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Coordenação editorial
João Carneiro
Revisão
Moira Revisões
Preparação de originais
Maria Carolina Gurgacz
Capa e projeto gráfico
Atelier @Arte
Diagramação
Tomo Editorial
C778
Coordenação pedagógica: concepções e práticas. / organizado por
Mariângela Bairros e Patrícia Souza Marchand. – Porto Alegre :
Escola de Gestores; Tomo Editorial, 2018.
416 p.
ISBN 978-85-9516-012-5
CDU 37.013
Mariângela Bairros
Patrícia Souza Marchand
Mariângela Bairros
Patrícia Marchand
Organizadoras
luta pela gestão democrática da escola. Entendemos que a escola tem um impor-
tante papel no processo de construção de uma sociedade mais democrática e que
a aprendizagem da participação ocorre na prática e na sua avaliação constante
através da teoria; assim que, ao nos dedicarmos ao curso, tínhamos e temos obje-
tivos mais amplos na direção de contribuir para uma sociedade mais democrática,
o que efetivamente ocorreu.
Este livro traz importantes análises desta rica prática que foi um aprendizado
para todos.
Boa leitura.
Apresentação 17
Mariângela Bairros
Patrícia Marchand
Organizadoras
Parte I
SALAS-AMBIENTE:
A CONTRIBUIÇÃO PARA A FORMAÇÃO
DO COORDENADOR PEDAGÓGICO
Parte II
RELATOS – PROJETOS DE AÇÃO
Parte III
A GESTÃO ESCOLAR E A COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA
Mariângela Bairros
Patrícia Marchand
Organizadoras
PARTE I
PARTE II
Daiane Scopel Boff e Igor Ghelman Sordi Zibenberg, no artigo O perfil docente
de um grupo de professores de uma instituição pública de ensino básico técnico e
tecnológico (ebtt): vocação e comprometimento social, apresentam detalhes sobre
o trabalho realizado, buscam construir um perfil, a partir dos docentes pesquisa-
dos, investigando algumas características pessoais, tais como sexo, idade, titulação,
trajetória acadêmica, experiências de trabalho, tempo de docência, aderência a
programas de iniciação científica durante a formação inicial. Com uma abordagem
basicamente qualitativa, a pesquisa utilizou procedimentos estruturados para a co-
leta de informações que foram analisadas em seguida por meio de procedimentos
estatísticos de tabulação, organização e apresentação de dados.
Graziela de Lourdes Demétrio Nunes e Luciano Bedin da Costa, no artigo
Perfil discente e repercussões de um núcleo de educação de jovens adultos (NE-
EJA), apresentam o perfil do jovem e do adulto que está inscrito em um Núcleo
de Educação de Jovens e Adultos na cidade de Porto Alegre, tendo sua base de
pesquisa centrada no ensino de jovens e adultos e a importância do Núcleo para a
conclusão dos seus estudos.
Miriam Mallmann Prates e Delci Heinle Klein, no artigo As implicações da
lei de gestão escolar democrática no município de Novo Hamburgo – RS no tra-
balho da coordenação pedagógica, apresentam algumas análises realizadas sobre
os reflexos da Lei n.º 2.015/2009, que regulamenta a Gestão Democrática Escolar
em Novo Hamburgo, RS, no trabalho do Coordenador Pedagógico. Debatem o
exercício da coordenação pedagógica e sua relação com o espaço de autoria, bem
como o tempo que seria necessário para a construção da identidade profissional,
uma vez que a legislação desse município prevê a eleição direta de diretores de
três em três anos.
Daiana Rosário da Rocha e Delci Heinle Klein, em artigo intitulado Plane-
jamento do professor em “tempos de internet”, apresentam uma reflexão sobre
como vem acontecendo a relação “Planejamento e internet” no âmbito escolar.
Com o objetivo de verificar se os professores, ao planejarem suas aulas, utilizam a
internet como ferramenta, e de que recursos disponíveis na rede lançam mão, além
da forma como fazem, foram levantados dados a partir de questionários virtuais
com vinte professores.
Andréa Lauermann Tassinari e Joseane Leonardi Craveiro EL Hawat, no
artigo Educação Integral: uma construção coletiva a partir de diversos saberes e
atividades formativas, abordam os desafios enfrentados para a implementação de
uma escola de turno integral na cidade de Porto Alegre no ano de 2015. A pesquisa
retrata a importância da educação integral para a comunidade e as expectativas
dos professores frente a essa nova proposta de trabalho.
Carla Ferreira Aguirre e Gabriela Maria Barbosa Brabo, no artigo O papel
do Coordenador Pedagógico na atuação do professor na Sala de Recursos Mul-
tifuncionais, apresentam um recorte de pesquisa realizada em escola estadual de
PARTE III
Para terminar este livro, Alexandre José Rossi, Juliana Selau Lumertz e Daniela
de Oliveira Pires, no artigo As implicações das parcerias público-privadas na edu-
cação: uma análise do programa escola eficaz do Instituto Ayrton Senna, fazem
uma análise das implicações da relação “público-privada” na gestão democrática
da escola pública e as principais consequências que isso gera na democratização da
educação. Eles utilizam como referência a parceria entre o Instituto Ayrton Senna
e os diferentes municípios brasileiros.
SALAS-AMBIENTE:
A CONTRIBUIÇÃO PARA A FORMAÇÃO
DO COORDENADOR PEDAGÓGICO
A educação à distância é uma modalidade que tem ganhado destaque nas po-
líticas públicas para formação docente no Brasil. Isto muito se deve por oportunizar
cursos de formação em regiões onde a oferta de se apresenta ainda insuficiente. Isto
faz com que essa modalidade de ensino venho sendo muito utilizada na formação
para professores das redes públicas de ensino.
A educação à distância, com o uso das tecnologias de informação e comu-
nicação (TICs) no processo de ensino e aprendizagem, pode ocorrer em lugares e
tempos diversos. Essa talvez seja a sua principal característica: democratizar o acesso
ao conhecimento. O fato de oportunizar o processo de ensino e aprendizagem em
lugares e tempos diversos tem se mostrado como fator relevante para o crescente
número de professores que se matriculam em cursos de formação continuada à
distância.
O Ministério da Educação, por meio do Sistema UAB (Universidade Aberta
do Brasil), tem procurado expandir e interiorizar a oferta de cursos e programas de
educação superior no Brasil na modalidade de educação à distância nas instituições
públicas de ensino superior, com o objetivo de contribuir para a Política Nacional
de Formação de Professores.
Diante de tamanha abrangência, o grande desafio se torna viabilizar essa
formação à distância, com espaços amigáveis, compreensíveis para os discentes
que muitas vezes nunca fizeram um curso à distância e por isto não possuem fa-
miliaridade com ambientes virtuais de aprendizagens (AVA).
A utilização de novos espaços de aprendizagem para a formação docente
tem sido muito utilizada na formação continuada de professores e tem crescido
significativamente nos últimos anos.
No contexto de formação continuada do professor, a educação à distância via internet
tem se tornado uma referência para o desenvolvimento de propostas que enfatizam
• Glossário
• Chat
Para a utilização dos recursos, foram desenvolvidas dez atividades sendo que
seis estavam relacionadas aos recursos de comunicação (mensagens, fóruns e chat)
e quatro atividades estavam relacionadas aos recursos de atividades (tarefas, base
de dados e glossário).
Muitos relataram que estavam tendo o primeiro contato com este tipo de
ambiente virtual, o que, num primeiro momento, remeteu a sensações de angústia
e medo pelo desconhecido. Porém, com o trabalho realizado na sala-ambiente de
Introdução ao Curso e ao Ambiente Virtual MOODLE, logo os alunos constataram
a sua importância para a realização do Curso, como podemos ver nas falas que
seguem.
Tenho tido dificuldade devido meu analfabetismo digital. Espero que com
o tempo possa sentir-me mais segura, por enquanto vou precisar de muito
empenho para acompanhar e realizar todas as atividades que me serão so-
licitadas. Estou um tanto insegura quanto a buscar as atividades, utilizar
o chat, ativar os fóruns.
Saber navegar nos diferentes espaços, participar dos fóruns, enviar men-
sagens, comunicar-se com os colegas e ter acesso a tudo o que está sendo
produzido em tempo real faz com que se tenha a certeza de que há muito
conhecimento sendo compartilhado, de que sempre é possível fazer uma
troca significativa.
Creio que para muitos é novidade, assustador, para mim esse cenário vir-
tual é uma nova forma de agregar conhecimento, já que o tempo na atua-
lidade é reduzido diante das demandas profissionais e pessoais.
Vimos que nos dias atuais os cursos on-line, em EAD, estão aprimorando-
-se cada vez mais, sendo um facilitador de conhecimentos. Com isto dan-
do oportunidades para que possamos nos atualizar e continuares nossos
estudos.
Para nós, que estamos nos alfabetizando nas questões tecnológicas, não é
muito fácil realizar um curso neste formato, pois como a professora falou
no início das atividades, o nosso maior desafio é organizar nossos horários
para realizar as atividades.
São desafios e barreiras, que a minha geração, está tendo que enfrentar
e que as novas gerações, que já nasceram em um mundo tecnológico já
saem em vantagem.
Na verdade é a primeira vez que tenho contato com este tipo de sistema,
minha graduação foi presencial, minha pós também, nunca fiz nenhum
curso à distância. De uma forma geral estou um pouco aflita e ansiosa em
utilizar as ferramentas mas não estou encontrando grandes dificuldades.
Aos poucos espero ir me acostumando mais.
São desafios e barreiras, que a minha geração está tendo que enfrentar
e que as novas gerações, que já nasceram em um mundo tecnológico já
saem em vantagem.
Cabe destacar ainda que grande parte dos alunos relata a importância das aulas
presenciais, mesmo sendo este um curso à distância. Isto muito se deve ao fato de
esses alunos trazerem a cultura da educação presencial e sentirem a necessidade
de, pelo menos em algum momento, terem a troca com professores e colegas de
forma presencial. Como podemos verificar nas falas dos alunos, muitos relatam
o momento da aula presencial como sendo importante para sanar dúvidas e, com
isso, evidenciam a dificuldade que ainda possuem na utilização do ambiente virtual
de aprendizagem como uma sala de aula e na interação via ferramentas disponi-
bilizadas no AVA com os professores.
Esta primeira aula presencial foi muito importante, pois nela tivemos a
oportunidade de acessar a plataforma conhecer e tirar as dúvidas que fo-
ram surgindo. Realizar as atividades com o auxílio da professora que foi
atenta a cada detalhe ao que estávamos fazendo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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PRADO, Maria Elisabette Brisola Brito; ALMEIDA, Maria Elizabeth Bianconcini. A distância e a
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outros rumos. MEC, 2002. Disponível em: http://cdnbi.tvescola.org.br/resources/VMSResources/
contents/document/publicationsSeries/1426096028139.pdf. Acessado em: outubro de 2017.
Denise Comerlato
Maria Otília Kroeff Susin
Vera Maria Vidal Peroni
3 Alexandre Rossi, Daniela de Oliveira Pires, Denise Maria Comerlato, Liane Bernardi, Lucia
Hugo Uczak, Luciane Paz Comerlatto, Maria Otília Kroeff Susin, Maria Raquel Caetano, Maria
Rita Vidal Peroni, Monique Robain Montano.
4 Vídeo 1 – Conselho escolar e educação com qualidade social. (Gestão democrática da edu-
cação; parte 1) http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_
action=&co_obra=48120 Vídeo 2 – Conselho escolar e educação com qualidade social. (Gestão
democrática da educação; parte 2) http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObra-
Form.do?select_action=&co_obra=48121 Vídeo 3 – A gestão democrática do projeto político-
-pedagógico. (Gestão da escola) http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObra-
Form.do?select_action=&co_obra=50671
Dessa forma, pode-se afirmar que a sala PEGP foi uma experiência exitosa, por ter
atingido um de seus principais objetivos: analisar a prática de gestão escolar com
base nos princípios teóricos da gestão democrática. Entendemos que cursos com
esse propósito, como é o caso dos que se inserem no Programa Nacional Escola
de Gestores da Educação Básica, carecem de continuidade, pois o espaço educa-
cional é permeado pela vida social de cada comunidade, que se constituem por
diferenciadas culturas, por particularidades sociais, pela forma peculiar como se
organizam economicamente para dar conta de sua subsistência e pela política em
torno da qual se organizam, sendo tudo isso constituinte das experiências teórico/
práticas que dão vida à sociedade.
Por outro lado, a experiência vivenciada no Curso permite aproximar o poder
público e a academia da realidade que envolve a educação pública e as experiências
educacionais construídas e aplicadas nestes espaços, muitas delas exitosas e que
precisam ser divulgadas para outras escolas. Portanto, a continuidade desses ricos
momentos de formação, proporcionada pelo Curso de Especialização em Coor-
denação Pedagógica, é um desejo das escolas e dos profissionais nela envolvidos,
como valorização e teorização dos saberes construídos nestes espaços, uma vez que
o movimento se deu do Curso para a escola e da escola para o Curso.
Em síntese, o conteúdo geral do Curso permitiu repensar a escola enquanto
espaço democrático de decisão que deve envolver, nas decisões pedagógicas, além
da participação dos professores, também a dos pais e dos alunos, trazendo-os para
os Conselhos de Classe5, entre outras instâncias de participação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
5 Espaços de reflexão e avaliação dos alunos que deve possibilitar uma retomada da ação peda-
gógica. Envolve a participação do Coordenador Pedagógico, do orientador educacional, dos
alunos e professores. Muitas escolas incluem os pais nesse processo. É importante que o diretor
da escola também participe dos Conselhos de Classe.
cada vez mais dando direção para a política pública. Lutamos por processos demo-
cráticos e de justiça social na educação e, quanto mais avançamos neste caminho,
mais o capital se organiza para retomar o seu papel na educação. Retomamos a
ideia de que são distintos projetos societários de classe em relação. Neste sentido,
este Curso, que forma coordenadores pedagógicos com os princípios da gestão
democrática, está contribuindo, no processo de correlação de forma a reforçar o
importante papel social da escola no aprendizado da democracia em nosso país.
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INTRODUÇÃO
Este artigo busca refletir sobre a temática dos direitos humanos na formação
de professores trabalhada ao longo do desenvolvimento da sala-ambiente “Realidade
Escolar e Trabalho Pedagógico” (RETP), durante a 2ª edição do Curso de Especia-
lização em Coordenação Pedagógica, do Programa Nacional Escola de Gestores
da Educação Básica, do Ministério da Educação, oferecido em parceria com a
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Essa temática foi evidenciada como
reconhecimento e autonomia, visto que a realidade dos espaços societários no qual
se desenvolvem os projetos educativos implica ter presente não só os conceitos de
“atores sociais”, “relações sociais”, mas de “complexidade”, que redefine os parâme-
tros de entendimento do próprio espaço societário em suas múltiplas dimensões
da vida coletiva. Para os autores, as ações político-pedagógicas das propostas de
formação de professores se inscrevem como educação cidadã, porque o processo
de construção de conhecimento e socialização de saberes se dá na concretização de
espaços de mediação social e de explicitação de conceitos diferenciados voltados
para a promoção dos direitos humanos em um país tão desigual e injusto social-
mente, como é o nosso.
O objetivo maior da sala foi possibilitar aos participantes, através de situa-
ções-problema da escola, identificarem os principais procedimentos que podem
compor uma proposta político-pedagógica de reflexão gestionária/docente e, ao
mesmo tempo, mapearem os desafios da instituição como um instrumento técnico
e transversal para pensar uma base curricular inovadora. O diálogo para viabilizar
o alcance desse objetivo foi estabelecido a partir de temas como: utopia, progresso
e distopias; relações entre sujeito proprietário de direitos e sujeito com direito à
propriedade; o lugar do sujeito de direitos; o sujeito de direitos e exclusão social;
O verso que abre esta seção tem razão de ser, pois ele evidencia que, para
compreender a vida, precisamos nos dar conta do paradoxo: para a compreensão
da realidade, a vida precisa ser percebida na sua historicidade processual. Ou seja,
não pode ser entendida no recorte do agora, ou nos fragmentos que apontam para
situações imensamente diferentes e superpostas, que não admitem que o hoje é o
resultado de um conjunto de momentos e situações vivenciadas no passado.
Assim também parece se apresentar a temática destas notas: “Formação de
Professores e Direitos Humanos”, uma vez que estão relacionadas, não apenas
pelo conetivo que articula os dois substantivos, mas pelas exigências do mundo
contemporâneo.
Nessa perspectiva, o significado desta relação, que de certa maneira atua como
nossa hipótese de trabalho – Formação de Professores –, só tem sentido quando
pensada na perspectiva da interpelação cidadã assumida através dos direitos hu-
manos e do compromisso com a mudança de pensar o presente-futuro sem eludir
o presente-passado. Esse desafio tem o seu papel hoje, porque o compreender
do(s) aluno(s) está muito mais no modo como as pessoas percebem, aprendem
e constroem seus saberes. Portanto, parece-nos que, cada vez mais, na formação
de professores, precisamos superar a fragmentação e a (des)contextualização que
teimam em afirmar-se como método de aprendizado.
