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Através de minha pesquisa pretendo refletir sobre questões que envolvem a imagem
virtual, especificamente os “memes de Internet” (ver fig 1, 2, 3, 4, 5, 6, e 7 do apêndice) e as
imagens de produtos comercializados pela internet através de plataformas de compra/venda (ver
fig 8, 9 e 10 do apêndice). Analisaremos essas categorias de imagens por suas características
formais - sua circulação essencialmente em meios virtuais, sua gigantesca capacidade de
reprodução, a exacerbação de apelos narrativos, estilísticos e afetivos, frente à imensa
competição pela atenção do público - trataremos também sob uma perspectiva filosófica,
partindo de uma compreensão histórica da imagem técnica a partir das idéias de Vilém Flusser.
A imagem popular virtual tem sido o meu principal objeto de interesse na pintura. Dos
“memes de internet” às lojas virtuais, do ready made à colagem, esse universo se apresenta como
uma fonte inesgotável de repertório pictórico. Trazer essas representações para o contexto
material da pintura explicita tensões entre as instâncias práticas do fazer humano frente a um
“novo mundo” em processo de virtualização crescente da realidade.
Introdução
“Imagens são mediações entre homem e mundo (...) seu propósito é serem mapas do
mundo, mas passam a ser biombos. O homem, ao invés de se servir das imagens em função
do mundo, passa a viver em função das imagens. Não mais decifra as cenas da imagem como
significados do mundo, mas o próprio mundo vai sendo vivenciado como conjunto de cenas.
Tal inversão da função das imagens é idolatria. (FLUSSER, 1983, p. 9)
O termo foi cunhado pelo zoólogo Richard Dawkins em sua obra O gene
egoísta, de 1976, para fazer uma comparação com o conceito de gene. Assim, para
Dawkins, meme seria "uma unidade de transmissão cultural, ou de imitação", ou seja,
tudo aquilo que se transmite através da repetição, como hábitos e costumes dentro de
uma determinada cultura. Adaptado para a internet, especialmente para as redes
sociais, o conceito de meme passa a ser uma "unidade" propagada ou transmitida
através da repetição e imitação, de usuário para usuário ou de grupo para grupo.
(TORRES, 2016, p. 60-61)
Objetivo
Justificativa
O meme de internet é um fenômeno que vem ganhando cada vez mais potência e
relevância no cenário global. Exerce influência direta sobre processos políticos, economicos,
culturais e sociais. Sua natureza é diversa e multifacetada, está conectado diretamente à
dimensão simbólica de nossa vida cotidiana e permeia os mais diversos campos. Apesar de sua
aparente irreverência e banalidade exerce um poder notável sobre as mais diferentes
comunidades ao redor do mundo.
Uma vez mapeados alguns limites, buscarei refletir sobre os impactos e transformações
que essa nova dinâmica social proporcionada pelos memes de internet e imagens de produtos
exerce sobre o indivíduo contemporâneo e o mundo material. Para isso pretendo investigar essas
questões a partir do conceito de imagem técnica desenvolvido pelo filósofo Vilém Flusser:
Trata-se de imagem produzida por aparelhos. Aparelhos são produtos da técnica que,
por sua vez, é texto científico aplicado. Imagens técnicas são, portanto, produtos
indiretos de textos - o que lhes confere posição histórica e ontológica diferente
das imagens tradicionais. (FLUSSER, 1985, p 13)
De acordo com Flusser, tendemos a tomar por “janelas” do mundo estas ditas imagens
técnicas, não questionando qualquer aspecto conceitual referente à imagem enquanto um produto
da cultura (de sua criação às intenções alí contidas), causando o que ele chama de
“re-magicização” da imagem técnica, ou seja, ela exerce um poder inconsciente sobre o
indivíduo, moldando sua percepção sobre o mundo
(...) as imagens técnicas, longe de serem janelas, são imagens, superfícies que
transcodificam processos em cenas. Como toda imagem, é também mágica e seu
observador tende a projetar essa magia sobre o mundo. O fascínio mágico que
emana das imagens técnicas é palpável a todo instante em nosso entorno. Vivemos,
cada vez mais obviamente , em função de tal magia imagética: v ivenciamos,
conhecemos, valorizamos e agimos cada vez mais em função de tais imagens. Urge
analisar que tipo de magia é essa. (FLUSSER, 1985, p 15,16)
Observando os fenômenos de massificação de imagem do seu tempo, o filósofo
desenvolve uma série de problematizações extremamente atuais acerca da imagem, que ainda se
manifestam no modo como atualmente as “consumimos” através da internet. É correto presumir
que, dentro dessa conceitualização, imagens virtuais são fruto da evolução tecnológica das
primeiras imagens técnicas, logo, compartilham essencialmente características similares, salvo
algumas especificidades. Pretendo então, fundamentado em sua obra, iluminar as problemáticas
observadas na dinâmica contemporânea das imagens virtuais.
