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A Geopolítica Nórdica: OTAN e o relacionamento russo
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Author : Bruno Veillard - Colaborador Voluntário Júnior 2

Categories : ANÁLISES DE CONJUNTURA, EUROPA

Date : 14 de junho de 2016

A Geopolítica é uma disciplina de constante uso pelas forças militares e políticas na mais
alta esfera de decisão, pois permite realçar a percepção analítica por meio da construção
de cenários hipotéticos. A linguagem da Geopolítica interliga os aspectos da geografia
física, da geografia humana e o uso de estratégias políticas com o objetivo de atingir um
fim ofensivo ou defensivo, politicamente falando, em relação a um determinado Estado,
um conjunto de Estados, ou uma região.

A Geopolítica Nórdica configura a região do Norte Europeu composta por países de


origem Escandinava e Fino-Báltica, e retrata o entendimento de um conjunto de países no
tocante a suas próprias seguranças nacionais, ou seja, a percepção atual da aplicação
desta ciência em suas políticas nacionais e políticas de defesa.

Nesse sentido, identifica-se como necessário tratar dos atuais acontecimentos que
envolvem a Noruega, a Suécia e a Finlândia no âmbito da Organização do Tratado do
Atlântico Norte (OTAN), com ênfase nas questões Geopolíticas e no relacionamento dos
atores com a Rússia.

A OTAN é um Organismo de caráter militar que nasceu em 1949, com o objetivo de


dissuadir possíveis ameaças do Bloco Soviético, todavia a instituição chegou a um
impasse no início da década de 1990 com a fragmentação da União Soviética, seu maior
rival, o que acarretou na formação de um vácuo de poder global. No período do Pós-
Guerra Fria, os Estados-membros da OTAN tiveram que adaptar o Bloco e reorganizar
suas prioridades a partir da concentração de atividades na Europa por meio de políticas de
segurança defensivas. O ingresso de países do Leste Europeu e a expansão do
organismo para o Oriente deixou a Rússia inquieta e deu origem a grandes protestos.

Atualmente, os russos tiveram envolvimento na Crise Ucraniana por meio de apoio aos
segmentos que são de etnia russa e aos rebeldes que não aceitaram se submeter ao

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desenlace da queda do então Presidente ucraniano, Victor Yanukovich, sobre a qual (a
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deposição) surgiram suspeitas de ilegalidade e interferência estrangeira, e trabalhou para
que a Criméia reivindica-se a integração ao território russo, entretanto, esta ação
desagradou diversos Estados na comunidade internacional, que interpretam como tendo
ocorrido a violação do Direito Internacional. A posteriori, a estrutura da OTAN entrou em
alerta e alguns países vizinhos de Moscou começaram a especular sobre um possível
ataque russo na região, assim como no uso de estratégias de guerra híbrida com a
intenção de provocar instabilidade política no espaço Nórdico e Báltico.

Os noruegueses aderiram a OTAN, já em 1949, e tiveram uma política estável durante a


Guerra Fria, porém permaneceram dependentes da infraestrutura da instituição militar até
os dias correntes. Conforme alega o Tenente-General das Forças Armadas do país,
Robert Mood, “Nós somos completamente dependentes da OTAN e dos nossos aliados
desde o primeiro dia. Em 2016 podemos não ter a capacidade de defender-nos em um
cenário clássico até chegarem reforços, e vamos ter grandes desafios em um cenário de
chantagem”. Isto significa que Oslo não possui condições satisfatórias de apresentar
respostas bruscas em caso de defesa e o país estaria praticamente aberto e em grande
desvantagem Geoestratégica.

A Ministra da Defesa da Noruega, Ine Eriksen Søreide, declarou: “A capacidade


operacional deve ser reforçada. É por isso que o Governo vai apresentar um novo plano
de longo prazo para a defesa, antes do Verão”, todavia esta não parece ser uma solução
eficaz, pois alguns políticos do país creem que o Parlamento poderá não analisá-la a
tempo, e militares queixam-se da falta de pessoal e de peças de reposição.