Tal fato se evidencia nos currículos organizados de modo a privilegiar o
“aprender a aprender” ou o “ensinar a ensinar” consolidando a emergência de um
conceito de formação essencialmente técnica que separa saber especulativo – the-
oría – (desvelador do mundo, da realidade, destinado ao cidadão) do saber fazer
– téchne – (acessível aos que executam e que aprendem apenas no exercício do
trabalho) como se fossem duas dimensões diferentes, ainda que complementares
à aquisição de competências necessárias ao usufruto do mundo social.
Parece-nos que o divórcio entre passado/presente/futuro de certa forma
reproduz não só uma fragmentação, como explicita uma divisão que esconde que
método e conteúdo são indissociáveis, que não podem ser apresentados de forma
autônoma ou independente; são resultados de uma prática social que reproduz
diferenças, dominações, subalternidades.
1 A educação no projeto neoliberal de mundialização via mercado propõe uma educação que
concorre para uma cidadania seletiva; um projeto de educação nacionalista que reduz o papel e
as questões a serem resolvidas pelo Estado Nação de forma tuteladora e assistencialista. É uma
educação que concorre para uma cidadania menor. Um projeto de educação democrático, so-
cialmente justo e popular remete a pensar ações que apontem para a construção de um projeto
pedagógico que viabilize e concorra para uma cidadania emancipada, autônoma no modo de
participar das decisões.
instituições, o que os outros esperam dele em circunstâncias definidas. Tal fato per-
mite que o indivíduo amplie seu espaço mental, dando-lhe mobilidade temporal e
espacial cognitiva para além do presente e do aqui. A interdependência das relações
sociais chegou a um nível de complexidade que não há como se processar a volta à
tradicional unidade conhecimento/trabalho (ROCHA, 1999, p. 362).
É preciso dar-se conta de que tentar entender as mudanças sociais sem levar
em consideração estes pressupostos induz a uma compreensão do social cujo
caráter pode ser de extrema generalidade, impedindo de encontrar os elementos
estruturantes destas transformações. Não conseguimos passar de análises abran-
gentes e amplas porque as mudanças se revestem de diversas formas: o social se
apresenta como a realidade plural. Nosso tempo é constituído de numerosas mu-
danças culturais, políticas, sociais, que não são independentes das transformações
econômicas, mas que não se explicam apenas pelo econômico. Este cenário do
mundo contemporâneo se caracteriza não só pela afirmação triunfante do (neo)
liberalismo, mas também pela racionalidade instrumental, que respondem às vezes
como eco e às vezes como dissonância de modificações nos modos de ser individu-
ais e coletivos. Assim sendo, é preciso ter presente o modo como estas mudanças
incidem na construção de saberes. Dito de outra forma, as questões relacionadas
à ação educativa precisam ser identificadas e analisadas em função do contexto
social, porque o sujeito não existe antes ou fora da comunidade; essa constitui o
marco, o horizonte de perspectivas no qual ele se acha imerso desde o nascimento.
O homem transforma-se de biológico em sócio-histórico, num processo em que a
cultura é elemento de mediação e parte essencial da constituição da natureza huma-
na. Não podemos pensar o desenvolvimento psicológico como um processo abstrato,
descontextualizado, universal: o funcionamento psicológico, particularmente no
que se refere ao aprendizado, está baseado fortemente nos modos culturalmente
construídos de ordenar o real (OLIVEIRA, 1989, p. 24).
Este marco determina seu lugar (identidade), assim como as normas que definem
o seu fazer (trabalho) nos espaços públicos. Desta forma, o que o sujeito é e o modo
como ele se concebe está circunscrito e depende das condições materiais da sociedade
em que ele vive. Portanto, quanto melhor o indivíduo conheça seu contexto social
maiores são as possibilidades para autocompreender-se e, ao mesmo tempo, identi-
ficar os limites e as perspectivas de transformação da realidade social em que vive.
Educação e Direitos Humanos só têm sentido quando percebidos como prática
social que se objetiva a partir de uma proposta educativa, materializada em con-
teúdos programáticos que buscam construir indivíduos em sujeitos de si mesmo
e do mundo. A percepção desta singularidade passa a ser importante porque ela,
de certa maneira, fundamenta o modo como os atores sociais pensam as questões
sociais (dar conta da injustiça social) e, consequentemente, o modo como cons-
troem seus saberes.
Em certo sentido, todo saber objetivado legitima-se, antes de tudo, pelo simples
fato de existir e pelo compartilhar percepções. Por isso é preciso ter presente que
as percepções sobre Educação e Direitos Humanos evidenciam aquilo que delas se
pretende: construir nos espaços educativos (escolares ou não) a superação da desi-
gualdade, a constituição de um igual que não perca a sua diferença, pois o oposto
do igual não é o diferente, mas sim o desigual.
São questões que nos fazem refletir sobre o lugar da docência como espaço
mediador de processos que se caracterizam (ainda hoje) por invisibilizar situações
de injustiça social (lugar da mulher, do deficiente, do negro, entre outros.).
Um outro enfoque de organização da capacitação/formação pode ser aquele
que se constrói a partir de uma prática social que insira o(s) saber(es) da comuni-
dade em outro registro: o dos direitos humanos. Para que isto seja possível, se faz
necessário reconhecer que há outros saberes (da comunidade) e que a construção
desses saberes se faz a partir de outra epistemologia.
A multiplicação dos processos de formação de professores (universidades
públicas e privadas) pode aparecer como a nova imagem de racionalidade instru-
mental que governa o universo cultural dominante e até tem efeitos consideráveis
sobre os indivíduos. Mas estas multiplicações nos interrogam sobre as possibili-
dades e os meios de uma formação de professores que enfatize e privilegie uma
“recomposição” dos saberes existentes na comunidade e que garanta o direito dos
indivíduos enquanto cidadãos.
Todavia, não se trata de uma “recomposição dos direitos” na perspectiva
nostálgica de um antigo modo de ser (existente apenas nos relatos míticos). Refe-
rimo-nos à rearticulação da diversidade, das diferenças fundantes da vida social,
dos grupos conflituados que derivam da mudança, dos indivíduos e dos grupos
abandonados pelos movimentos da sociedade, dos “desfiliados sociais” (CASTELLS,
1999) ou em desaparecimento3, que tiveram e têm seu repertório de direitos es-
terilizados por um projeto monopolizado pela unidimensionalidade econômica.
Nessa perspectiva, um projeto de formação de professores que possibilite a
identificação de finalidades sociais a serem reforçadas só tem sentido se resultar no
reconhecimento de que há direitos fundamentais do(s) indivíduo(s), que podem ser
potencializados a partir de um compromisso docente. Compromisso docente aqui é
entendido como considerar as diferenças que cada aluno tem diante de situações
de aprendizagem, não aceitando as diferenças propostas por uma realidade sócio/
cultural/econômica injusta, que neutraliza o lugar da docência, ao mesmo tempo
em que impede uma prática e uma reflexão inovadora dentro e fora da escola. Ou,
como bem coloca Paulo Freire na obra Pedagogia da Autonomia (1996), que é um
dever ético e político do educador respeitar os saberes dos educandos marcados
por sua realidade de vida, mas com o compromisso de problematizar essa realidade
tendo em vista a luta por uma vida mais digna para todos.
A afirmação desse compromisso docente não se restringe à educação formal
e à sua lógica curricular. Ao contrário, busca construir outro caminho pedagógi-
co, com dispositivos didáticos a partir da Pedagogia da Autonomia de Freire, que
empoderem uma pedagogia da práxis. Freire conclui que educamos muito mais
pelo exemplo do que pela palavra proferida em sala de aula. Ou seja, a coerência e
o fazer juntos são mais significativos do que discursos bonitos e teorias/conteúdos
meramente ilustrativos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É por isso que pensar em Educação Popular e Direitos Humanos passa a ser
fundamental, porque remete a um agir responsável, a um agir cooperativo, que é
a Pedagogia da Práxis. O agir cooperativo, ao se objetivar em propostas de ações
solidárias, rompe com parâmetros normalmente aceitos de pensar programas
educacionais ou de capacitação pautados em generalizações que descontextualizam
conteúdos, que têm seu enfoque no indivíduo e que distanciam teoria da prática.
Em função disso, se faz necessário dizer que educação tem sua razão de ser
quando se reveste de um caráter substantivo e se transforma em política de ação,
porque:
• na Educação Popular as pessoas organizam não só suas existências para
o trabalho, mas aplicam saberes múltiplos que decorrem da sua experi-
ência de vida;
• nas dificuldades do cotidiano, as pessoas constroem alternativas, e mo-
dos de produzir possibilitando criar espaços de resistência são inventa-
dos;
• é no espaço da saúde que as exigências da ética se evidenciam (é por isso
que o descrédito também é proporcional às exigências).
Capacitar professores em direitos humanos é ação política que resulta da
experiência associativa vinculada ao trabalho (que ainda permanece como central
no nosso universo social e cultural) e é o principal canal de acesso à vida social.
Assim, pensar projetos de educação popular para/em uma sociedade pessimista
e excludente tem sentido, porque aponta para uma dupla articulação: reconheci-
mento e autonomia.
É uma relação mais do que necessária, é fundamental para o reconhecimento
de que no mundo contemporâneo os saberes são plurais e a autonomia dos atores
sociais não remete à liberdade individualista (neoliberal), mas à responsabilidade
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
3 Os apps criados podem ser acessados através do repositório Disponível em: https://www.
ufrgs.br/culturadigitalmidiasmoveis/aplicativos-moveis-ja-desenvolvidos-colaboradores-
-educadores/
4 Foi desenvolvida uma média de quatro apps por polo, totalizando mais de 80 aplicativos relacionados às
atuais Diretrizes Curriculares Nacionais. Destes, alguns grupos seguiram editando-os ao que destacamos
o “Coordenadores Pedagógicos: saberes e fazeres”, disponível no link http://galeria.fabricadeaplicativos.
com.br/coordenador_pedagogico_saberes_e_fazeres?feature=facebook
Professora posso afirmar que nosso grupo está conseguindo interagir com
a Fábrica de Aplicativos, fizemos avanços na semana. Conseguimos pos-
tar, alterar, excluir e incluir dados, agora nos resta continuar as investiga-
ções e ampliar as possibilidades. (Fonte: alun@ 2).
Olá profe.. Nosso grupo está caminhando para a construção do App, con-
fesso que é algo bastante novo para mim. (Fonte: alun@ 6)
Percebi nesta disciplina que com os poucos recursos que as Escolas pos-
suem se tiver interesse dos professores e orientações dos coordenadores
pode acontecer um aprendizado significativo e atraente aos alunos, favo-
recendo assim um elo entre a teoria e prática. (Fonte: alun@ 4)
De acordo com Piaget, somente a cooperação conduz à autonomia. Desta for-
ma, atenta-se para a importância de favorecê-la nos ambientes, tendo-se o cuidado
para que elas sejam interações entre todos: coordenadores, gestores, professores,
alunos e demais envolvidos nas instituições.
Hoje ninguém mais tem dúvida de que os alunos de nossas escolas são
extremamente hábeis em manipular qualquer tipo de recurso tecnológico.
Mas vale lembrar que lhes falta ainda preparo para saber filtrar o que é do
que não é útil e isso quem deve fazer é o professor, pois de nada adianta
ter disponíveis todos os recursos se não se souber utilizá-los, e acredito
que, muitas vezes, isso acontece. É necessário levar para sala de aula tais
recursos, mas, para isso, é importantíssimo o planejamento, pois, saber
aonde se quer chegar é fundamental para que não se caia no lugar comum
(Fonte: alun@ 1).
Outros dados que validam a importância dessas práticas para a formação dos
gestores encontramos nos registros de relatos da Atividade 3, na qual os alunos
deveriam anotar as potencialidades comunicativas das suas escolas e realizar um
planejamento do uso do aplicativo na sua instituição. A exigência desses plane-
O App é uma tecnologia móbile que poderá aumentar o interesse dos pro-
fessores nas reuniões pedagógicas e dos alunos durante as aulas com a
apresentação de textos, vídeos, fotos. Esse APP servirá como divulgador
do trabalho da coordenação pedagógica e dos professores, socializando o
conhecimento construído na escola (Fonte: grupo 2).
e o Wikilivros, por sua vez, por se tratar de uma extensão da Wikipédia, possui todo
um processo de moderação que dificultaria a edição por várias mãos. Foi por esse
motivo que se optou pelo Etherpad, isto é, os textos poderiam ser criados, editados
e alterados livremente pelos appers e, somente após a finalização da disciplina, seu
conteúdo ser transposto para o Wikilivros de acordo com as normas.
Este material pode ser utilizado nas escolas para consulta e distribuição de
informações entre os professores. No que tange a sua reedição, revisão e atualização
de dados, o gestor deve ter o cuidado de respeitar as normas e regras estipuladas pelo
Wikilivros. Em nossa experiência de escrita, na criação/inserção de informações,
foi possível conviver com estas regras e também entender um pouco mais sobre
como este trabalho em rede é realizado. Na tentativa de contribuir para outras
inserções deste tipo – do lugar educativo e na interlocução com a educação formal
–, descreveremos a seguir experiência de edição no Wikilivros, entre os sabores de
desafios junto à equipe de moderadores.
aparece com o nome. Caso a página não tivesse sido criada, o Wiki sugeriria como
nome o texto já selecionado. Seguindo por esta opção, o autor é redirecionado para
uma nova janela com duas opções de edição: Editar esta página ou criar. A figura
2 mostra esse processo.
as opções de marcar como edição menor e vigiar esta página também podem ser
acionadas.
Importante destacar que, com essa experiência, foi possível perceber que o
processo de uso da Wikilivros pelos pós-graduandos e outros usuários que vierem
a desenvolver suas propostas num Recurso Educacional Aberto, precisa ter um
roteiro claro a ser seguido. Esta organização e planejamento facilita o processo da
escrita, pois cada informação leva a outra informação (através dos hiperlinks) em
que todas estão interligadas entre si vinculadas à página inicial do projeto.
Outro fator a ser destacado é que a criação de qualquer Objeto de Aprendi-
zagem precisa ser pedagogicamente preparada e considerar, entre os outros fatores
apresentados acima, o próprio tempo da análise do moderador do ambiente digital
utilizado. A experiência com a criação de apps nos convida a refletir sobre a escolha
e o uso dos recursos tecnológicos que agregam e viabilizam a discussão das mídias
na educação, buscando inovar não somente as práticas pedagógicas, mas ir além
da sala de aula, contribuindo em outros aspectos da educação como a gestão de
documentos, propiciando estratégias de colaboração, cooperação e principalmente
o compartilhamento de informações entre gestores, docentes, alunos e a comuni-
dade escolar. Essa convergência entre os recursos de softwares vai ao encontro da
educação aberta: à medida que o livro REA – Educação à distância e Ambientes de
Aprendizagem tem suas informações atualizadas, os apps desenvolvidos também
acompanham essa atualização, pois possuem uma aba contendo essa opção de
visualização da página do Wikilivros.
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
1 Optamos por nos referir ao grupo sempre no feminino devido ao fato de grande parte dos dis-
centes, em nossas disciplinas, serem do sexo feminino.
4 As postagens das alunas foram reproduzidas apenas com algumas correções quanto à digitação,
pontuação e ortografia, não alterando, no entanto, o sentido original do texto.
[…] os textos da sala apontam para um olhar que não sustenta o currículo
como uma adaptação dos estudantes à norma vigente. Então a pergunta
teria uma diferença que pode parecer pequena, mas é fundamental. Tal-
vez pudesse ser o inverso: “Como a escola pode se adaptar, e as normas
vigentes serem transformadas, de modo a respeitar e a aprender com as
diferentes culturas que chegam à escola?”.
Chamou minha atenção o trecho do texto que fala que: “A escola sempre
teve dificuldade em lidar com a pluralidade e a diferença. (...) Sente-se
mais confortável com a homogeneização e padronização.” Apesar de se
falar tanto em cultura e culturas, mesmo sabendo a riqueza que a diver-
sidade representa para nossas escolas, continuamos a reprimi-la e fazer
do modo mais cômodo. Precisamos nos desacomodar para fazer com que
a diversidade cultural possa enriquecer as experiências na escola e na so-
ciedade.
Colega, com relação aos textos, penso que seria fundamental para refletir
e conscientizar os nossos colegas, organizar e promover oficinas pedagó-
gicas com temáticas voltadas aos conteúdos e transformação curricular,
levando em consideração nossos próprios conhecimentos passados como
também experiências, a necessidade de atualização e reconceitualização,
neste momento de cruzamento entre conceitos de conteúdos, currículos e
saber sistematizado.