Metodologia
Pretendo desenvolver uma rotina de pesquisa por imagens dentro do recorte proposto e,
dessa forma, criar um banco de referências imagéticas que servirá tanto para o desenvolvimento
da pesquisa teórica quanto a prática. Buscarei elencar as imagens dentro de categorias possíveis
num esforço de mapear e compreender tendências e padrões, porém desprovido de qualquer
rigidez ou formalismo, uma vez que o teor de experimentação é parte constituinte de meu
processo criativo. Em paralelo pretendo seguir aprofundando tanto a pesquisa teórica - partindo
da linha filosófica mencionada no tópico anterior - quanto a pesquisa prática em ateliê,
construindo imagens por meio de colagens feitas a partir desse banco de referências, e buscando
representá-las à priori através da técnica de pintura em tinta acrílica e óleo. Pretendo investigar
também no campo prático hibridismos dentro da técnica, associando possivelmente uma
produção de vídeos ao conjunto de trabalho.
Cronograma
1 semestre x x x
2 semestre x x x
3 semestre x x x
4 semestre x
Bibliografia
FLUSSER. Vilém Filosofia da Caixa Preta. Ensaios para uma futura filosofia da fotografia.
EDITORA HUCITEC. São Paulo, 1985.
_______. O universo das imagens técnicas. Elogio da superficialidade. São Paulo: Annablume,
2008b.
LINARES, Claudia Rodríguez-Ponga. (2015). A imagem colonizada. ARS (São Paulo), 13(25),
72-87. https://doi.org/10.11606/issn.2178-0447.ars.2015.105524
REIS, Thiago. (2020). As diferentes acepções da arte na obra de Flusser. ARS (São Paulo),
18(39), 161-177. Epub August 28, 2020.
https://doi.org/10.11606/issn.2178-0447.ars.2020.156353
TORRES, Ton. (2016). O fenômeno dos memes. Ciência e Cultura, 68(3), 60-61.
https://dx.doi.org/10.21800/2317-66602016000300018
APENDICE
fig 1: Militantes do PSDB brigam durante as prévias municipais do partido. Exemplo de imagem pronta (Foto:
Crédito: Adriano Vizoni/Folhapress)
https://epoca.globo.com/tempo/noticia/2016/03/pastelao-tucano-briga-do-psdb-pela-prefeitura-de-sp-so-comecou.ht
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Fig 4: meme gerado a partir de imagem de vídeo do mesmo episódio da fig 3. Nota-se que não foi realizada
intervenção sobre foto, mas a legenda que acompanha atribui um sentido narrativo e confere o caráter de meme.
Fig 5: o arquiteto e urbanista Oscar Niemeyer (foto: Gorka Lejarcegi)
Fig 6,7: dois exemplos de memes criados a partir de uma mesma foto (fig 5). O primeiro (à esquerda) se configura
através da simples inserção de um texto que lhe atribui sentido. O segundo (à direita) observamos a substituição da
maquete por uma fotografia do Palácio do Planalto, e novamente temos a inserção do texto atribuindo novo sentido.
Fig 8: imagem de produto à venda na plataforma de compra e venda online Wish
https://www.criatives.com.br/2020/06/15-vezes-que-o-wish-surpreendeu-as-pessoas-com-seus-anuncios-bizarros/
Fig 9: imagem de produto à venda na plataforma de compra e venda online Wish
https://www.criatives.com.br/2020/06/15-vezes-que-o-wish-surpreendeu-as-pessoas-com-seus-anuncios-bizarros/
Fig 10: imagem de produto à venda na plataforma de compra e venda online Wish
https://narrandohistoriastravel.wpcomstaging.com/2019/10/15/26-anuncios-da-wish-no-facebook-que-voce-ve-e-pen
sa-mano/