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Esse novo estilo de humanidade está sendo moldado neste exato momento, e
temos consciência de que esta mudança está ocorrendo. Mudanças tão radicais
ocorreram anteriormente em duas ocasiões. Primeiramente com a oralidade e
1
Pierre Lévy - Tecnologias da Inteligência (1998)
2
Gregory Bateson - (1991) sobre a ecologia da mente
3
Pierre Lévy e Félix Guattari - As três ecologias (1989)
posteriormente com a escrita. A informática se apresenta como o terceiro
grande tempo da ecologia cognitiva. Com o entendimento destas mudanças,
poderemos conceber a verdadeira integração da informática na escola,
abandonando o hábito milenar de uma escola onde unicamente existe um
mestre ditando o conhecimento dia após dia.[3] Esta integração deve se dar
não apenas na inserção de computadores em sala de aula, mas também com a
utilização de maneira correta dos recursos cognitivos positivos proporcionados
pela informática.
Tudo isso, segundo Lévy, deve culminar em uma tecnodemocracia que poderá
ser inventada apenas na prática. [3]
Hipertexto
O funcionamento de nosso cérebro, remete a uma rede de conceitos onde, por
exemplo, ao ouvir uma palavra, fazemos inúmeras associações desta com seus
possíveis significados. O significado desejado é escolhido através do contexto,
ou seja da associação desta palavra com os outros termos da frase. [4] Um
hipertexto no ponto de vista funcional é um tipo de programa que auxilia na
organização de conhecimentos ou dados, onde links são estabelecidos entre
palavras, imagens, gráficos, sons, etc. de forma que um único elemento pode
conter uma enorme explicação sobre ele. Neste contexto, os hipertextos nos
apresentam uma forma de cognição ágil, instantânea, seletiva e tão detalhada
quanto necessária. Essa nova forma de cognição só ficou acessível após a
invenção da informática e sua popularização com o computador pessoal, na
Apple.
Sobre interfaces de uma maneira geral, Lévy destaca que cada nova interface
permite novas conexões que vão abrir novas possibilidades. Cada tecnologia
intelectual possui a sua rede de interfaces que faz a conexão a mente humana.
[7]
Os três tempos
Podemos separar as formas de cognição em três tempos construídos pela
humanidade. A distinção da humanidade perante os animais se dá devido à
memória proporcionada pela linguagem. A linguagem e a técnica contribuem
para produzir e modular o tempo, que flui em sentido único.
Oralidade primária
Tem nas histórias contadas geração após geração, sua única forma de
armazenamento do conhecimento. Devido a processos cognitivos já estudados,
a memória não permite uma reconstituição cem por cento fiel da informação
(até em casos de testemunhas criminais, ocorrem alterações nas versões
independentemente da honestidade da testemunha). Há duas formas
cognitivas principais, a baseada na repetição, que estimula a memória de curto
prazo e a baseada em representações que estimula a memória de longo prazo.
Nesse tempo, representações codificadas em narrativas dramáticas, com apelo
emocional e uma história agradável de ser ouvida tem mais chance de
perdurar.
Outro avanço importante desse tempo, foi a impressão que deu origem a um
novo ambiente cognitivo que coloca a escrita como um eco. Com ela passou a
ser possível, por exemplo, comparar grandes séries de números, eliminando
possíveis erros que ocorrem na transcrição de dados quando o fizemos "n"
vezes, e propiciando a revolução científica.
Informática
Nesse tempo, a digitalização conecta o cinema, a radiotelevisão, o jornalismo,
a edição, a música, as telecomunicações e a informática. Através das camadas
externas dos softwares, usuários tem acesso a uma evolução cultural e das
atividades cognitivas devido a cultura informático-mediática. Passa a existir
então, uma forma dinâmica de buscar o conhecimento, o qual fica armazenado
de forma fiel e em grandes quantidades em mídias digitais. Conforme já
descrito anteriormente, a cognição humana é beneficiada pelo uso de imagens,
sons, esquemas e hipertextos e isso é simplificado graças à informática. Isso
acarreta em uma melhora na memória de trabalho.
Em seu caráter mais geral, a informática não visa armazenar os trabalhos
como a escrita. Ela busca viabilizar a consulta seletiva de dados dentro de uma
enorme quantidade deles. O conteúdo de um banco de dados é utilizado, mas
não é lido propriamente dito. E provavelmente nunca será lido ou
reinterpretado como os textos do passado. [9]
Essa condensação no presente, faz com que a analogia para a forma do tempo
passe a ser uma explosão cronológica de um tempo pontual.