Oi, colega! Achei muito importante esta tua colocação: os conteúdos pre-
cisam ser revisados e adaptados ano a ano, cada turma é uma realidade
diferente, os alunos são diferentes. Mas ao mesmo tempo, não podemos
esquecer os conceitos que são significativos para todos. Entendo que isto
não é tarefa muito simples, o professor precisa ter um conhecimento bem
amplo dos seus alunos, para atender esta diversidade de culturas presen-
te na sala de aula, para que em seu planejamento contemple todas estas
diversidades.
com seus esforços, incorporar o que julgaram importante do que foi trabalhado
nas unidades, apontando que, além de exercerem seu papel de coordenadora em
seus ambientes de trabalho, as discentes estão dispostas a participar de um novo
processo de ensino-aprendizagem. Assim, vão elas refletindo e tentando aprimorar
suas práticas e, deste modo, a qualidade da educação de suas escolas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nossa intenção, com a escrita deste capítulo, foi analisar, ainda que brevemente,
a importância dos conceitos trabalhados na sala CCCE para o processo de apren-
dizagem relativo ao estudo do currículo por parte de coordenadoras pedagógicas,
ocorrido nas turmas em que fomos docentes da sala em questão. Procuramos, para
isso, pôr em prática uma metodologia de análise que levasse em conta a apren-
dizagem das alunas, porém com um olhar sobre o contexto em que ocorreu este
processo. Não foi nossa intenção aqui utilizar a ideia de aprendizagem ou formação
como algo neutro ou isolado. Porém, também foi, para nós, teórica e politicamente
importante utilizar de fato estes termos para se pensar o processo pedagógico de
nossa experiência. Foi nosso objetivo também procurar discutir os avanços e limites
do Curso para a aprendizagem e formação das alunas. Finalmente, nossa principal
tentativa foi mostrar como a tradição cultural dos contextos educacionais em que
estão nossas alunas também influenciam suas percepções, ao mesmo tempo em
que isso pode ser contestado e transformado por elas, especialmente com base em
seus aprendizados no Curso. Foi para isso que ressaltamos e discutimos como estes
processos foram ocorrendo concretamente na sala-ambiente, a partir dos excertos
destacados e analisados.
Destacamos também a importância de um curso de formação para aqueles
que estão atuando na prática das escolas. Isso representa uma forma de retomar a
importância de uma constante reflexão da prática e atuar, assim, como um inte-
lectual, algo característico do trabalho docente (GIROUX, 1986). Ademais, per-
cebemos que as bases teóricas da gestão democrática não foram apenas conceitos
discutidos ao longo das salas-ambiente, mas tornaram-se, para algumas discentes,
uma prática na sua atuação na sala e esperamos que também em suas escolas. A
cultura do diálogo, da escuta, da discussão, afinal, são questões fundamentais em
tempos atuais. Devido a processos de intensificação do trabalho docente, conforme
Apple (1995), e de mercadificação da educação, tem-se percebido que a atuação dos
professores vem se tornando algo cada vez mais individualizado e solitário, ainda
segundo Apple (1989). Percebe-se que o Curso propiciou um espaço para trocas
e reflexões, o que foi muito proveitoso para as alunas e salientado pelas mesmas
como algo importante para uma transformação em suas práticas e nas escolas nas
quais atuam.
REFERÊNCIAS
APPLE, Michael W. Educação e poder. Tradução de Maria Cristina Monteiro. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1989.
___. Trabalho docente e textos: economia política das relações de classe e de gênero em educação. Porto
Alegre: Artes Médica, 1995.
GIROUX, Henry. Teoria crítica e resistência em educação. Petrópolis: Vozes, 1986.
MOREIRA, Antonio Flavio Barbosa; CANDAU, Vera Maria. Educação escolar e cultura(s): cons-
truindo caminhos. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 23, p. 156-168, mai./jun./jul./
ago., 2003.
SANTOS, Lucíola. A Construção do Currículo: seleção do conhecimento escolar. In: BRASIL. Mi-
nistério da Educação. Currículo: conhecimento e cultura, 2009, p. 10-14.
SILVA, Tomaz Tadeu da. Conteúdo: um conceito com falta de conteúdo?. Revista de Educação da
Aec, v. 63, p. 20-24, 1987.
___. O que produz e o que reproduz em educação: ensaios de sociologia da educação. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1992.
1 Uma vez que a maioria das pessoas vinculadas ao curso era de mulheres, optei por me referir às
estudantes sempre no feminino.
2 Aqui deixo meu reconhecimento e agradecimento aos colegas que em conjunto ajudaram na
produção e execução dessa sala-ambiente para esta edição do curso: Dóris Maria Luzzardi Fiss,
Letícia Prezzi Fernandes, Luciane Torezan Viegas, Luiz Fernando Calage Alvarenga, Marcello
Paniz Giacomoni, Nilton Mullet Pereira, Paloma Dias Silveira, Rosana Fachel de Medeiros, San-
dra dos Santos Andrade e Silvana Corbellini.
ORGANIZAÇÃO DA SALA-AMBIENTE
especialmente bibliotecas. Por fim, explicitamos que cada unidade possuiria uma
atividade obrigatória que tentaria estimular as cursistas a realizarem uma intera-
ção com a literatura consultada, articulando os referenciais apresentados com a
atuação profissional.
Na Unidade I, avaliação da aprendizagem, tivemos como objetivos analisar
concepções e práticas avaliativas, dominantes em contextos escolares, com vistas
a apreciar suas implicações nos processos de ensino e de aprendizagem, além de
identificar alternativas de vivência da avaliação que estejam a serviço da apren-
dizagem de todos os alunos. Para tanto, os conteúdos abordados foram: aspectos
históricos e políticos da avaliação da aprendizagem, finalidades, procedimentos e
instrumentos.
Os objetivos da Unidade II, avaliação em larga escala, foram: identificar as
avaliações de sistema implantadas no Brasil pelo Ministério da Educação; compre-
ender os delineamentos, instrumentos e resultados do SAEB (Sistema de Avaliação
da Educação Básica)/Prova Brasil; analisar os indicadores de desempenho da es-
cola, tendo como referência a Prova Brasil e o IDEB (Índice de Desenvolvimento
da Educação Básica) e; indicar possíveis ações a serem desencadeadas na escola, a
partir da interpretação desses dados. Trabalhamos com a conceituação e finalidades
da avaliação em larga escala ou de sistema: SAEB, Prova Brasil e IDEB Matrizes.
Por fim, na Unidade III, autoavaliação institucional, foram traçados como ob-
jetivos: compreender as finalidades e características da autoavaliação institucional;
identificar alternativas para implementar, juntamente com a comunidade escolar,
a avaliação institucional na escola em que nossas cursistas atuassem na coordena-
ção pedagógica; esboçar um plano para desencadear o debate sobre autoavaliação
institucional nesses locais, articulando a autoavaliação e a avaliação externa. Os
conteúdos utilizados para nos aproximarmos desses objetivos foram a conceituação,
princípios e procedimentos de avaliação institucional e a organização do projeto
de avaliação da escola.
UM EXERCÍCIO DIAGNÓSTICO
Questionamos as cursistas sobre o que era avaliação para elas, quais suas finali-
dades e de que forma aconteciam esses processos na escola em que cada uma atuava.
Solicitamos um texto que abordasse as questões apresentadas. No polo Pelotas,
a maioria das estudantes optou por responder a três questões, inclusive numerando-
-as. Algumas respostas chamaram bastante atenção, especialmente apontando para
alguns tensionamentos.
Existe certo confronto entre números e conceitos. Algumas coordenadoras
apontaram que os números seriam mais neutros e objetivos do que os conceitos. É
bastante interessante pensar como o conceito abstrato de número acaba ganhando
legitimidade histórica nas práticas escolares e naturalizado como um processo não
politizado. Ao mesmo tempo, o conceito acaba aparecendo como mais democrático
e mais inclusivo. Apesar de reclamarem das dificuldades na produção de um parecer
descritivo, as cursistas acreditavam que o mesmo seja mais emancipatório do que
as notas visualizadas através dos números. Aqui acaba existindo certo risco de que
a representação gráfica do resultado da avaliação (notas, conceitos ou pareceres)
acabe tendo valor emancipatório ou reprodutor em si. É possível que uma nota seja
construída sobre um processo dialogado com os diferentes atores em diferentes
momentos e que o maior dos pareceres apenas classifique os estudantes, quase
sempre os vinculando às suas dificuldades.
A atividade foi feita após a apresentação da sala-ambiente, o que pode ter in-
fluenciado no aparecimento bastante recorrente da noção de que a avaliação deve
servir como um diagnóstico. Qualquer tomada de medida, com todos os riscos
que o termo assume, deveria servir, conforme a quase totalidade das respostas,
apenas para diagnosticar como o processo de aprendizagem se encontrava em
um momento determinado possibilitando novas ações procurando melhorar os
resultados. Apesar dessa perspectiva mais ligada ao processo de aprendizagem do
que a um recorte classificatório, alguns lugares de saída e chegada pareciam ser um
tanto definitivos. Mesmo que para algumas cursistas estar mais ou menos distante
de uma determinada aprendizagem não devesse significar punição, novos investi-
mentos deveriam ser feitos para que todos conseguissem determinado “nível” de
conteúdo. Esses conteúdos, por sua vez, foram pouco questionados.
AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM
da aprendizagem, dando excessiva autonomia para esse espaço da prova que não
conversava com sua própria perspectiva educacional.
Por fim, foi possível perceber uma grande positivação para processos avalia-
tivos constantes em detrimento das avaliações estanques, quase sempre traduzidas
por provas. Entretanto, é de se colocar em questão também de que maneira pode-
-se acabar invertendo as perspectivas e transformando todo o processo de ensino
e de aprendizagem como um processo avaliativo, reduzindo de forma bastante
significativa a complexidade do processo pedagógico.
3 Em 2013, os índices apontavam 5,2 nos anos iniciais do Ensino Fundamental; 4,2 nos anos finais
do Ensino Fundamental; e 3,7 no Ensino Médio.
(1998). Nele, após sugerir uma série de indicações para intervenção com os dife-
rentes atores da comunidade escolar, a autora conclui lembrando que é sempre
necessário manter um importante esforço para que objetivos e métodos não es-
tejam em contradição. Ela sugere a construção de objetivos em três dimensões e
prazos distintos: os funcionais de curto, os estruturais de médio e os “visionários”
de longo prazo. Ela finaliza apontando que não existe instrumento a ser aceito
unanimemente por todos os envolvidos, que nem todos os objetivos podem ser
avaliados da mesma maneira e que a simples “constatação de ineficácia” não tende
a produzir resultados positivos.
Após as leituras, novamente sugerimos o fórum para que o diálogo entre as
cursistas acontecesse. Questionamos se na escola em que elas atuavam ocorria
avaliação institucional. Em caso positivo, de que modos ela acontecia e, em caso
negativo, quais elas acreditavam serem os maiores entraves para essa realização.
Verificamos, a partir do diálogo entre as coordenadoras, que a prática da
avaliação institucional ainda é muito incipiente. Avaliação acaba sendo traduzida
como avaliação dos estudantes. As coordenadoras se mostraram bastante sensíveis à
necessidade de olhar para o conjunto da escola. Embora algumas ainda apontem que
esse tema nunca aparece nas discussões escolares, algumas começaram a perceber
como espaços já existentes, ainda que não realizados com esse objetivo, a exemplo
dos conselhos de classe e das reuniões pedagógicas, poderiam auxiliar o início dessa
perspectiva de olhar de modo avaliativo para as práticas mais amplas da escola.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
Neste artigo, proponho uma reflexão sobre um ensaio produzido pelas alunas
do olo de ensino à distância localizado em Porto Alegre, do Curso de Pós-Graduação
Lato Sensu em Coordenação Pedagógica, no âmbito do Programa Nacional Escolas
de Gestores em Educação Básica, vinculado à Secretaria da Educação Básica, do
Ministério da Educação (SEB/MEC). Mais exatamente, abordarei uma atividade
dissertativa da sala-ambiente “Aprendizagem Escolar e Trabalho Pedagógico”
(AETP), integrante do currículo do Curso. Foi proposta a escrita de um ensaio
tendo como mote as seguintes questões: Qual o papel do Coordenador Pedagógico
no estímulo do professor-pesquisador? Que tipo de ações ele pode criar enquanto
gestão dos processos de aprendizagens ou de educação permanente?
No entanto, antes de tratar sobre a escrita das alunas. é necessário justificar a
escolha: por que tal atividade é mais significativa em detrimento de tantas outras
formuladas, postadas e respondidas pelas cursistas? Cabe, então, defender a opção
tomada e apresentar, em linhas gerais, o planejamento deste componente curricular,
uma vez que a abrangência da questão proposta implica uma compreensão do obje-
tivo geral da sala AETP, ao mesmo tempo em que sugere caminhos para enfrentar
o desafio do exercício da coordenação pedagógica na escola contemporânea.
O APRENDER EM DELEUZE
Embora seja sabido que o filósofo francês possui uma vasta produção intelec-
tual, ocupando-se da ciência, da literatura, das artes, do cinema em especial, para
desenvolver os seus conceitos, ele não teorizou sobre a educação. No entanto, o
que ele escreveu sobre o pensar e o aprender, – como por exemplo, em Proust e os
signos (2003) e em Diferença e Repetição (1998) – serve de matéria de pensamento
para o professor e para o futuro Coordenador Pedagógico. Ao frisar um aprender,
tenho a intenção de ir além do que o senso comum diz sobre ele. Enfatizo o verbo
na terceira pessoa do singular por ser uma característica dos devires que estão
além dos modos e dos tempos. Porém, como aprender e pensar estão imbricados,
é necessário abordar as ideias básicas de Deleuze sobre o pensar. Em termos do
ato do pensamento, ele tratava de denunciar e combater o que entendia ser a sua
Imagem Dogmática. Trata-se de algo que o aprisiona sob uma imagem que é a do
Mesmo e do Semelhante na representação e que trai profundamente o que significa
pensar. Tal imagem vem sendo construída desde os primórdios da filosofia, mais
exatamente a partir de Sócrates e Platão. Sendo que é possível, com base no Capítulo
III de Diferença e Repetição, indicar três teses básicas para reconhecer essa imagem:
1) o exercício do pensar se exerce naturalmente, como unidade de todas as fa-
culdades consideradas seus modos. Além disso, possui uma boa natureza e
uma boa vontade;
2) existem forças contrárias ou estranhas ao pensamento, que podem impedir
o seu perfeito e natural funcionamento. Forças essas que advêm do corpo,
das paixões ou de qualquer interesse sensível, concorrem para desviar o pen-
samento do seu objeto específico, fazendo-o tomar o falso pelo verdadeiro.
3) há a necessidade de um método que leve a pensar verdadeiramente, que con-
duza retamente ao conhecimento pleno da verdade.
Segundo essa imagem, o pensamento está em afinidade com o verdadeiro,
possui formalmente o verdadeiro e quer materialmente o verdadeiro. Porém, será
a verdade uma criatura bonachona e amiga das comodidades que não perturba
ninguém? Ou, em outras palavras: o que é um pensamento que não faz mal a
ninguém? Afinal, a forma da recognição nunca santificou outra coisa que não o
reconhecido e o reconhecível, a forma nunca inspirou outra coisa que não fossem
conformidades. Embora os atos da recognição ocupem boa parte da nossa vida
diária, como por exemplo, todas as vezes que olhamos para uma porta, sabemos o
que ela é. De igual modo, não pensamos cada vez que respondemos: “bom dia” ou
“boa noite”. Porém, considerar que essa é a função do pensamento é lhe atribuir
um lugar muito medíocre.
Esta imagem dogmática do pensamento, que tudo julga e que a tudo reco-
nhece com base no raciocínio lógico, exerce enorme influência não somente no
pensamento ocidental, como também no educacional. A oposição binária que se
estabelece entre o sensível e o inteligível, entre o sujeito e o objeto, entre a mente
e o corpo remete um aprender a questões pré-formadas segundo as significações
dominantes. E, neste sentido, aprender passa a ser recuperar um mundo que existe
lá fora. As experiências devem ser ajustadas a um modelo pré-concebido e a um
ideal de aprender. Eis que o reinado da cópia, da reprodução ad infinitum de um
fundamento neste ato se instala.
No entanto, só se procura a verdade quando se é forçado. Tal tema é desenvol-
vido por Deleuze em Proust e os Signos, quando ele com base na Busca do Tempo
Perdido de Proust teoriza que só se procura a verdade em função de uma situação
concreta, quando o pensamento é arrancado do seu torpor, por uma espécie de
violência que o força. Algo capaz de provocar o desencontro das faculdades e que
impede o exercício da recognição. Tal força é atribuída aos signos, que nada têm a
ver com a linguística, nem com uma boa vontade, nem com uma afinidade, ou com
um desejo pela verdade. Neste sentido, aprender passa a ser enfocado pela via do
encontro, da afecção com o exterior, com aquilo que viola o pensamento e provoca
o pensar no próprio pensamento. Ou seja, aprender passa a ter afinidade com a
ideia de coação e de acaso e não com a de método. Um exemplo clássico deleuzeano
neste sentido é: “Alguém só se torna marceneiro tornando-se sensível aos signos da
madeira e médico tornando-se sensível aos signos da doença” (Deleuze, 2003, p. 4).
Ou seja, o aprendiz acaba se tornando um expert na leitura de pistas, ao modo
de um egiptólogo. Tal afirmação se justifica, uma vez que, para Deleuze, aprender
está ligado ao ato de interpretar signos. Neste sentido, tudo aquilo que tem a ca-
pacidade de ensinar alguma coisa emite signos. De modo que o pensamento não
é provocado por um desejo, por uma boa vontade, ou por uma afinidade com a
verdade, mas por uma situação concreta que força a sua procura... Pois: “As ideias
não estão na cabeça, mas fora de nós, não estão dentro, mas fora” (SCHERER,
2005, p. 1187).
