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Leitura de produções da mídia - LETA32 - Universidade Federal da Bahia

Docente: Rodrigo Alves do Nascimento 


Discentes: Enaina Leite, Marcella Luiza, Mariana Santos, Maria Eduarda Silva, Juno

Avaliação 01

Marshall McLuhan desenvolve, em sua teoria apresentada no livro "O meio é a mensagem", a
ideia de que não apenas o conteúdo produzido pelas mídias transmite uma mensagem, mas também
que os meios escolhidos e aqueles que predominam na sociedade e que, além de definir o modo de
viver da sociedade, os meios também possuem o papel de definir como as pessoas enxergam o mundo
ao seu redor. Ao analisar tais conceitos, se torna possível perceber que Luhan define os meios como
“seres autônomos" e independentes de seu próprio desenvolvimento, construindo, dessa maneira, uma
ideia de inevitabilidade de seu domínio. Em contrapartida, esse é um dos pontos os quais Raymond
Williams critica, já que o autor em questão argumenta que os meios são produto de relações de poder e
de política, e que seu desenvolvimento depende de decisões tomadas pelos grupos dominantes, com
intencionalidade. Partindo desse pressuposto, Williams expõe, por exemplo, que muitos desses meios
de comunicação foram criados como ferramentas de guerra para a manutenção do poder de
determinadas instâncias, ou de determinados Estados. Para além disso, enquanto Luhan escreve sobre
um desenvolvimento dos meios em que a humanidade gira em torno desses, e não o contrário,
apontando para um discurso quase distópico de "adapte-se ou morra" - definitivo e inevitável -,
Williams permite ter uma ideia menos determinista porque, segundo ele, é possível tensionar, disputar
e alterar os rumos que os meios tomarão, ou seja, os meios não são autônomos e muito menos
independente. 
É a partir dessa perspectiva que entra a discussão realizada por Giselle Beiguelman em seu
livro “Políticas da Imagem”, ao expor como o desenvolvimento do cinema ocorreu de forma
consciente em favor de políticas de imagem e de domesticação do olhar. A partir desse viés, ela traz o
foco para a existência de outras possibilidades acerca da relação construída entre imagem
cinematográfica e espectador. Com base nisso, Beiguelman afirma que o objetivo dessa relação que se
é construída visa justamente contribuir para a manutenção do processo de docilização dos corpos -
processo este que se iniciou por volta da revolução industrial e que tomou todo o século XX, no qual a
tirania da retina foi instaurada ao promover uma relação exclusiva da imagem (ativa) com a visão
(passiva) de quem contempla, à distância, uma imagem pré-fabricada, sem interagir com ela -. Nesse
sentido, Beiguelman conclui em suas reflexões que a mudança no modo de consumo dos conteúdos
não está diretamente relacionado apenas à internet, mas também à criação dos celulares e das telas em
geral. 
Nas esteiras dessas afirmações, Beiguelman aponta também que: "a cultura visual
contemporânea é indissociável da produção imagética nas redes.", o que pode ser relacionado ao fato
de que as redes sociais exibem uma quantidade massiva e necessidade constante de fotos a todo
momento. Isso se dá, principalmente, pelo fato de que as mídias possuem uma grande contribuição na
reconstrução dos corpos, assim como defende Kittler, além da criação de um imaginário sobre o real.
Ademais, este tipo de relevância não só está relacionado à popularização das câmeras, mas também à
questão de que esta mesma popularização vai corresponder a um grande número de pessoas que
passam a "enquadrar e ser enquadradas nas telas". Para melhor explicar essa reflexão, Beiguelman
utiliza a cena de interação entre o protagonista de Blade Runner e sua namorada-holograma, com o
intuito de ilustrar como a relação entre indivíduo e imagem passou por um processo de transformação,
o qual foge de uma interação passiva, que visa algo mais contemplativo, para uma relação mais direta
e ativa, a qual envolve todos os sentidos e cuja experiência pode ser alterada via pessoa-imagem ou
vice-versa. Nesse sentido, um novo regime da imagem emerge, haja vista que agora essas tecnologias
não produzem apenas a imagem e sim percepções sobre a realidade. Portanto, discutir sobre
algoritmos, redes sociais e tendências tornou-se discutir sobre o modo de vida humana atual.
 Dessa forma, é passível de afirmação que essa cultura digital serviu para alterar os processos
de distribuição de imagem e as formas de se ver, até porque os dispositivos criaram e consolidaram
novas formas e possibilidades não só de criação, mas também de superexposição, vigilância e outras
maneiras de padronizar o pensamento. Por isso, cabe notar que esse tipo de homogeneização ocorre, a
cada dia que passa, com mais frequência, devido à cultura dos likes e suas fórmulas de sucesso, cujo
objetivo visa, sem escrúpulos, não apenas facilitar o achamento dos dados, mas se ater às bolhas das
quais as pessoas já se encontram inseridas. Sob esse âmbito, os algoritmos são os responsáveis, na
internet, por processar uma grande quantidade de informações em um tempo mínimo. A partir disso,
compreende-se que esse mecanismo é o responsável por selecionar, organizar e classificar os
conteúdos das redes sociais de forma personalizada, com o objetivo de tornar a busca pelos interesses
