petróleo, o carvão e o gás natural. Da sua combustão resulta a libertação de carbono
para a atmosfera sob a forma de CO2, o que tem contribuído para o aumento do efeito de estufa e, consequentemente, para o
aumento da temperatura global. Este aumento poderá ter graves consequências globais, tais como: o aumento do nível médio
da água do mar e alterações climáticas profundas. Estas, por sua vez, serão responsáveis por desequilíbrios nos vários
subsistemas terrestres com consequências catastróficas.
A energia nuclear resulta da produção de grandes quantidades de energia, sob a forma de calor, a partir da cisão controlada do
urânio em centrais nucleares. A energia nuclear é principalmente utilizada para a produção de energia elétrica, embora também
possa ser usada nos transportes (barcos e submarinos). A energia nuclear apresenta as seguintes desvantagens: risco de
acidentes com fuga de radiações; poluição térmica da água; produção de resíduos radioativos que levantam sérios problemas de
tratamento e armazenamento.
A energia geotérmica baseia-se na utilização do calor do interior da Terra libertado à superfície, principalmente em locais onde
o fluxo térmico é elevado. É, assim, uma forma de energia limpa e renovável. O calor gerado é utilizado para o aquecimento
doméstico ou então para a produção de energia elétrica. A energia geotérmica pode ser classificada em energia de alta ou de
baixa entalpia (Tabela 49).
Tabela 49 Energia geotérmica de alta e baixa entalpia
Alta entalpia Baixa entalpia
A temperatura da água é superior a 150 °C. Nesta A temperatura da água é inferior a 150 °C. O calor é
situação, o calor é usado na produção de energia usado, essencialmente, no aquecimento de
Descrição
elétrica. A água é bombeada até à superfície onde se habitações e de água para uso doméstico ou público
converte em vapor que aciona turbinas. (piscinas, por exemplo).
Contexto Pontos quentes, limites divergentes e convergentes Zonas mais internas das placas continentais (cratões)
geológico
Exemplos Açores, Islândia Nascentes de águas termais em Portugal continental
As rochas que constituem os aquíferos apresentam características favoráveis de porosidade e permeabilidade. A utilização de
um aquífero é tanto mais rentável quanto maior for a porosidade e a permeabilidade das rochas que o constituem. A porosidade
é a quantidade do volume total da rocha ou dos sedimentos que é ocupado por espaços vazios ou poros. Assim, a porosidade
constitui uma medida da capacidade da rocha em armazenar água. A permeabilidade é a capacidade das rochas se deixarem
atravessar por água através dos poros ou fraturas. A permeabilidade das rochas está relacionada com as dimensões dos poros e
com a forma como se estabelece a comunicação entre eles.
Na constituição de um aquífero é possível distinguir as seguintes zonas fundamentais: nível freático, zona de aeração e zona
saturada (Figura 26). O nível hidrostático ou freático corresponde à profundidade a partir da qual surge a água. Este nível varia
de região para região, e, na mesma região, varia ao longo do ano. A zona de aeração localiza-se entre a superfície do terreno e o
nível hidrostático. Nesta zona, os poros entre as partículas do solo ou das rochas são ocupados por água e por ar. A zona de
saturação é limitada superiormente pelo nível hidrostático. Nesta zona, todos os poros da rocha encontram-se completamente
preenchidos com água.
De acordo com as características e a sua localização, os aquíferos classificam-se em livres e confinados (Tabela 50 e Figura 50).
Apesar da água subterrânea ainda ser considerada um recurso renovável, está a tornar-se um recurso cada vez mais escasso,
devido à contaminação da água e à sobre-exploração. As principais causas de contaminação da água dos aquíferos são as
seguintes:
lixiviação de pesticidas, herbicidas e fertilizantes resultantes da atividade agrícola;
lixiviação de metais pesados, de elementos químicos tóxicos e de ácidos resultantes da atividade mineira, principalmente
devido às escombreiras;
contaminação por materiais orgânicos, detergentes e metais pesados depositados em lixeiras ou aterros e arrastados por
águas lixiviantes resultantes da pressão urbana;
metais pesados e substâncias químicas variadas que são lançadas pelas atividades industriais no solo ou nos cursos de
água.