Nesta perspectiva, numa sala de aula, o professor passa a ser um emissor de
signos da matéria com que está envolvido, a fim de que seus alunos travem encon-
tros com ela, ao mesmo tempo em que interpreta os signos emitidos pelos alunos
quando estes estão envolvidos com as atividades que lhe são propostas. Portanto,
se os aprendizes não forem expostos ao efeito violento dos signos, o que os lançam
na busca do seu sentido, eles apenas chegarão a verdades puramente intelectuais,
estéreis e que rapidamente cairão no esquecimento, pois estão esvaziadas da força
da necessidade.
Portanto, com base nas ideias de Deleuze, há uma política a ser seguida e
perseguida pelo professor com relação ao cotidiano da escola: liberar todo o pen-
samento daquilo que o trava e o deforma. Trata-se de livrá-lo de tudo aquilo que
desvia ou bloqueia o seu movimento, como por exemplo, as regras artificiais, os
poderes, as ideias prontas, os clichês. Uma vez que aprender não tem a ver com
reproduzir, mas com postular o que ainda não existe, isto significa não se satisfazer
com a repetição de um saber.
formas pré-determinadas, o que impede que se pense sobre o que rompe o esperado,
as metodologias e os planos de ensino. Novamente, é possível pensar com Deleuze
que se trata de uma ilusão filosófica considerar que os problemas são dados já
feitos e que eles desapareceriam quando se encontram suas respostas ou soluções.
Isto significa esgotar a atividade de pensar a sua resolução, como se a verdade dos
problemas dependesse de lugares-comuns, ou seja, da possibilidade lógica de serem
solucionados. Essa é a característica da grotesca imagem da cultura presente nos
testes, nos programas populares da TV, dos concursos em geral e na Educação, bem
explicitada por Deleuze no capítulo III de Diferença e Repetição.
É inegável que os problemas são o que há de mais importante. No entanto,
o que interessa é romper com a ilusão natural de decalcar os problemas sobre as
proposições do senso comum, da possibilidade lógica de receber uma solução, e
os professores, assim como os alunos, poderem formular os próprios problemas.
Então, a fim de que tal operação do pensamento se concretize, a variável tempo
na construção do trabalho do Coordenador Pedagógico, título da quarta sessão
do texto, se torna fundamental. Trata-se da necessidade de haver um tempo de
convivência do Coordenador Pedagógico com os professores, a fim de que seja
facilitada, possibilitada a sua formação continuada. Mas, obviamente, não se trata
de qualquer tempo, mas um qualificado que busque estimular a criação docente.
Tal ênfase caracteriza a segunda e última leitura obrigatória da sala: A formação
do professor-pesquisador e a criação pedagógica de Sandra Corazza (2001). Trata-se
de um texto inquietante e provocador que desestabiliza as ideias prontas formadas
sobre a divisão do trabalho docente entre quem ensina e quem pesquisa. Por se
tratar de texto que utiliza o referencial teórico da Filosofia da Diferença, afirma a
indissociabilidade entre docência e pesquisa. Tal ponto de vista questiona aqueles
que consideram que deva existir tal hierarquia educacional e assim se comportam.
Cabe perguntar: a quem interessa tal separação? A sociedade e seu o próprio sis-
tema de ensino, aos professores letárgicos e acomodados? Como se fosse possível
o docente ser um mero reprodutor ao “dar aulas”.
Ocorre que, para o pensamento da diferença, o educador não é uma figura
dadivosa e não trata de “dar” nada: sejam aulas, conselhos, conteúdos, afetos... Então,
o texto traça linhas de fuga do pensamento representacional ao afirmar o necessário
movimento de procurar e de encontrar. Só com este élan é possível ser educador
apesar das condições adversas que encontra no seu dia a dia profissional − desde
a precariedade material e humana das escolas, a falta de incentivo financeiro para
seguir na profissão, até o consequente baixo reconhecimento do seu papel social.
A potência, a força de educar consiste, justamente, naquela energia que faz com
que se insista em educar apesar dos sabidos desestímulos, entraves e mazelas edu-
cacionais. “É essa condição que abre o canal de uma docência que procura; logo,
que cria: que é o canal da pesquisa” (CORAZZA, 2001, p. 14). Então, procurar e
pesquisar se igualam em termos de uma vontade.
da sala e o número mínimo de páginas, uma vez que 85% das alunas obtiveram
conceitos entre “A” e “B” na questão. A leitura dos trabalhos indica argumentações
bem desenvolvidas e fundamentadas, sendo que muitas delas utilizaram também
conhecimentos das leituras complementares da sala, vídeos recomendados ou
mesmo outras bibliografias pertinentes. Em alguns poucos trabalhos, as alunas
corroboraram o acúmulo de tarefas que recai sob o Coordenador Pedagógico, a
crise da sua identidade apontada no texto de Paulo Lima e Sonia Santos (2007) por
já terem exercido ou estarem exercendo esta função na escola, mesmo sem titulação.
A totalidade dos ensaios considerou necessário que os coordenadores peda-
gógicos proponham espaços de formação sistemática do corpo docente. No caso
foram sugeridas várias formas do seu oferecimento, sendo as mais citadas: reuniões
de professores e seminários de estudo, inclusive com a vinda de especialistas nos
assuntos escolhidos. Neste sentido, foi apontada também uma questão básica: a
necessidade de o Coordenador Pedagógico conhecer a realidade da sua escola, a
fim de fazer a conexão entre ela e realidade social. Criar um clima de possibilida-
des, também foi mencionado como estímulo ao professor-pesquisador. Ou seja,
cabe ao Coordenador Pedagógico não barrar as iniciativas de criação vindas do
corpo docente.
No entanto, apesar do mote do ensaio sinalizar a importância da pesquisa,
somente três ensaios dentre as 35 alunas que obtiveram entre os conceitos “A” e
“B” mencionaram a importância do registro sistemático do professor das suas
experiências e práticas significativas. Tal fato é grave e preocupante, pois não se
faz pesquisa sem registro e a posterior análise de dados. E aqui é fundamental se
fazer um questionamento sobre a formação acadêmica dessas professoras. Qual
ênfase no seu currículo de graduação foi dada à pesquisa? Será que elas levam da
licenciatura a impressão de que pesquisar é somente para poucos, tarefa de uma
elite intelectual, como bem questionou o texto de Sandra Corazza? Tais dados, sem
dúvida, apontaram para a importância da sala-ambiente “Metodologia do Trabalho
Científico” ao buscar desconstruir tal visão no currículo deste Curso.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
conduz o pensamento para o plano das possibilidades é algo a ser ainda construído
pelas futuras coordenadoras pedagógicas.
As leituras da sala serviram de subsídios para a reflexão sobre papel do Coor-
denador Pedagógico na escola contemporânea. Tais escolhas tiveram o propósito
de servir como um alerta para que as alunas questionassem o papel de “Bombril”
atribuído ao Coordenador Pedagógico e não caíssem num ativismo estéril por
causa da sua falta de definição, pois justamente é esta imprecisão que permite e
dá margem à criação e reinvenção do seu lugar. Nem tudo o que é produzido na
escola é problema e deve necessariamente ser resolvido, quando se raspam os clichês
formados sobre o aprender e quem aprende: aqueles que envolvem o não dito, o
não feito sobre o currículo, sobre a escola, sobre o aluno. Neste sentido, cabe ao
Coordenador Pedagógico propor momentos de formação permanente do corpo
docente, em que se criem espaços para que os verdadeiros problemas possam ser
pensados. Problemas propostos pelo próprio corpo docente e que não venham de
outro lugar.
No entanto, o fato de apenas 1% das alunas que obtiveram entre os conceitos
“A” e “B” na escrita do ensaio terem apontado a necessidade de o Coordenador
Pedagógico incentivar o registro, a escrita de experiências significativas por parte
dos professores é preocupante. Uma vez que não se faz pesquisa sem registro escri-
to sistemático, esse dado é muito significativo para o planejamento dos próximos
cursos, assim como serve de questionamento para o currículo das licenciaturas.
REFERÊNCIAS
DESAFIOS E PERSPECTIVAS
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394, de 23 de dezembro de 1996.
Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
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gestão escolar. Educ. Pesqui., São Paulo, v. 38, n. 04, p. 815-832, out./dez., 2012.
1 Escola sem preconceitos é um vídeo didático que engloba a ficção e o documentário. Aborda
as várias formas de preconceitos e violências existentes nas escolas da rede pública e privada
com ênfase na discussão sobre a homofobia, a diversidade sexual, a acessibilidade, o bullying e
o respeito às diferenças. O longa integra um conjunto de ações educativas desenvolvidas pela
equipe do Projeto Aprender PAZ, coordenado pela Professora Glória Rabay, com o apoio direto
da Secretaria de Educação Continuada, Diversidade e Inclusão, do Ministério da Educação e
a produção do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Ação sobre a Mulher e Relações de Sexo
e Gênero. O documentário encontra-se disponível no endereço: https://www.youtube.com/
watch?v=IAtG4KejbfQ
abordados dentro da escola. Numa das falas de uma professora no fórum2 ficou
evidente essa questão:
[... ] nem todos nossos professores têm esse conhecimento sobre diversida-
de. No dia a dia, as ações comprovam que eles também precisam buscar
informações e leituras acerca do tema. Nos PCNs a escola precisa atender
a essa diversidade, mas o professor precisa estar atento para também valo-
rizar uma educação de qualidade, o respeito a todos (Fonte: fala da aula
“A” na “Atividade 2” – Fórum, 2016)
autora sugere abordar tais questões na escola. Essa postagem só poderia ser feita
mediante a leitura do texto. Na segunda postagem solicitamos um relato relacio-
nando as questões desenvolvidas no texto com as formas como o tema diversidade
vinha sendo tratado no contexto escolar em que a cursista atuasse ou ainda ca-
sos de preconceito/discriminação no cotidiano escolar. Nesta postagem as aulas
deveriam fazer uma relação entre teoria e prática. A terceira postagem deveria
conter comentário sobre o relato dos colegas da sala, o que permitiria uma troca
de experiências entre elas.
A atividade no formato fórum permitiu que os cursistas ficassem mais livres
para escreverem, não exigindo uma escrita mais formal, como ocorre quando se
solicita outro tipo de atividade escrita. As próprias alunas relataram que se sentiam
mais à vontade para escrever em um espaço virtual.
A partir desse breve relato das atividades realizadas na sala-ambiente “Tópicos
Especiais”, passaremos para a próxima seção, onde iremos apresentar uma breve
discussão sobre as políticas de e para a diversidade que vêm sendo abordadas pelo
Ministério da Educação.
Nas últimas décadas, temos visto um cenário de políticas públicas que vão
além das ações de distribuição de renda, econômicas, educacionais, habitacionais,
etc. Nesse cenário, desde o fim da década de 1960 têm emergido as políticas iden-
titárias, ou seja, políticas que beneficiam certos grupos particulares, sustentadas
pelo que alguns teóricos chamam de novos movimentos sociais aqui entendidas
como políticas de diversidade.
Essas políticas, em geral, têm como objetivo atender as demandas e os reclames
de determinados grupos sociais que historicamente estiveram à margem do olhar
dos estados nacionais. São grupos sociais que impõem as bandeiras de igualdade
racial, de gênero, de identidade sexual, questões ambientais, religiosas, necessidades
especiais, de estilos de vida, entre outras. Todas essas causas inauguram uma nova
etapa do que até então era conhecido como políticas sociais.
No Brasil, na última década, temos visto a questão da diversidade aparecer de
forma recorrente nas políticas públicas, sejam elas do campo, da saúde, da cultura,
do trabalho e, principalmente, nas políticas educacionais. Educar na e para a diver-
sidade tem sido uma proposta cada vez mais recorrente nos debates educacionais,
surgindo como uma frente de políticas do Ministério da Educação (FARENZENA;
ROSSI; MAFASSIOLI, 2013, p. 144).
3 De acordo com Rossi (2016), a SECADI já teve a denominação SECAD, quando a Secretaria de
Inclusão havia se tornado uma secretaria independente. Desde 2011, a Secretaria de Inclusão do
Ministério da Educação voltou a ser uma pasta da secretaria SECAD, retornando à denomina-
ção original SECADI.
É importante ressaltar que uma das questões que suscitaram o debate foi a de
que a maioria dos alunos entende que todos são respeitados na escola, pois são tra-
tados de maneira igual. Abordar as questões da universalidade e das singularidades
foi um desafio, mas pensamos que ao final do encontro alguns cursistas conseguiram
revisitar certos conceitos e práticas escolares e saíram, em certa medida, com outro
olhar sobre o tema da diversidade.
Para tratar dos limites e possibilidades dos objetivos propostos pela sala, a dis-
ciplina conseguiu estabelecer a discussão em torno das chamadas minorias sociais.
Dentro dos limites, destacamos a resistência dos alunos e alunas em trabalhar com
as temáticas de valorização da diversidade, pois partem do pressuposto de que a
comunidade escolar é um todo homogêneo.
Os docentes trouxeram casos exemplares envolvendo alunos negros, como a
sua exclusão de concursos de beleza na escola. Em uma abordagem progressiva-
mente aprofundada, passamos a “construir a existência” de alunos/as, funcionários/
as negros/as nessas escolas e a problematizar essa presença. Foi muito potente a
constatação de que o discurso da inexistência de alunos/as “negros de verdade”,
como referiam os/as professoras cursistas, na verdade os protegia comodamente
de abordar a diferença racial e de enfrentar o desafio de construir educação antir-
racista em sala de aula. Descobrirem-se como acobertadores da diferença para não
enfrentá-la, e mais, como potenciais agentes de preconceito em sua banalização das
diferenças raciais, foi uma reflexão importante que resultou do encontro.
Também mereceu espaço a construção do entendimento de que, como
professores/as, não estamos sozinhos no enfrentamento de crimes envolvendo
injúria racial, discriminação ativa, até lesão corporal advinda de preconceito, e que
devemos ativar as redes institucionais de proteção, como o Ministério Público e o
Conselho Tutelar.
Notamos algumas resistências em relação às temáticas da diversidade cultural,
mas, sobretudo, interesse genuíno por parte da maioria em aprender mais sobre o
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
REFERÊNCIAS
é melhor ou mais importante que a outra, mas sim ressaltar que são atividades,
em alguma medida, diferentes, que seguem critérios epistemológicos distintos e
que têm, no limite, funções sociais também distintas. É evidente também que todo
professor pode se formar pesquisador e integrar essas comunidades acadêmicas,
produzindo conhecimentos a partir daqueles critérios. Ocorre que, para tanto, é
preciso um investimento longo e específico no sentido da formação do pesquisador,
que não é o mesmo tipo de investimento necessário para a formação do profissional
da educação. Nem melhor, nem pior, apenas não é de mesmo tipo.
A sala-ambiente “Metodologia do Trabalho Científico” (MTC) tinha no Curso
a função de prover saberes mínimos essenciais que permitissem aos cursistas o
desenvolvimento de uma pesquisa, mesmo que restrita, que aportasse elementos
para a escrita de um TCC. Essa tarefa, no entanto, não pareceu ser desempenhada
a contento no curto tempo a ela destinado. O Curso previa 60 horas do currículo
para essa formação, em atividades à distância, apartada do convívio com outros
pesquisadores, sem possibilidade de integração a comunidades acadêmicas (ida
a eventos, participação em seminários de pesquisa, etc.). Ora, a formação de um
pesquisador requer bastante mais do que o proposto no Curso. E sem uma prévia
formação sólida em pesquisa, mostrou-se ainda mais difícil que os cursistas de-
senvolvessem o TCC seguindo a abordagem da pesquisa-ação. Aquilo que deveria
ser elemento facilitador no desenvolvimento da pesquisa por pessoas que não têm
nenhuma experiência em pesquisa1 foi afinal o que tornou quase sempre inviável
o propósito. Por se tratar de profissionais da ação, que sabem fazer suas atividades
cotidianas na escola, que sabem indicar objetivos pedagógicos e propor as ações
para sua execução – e que, em contrapartida, não têm experiência em pesquisa
acadêmica, os cursistas, muito frequentemente, confundiam a pesquisa-ação com
o planejamento de ensino. O distanciamento necessário para, a partir da própria
prática, produzir novos conhecimentos – como os requeridos no formato de TCC
proposto no Curso – era muito dificilmente obtido. Acrescentem-se a isso a falta
de tempo para dar continuidade à formação no âmbito do próprio Curso, a im-
possibilidade de integrar os cursistas amplamente nas atividades da universidade,
o fato de que esses profissionais mantivessem toda a carga horária de trabalho
(às vezes mais do que 40 horas semanais) durante a participação no Curso. Esses
aspectos conjugados inviabilizavam uma proposição formativa mais densa, seja
para a atuação profissional, seja para a pesquisa.
A pergunta, nesse caso, talvez devesse ser: por que se considera que um TCC
nos moldes acadêmicos é, de fato, um bom produto final em cursos de formação
docente? Ao que parece, apesar da intenção de incorporar a investigação na for-
mação do professor, sugerindo uma concordância com as proposições de formação
do professor como profissional reflexivo, mantém-se a ideia da superioridade do
1 Na verdade, alguns cursistas tinham experiência de pesquisa acadêmica, por já terem feito
Mestrado ou por estarem em cursos de Mestrado ou Doutorado.
