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Byung-Chul Han. Sociedade da transparência. Trad. Enio Paulo Giachini. Editora Vozes. Petrópolis –
RJ, 2017
O autor busca, com suas reflexões filosóficas, compreender diversas dimensões,
ou funções, da vida humana, como o vazio existencial que existe em cada ser humano,
que o leva a consumir cada vez mais os conteúdos que a tecnologia e suas
modalidades oferecem, tornando-os reféns dos grandes fluxos da internet e do capital,
se convertendo a seres incompletos. A completude viria na busca permanente por luz e
por transparência sobre o outro, mesmo esse outro, na maioria dos casos, continuar
igual a quem o procura.
O autor explora o tema da transparência de maneira muito usual, sem deixar
que tenhamos uma leitura exaustiva, apresentando sua obra em nove pequenos
capítulos, a saber: 1º Sociedade Positiva, 2º Sociedade da Exposição; 3º Sociedade da
evidência; 4º Sociedade Pornográfica; 5º Sociedade da Aceleração; 6º Sociedade da
Intimidade; 7º Sociedade da Informação; 8º Sociedade do Desencobrimento e 9º
Sociedade do Controle. Também direciona uma crítica aos processos de positivação
das relações. Inicialmente, Byung-Chul Han, interroga o fato das redes quererem
homogeneizar as relações socias, na qual não existe espaços para uma
contranarrativa, havendo então apenas uma forma: a narrativa irrefutável do igual,
sendo ela a maneira que a sociedade da transparência encontrou para conseguir vigiar
seus habitantes, chegando a modelar cada indivíduo através da transparência e
vigilância nas redes, afirmando que as relações são trocadas pelas conexões e nelas
os indivíduos encontram o próprio reflexo de si, pois se tem a possibilidade de
exclusão daquilo que contraria suas expectativas e aquilo que não se curte, sabendo
que o igual não magoa e muito menos pesa. Logo, as conexões que realizamos, o que
as redes difundem em nós e nos cativam, não tem como objetivo principal a
aproximação do outro, mas sim acaba por ser um aparelho, no caso das redes sociais,
para encontrarmos pessoas que pensam de forma similar a nós e faz-nos passar longe
dos desconhecidos e de quem tem um princípio distinto ao nosso, e isso nos permite
ter relações e comportamentos previsíveis.
Um dos aspectos mais interessantes da obra é a discussão trazida pelo autor
aos termos controle, vigilância, exposição e é claro transparência, que são interligados,
e podemos observar isso no decorrer da obra toda, uma conexão entre eles acontece e
graças a essa discussão conseguimos entender o título do livro, Sociedade da
transparência e o quanto essa “transparência” acaba incomodando os indivíduos.
Também conseguimos observar a problemática da disposição e necessidade que as
pessoas sentem e se expõem nas redes, comparando então, de maneira metafórica, à
pornografia.
Conseguimos observar na obra, como as redes online podem se tornar um
grande problema e algo muito perigoso na medida em que nós consumimos cada vez
mais esse tipo de sistema econômico, pois a cada dia que passa as redes identificam
o que estamos querendo e nos direcionando para um consumo em massa, acabando
por nos moldar e moldar os nossos gostos por meio de uma vigilância que acontece
por causa dos rastros que nossas ações na internet deixam.
O autor, da mesma maneira que questiona anteriormente, analisa como as
pessoas estão se relacionando e como estamos engessados por causa das redes,
como estamos compartilhando uma vontade mútua de vigiar uns aos outros, ou seja,
os indivíduos cada vez mais estão preocupados na exibição das próprias vidas e
infelizmente cada vez mais se veem induzidos a se expor a todo instante, assim nos
tornando seres operacionais.
Segundo o autor, a sociedade submete os indivíduos para que se adequem a
um comportamento padrão, de uma forma em que a pessoa impulsione a sua própria
vontade de compartilhar suas vidas, ou parte do que acontece no seu dia a dia, sem ao
menos saber quem serão os outros indivíduos que terão acesso a suas informações.
No caso, pelo fato de quererem se mostrar “diferentes”, acabam agindo todos iguais,
perdendo a autenticidade, que acham que tem quando decidem se expor, acabando,
na verdade, por produzir sempre a si mesmos.
A vigilância, das nossas próprias ações e também das outras pessoas, está
muito presente na atualidade, para Byung-Chul Han, “a vigilância que recebemos não
se realiza como ataque à liberdade. É antes, voluntariamente que cada um se entrega
ao olhar panóptico, no qual todos estão de acordo” 2. Ou seja, nas redes, pressupõe
que, estamos todos vivendo em uma constante vigilância, sendo observados o tempo
todo, mas isso ocorre de uma maneira recíproca, pois também a fazemos, a rede
acaba se tornando um o local que enaltece o ego, local que cada um de nós demonstra
2
Ibidem, p.72
suas vantagens, aquelas vantagens que o dinheiro pode comprar, e por causa disso as
particularidades já não existem mais.
Portanto, ao lermos o livro Sociedade da Transparência, podemos entender que
o globo está se transformando e a vigilância que temos não acontece como um ataque
a liberdade, mas entende-se que um controle total acaba com a liberdade de ação,
conduzindo os indivíduos de uma sociedade a uma uniformidade. A transparência, que
tanto vemos na obra, está ligada ao digital, que atualmente vem mudando, até mesmo,
os espaços públicos, somos “reconfigurados” a todo instante, e modificando as
relações de cada indivíduo e essas relações que ocorrem no âmbito digital estão se
confundindo com os aspectos econômicos, mas não se detém apenas a economia,
também à sexualidade e ao espírito. Temos que ficar atentos, pois nossas escolhas e
ações nas redes sociais contribuem para o crescimento do panóptico digital, melhor
definição para essa prisão que “escolhemos” viver, pois a cada dia que passa estamos
nos expondo cada vez mais, ficando nus perante a sociedade, ao invés de tentar
encontrar outras “narrativas” e saídas para vivermos melhor e em torno de outras
coisas, não apenas presos em si mesmo ou no próprio ego.