pessoais mais eficientes .Nesse sentido, quando Beiguelman afirma que os algoritmos são o “aparato
disciplinar de nossa época” ela os coloca como os desempenhadores do papel de fantasma dentro das
mídias, já que “O fantasma é uma figura ambivalente, que transita entre a presença e a ausência, o real
e o virtual. Ocupa um lugar de destaque na história das imagens maquínicas”  [BEIGUELMAN, p.10]
- ou seja, os algoritmos são cruciais para que uma imagem se torne viral e, apesar de não ser palpável e
visível, é extremamente significativa.
Ao analisar o que foi dito anteriormente, é de extrema relevância apontar que essa ideia de
fantasmagoria trazida por Beiguelman, no seu papel de transitar entre presença, ausência, real e
virtual, se assemelha muito ao que é discutido por Kittler em seu livro “Gramophone film typewriter”,
no qual o autor discorre sobre como o avanço tecnológico e o surgimento das mídias conseguiram
modificar a ideia e a construção da memória. Para melhor elucidar seu pensamento, Kittler constrói
uma divisão entre livro e mídia, na qual argumenta que enquanto os livros carregam o papel da
construção memória, da sensibilidade, da lembrança, da relação entre o real e a presença, as mídias
aprisionam, criam uma falsa ideia de libertação e armazenam os dados ópticos e acústicos, o que faz
com que se construa uma barreira entre o indivíduo, o real e o presencial. Ou seja, a mídia distancia o
indivíduo da memória e consequentemente promove a morte dessa memória. Logo, ao entender que
dentro das redes sociais existem formas específicas de se comportar, também é possível observar que a
internet tende a homogeneizar a ação dos indivíduos que estão suscetíveis à ela, o que se relaciona
com os critérios de organização dos dados, até porque apenas o que segue o padrão estabelecido no
momento será considerado como relevante e irá aparecer para os usuários.
 Outrossim, um exemplo muito contemporâneo desse tipo de homogeneização do pensamento
e de ações através dos algoritmos pode ser encontrado nas trends de aplicativos como o TikTok. Nos
últimos meses, a hashtag "you've never had an original thought” (em português, “você nunca teve um
pensamento original”) recebeu mais de três milhões de visualizações e milhares de vídeos
compartilhados, nos quais as pessoas mostram como a internet moldou comunidades de usuários que
consomem o mesmo tipo de livros, músicas, filmes, roupas, etc, ou compartilham das mesmas
filosofias e crenças. Esses vídeos (como esse, publicado pela @whatsemilyreading) refletem uma
forma de realização das pessoas de que aquilo que antes elas acreditavam torná-las especiais, na
verdade, é consumido em massa por grupos que participam dos mesmos nichos online - nichos esses
que são formados por algoritmos que analisam seu gosto e sua atividade na internet para poder te
apresentar imagens e vídeos específicos para você - não é atoa que a página inicial do TikTok chama-
se “for you” (literalmente, “para você”) -, aumentando assim o seu fluxo de consumo e produção
dessas mídias. 
Ademais, esses meios são tão imponentes sobre a forma com que a população se organiza,
que, por exemplo, alteram a própria forma com que a arte é consumida. Ao realizar uma visão crítica
acerca do que aconteceu  nos últimos anos, pode-se observar um boom na indústria cultural de músicas
formatadas para virarem “hits” do TikTok ou do Instagram. Assim, se faz possível afirmar que o que
faz sucesso atualmente são músicas curtas, com refrões repetitivos e que possam ser consumidos
naqueles 30 segundos de vídeo, pelos próprios aplicativos, sem exigir que o usuário se dê o trabalho
de procurá-las em plataformas de streaming. Essa “fórmula de sucesso” atingiu seu auge nos anos de
isolamento devido a pandemia do COVID-19, mas até agora continua extremamente influente no
mercado musical - causando inclusive diversas controvérsias entre os artistas ditos “mercadológicos” e
aqueles posicionam contra esse molde de produção, e até mesmo questionam sua validade como arte.
Visto isso, não deve ser descartado o entendimento acerca do fato de que esses algoritmos
afetam a vida de todos e que, consequentemente, influenciam em como enxergam o mundo,
principalmente porque a sociedade tende a seguir as tendências e se preocupar em como as pessoas
estão observando as suas ações. Dessa forma, Beiguelman traz a ideia de como a relação com as
tecnologias se torna, a cada dia que passa, mais interativa e a forma com que isso afeta em como
determinado alguém irá se comportar em determinada situação. Sob esse âmbito, considera-se a
“cultura do cancelamento” como extremamente importante para compreender como a internet possui o
poder de modificar comportamentos, pois qualquer um que tenha acesso ao que uma pessoa posta em
sua rede social pode determinar se aquela ação merece ou não ser julgada, seja ela uma figura pública
ou não. Partindo desse pressuposto, a autora apresenta os regimes estéticos como algo completamente
integrado à cultura das redes sociais, já que a maioria das pessoas se podam para que não passem a
“imagem errada” para os consumidores dos seus conteúdos, nesse caso a imagem que foge da esperada
e projetada, o que apenas reforça o pensamento que as redes possuem um olhar pré-fabricado.

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