TCC, as turmas foram divididas, cada professor ficando responsável por orientar
metade dos cursistas. Assim, o trabalho de coordenação da sala MTC e, posterior-
mente, do desenvolvimento dos TCC, atribuição das autoras deste artigo, significou
acompanhar vinte professores no desenvolvimento de suas atividades de docência
e orientação. Tais atividades engendravam processos organizacionais diversos com
vistas ao desenvolvimento das variadas tarefas referentes às ações que permitem
o bom andamento de uma sala-ambiente, constituindo-se em trabalho complexo,
que demandava tarefas e competências diversas. Embora se pudesse contar com o
apoio de outras pessoas envolvidas na organização do Curso – responsáveis pela
execução financeira, pelo funcionamento do MOODLE, pela comunicação com
as Assistentes Presenciais de cada polo de ensino à distância, pelo controle da
frequência dos cursistas, etc. – as tarefas pedagógicas e logísticas de MTC e TCC
excediam o razoável para apenas uma pessoa assumir2. Assim, com o propósito de
melhor orientar os professores para o desenvolvimento das atividades previstas,
os trabalhos de coordenação da sala MTC foram divididos em uma parte mais
voltada às questões pedagógicas e outra que se voltou prioritariamente às questões
referentes à logística e organização prática da sala e, posteriormente, do TCC, com
o propósito de conferir fluência às demandas dos professores.
2 Inicialmente a coordenação da sala MTC foi entregue a Natália Gil que, sendo professora do
quadro efetivo da UFRGS, não podia se dedicar integralmente às atribuições deste Curso. As-
sim, logo no início do processo, convidou Caterine Fagundes, que na ocasião realizava estágio
de pós-doutorado na instituição, a assumir conjuntamente a função de coordenação.
3 Cabe dizer que se assume aqui a compreensão de que as funções de gestão escolar são parte do
trabalho docente.
4 A cada módulo, havia leituras obrigatórias aos cursistas, uma ou duas tarefas que eles deveriam
produzir e postar na plataforma do Curso, além de um encontro presencial no polo de Ensino à
distância.
especificamente de orientação dos TCC). Além disso, foram realizadas duas reuni-
ões com todo o grupo para planejamento dos encontros presenciais dos Módulos
III e IV. Em cada um desses momentos, buscava-se o exercício da reflexão sobre
a ação em face do trabalho desenvolvido, bem como a tomada de decisão coletiva
sobre os desdobramentos das atividades. Nesse sentido, adotamos, na medida do
possível, uma dinâmica dialógica com os vinte professores distribuídos nos dez
polos regionais.
Os conteúdos gerais presentes em cada módulo, bem como o desenvolvimento
das atividades nos Módulos I e II foram decididos pelas coordenadoras da sala
MTC. Assim, inicialmente, delineamos as temáticas desenvolvidas pelos professores
com os cursistas no primeiro encontro e como se desenvolveriam, em linhas gerais,
os demais, que visavam diretamente à elaboração do TCC. Ainda, definimos que
nos encontros subsequentes os professores da sala MTC orientariam os cursistas
sobre a metodologia e os encaminhamentos da pesquisa com o propósito de dar
efetivamente início ao desenvolvimento do TCC, no que concerne às leituras e
coleta de dados de pesquisa. Em linhas gerais, no primeiro Módulo discutiu-se
a questão do processo de produção da pesquisa educacional e suas implicações
éticas. No segundo Módulo, propusemos a apresentação, por parte dos cursistas,
das definições da pesquisa que pretendiam realizar. No terceiro e quarto Módulos,
trabalhamos questões referentes às possibilidades de análise dos dados de pesquisa
e aspectos da escrita do TCC, no que se refere à forma. A seguir tem-se o detalha-
mento do trabalho realizado.
Módulo I
Módulo II
Módulo III
No Módulo III, para o qual também se realizou uma reunião geral com os
professores, definiu-se como necessário problematizar a empiria, ou seja, a neces-
sidade incontornável, para o desenvolvimento do TCC, de produzir informações
novas e originais, na escola em que os cursistas estivessem atuando. Também foi
importante discutir e orientar sobre a necessidade de autorização para realização
das pesquisas nas escolas e a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Es-
clarecido, quando pertinente. Discutiram-se ainda procedimentos metodológicos
a partir da leitura prévia dos textos disponibilizados na plataforma do Curso e
questões sobre a tabulação e análise dos dados de acordo com cada instrumento de
coleta escolhido. O objetivo principal foi tratar com os cursistas como se faz a parte
empírica da pesquisa. Para avaliar o Módulo III, solicitou-se o desenvolvimento
das propostas de pesquisa a partir das orientações individuais e a elaboração dos
instrumentos de coleta de dados (questionário, entrevista ou roteiro de observação).
Módulo IV
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
RELATOS –
PROJETOS DE AÇÃO
INTRODUÇÃO
A formação continuada dos profissionais da educação está prevista Lei de
Diretrizes e Bases de Educação Brasileira – LDBEN (Lei Nº 9.394/1996) e também
reafirmada em normas posteriores, tais como, a Lei nº 13.005/2014, do Plano Na-
cional de Educação (PNE). Este plano estabelece nas metas 15 e 161 a valorização
dos profissionais da educação através da formação inicial e continuada. No Plano
antecessor, Lei nº 10.172/2001 (PNE/2001), já constavam as diretrizes e metas para
a formação e valorização do magistério e demais profissionais da educação através
de políticas voltadas, simultaneamente, para “a formação profissional inicial, as
condições de trabalho, salário e carreira e a formação continuada”.
Contudo, o debate mais contundente acerca da valorização dos trabalha-
dores em educação remonta ao ano de 1993, através da Confederação Nacional
dos Trabalhadores em Educação (CNTE) que a coloca como pauta de luta e no
mesmo patamar das reivindicações salariais2 (WEBER, 2015, p. 503). Desde então
os esforços pela valorização dos profissionais da educação vieram num crescente,
colocando na agenda pública a necessidade de políticas para a carreira e a formação
dos docentes da educação básica. Parte deste esforço foi atendida com a expansão
do ensino superior público e a oferta de cursos de formação inicial e continuada
por todo o país.
1 Meta 16: formar, em nível de pós-graduação, 50% (cinquenta por cento) dos professores da edu-
cação básica, até o último ano de vigência deste PNE, e garantir a todos(as) os(as) profissionais
da educação básica formação continuada em sua área de atuação, considerando as necessidades,
demandas e contextualizações dos sistemas de ensino.
2 Fórum Permanente de Valorização do Magistério e da Qualidade da Educação e Pacto de Valo-
rização do Magistério e da Qualidade da Educação, em outubro de 1994.
3 Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES),
Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação (ANPED), Associação Nacio-
nal de Política e Administração da Educação (ANPAE), Fórum de Diretores de Faculdades de
Educação (FORUNDIR), União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME) e
Conselho Nacional de Secretários de Educação (CONSED).
4 O Programa compõe o Plano de Metas “Compromisso Todos pela Educação” e integra o Plano
de Desenvolvimento da Educação (PDE)
dos dados analisados, devido à importância dos significados extraídos das informa-
ções coletadas. Tem um caráter exploratório para permitir familiarização, percepção
e entendimento das informações referentes ao objeto de estudo, abrindo espaço para
a interpretação dessas informações. (MACHADO, 2012, p. 26)
Em outro viés, o estudo caracteriza-se por uma pesquisa aplicada, pois pre-
tende caracterizar um contexto, uma realidade, observar comportamento de um
grupo. (RICHARDSON, 2007; SELIGER e SHOHAMY, 2001). Como fonte de
dados, analisamos os títulos e os objetivos dos duzentos e quarenta (240) TCC
concluídos, apresentados e aprovados para a obtenção do título de especialista em
coordenação pedagógica.
Os Trabalhos foram categorizados em vinte e cinco (25) temáticas. A orga-
nização do material foi realizada de forma analítica, a partir de leitura flutuante5,
constituindo-se de uma leitura prévia dos títulos e dos objetivos dos TCC. Deste
modo foi possível identificar as semelhanças temáticas. Por exemplo, trabalhos
cujos títulos evidenciassem aproximação com questões relacionadas ao papel da
escola hoje e suas formas de organização para o atendimento à demanda escolar
foram agrupados na temática: Função Social da Escola.
Seguindo a mesma lógica, foram organizadas outras vinte e quatro (24) temá-
ticas. Essa organização possibilitou a análise qualitativa do objeto deste estudo e a
formulação de algumas considerações levando em conta ao que o curso se propôs
nos seus objetivos, na sua organização curricular e nas orientações para escolha
escrita do trabalho final.
estrutura cognitiva. É necessário que nos cursos EAD os docentes promovam ati-
vidades que considerem o perfil dos alunos e o conhecimento que vem na bagagem
de cada um. Deste modo, a aprendizagem ocorre a partir da problematização do
conhecimento prévio possibilitando a colaboração característica do mundo virtual
para fins de aprendizagem. Independentemente da modalidade de ensino, este
pressuposto é atual. O enfrentamento da realidade do público que frequentou o
Curso fez parte da aprendizagem não só dos cursistas, mas também dos docentes.
Na oferta da primeira edição realizada no âmbito da UFRGS do Curso de
Especialização e Gestão Escolar, também do Programa Nacional Escola de Gestores
da Educação Básica, em 2007, identificou-se como pré-requisito para realização
do curso a necessidade de preparar tanto os seus docentes quanto os gestores cur-
sistas na utilização das tecnologias e da educação mediada por ambientes virtuais
de aprendizagem. Passados dez anos desde então, o contexto das escolas públicas
não apresentou mudanças significativas relacionadas ao acesso dos profissionais
e alunos à internet6.
Contudo, as transformações ocorridas nas últimas décadas na formação
continuada de profissionais da educação com o uso das tecnologias de informação
e comunicação apontam que a modalidade tem sido cada vez mais utilizada nos
programas de formação profissional continuada. A EAD tem como mérito atingir
o maior número possível dos profissionais numa realidade em que a falta de tempo
e a distância são obstáculos para a formação.
A educação à distância responde à proposta de um modelo pedagógico alternativo,
que tem por objetivo abrir o acesso à informação aos que desejam aprender. Desde
que bem direcionada e com o apoio dos meios adequados, efetivamente pode con-
tribuir para vencer barreiras do acesso à educação, assumindo o papel desmobili-
zador de estratégias que viabilizem os princípios e fins da educação permanente,
por conseguinte, da formação continuada. (PEDROSA, 2003 p. 75).
6 Tarouco (2016) aponta alguns resultados de levantamento realizado pelo CETIC, acerca do uso
das TIC em escolas brasileiras.
A Educação à distância é tão ou mais complexa que o ensino presencial e para que
ela tenha qualidade precisa ser organizada desde a sua proposta até a sua prática. Ao
propor que um curso seja oferecido nesta modalidade, é preciso pensar em como
este será sua estrutura, recursos humanos, preparação e distribuição do material
didático, organização do plano de ensino e das aulas, organização administrativa e
de responsabilidades. (KONRATH, TAROUCO, BEHAR, 2009, p. 2)
Neste curso em que a teoria dialogou com a prática, as escolhas das temáticas
dos trabalhos de conclusão, de modo geral, foram permeadas pelos desafios do
cotidiano das escolas e que implicam as atribuições dos profissionais da coorde-
nação pedagógica.
O papel do Coordenador Pedagógico na atualidade difere da concepção de
supervisor escolar forjada na época da ditadura. De acordo com Zen (2012, p. 8),
esse profissional atuava como “fiscal das práticas educativas ou uma espécie de
gerente, responsável pelas atividades burocráticas”. Para a autora, hoje,
O Coordenador Pedagógico é corresponsável pela sala de aula, pelo trabalho rea-
lizado pelo professor e pelos resultados dos alunos. Ele faz parte do corpo de pro-
fessores e sua função principal se divide entre a formação de professores e a gestão
do projeto político-pedagógico da escola (ZEN, 2012, p. 8).
Por certo, as temáticas escolhidas têm relação direta com o “fazer” dos co-
ordenadores pedagógicos. Destaca-se que 10% dos estudos foram sobre o papel
desse profissional frente aos desafios da função. De certo modo, os demais temas se
relacionam a esta temática, contudo a tratam com enfoques mais específicos, mas
atribuindo o lugar de mediador aos coordenadores. Isto se verifica ao observar as
descrições das temáticas em que o fazer pedagógico dialoga com os desafios a serem
enfrentados e a importância de um trabalho participativo/compartilhado na escola.
No quadro 1, a seguir, são apresentados o número de trabalhos por temáticas,
em ordem decrescente. Na sequência do quadro 1, as temáticas são descritas con-
siderando ideias centrais dos títulos, resumos, objetivos e foco de cada trabalho.
2. Inclusão escolar 20
3. Ambiente de aprendizagem
18
4. Currículo escolar
5. Ensino e aprendizagem escolar
17
6. Avaliação
7. Formação continuada 15
8. Educação infantil 13
9. Evasão escolar
11
10. Tecnologias de informação
11. Gestão escolar democrática
8
12. Educação de jovens e adultos
13. Projeto político pedagógico
7
14. Docência
15. Ensino fundamental
6
16. Alfabetização e letramento
17. Legislação e normas educacionais
18. Educação integral
19. Função social da escola
5
20. O brincar na escola
21. Relação família-escola
22. Educação do Campo 3
23. Diversidade
2
24. Educação ambiental
25. Adolescência e futuro profissional 1
TOTAL 240
Fonte: organização própria a partir dos títulos, resumos, objetivos e foco do estudo dos TCC.
vigentes no país e que se modificam com as alternâncias de poder, sem que o fazer
pedagógico consiga acompanhá-las, pois ensinar e aprender precisa de tempo.
Tempo que muitas vezes não é respeitado pelas alternâncias governamentais e,
consequentemente, políticas.
Contudo, observa-se também que compelidos a se movimentarem dentro de
um amplo espectro de situações político-governamentais e de avanços tecnológicos
e metodológicos, os coordenadores pedagógicos seguem a trajetória de mediadores
entre a permanente função da escola em promover um ensino que garanta aprendi-
zagens efetivas e propostas que muitas vezes se tornam transitórias por atenderem
somente a questões técnico-burocráticas que não se sustentam em face da realidade
de carências das escolas públicas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
única. Cada rede de ensino adota um formato diferente para a função. Possivel-
mente isso interfira na formação continuada para a função, tendo em vista que há
uma rotatividade de pessoas que a exercem, sem que isso seja acompanhado por
aprofundamento de estudos neste campo de atuação profissional.
Um ponto positivo das escolhas diz respeito à abrangência das temáticas
perpassando toda a educação básica. Etapas e modalidades, currículo, relações
interpessoais, educação integral e do campo, diversidade e as políticas educacionais
que se encontram em disputas no país foram contempladas nos TCC.
De certo modo, é possível afirmar que a estrutura proposta para o curso foi
apreendida pelos cursistas, tornando-os mais sensíveis a propostas e a políticas
públicas educacionais, distinguindo entre as que são passageiras e as que vêm para
ficar e que, portanto, precisam ser objeto do seu trabalho.
REFERÊNCIAS
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INTRODUÇÃO
1 Setton utiliza-se do conceito de Bourdieu para habitus: “Concebo o conceito de habitus como
um instrumento conceitual que me auxilia pensar a relação, a mediação entre os condiciona-
mentos sociais exteriores, e a subjetividade dos sujeitos. Habitus como uma matriz cultural que
predispõe os indivíduos a fazerem suas escolhas. Embora controvertida, creio que a teoria do
habitus me habilita a pensar o processo de constituição das identidades sociais no mundo con-
temporâneo” (2002, p. 61).
No ano de 2015, toda a rede municipal de ensino, por vontade dos/as ges-
tores/as políticos e educacionais, implantou o Sistema Positivo de Ensino, contra
o qual nos posicionamos. Muitos foram os motivos que nos fizeram discordar da
implantação desse método. Em primeiro lugar, por se tratar de posição unilateral e
não haver consulta às comunidades escolares. Num segundo momento, por desle-
gitimar um dos maiores princípios da Educação, a autonomia docente, e, por fim,
por se tratar de um apostilado produzido numa e para uma realidade totalmente
diferente da demanda dessa escola.
O deslumbramento pela estética do material não deixou ninguém pensar nos
indivíduos que possuem outros ritmos de aprendizagens, disléxicos/as, disortográ-
ficos/as, que não possuem as tecnologias digitais em suas casas, sendo que alguns
nem energia elétrica possuem nas residências. Afinal, o que é inclusão para esses
profissionais?
Foi motivado por esse questionamento que surgiu a pesquisa, aqui descrita,
tendo como objetivo “analisar os significados atribuídos ao termo inclusão escolar
por docentes e funcionários/as de uma Escola do município de Arroio Grande/RS.”
Entender os significados que esses/as profissionais atribuem à Inclusão Escolar
se coloca como uma importante ferramenta para que a escola projete suas metas
para uma educação inclusiva. Compreender os discursos desses/as sujeitos traz à
escola múltiplas possibilidades de ressignificar a sua práxis, não apenas projetando
ideias, mas criando condições para que a inclusão, de fato, aconteça.
[...] excluir significa expulsar do mundo dominante, significa, literalmente, pôr para
fora dos parâmetros e das normas que regem as relações sociais, é não apenas margi-
nalizar e sim desconsiderar a existência humana. Excluir significa criar e perpetuar
condições sociais que tornam permanente o ato de morrer (BONETI, 1998, p. 15).
E, nessa ótica, é preciso considerar que o ambiente escolar, situado numa so-
ciedade cujas classes elitistas são opressoras, também leve para seu meio a exclusão.