Os suecos não fazem parte do Bloco, mas colocaram-se na posição de cooperadores a


partir da Parceria da OTAN pela Paz, em 1994, por meio de uma política de não
alinhamento militar, participação em operações de paz e de treinamento. Entretanto, a
política de Estocolmo modificou-se ao longo dos meses em detrimento das ações russas
na região, o que contribuiu para a ratificação do Acordo de Anfitrião com a OTAN pelo
Riksdag, Parlamento sueco, o qual concede privilégios a instituição. O Acordo abrange
mudanças específicas na legislação sueca, de modo a permitir imunidades tributárias,
regulamentação aduaneira, e o transporte de aviões, helicópteros, navios e tropas do
organismo militar no território sueco, mediante convite da própria Suécia. É relevante
mencionar que o Acordo veta a implantação de armamentos nucleares em solo sueco.

A proposta teve aprovação no Riksdag e a oposição obteve desvantagem de 21 votos


contra 291 votos na tentativa de suspender a votação. O representante do Comitê de
Defesa da Esquerda, Stig Henkisson, afirmou: “É um dia triste para as alianças, e mais um
passo para a adesão à OTAN”, e o Ministro da Defesa, Peter Hultqvist, declarou: “Tenho
sido muito claro em dizer não a adesão da Suécia a OTAN, mas ao mesmo tempo ela está
preparada para entrar em uma longa série de acordos que nos trazem muito perto da
OTAN e mudaria a percepção de como os outros países nos vêem”.

Os finlandeses possuem situação semelhante a da Suécia e não ingressaram na OTAN,

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mas aderiram ao Programa Parceria para a Paz, em 1994, no qual cooperam no
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desenvolvimento de capacidades militares e apoio a operações de paz multinacionais,
todavia o país encomendou um Relatório, recentemente, à fim de tomar uma decisão
sobre a ampliação de sua relação com o Bloco, o qual indicou forte tensão com a Rússia,
em caso de conclusão.

No plano político, a Finlândia optou por manter estável sua relação com a OTAN, mas
observa-se a possibilidade de agravamento de belicismo regional, visto que a Suécia
aprovou o Acordo de Anfitrião, o que, geopoliticamente, não é benéfico a Helsínque, pois
esta ação abre margem para pressão intensa de Moscou e configura uma dificuldade
logística para a OTAN, na hipótese de ter que prestar assistência a seus membros do
Báltico. Entretanto o relatório feito por especialistas advertiu que a Rússia “poderia se dar
ao luxo de ignorar” o ingresso finlandês na estrutura da OTAN, ou seja, isto significa que o
país poderia sofrer campanhas de guerra híbrida e distanciamento diplomático, quer esteja
dentro da Instituição, quer fora da mesma, mas chegariam ao tempo limite conforme
observou-se na inclusão norueguesa.

Os russos possuem sua própria visão de mundo ao contemplarem o avanço da OTAN no


Leste Europeu. Compreendem a ação como uma ameaça a sua segurança nacional e
veem a retórica de ameaça e de invasão nos países Nórdicos como vazia. De acordo com
a linha de pensamento de Moscou, pode-se afirmar que a expansão do Organismo Militar
e a hostilidade Nórdica contra os russos são um pretexto para transformar a Rússia em
inimigo internacional.

No tocante à Noruega, o especialista do Instituto de Tecnologia de Massachusetts,


Theodore Postol, fez um alerta na instalação de um novo radar militar dos Estados Unidos
na cidade de Vardo, cuja localização é próxima da fronteira russa. Postol advertiu: “Do
ponto de vista da Rússia, a perspectiva de ter um novo radar na Noruega como parte do
sistema de defesa antimísseis é mais um exemplo das más intenções dos Estados Unidos
em relação a Rússia”, pois esta atitude poderia acarretar em desconforto diplomático para
os atores, sobretudo, para Oslo que poderia ter feito uma análise mais sensata sobre o
local de construção.

Em relação à Suécia, os russos declararam que o distanciamento entre Estocolmo e


Moscou é resultante das próprias ações suecas, à medida que iniciaram sanções contra a
Rússia no âmbito da UE. Consoante afirmou o chanceler russo, Sergei Lavrov, “Sempre
vimos na Suécia um bom vizinho e um parceiro promissor em vários campos. Lembro-me
que de 2009 a 2011 tivemos um aumento de contatos, cooperação, diálogo político, troca
de visitas de ministros, a visita do Presidente russo Dmitry Medvedev, em 2009. De
alguma forma sentiram-se ofendidos por nossa resposta ao golpe armado do Estado de
Kiev, quando chegaram ao poder nacionalistas radicais, que começaram a destruir os
russos na Ucrânia”. No quesito segurança, os russos afirmam não possuírem desejo de
conflito com a Suécia ou com os países membros da OTAN, e reafirmam, conforme
declaração do chanceler Lavrov: “Em geral, se falarmos da atividade militar na Europa,
especialmente no contexto das relações OTAN-Rússia e o status de neutralidade da

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Suécia,http://www.jornal.ceiri.com.br
não estamos interessados em fomentar confronto militar”. Algumas vezes
mencionou-se a incursão de submarinos russos em proximidade de águas territoriais da
Suécia o que teria proposto agitação, porém Moscou nega a informação ao declarar falta
de comprovações das autoridades de Estocolmo e qualifica estes episódios como
errôneos.