Analisando as práticas pedagógicas e suas relações, ter-se-á um contexto escolar
mais includente ou excludente?
De acordo com Kátia Silva Santos:
A escola na modernidade passa a ser percebida como aquela que institui, que ensina
conhecimentos e inculca comportamentos. Historicamente, a escola foi exigindo,
estabelecendo regras de pertencimento e, neste dado momento histórico, um lugar
de destaque é conferido a escola e a família (SANTOS, 2005, p. 130).
Carvalho descreve o quanto o termo inclusão escolar pode conter vários sig-
nificados e, a partir deles, ter várias “frentes” nas ações pedagógicas. Temos visto
uma prática pedagógica bastante comum nas escolas, que é o aglomeramento de
indivíduos por semelhanças, ou seja, turmas de alunos/as mais novos/as, outra só
de alunos/as “repetentes”, grupos de alunos/as com maiores facilidades de apren-
dizagem e assim sucessivamente. Dessa forma, salientamos a hipótese de que um
dos significados mais atribuídos à inclusão escolar está ligado às identidades e não
às diversidades. A própria legislação educacional, como já citada anteriormente,
remete a inclusão escolar às pessoas com deficiências, o que mais uma vez alavanca
a identidade.
Albuquerque (2009), num artigo publicado nos anais da 32ª Reunião da
ANPED, descreve resultados de pesquisas com representações sociais dos/as
professores/as frente à inclusão escolar, e conclui que: “[...] embora a inclusão dos
alunos com deficiência seja um avanço da legislação, em prol da construção de sua
cidadania, as representações sociais das professoras estão focadas na resistência e
impossibilidades para desenvolver práticas inclusivas” (p. 13).
A autora aborda também o fato de que inclusão não trata apenas do ingresso
na escola regular de pessoas com deficiências, mas significa garantir sempre condi-
ções de aprendizagem, desenvolvimento social, cognitivo e afetivo, e explicita que
“é preciso estar atento às representações sociais daqueles que são os responsáveis
diretos pela efetivação do direito: os professores” (p. 13).
O objetivo que originou esse ensaio busca justamente compreender os signifi-
cados que os/as docentes e funcionários/as atribuem à inclusão escolar. Dessa forma,
é importante entender a semântica com que utilizamos o termo “significados”.
A utilização do termo “significados” justifica-se pelo fato de a pesquisa buscar
compreender discursos de sujeitos sobre suas práticas ou vivências. De acordo com
Henn (2010, p. 05), “os conhecimentos situados nas experiências de vida se con-
cretizaram em vários tempos/espaços e estão carregados de sentidos e significados,
os quais já passaram inúmeras vezes por práticas de significação”.
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÕES
dos discursos com as mesmas ideias centrais, seja possível organizar um texto coeso.
O Sujeito Coletivo acontece por meio de um discurso emitido na primeira pessoa
do singular, que representa o pensamento de uma coletividade através de depoi-
mentos de diferentes indivíduos com conteúdos discursivos de sentido semelhante
(LEFÈVRE & LEFÈVRE, 2006).
Do resultado da análise, emergiram três discursos coletivos: 1. Inclusão
como conceito amplo e para todos, 2. Inclusão arraigada à Educação Especial e 3.
Dificuldades para uma escola inclusiva. A seguir, trago cada um desses discursos,
seguido de breves reflexões.
Entendo por inclusão escolar como uma prática onde todos os alunos da Escola
estão incluídos, possibilitando a eles uma vida escolar e social mais justa e
humanizada, maior interação ao meio escolar que possibilitem aos excluídos a
chance de recomeçar e elevar a autoestima. Incluir é trazer o aluno para todas
as atividades desenvolvidas na sala de aula, com os demais colegas, levando
em consideração seus conhecimentos e seu tempo de aprendizagem. É incluir
todos os segmentos da escola, buscando o melhor caminho a se seguir. Dar a
possibilidade para que todos os alunos possam ter acesso a todas as atividades
que busquem o desenvolvimento, sem discriminação. Inclusão escolar me
remete a um lugar onde todos os alunos podem conviver sem serem isolados ou
excluídos e viver em harmonia com a comunidade escolar, ou seja, onde a escola
acolhe esse aluno se adaptando a ele e fornecendo condições de aprendizagem
e crescimento. Para mim, algumas atividades inclusivas acontecem quando
aluno e professor realizam diversas atividades com dinâmica e entusiasmo, nos
eventos com a comunidade e no ato de conviver. Quando a direção e alguns
profissionais empenhados em ajudar alunos independentes de religião, classe
social, sexualidade e deficiências, como futebol, taekwondo, vôlei e bingos.
A partir das falas dos sujeitos da pesquisa que compuseram o DSC 1, foi
possível elencar três premissas:
1) Inclusão escolar como sendo um espaço para todos independentemente de
limitações;
2) Inclusão escolar não é apenas acesso, é também permanência e participação
nas diversas atividades pedagógicas;
3) Inclusão escolar como uma práxis pedagógica, envolvendo todos os segmen-
tos da comunidade.
Mantoan corrobora com essas premissas, quando conceitua inclusão:
A inclusão total e irrestrita é uma oportunidade que temos para reverter a situação
da maioria de nossas escolas, as quais atribuem aos alunos as deficiências que são
do próprio ensino ministrado por elas sempre se avalia o que o aluno aprendeu,
o que ele não sabe, mas raramente se analisa “o que” e “como” a escola ensina, de
modo que os alunos não sejam penalizados pela repetência, evasão, discriminação,
exclusão, enfim. (MANTOAN, 2003, p. 18)
Através do DSC2, cujas falas dos sujeitos estão ligadas à inclusão do ponto de
vista da deficiência, é possível chegar às seguintes premissas:
1) Inclusão como ingresso na escola pública e regular;
2) Inclusão como associação às deficiências físicas e cognitivas;
3) Inclusão como pressuposto pedagógico de adaptação às diversas deficiências.
Embora as premissas estejam evidentes, o DSC utiliza uma expressão cha-
mada “ancoragem”, isto é, um ou mais sujeitos utilizam-se de falas que podem
estar nos discursos de teóricos sobre a temática. No caso do DSC 2, gostaria de
chamar atenção para a expressão “a escola deve adaptar-se ao aluno e não os alunos
adaptarem-se a ela”, que é justamente uma das ideias de escola inclusiva trazida por
Mantoan, embora não apenas ligada à integração de pessoas com deficiências. E
justamente sobre isso, a autora escreve:
O processo de integração escolar tem sido entendido de diversas maneiras. O uso
do vocábulo “integração” refere-se mais especificamente à inserção de alunos com
deficiência nas escolas comuns, mas seu emprego dá-se também para designar alunos
agrupados em escolas especiais para pessoas com deficiência, ou mesmo em classes
especiais, grupos de lazer ou residências para deficientes (MANTOAN, 2003, p. 15).
no, e cujas escolas têm cada vez mais aberto espaços para alunos com deficiências
físicas e intelectuais.
A partir do DSC2, é possível compreender um discurso reproduzido nos
ambientes escolares de que inclusão estaria bastante ligada à deficiência, princi-
palmente física.
Ao meu ver quem cria as dificuldades são os profissionais que não querem
romper barreiras. Por outro lado, o excesso de carga horária, muitas vezes em
mais de uma escola, dificuldade de acesso a cursos de formação/capacitação,
falta de interesse dos próprios professores, falta de infraestrutura adequada
nas escolas e de recursos financeiros que são escassos para instrumentalizar a
inclusão. Outra dificuldade seria o próprio desconhecimento. Será que o que
penso ser educação inclusiva é realmente considerado uma educação inclusiva?
Também acredito que existe uma confusão entre educação especial e educação
inclusiva. É necessário que se conheça estas duas possibilidades para só depois
aprender a trabalhar com elas. Seria importante que o professorado recebesse
um curso antes de receber esses alunos. Ou uma ajuda da professora de
educação especial em sala de aula, pois uma grande dificuldade é a adaptação
professor-aluno-pais.
A autora, de forma clara, afirma que todas as justificativas dadas pelos/as do-
centes e funcionários/as como dificuldade para uma escola, de fato, inclusiva, são
legítimas, porém é necessário entender que inclusão “não depende de boa-vontade
e sim de efetivas ações que garantam o funcionamento de escolas de boa qualidade
para todos e com todos” (CARVALHO, 2006, p. 9)
O DSC3 foi elaborado a partir de discursos de sujeitos que tanto atribuíram a
inclusão escolar ao sentido da diversidade quanto das deficiências, ou seja, do DSC1
e DSC2, permitindo fazer uma leitura de que muitos empecilhos ligados à escola
inclusiva residem na falta de conhecimento dos sujeitos, ou seja, pouco podemos
fazer daquilo que não conhecemos.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
REFERÊNCIAS
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O desejo pela escolha deste tema surgiu das experiências vivenciadas por uma
professora da rede estadual do Ensino de Línguas, atuante na assessoria pedagó-
gica do município de Ijuí/RS, e de uma orientadora educacional atuante em uma
instituição de Ensino Superior no município de Porto Alegre/RS, ambas instigadas
pelas discussões emergentes que envolvem o currículo e as políticas educacionais
brasileiras para o Ensino Básico.
Assim, tomamos o currículo como eixo central dessa pesquisa, buscando
embasamento nas inúmeras iniciativas políticas das últimas décadas em tornar
as referências curriculares o principal tema de reflexão, debate e produção de co-
nhecimento no espaço escolar. A existência de poucas pesquisas que investiguem
especificamente a relação entre o currículo da Língua Estrangeira Moderna (LEM)
nas Políticas Nacionais de Ensino e a sua aplicação na prática dos professores
instigou-nos a buscar problematizar as seguintes perguntas: Como os professores
de LEM compreendem a concepção do currículo escolar e de que forma esse co-
nhecimento embasa a prática pedagógica docente?
O presente trabalho encontra-se organizado em três partes. Na primeira, são
apresentadas as concepções de currículo, a revisão histórica das Políticas Nacio-
nais do Ensino de Língua Estrangeira Moderna no Brasil e apontamentos sobre o
currículo da Língua Estrangeira descritos na Base Nacional Comum Curricular.
Na segunda, é apresentada a metodologia da pesquisa, a descrição do contexto da
pesquisa, dos participantes e dos instrumentos de coleta e análise. Os procedimen-
tos metodológicos, a produção dos dados da pesquisa, o tratamento e a análise de
dados, são descritos na terceira parte onde apresentamos as considerações finais, os
resultados obtidos, construídos, comparados e relacionados seguidos da conclusão
e referencial teórico utilizado.
Esta mesma ideia de currículo também é observada nas demais respostas dos
participantes. Por isso, Moreira enfatiza a necessidade de o currículo ser “organiza-
do pela escola, sob responsabilidade da escola e girar em torno do conhecimento
escolar” (2008, p. 1). Em relação às ações de construção e elaboração do currículo,
é possível verificar que ocorre a participação do professor nas discussões que en-
volvem sua implementação, conforme resposta do Profe1:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Iniciamos este texto com um excerto que nos permite apresentar a docência
como um lócus de múltiplas problematizações. Nesse tempo de regulações, o traba-
lho docente aparece como imperativo em diferentes discussões sobre a carreira do
magistério, e a constituição da identidade profissional dos professores se apresenta
mediada por muitas tensões e contradições.
As pesquisas no campo de formação de professores ocupam posição de grande
relevância nos debates contemporâneos sobre educação. Entender quem são esses
sujeitos, qual o caminho percorrido até a docência, quais as concepções presentes e
os significados atribuídos ao ato de ensinar são elementos essenciais para construir
um perfil identitário que auxilie no desenvolvimento de estudos na área educacional
e na construção de políticas públicas de valorização dos profissionais com vistas a
melhorias no cenário educacional.
Em se tratando de trabalho docente, parece ser naturalizada a ideia de que,
embora o êxito nos processos educativos resulte de diferentes e complexos fatores
que atuam de forma conjunta e relacional sobre os sujeitos envolvidos no processo,
o professor tem grande influência e gerência sobre esse resultado.
As problematizações que serão delineadas neste texto seguem na esteira das
narrativas dos professores sobre suas trajetórias profissionais, evidenciando ele-
mentos que caracterizam seu ingresso na docência.
do século XIX com o início das Escolas Normais, em nível secundário, destinadas
à formação de docentes para as escolas primárias. A carreira docente, nesta época,
era vista com um potencial atrativo diretamente vinculado ao status conferido à
tarefa de ensinar e à importância do professor frente à condução da escolarização
da sociedade. Aliada a isso, a vocação se apresentava como palavra-chave para o
ingresso na carreira do magistério, constituindo-se referência importante para
pensar o ensino. Já nesse tempo, as condições materiais para o trabalho docente
(infraestrutura das instituições, jornada de trabalho, carreira, salário) não acom-
panhavam a natureza das demandas vindas da profissão, o que não inviabilizava
a atratividade na carreira.
No início do século XX, com a criação das Universidades, o movimento em
direção à formação de professores para os anos finais do Ensino Fundamental e
para o Ensino Médio se estabeleceu. Nesse tempo, a carreira docente no Brasil se
expandiu motivada pela crescente industrialização, que, alinhada a uma lógica de
mercado, via no sistema de ensino o meio apropriado para elevar a escolarização
dos trabalhadores.
Nesse contexto, nas primeiras décadas do século XX, os cursos de Licencia-
tura no Brasil destinados à formação de professores para os anos finais do Ensino
Fundamental e para o Ensino Médio foram criados, acrescentando-se um ano de
complementação pedagógica à formação específica de bacharel, já oferecida pelas
instituições. Tal fato teve reflexos na constituição da identidade docente e nas
representações da sociedade sobre o professor até os dias de hoje, uma vez que a
estrutura curricular presente no itinerário formativo dos professores não deixava
claro um perfil desejável para esse profissional.
A partir da reforma da Educação Básica no Brasil, em 1971, as Escolas Nor-
mais foram extintas e a formação de professores em nível secundário, chamada de
Magistério, passou a assumir grande parte do currículo já determinado a um curso
deste nível, o que reduziu consideravelmente a formação específica para a docência
e auxiliou na descaracterização dos saberes docentes.
Com a Lei 9394/96 que define as novas Diretrizes e Bases da Educação
Brasileira (LDB), fica impresso um novo conceito de profissionalização docente,
baseado em uma proposta de um “continuum” de formação (GATTI; BARRE-
TO, 2009, p. 42). Além disso, a LDB transferiu a formação dos professores, até
então feita em nível secundário, para o Ensino Superior, a partir da exigência de
escolarização em nível superior para todos os professores da Educação Básica.
Somente alguns anos depois foram propostas as diretrizes curriculares para a
formação inicial dos professores da Educação Básica e, posteriormente, as dire-
trizes específicas para cada curso de Licenciatura. Tais regulamentações traçam
um perfil formativo para os profissionais da educação, preconizando compe-
tências necessárias e indicando políticas de formação inicial e continuada e de
valorização desses profissionais.
A carreira EBTT está vinculada aos Institutos Federais (IFs) que nasceram a
partir de uma intencionalidade política, fruto de um contexto social e econômico,
institucionalizado por meio da Lei 11.892, de 29 de dezembro de 2008. Esta Lei
estabeleceu, no âmbito do sistema federal de ensino, a Rede Federal de Educação
Profissional, Científica e Tecnológica, vinculada ao Ministério da Educação.
O ingresso à carreira EBTT ocorre mediante concurso público, por meio de
provas de conhecimentos teóricos, práticos e de títulos. O plano de carreira está
estruturado por meio das Leis 11.784/2008 e 12.772/2012, e o avanço neste plano
ocorre por meio de progressão funcional e por promoção. As regulamentações
vigentes estabelecem critérios para o regime de trabalho, incluindo atividades de
ensino, de pesquisa e de extensão, bem como para as atividades de administração
e capacitação que são oportunizadas.
O grupo de professores pesquisados pertence à carreira EBTT e atua na do-
cência em um IF da região sul. Preliminarmente, a fim de que fosse caracterizada
a categoria pessoal do grupo pesquisado, foi solicitado aos professores que respon-
dessem sua idade, em anos, e seu sexo.
Quanto à variável sexo, a predominância do grupo amostrado mostrou ser
masculina (52%), embora não haja representatividade significativa de um dos
gêneros, uma vez que o grupo feminino perfaz 48% da amostra. Quanto à idade
dos amostrados, construiu-se uma escala intervalar, considerando as seguintes
categorias: professores com até 29 anos de idade, professores de 30 a 39 anos de
idade, professores de 40 a 49 anos de idade, professores de 50 a 59 anos de idade e
professores com mais de 59 anos. Os resultados mostram que grande parte dos pro-
fessores participantes da pesquisa (75%) tem entre 30 e 49 anos de idade. Ainda, os
dados mostram que 54% dos professores ainda não completaram 40 anos de idade.
Em relação à titulação (Figura 1), a pesquisa indica que 88% deles possuem
formação mínima em nível de mestrado, sendo que, destes, 40% têm titulação de
doutor. Ainda em relação à titulação, é possível identificar que, dos 48% que indi-
caram ter como maior titulação o mestrado, 25% está com o curso de doutorado
em andamento.
Quanto ao ES, mais da metade dos participantes da pesquisa diz ter cursado
a formação inicial em instituição pública (Figura 4).
CATEGORIA
Compromisso social
Exemplos positivos
Não respondeu
Oportunidade de Emprego (carreira EBTT/estabilidade/remuneração)
Outros
Possibilidade de fazer pesquisa
Vocação (gostar/desejar/admirar a profissão)
Para a análise das respostas, o grupo amostral foi dividido em dois subgrupos,
em virtude de algumas respostas se enquadrarem em apenas uma categoria e ou-
tras em duas das categorias construídas. Diante disso, a tabulação dos dados dessa
questão passou a contar com o subgrupo denominado G1 com 244 participantes
(cuja resposta foi alocada em uma categoria) e o grupo G2 com 13 participantes
(cuja resposta foi alocada em duas categorias).
Considerando o grupo G1, é notável perceber que 51% dos professores dizem
exercer a docência por motivos relacionados à vocação (Figura 7), explicitando,
na maioria das vezes, o gosto desde cedo por ensinar, o desejo por aprender e a
admiração pela profissão. Desse percentual, 30% utiliza a própria palavra vocação
na sua narrativa; outros narram fatos ou fazem menção à ideia de que já estavam
destinados, desde muito cedo, à docência.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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INTRODUÇÃO
Todo amanhã se cria num ontem, através de um hoje. De modo que nosso futuro
baseia-se no passado e se corporifica no presente. Temos de saber o que fomos e o
que somos para saber o que seremos. (FREIRE, 2010, p. 33)
RETORNANDO AO ESTUDO
Para um adulto, voltar a estudar nem sempre é uma tarefa fácil. Mesmo com as
facilidades que a EAD apresenta, ele acaba por se deparar com algumas dificuldades
que fazem parte do momento da sua vida, como, por exemplo:
• a dificuldade em conseguir administrar o seu tempo para o estudo, pois
trabalha, tem família ou está fazendo outro curso técnico;
• a falta de uma metodologia de aprendizagem direcionada à sua fase da
vida (andragogia), em que o importante é saber por que e para que ne-
cessita aprender determinado conteúdo;
• a sua situação financeira, em que é necessário compensar os custos de
sua vida junto aos dispêndios ligados à educação (passagens de ônibus,
materiais didáticos, alimentação, etc.).
No entanto, quando consegue chegar à sala de aula, o adulto estudante costu-
ma enfrentar outras dificuldades: na maior parte das vezes está distante da escola
há muitos anos – às vezes nunca a frequentou. Esse fator o faz sentir-se excluído,
intimidado por não saber o que socialmente se espera que um adulto de sua idade
saiba. A própria modalidade EAD, aparentemente facilitadora, impõe determinadas
dificuldades, exigindo disciplina e comprometimento, valores que, pela sua história
de exclusão educacional, tornam-se difíceis de serem levados à risca.
Uma opção de EAD que tem sido bastante procurada por alunos que preci-
sam e querem terminar seus estudos é o Núcleo de Educação de Jovens Adultos
(NEEJA), modalidade de EJA oferecida pela Secretaria de Educação do Estado do
Rio Grande do Sul (SEC/RS). A primeira experiência nesse tipo de modalidade
deu-se em 1984 através dos NEEJAs Prisionais. A Lei nº 7.210, de 11 de julho de
1984, chamada Lei de Execução Penal, previa a assistência educacional ao preso
e internado, sendo obrigatório o ensino fundamental a essa clientela. No entanto,
foi somente em 2003 que o NEEJA foi efetivamente constituído no estado do Rio
Grande do Sul, com a finalidade de proporcionar, por meio de uma modalidade
EAD, uma educação a jovens e adultos que não tiveram a chance de iniciar ou
continuar seus estudos regularmente. Atualmente os NEEJAs têm passado por
reformulações em seus regimentos com a finalidade de unificá-los, operando por
meio de duas grandes frentes:
1) atividades de apoio em que não é cobrada a presencialidade;
2) exames supletivos fracionados.
No entanto, ele só irá receber o certificado após ser aprovado em todos os exames
– um processo que pode perdurar por anos. E essa demora se dá por uma soma de
fatores, dentre os quais presenciamos:
• falta de tempo para estudar ou realizar os exames;
• reprovação contínua em um mesmo exame;
• imprevistos em relação à família ou ao emprego;
• dificuldades emocionais.
HÁBITOS
O hábito da leitura de livros e brochuras está cada vez mais sendo substituído
pela internet, como constatamos na pesquisa: 50% dos alunos não leem livros, mas
utilizam a internet. Quanto ao acesso à internet, 49% têm internet em casa e 33%
possuem internet no celular. No entanto, 7% dos estudantes não possuem acesso,
dado que ainda revela a exclusão digital a que estamos submetidos. Por se tratar de
uma modalidade EAD, o trabalho do docente junto ao NEEJA acaba envolvendo
o incentivo ao uso da internet como material de apoio. Quanto à frequência de
utilização da internet, 51,67% dos alunos fazem uso uma a duas vezes por semana
para pesquisar conteúdos ou assistir a vídeo-aulas de assuntos relacionados com
as disciplinas.
A desigualdade entre os sexos é uma luta que vivemos até os dias atuais. As
mulheres eram obrigadas a deixar a escola prematuramente devido a diversos mo-
tivos, como casar, engravidar, ajudar a mãe a cuidar dos outros irmãos, trabalhar
para ajudar a família, etc. – fatores ainda bastante recorrentes. No entanto, e para
nossa grata surpresa, muitas mulheres inscritas no NEEJA relatam o prazer de es-
tudar como força-motriz de sua matrícula junto ao NEEJA, gesto que consideramos
politicamente significativo no empoderamento feminino na sociedade.
O fato de estar distante da escola há muito tempo faz o(a) aluno(a) se sentir
diferente, atrasado(a) em relação aos adolescentes e jovens matriculado(a)s. Os
docentes de NEEJA entrevistados pela pesquisa relataram que esse fator acarreta a
própria postura aparentemente passiva desse tipo de estudante. Muitas vezes, por se
sentir envergonhado e subjetivamente excluído, o estudante acaba por não se expor
junto à turma, dificultando seu próprio processo de aprendizagem – dado que a troca
entre os pares é um dos fatores pedagogicamente facilitadores de aprendizagem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Na-
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Curso. Universidade Federal do Rio Grande dos Sul, 2010. Disponível em: <http://hdl.handle.
net/10183/27414>. Acesso em: 28 maio 2017.
1 Pesquisa realizada no período de 2015 a 2016, como parte integrante da Monografia “As Impli-
cações da Lei de Gestão Escolar Democrática em um município do Vale do Rio dos Sinos-RS no
trabalho da coordenação pedagógica”, do Curso de Especialização em Coordenação Pedagógi-
ca/UFRGS, orientado pela Prof.ª Dra. Delci Heinle Klein.
2 A gestão democrática da escola pública é materializada e ganha força de lei na Constituição de
1988 e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996. O artigo 206 da Constituição apresenta
a gestão democrática do ensino público como um princípio base no qual o ensino será minis-
trado. No município de Novo Hamburgo, a Gestão Escolar Democrática foi instituída pela Lei
nº 2. 015/2009, de setembro de 2009, para regulamentar a gestão escolar das escolas da rede
municipal de ensino.
3 O Art. 3º da Lei nº 2.015/2009, de setembro de 2009, estabelece o processo de eleições diretas,
apontado como funções a serem compostas nas chapas inscritas, a direção e vice-direção das
escolas da Rede Pública Municipal de Ensino.
4 Em 2014, ocorreu a eleição direta de diretores em 75 escolas da rede municipal de ensino.
5 O Regimento Escolar das escolas deste município aponta que o Coordenador Pedagógico pre-
cisa ser membro do magistério público municipal, habilitado em curso superior de Pedagogia
ou Pós-Graduado em Supervisão Escolar.
7 Ao tratar das falas dos entrevistados, serão utilizadas letras para preservar sua identidade. Será
utilizado P (para professores) e C (para coordenadores). A sequência dos mesmos será alfabéti-
ca. Ex: CA- coordenador A.
adotar, como objetivo a ser atingido, a realização da educação como prática demo-
crática? (PARO, 2017, p. 6).
Paro (2007) leva-nos a pensar que a estrutura de que fala pode ser tomada
como um encadeamento das ações e relações na escola: coordenação/professor/
aluno/direção/processos educativos/aprendizagens. Esses encadeamentos, muitas
vezes, dependem das perspectivas adotadas pela direção e pela coordenação nos
processos escolares, numa forma de fazer que pode modificar-se conforme a equipe
gestora, tornando o tempo necessário variável para que o Coordenador Pedagó-
gico possa construir sua identidade profissional e apoiar a prática pedagógica na
instituição.
Ao destacar esses aspectos, não temos a pretensão de quantificar o tempo
necessário, pois é preciso considerar as diferenças entre os indivíduos e o fato de
que as construções ocorrem em espaços e tempos diversos, mas acreditamos na
necessidade de uma reflexão sobre o assunto, além de problematizar o espaço da
ação da coordenação pedagógica no coletivo escolar que, em um fazer conjunto
e integrado, rege o ritmo das articulações dos diferentes atores que compõem a
comunidade escolar.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Na-
cional. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 1996.
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ANPEd, 30. GT5 – Estado e Política Educacional. Caxambu, 2007.
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SILVA, Tomaz Tadeu da (Org.), Hall Stuart, Woodward Katryn. Identidade e Diferença: A perspectiva
dos Estudos Culturais. 15 ed. São Paulo: Vozes, 2014.
INTRODUÇÃO
técnico para fazê-lo. Ao ter metas e objetivos, o ser humano planeja o que fazer
para atingi-los, traçando caminhos. Quando falamos em educação, o planejamento
é presença marcante. Algumas vezes utilizado apenas para cumprir “requisitos”,
em outras, de forma significativa para um bom trabalho escolar, constitui-se em
um dos principais assuntos de discussão e estudo nas escolas, entre os professores
e nas Secretarias responsáveis pelas Redes de Ensino. Em vários segmentos da
educação, percebe-se que os planos estão desacreditados, o que pode ser resultado
do fato de historicamente o planejamento ter sido utilizado como uma forma de
“fiscalizar” o trabalho do professor. Outros fatores que contribuem para isso são
o formalismo e a burocracia, que acabam desprestigiando o planejamento, saindo
do seu real sentido.
Na educação escolar, o planejamento acontece em diversos níveis de abran-
gência. Neste trabalho será dada ênfase ao planejamento que está mais próximo
do professor e do aluno, ou seja, o plano de aula do professor, que está diretamente
ligado à sua prática e às práticas dos seus alunos. Para Vasconcellos (2014, p. 35),
“planejar é antecipar mentalmente uma ação a ser realizada e agir de acordo com
o previsto, é buscar fazer algo incrível, essencialmente humano: o real ser coman-
dado pelo ideal”. A partir dessa definição, pode-se dizer que planejar é pensar em
maneiras de atender metas e objetivos, a fim de atingir aquilo que se almeja, é uma
atividade, um processo que faz parte do ser humano e tem como objetivo chegar a
uma ação que seja eficaz e inovadora, uma ferramenta que busca intervir e mudar
a realidade, um projeto de emancipação humana. Assim, “planejar, ter projetos,
portanto, é uma das grandes marcas humanas” (VASCONCELLOS, 2014, p. 67).
Nas tarefas mais comuns do cotidiano humano, o planejar está presente, pois
alterar a realidade é o grande desafio do homem. Essa ferramenta só tem valor se
transformar o que se deseja, modificando a realidade, interferindo na realidade.
Para Vasconcellos (2014), o planejar vem antes do agir. Trata-se de:
[...] antever, projetar uma ação, mas não qualquer: é uma ação a ser realizada (re-
alizar = tornar real); é uma ação, portanto, que visa um fim (age-se de tal forma
para...), e por sua vez, tanto o fim quanto a ação estão referidos a uma realidade a
ser transformada. (VASCONCELLOS, 2014, p. 79).
2 As três concepções apontadas por Vasconcellos (2014) estão detalhadas na monografia intitula-
da: “Planejamento do Professor em tempos de internet” ( ROCHA, 2016).
DIMENSÃO ELEMENTOS
□□ Assunto
Análise da realidade
□□ Necessidade
↕ ↕
Projeção de finalidades □□ Objetivo
↕ ↕
□□ Metodologia
□□ Tempo
□□ Recursos
Formas de mediação
□□ Avaliação
□□ Tarefa
□□ Observações
Fonte: reproduzido de Vasconcellos, 2014, p. 149.
3 Entrevista concedida por Celso dos Santos Vasconcellos à revista Nova Escola sobre o planeja-
mento escolar. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/296/planejar-objetivos Aces-
so: 02/02/16.
zado este mar de informações? Esse uso tem servido para uma prática libertadora,
transformadora ou fortalece uma prática tradicional, uma educação bancária5?
Constatou-se que os professores buscam materiais variados na rede das re-
des: vídeos, sugestões de brincadeiras, jogos, atividades, poesias, histórias, livros
digitalizados, músicas, receitas, aplicativos (smartphone), blogs, sites educacionais,
conceitos, artigos sobre os assuntos trabalhados, imagens, sugestões de atividades,
ideias de atividades pedagógicas, jogos, músicas, livros digitalizados, enciclopédias e
dicionários, sites onde possam ser criadas atividades para os alunos, dicas, imagens
e textos. Ao serem questionados sobre o que buscam, alguns professores referiram:
“sites educativos para pesquisa tanto para me atualizar como para orien-
tar os alunos em suas pesquisas” (P 13, pesquisa de campo, 2016).
“pesquisas sobre conteúdos que tenho interesse ou dos quais preciso saber
mais”. (P 17, pesquisa de campo, 2016).
5 Termo utilizado por Paulo Freire, no livro Pedagogia do Oprimido (Rio de Janeiro, Paz e Terra.
1970 2ª Edição, Capítulo 2, p. 62.), para definir uma educação “em que a única margem de ação
que se oferece aos educandos é a de receberem os depósitos, guardá-los e arquivá-los”, nesta vi-
são de educação “não há criatividade, não há transformação, não há saber”. “Na visão “bancária”
da educação, o “saber” é uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber”.
repassando aos seus alunos, sem a devida reflexão? As questões apontadas necessi-
tam de reflexão e discussão quando utilizamos uma rede, com a qual cada usuário,
além de consumir, também pode colaborar.
Perguntados sobre se contribuem com atividades na rede e de que forma o
fazem, verificou-se que os professores, em sua maioria, têm contribuído com a
rede, relacionando-se com os responsáveis pelo material pesquisado e interagin-
do, produzindo e publicando materiais. As publicações dos professores vão desde
registros escritos e fotográficos de suas práticas, publicações em ambientes virtuais
para serem acessadas pelos alunos, até artigos e resultados de pesquisas.
Vasconcellos (2014) refere que o planejamento inclui a execução, isto é,
colocá-lo em prática. Ao observar os dados levantados, percebe-se que os mesmos
apontam para o fato de que os professores, ao acessarem a internet para publicar
resultados, imagens de suas práticas, estão, aparentemente, realizando o planeja-
mento em sua integralidade, podendo olhar atentamente para o processo. Sabe-se
que, do ponto de vista do ensino, é fundamental que, no decorrer do mesmo, o
professor planeje e reflita sobre a sua ação. Cabe ainda ressaltar o tempo de atuação
desses profissionais, a maioria deles com mais de dez anos de docência. Se levar-
mos em consideração o período em que a internet passou a alcançar a maior parte
da população, percebemos que esses profissionais presenciaram a seu advento, a
“avalanche” que atingiu a todos e a grande transformação que ela causou na vida
das pessoas e, consequentemente, na sociedade. Ainda é possível observar que
eles não se encontram acomodados. Também é importante referir que a cidade
de Novo Hamburgo é pioneira no trabalho com Informática Educativa, buscando
aperfeiçoamento e formação continuada de professores nessa área há muitos anos.
que estão inseridos. Estar rodeado por um oceano de informações não significa
conhecimento. Segundo Moran (2007, p. 54), “O conhecimento não se passa, o co-
nhecimento cria-se, constrói-se”. A informação é integrada ao nosso referencial, ao
nosso paradigma e, quando nos apropriamos dela, tornamo-la significativa para nós.
Os resultados desta pesquisa podem contribuir para que os professores re-
flitam sobre a forma como têm utilizado a internet no momento destinado ao seu
planejamento, reestruturando, se necessário, sua prática pedagógica. Moran (2007,
p. 16) afirma que “O educador autêntico é humilde e confiante. Mostra o que sabe
e, ao mesmo tempo, está atento ao que não sabe, ao novo”. A internet pode ser uma
ótima ferramenta para aqueles professores inquietos, que estão sempre em busca de
qualificação e reflexão, pois permite ir muito longe, acessar recursos, informações e
conhecimentos especializados, em todo o mundo, avaliar sua prática e reestruturá-
-la sempre que necessário.
REFERÊNCIAS
MORAN, José Manoel. Como utilizar a internet na educação. Ciência da Informação. V. 26, n. 2.
May/Aug. Brasília, 1997.
MORAN, José Manoel. Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campina: Papirus, 2007.
VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Celso dos Santos Vasconcellos fala sobre planejamento esco-
lar. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/formacao/planejar-objetivos-427809.shtml>
Acesso em: 22 de abr. de 2016.