No tangente à Finlândia, os russos advogam argumentos a partir da publicação do próprio


relatório finlandês sobre a questão da segurança regional: “A reação política e econômica
(de Moscou) pode ser muito forte, mesmo dura, especialmente no período de transição.
Embora o uso da força é altamente improvável”.

Na análise da Geopolítica e Geoestratégia Nórdicas existem basicamente dois atores


principais: a OTAN e a Rússia, e o objetivo de ambos é exercer o poder na esfera regional
sob o pretexto de uma política de segurança e defesa com a intenção de tornarem-se
potências dominantes o Bloco Europeu, ou a Rússia. A OTAN constitui-se de um
agrupamento de potências de diferentes níveis de poder que escolheram viver debaixo de
sua proteção, ou seja, optaram pela associação a uma potência dominante na esfera
internacional. A Rússia prefere atuar sozinha e entende que a transferência de forças
pode criar uma dependência diante de um sistema internacional que preza pela anarquia.

O especialista em política internacional, Martin Wight, em seu livro: A Política do Poder


nos relata: “Uma potência dominante, contudo, tem de ser definida em termos de
propósitos, assim como em termos de poder. Cada potência dominante está engajada
num processo direto de engrandecimento, mas, em geral, também apela para alguma
forma de unidade ou solidariedade internacional”. (Capítulo II. P.18). Em suma, observa-se
um jogo de potências dominantes na conjuntura Nórdica que somente poderá ter
conclusão pacífica por meio do diálogo e do cumprimento de ações, isto é, com o
afastamento da estrutura bélica da OTAN das fronteiras russas, e de negociações
transparentes no tocante ao caso de intervenção russa na Ucrânia, a fim de configurar ou
reconfigurar um sistema de poder no qual os países não ingressem na autodestruição.

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Imagem “Países Nórdicos” (Fonte):

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/e/e6/Nordic_countries.svg/1218px-
Nordic_countries.svg.png

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Fontes consultadas, para maiores esclarecimentos:

1. A) Noruega:

[1] “Noruega é incapaz de defender-se sem Aliados da OTAN” (Acesso: 25.05.2016):

http://www.vg.no/nyheter/innenriks/forsvaret/mood-norge-er-ute-av-stand-til-aa-forsvare-seg-uten-nato-
allierte/a/23680979/

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1. B) Suécia
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[1] “O Parlamento sueco vai votar sobre o Acordo esta semana” (Acesso: 24.05.2016)

http://www.thelocal.se/20160523/swedish-nato-agreement-could-be-delayed

[2] “Suécia disse sim ao Acordo de país anfitrião com a NATO” (Acesso: 25.05.2016):

http://svenska.yle.fi/artikel/2016/05/25/sverige-sade-ja-till-vardlandsavtal-med-nato

1. C) Finlândia:

[1] “Esta é a forma como a Rússia poderia responder à associação finlandesa NATO” (Acesso:
05.05.2016):

http://www.iltalehti.fi/uutiset/2016042921491591_uu.shtml

1. D) Rússia:

[1] “Entrevista do ministro do exterior russo, Seguei Lavrov, ao jornal sueco ‘Dagens
Nyheter’, Moscou, 28 de abril de 2016” (Acesso: 01.05.2016)

http://www.mid.ru/foreign_policy/news/-/asset_publisher/cKNonkJE02Bw/content/id/2258885

[2] “Se a ameaça é a adesão real da Suécia e da Finlândia na NATO?” (Acesso: 05.05.2016):

http://novpressa.ru/articles-politika.html?p2_articleid=2972

[3] “Radar na Noruega pode provocar grande conflito entre EUA e Rússia” (Acesso: 25.05.2016)

http://br.sputniknews.com/mundo/20160507/4483956/radar-noruega-conflito.html

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