VASCONCELLOS, Celso. Planejamento – Projeto de Ensino-Aprendizagem e Projeto Político-Peda-
gógico. São Paulo: Editora Libertad, 2014.
INTRODUÇÃO
Coelho definiu muito bem a proposta de Anísio Teixeira, porém esse modelo
de escola, conquanto tenha servido de modelo para outras escolas em outros estados,
não recebia o devido reconhecimento.
Para Nunes, a criação da Escola Parque por Anísio Teixeira tinha o seguinte
fundamento:
Em sua concepção, a escola primária deveria oferecer aos estudantes oportunidades
amplas de vida, compreendendo atividades de estudos, de trabalho, de sociabilidade,
de arte, recreação e jogos. Era preciso um novo currículo, um novo programa, um
novo docente. Tratava-se, portanto, de expandir, do ponto de vista da cultura geral, a
instrução primária – até então caracterizada praticamente como escola alfabetizadora
– para que a população, sobretudo das áreas mais pobres, se integrasse no contexto
de uma sociedade moderna. O Centro de Educação Popular ou Centro de Educa-
ção Primária na Bahia aparecia como ensaio possível de solução. (NUNES, 2009).
A ideia da escola de turno integral para todos tinha por objetivo preparar o
indivíduo para a vida em sociedade, para a convivência coletiva. (BOMENY, 2009)
No Rio de Janeiro, na década de 80, Darcy Ribeiro defendia a ideia de que
as escolas deveriam ser em tempo integral, atendendo a todos, principalmente a
população mais marginalizada, preparando-os para a vida em sociedade. Conforme
Bomeny (2009, p. 115):
Darcy Ribeiro estava convencido de que a escola pública brasileira ainda não podia
ser chamada de pública. Elitista e seletiva, ela não estava preparada para receber
quem não tivesse acesso a bens materiais e simbólicos que contam e interferem
diretamente no desempenho. Exigia da criança pobre o rendimento da criança
abastada. Remava na direção contrária à de sua clientela principal. Convencido do
desvirtuamento do projeto escolar público.
A proposta política de Darcy Ribeiro era atingir principalmente o público
infantil, priorizando a formação do indivíduo, acreditando que caberia à escola
suprir as demandas que a família e outras instituições não conseguiam atender,
tais como alimentação saudável, lazer, atendimento médico, odontológico e demais
LEGISLAÇÃO/ TEMPO/
ATIVIDADES OUTROS
PROPOSTA PEDAGÓGICA BENEFÍCIOS
Atividades lúdicas para O turno integral deve ser
O tempo para cada atividade. Saúde dos professores.
o contraturno. obrigatório?
Atividades de Propostas de Educação Tempo de concentração dos
Saúde mental.
cooperação. integral que deram certo. alunos.
Seus valores, seu modo
Técnica de socialização. Legislação. Benefícios do turno integral.
de vida.
As diferenças na forma
Parcerias para viabilizar
Recreio diferenciado. Propostas pedagógicas. de tratar crianças e
projetos.
adolescentes.
Estudar mais o
desenvolvimento do
Atividades lúdicas e Integração entre alunos de
Papel do turno integral. adolescente, tanto do
artísticas. diferentes ano ciclos.
ponto de vista físico
quanto psicológico.
Educação integral
Atividades lúdicas e
# Educação de tempo
brincadeiras.
integral. Conhecer melhor as Como um adolescente
comunidades com as quais aprende?
trabalhamos, na perspectiva
Atividades voltadas as Planejamento e Avaliação de antropológica, já que vamos
artes plásticas. resultados. interferir no seu dia a dia,
nas relações familiares e de
Sugestões de atividades. Metas e indicadores. vizinhança.
Estratégias de atividades
diversificadas. Inclusão.
Uso de tecnologias.
Dessa forma, a escola integral deve oportunizar espaço para que, juntos, alunos
e comunidade escolar construam uma educação de qualidade, voltada para uma
aprendizagem significativa e prazerosa, formando parcerias e redes de apoio. Uma
possibilidade para essa construção coletiva é trazer a comunidade para dentro da
escola, isso pode ocorrer por meio das reuniões, assembleias gerais, festividades
Conforme o autor, a escola deverá estar voltada para atender diferentes culturas
e aproveitar os saberes dos alunos, deixando para trás o papel de transmissora do
conteúdo e passando a ser construtora de conhecimento junto aos alunos. Com
isso, a escola deverá atuar num outro nível que não o da transmissão, deverá ser
a sistematizadora do conhecimento adquirido e, sobretudo, garantir a produção
de conhecimento mais elaborado que aproveite todas as experiências adquiridas
(ALONSO, 2000).
Sabe-se que com dedicação, envolvimento, pesquisa e muita afetividade por
parte dos professores é possível conseguirmos cumprir a função social da escola
em busca de uma educação de qualidade.
Assim, contata-se que os professores deverão usar seus saberes e realizar seus
fazeres desenvolvendo suas competências de criar, agir, dinamizar sua sala de aula,
promovendo a aprendizagem significativa nos seus alunos e tratar com naturalidade
e com respeito as diferenças. Para Bagno (2007, p. 78), é importante “reconhecer
que a escola é o lugar de interseção inevitável entre o saber erudito-científico e o
senso-comum, e que isso deve ser empregado em favor do/a estudante e da for-
mação de sua cidadania”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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INTRODUÇÃO
SRM pode ser visto como um desrespeito com a comunidade escolar, visto que,
seja por desconhecimento ou acomodação, não vem sendo explorado com deveria.
Daí, surge a necessidade de desenvolver ações que possam não só resgatar, mas
ampliar o campo de atuação de uma SRM. Para tanto, o Coordenador Pedagógico
da escola pode fazer a diferença.
Dentro do espaço escolar são vários os atores que criam, recriam e renovam
o fazer educacional. Entre eles, o Coordenador Pedagógico possui uma função
primordial: estimular o grupo docente na busca por formação e aprimoramento
das metodologias aplicadas aos alunos. Assim, o Coordenador surge como um
recurso prático e fundamental dentro das escolas. É ele que conversa com as áreas
do conhecimento e com a legislação a fim de reunir elementos que embasem o
processo de ensino e de aprendizagem.
Por isso, é fundamental possuir uma visão sistêmica da escola, além do co-
nhecimento legal sobre a estrutura e funcionamento da educação nacional. Essa
necessidade se amplia ainda mais em pleno cenário inclusivo. Incluir continua
sendo um assunto difícil de conversar de forma ampla por todos os componentes
do âmbito escolar. Nesse sentido, o Coordenador Pedagógico pode vir a ser peça-
-chave para mediar o diálogo entre o Ensino Regular e a Educação Especial com
vistas a propiciar o melhor atendimento aos alunos com deficiência favorecendo
sua inclusão efetiva.
A PESQUISA
já está na sala há cinco anos e a última (P³) chegou à escola para substituir aquela
que estava em processo de aposentadoria.
A coleta dos dados foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas.
Para Marconi e Lakatos (2003), a coleta de dados é uma etapa da pesquisa em que
se inicia a aplicação dos instrumentos que foram previamente pensados e elabo-
rados e do uso de técnicas que foram escolhidas como ideais para a pesquisa, com
o objetivo de coletar os dados necessários.
Com a política de informatização implantada no estado do Rio Grande do Sul
no ano de 2011, uma parcela do alunado gaúcho teve a oportunidade de usufruir
de um netbook para os trabalhos escolares e a própria informatização da família.
O município de Sant’Ana do Livramento foi um dos pioneiros nessa iniciativa
gerando, assim, uma avalanche de dúvidas e necessidade de capacitação para o
trabalho com computadores em sala de aula.
Como muitos dos alunos atendidos na SRM da escola objeto deste trabalho
também ganharam o “netzinho”, seus professores passaram por alguns cursinhos
que capacitavam os trabalhos com a nova ferramenta. Depois, o governo lançou
capacitações continuadas para o trabalho; contudo houve relutância por parte de
professores em não querer aceitar mais uma nova ferramenta de trabalho peda-
gógico.
Dessa forma, foi fundamental o trabalho desenvolvido pela coordenação pe-
dagógica a fim de motivar os professores e resgatar essas ações. Vieira, Bianconcini
e Alonso (2003) também reforçam essa ideia, já que a manutenção de uma prática
pedagógica salutar depende de um estado constante de evolução e mudança, co-
brado por essa “sociedade mutante” onde nos inserimos.
ANÁLISE E RESULTADOS
e sala de recursos venha a gerar nos alunos frequentadores, bem como nos profis-
sionais envolvidos. Incluir não é somente falar de inclusão, mas sim, permitir que
todos os atores se sintam parte desse processo.
Quando se pensa em escola inclusiva, a primeira coisa que vem à cabeça é
a sala de recursos. No entanto, inclusão vai muito mais além do que isso. Implica
uma ação conjunta e responsável para que atenda todas as situações diferentes e
desafiadoras que envolvam a aprendizagem (BEYER, 2013). E para isso, a escola
precisa de um PPP (Projeto Político-Pedagógico) que englobe todos os segmentos
escolares, transformando espaços e mentalidades, o que realmente articula ou
deveria articular os coordenadores pedagógicos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Amanda Cabette
Tatiane Mattiazzi
INTRODUÇÃO
de Escola de Tempo Integral de Anísio Teixeira sobre a égide dos Centros Integrados
de Educação Pública (CIEPs). Assim como Anísio, Darcy reviveu nos anos de 1980 e
1990 a intolerância dos opositores à proposta de uma escola pública, laica e democrática.
Na atualidade a grande defensora da Escola de Tempo Integral é Jaqueline
Moll, que esteve à frente da Diretoria de Educação Integral, Direitos Humanos e
Cidadania no Ministério da Educação até o ano de 2013. Coordenou a efetivação
do Programa Mais Educação, meta do Plano de Desenvolvimento da Educação, que
se transformou em uma estratégia para implantação e implementação da Educação
Integral em Jornada Ampliada ou da Escola de Tempo Integral.
Com seu trabalho, “o sonho de uma escola de dia inteiro, de uma escola cujo
projeto tenha a educação integral em seu horizonte, adiado pelo menos duas vezes,
com Anísio Teixeira e depois com Darcy Ribeiro, é retomado no final da primeira
década do século XX, com todos os desafios de uma “megapopulação” na educa-
ção básica, em contextos sociais configurados por desigualdades, complexidades
e diversidades” MOLL (2012, p. 28).
Foi neste período que surgiu o Programa Mais Educação, que podemos de-
finir como:
[...] política estratégica do Governo Federal para viabilizar uma proposta de Educa-
ção Integral, constituiu-se a partir da Portaria Interministerial no. 17/07, fortificada
pelo Decreto no. 7083/10, com o objetivo de promover a oferta da educação integral a
crianças, adolescentes e jovens, através de atividades sócio-educativas desenvolvidas
no período de jornada ampliada escolar. A oferta de diferentes atividades educa-
cionais aos estudantes sustenta-se pela necessidade de se considerar as múltiplas
dimensões formativas dos sujeitos e pela compreensão de que somente os saberes
acadêmicos e reconhecidos socialmente não englobam a totalidade da formação
humana (FREITAS & VIVIAN, 2015, p. 3).
Não citaremos nenhuma das teorias, pois acreditamos que cada uma delas
serve em determinado espaço/tempo da construção deste currículo de acordo com
a realidade no qual se constrói, pois:
o currículo tem significados que vão muito além daqueles aos quais as teorias tradi-
cionais nos confinaram. O currículo é lugar, espaço, território. O currículo é relação
de poder. O currículo é trajetória, viagem, percurso. O currículo é autobiografia,
nossa vida, curriculum vitae: no currículo forja-se nossa identidade. O currículo
é texto, discurso, documento. O currículo é documento de identidade (PADILHA
apud SILVA, 2012, p. 193).
escolar. Não há como decidir ações somente com um segmento da escola quando
o assunto em questão são processos pedagógicos. Até porque não conseguimos
separar o que acontece dentro da escola, pois percebemos tudo interligado... Pe-
dagógico se relaciona com RH, com financeiro, com jurídico, com administrativo,
com relações interpessoais... Tudo está conectado!
Pensando assim, o Coordenador Pedagógico provoca esse mesmo processo
de reflexão com os pais, com as famílias, com o entorno da escola. E isto nos leva a
pensar que esse Coordenador Pedagógico deve ter primeiro (e se não tiver, deverá
buscá-lo) um grande conhecimento do contexto no qual está inserido. É preciso
conhecer para poder intervir e provocar mudanças.
Para realizar esse processo todo, a atuação do Coordenador Pedagógico foi
fundamental. A coordenadora pedagógica da Escola Estadual de Ensino Funda-
mental Mercedes Motta iniciou seu trabalho buscando conhecer a realidade na qual
está inserida. Primeiro, foram conversas aleatórias com alunos, pais, professores
e funcionários. Após isto, percebeu que o universo era muito complexo e decidiu
realizar a pesquisa sócio-antropológica. Mediou todo o processo, quantificou os
dados, estabeleceu relações e trouxe para a discussão da comunidade escolar.
Escutou todos os segmentos e foi juntando a teoria existente à realidade da
escola, que resultou numa grade curricular específica para a escola.
Do questionário aplicado, todas as questões nos levaram a compreender a
realidade que nos cerca; no entanto, para este estudo, focou-se na questão nº 36,
na qual de fato aparecem os interesses dos alunos, pais, professores e agentes edu-
cacionais. A questão pedia que enumerassem por ordem de interesse as áreas que
consideram mais importantes para serem trabalhadas na escola, ou aquelas que
mais lhes provocam interesse.
Os resultados obtidos nesta questão seguem a importância das seguintes
áreas: 1º) Esportes; 2º) Tecnologia; 3º) Educação; 4º) Segurança; 5º) História; 6º)
Economia; 7º) Religião; 8º) Beleza; 9º) Arte e cultura; 10º) Política; 11º) Saúde; 12º)
Meio Ambiente; 13º) Jogos, ciências, direitos e deveres, novelas.
Na sequência apresentamos a análise dos dados, contrastando com as respostas
vindas dos professores e funcionários, que colocam a seguinte ordem de importân-
cia: 1º) valores éticos e morais; 2º) cuidado com o bem público; 3º) condições para
que o aluno aprenda afazeres básicos do dia a dia (como fazer comida, costurar,
limpar, jardinagem, etc...); 4º) capacidade de reflexão e análise crítica da realidade
e; 5º) capacidade de pensar soluções diante dos problemas encontrados.
Além disso, houve vários encontros individuais com alunos e pais quando
lhes era questionado: “se você pudesse escolher os componentes que gostaria de
ter na escola, podendo tirar ou incluir “disciplinas”, o que você escolheria?” Essa
conversa mais pessoal foi fator decisivo na concretização da proposta, porque se
criou um espaço de diálogo e escuta. Tomou-se essa decisão porque queríamos
sentir o que o aluno almejava.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Todo o processo realizado nos deu uma visão totalmente diferente da comu-
nidade, dos alunos, dos professores. Foram descobertas que hoje nos levam a olhar
tudo o que perpassa a escola de forma diferente.
Um fator importantíssimo a destacar foi a possibilidade que o processo trouxe
quanto à participação dos pais e alunos. Esse diálogo, troca e questionamento, es-
cutando seus quereres, suas aflições foi o auge do processo. Talvez não tenha ficado
claro no todo do processo, pois não foi somente a pesquisa sócio-antropológica
que nos deu os dados para conhecer, mas o trabalho de conversa da Coordenadora
Pedagógica diretamente com os alunos e pais. Esse “aproximar-se” espontaneamente
por meio do bate-papo informal, onde não havia a pressão do “eu estou sendo ques-
tionado para atingir tal objetivo”, é que trouxe a essência da comunidade. Durante
esse processo de conversa, a Coordenadora teve aprendizados dos alunos e pais sobre
assuntos que hoje estão no nosso currículo, como a horta e alimentação saudável.
Cabe aqui ressaltar a importância que o Coordenador Pedagógico possui
na escola e, em especial, no processo realizado. Ser um mediador de práticas, de
possibilidades, conseguindo trazer as concepções dos diferentes segmentos da
Comunidade Escolar, agregando valores a todos eles, proporcionando um caminho
que una todos esses anseios e necessidades a fim de proporcionar um aprendizado/
conhecimento melhor, é tarefa árdua e contínua, mas essencial para o bom anda-
mento das atividades que perpassam a escola.
Nesta perspectiva, fica clara a importância do Coordenador Pedagógico como
formador dos demais colegas de trabalho. Levá-los a refletir sobre sua prática, o
que ensinam, por que ensinam, como ensinam, para que ensinam, é uma ação
constante. Ser capaz de interrelacionar este universo com o universo do aluno, dos
pais, dando-lhes um significado concreto é o que torna esta função um desafio,
mas também uma magia. É necessário que esse profissional tenha a capacidade da
escuta, livre de autojulgamentos, bem como, uma base teórica muito consistente,
para que não caia em “achismos” e mantenha sempre um olhar e pensar crítico
diante das situações.
Outra questão importante é que este trabalho é contínuo dentro da escola,
pois, com a implantação do Tempo Integral, o quadro de RH da escola modificou-
-se drasticamente. Todos, porém, estão buscando conhecer esta realidade com
base no que já foi trabalhado, acrescentando suas percepções e, embora ainda não
tenhamos colocado tudo no papel, já há mudanças.
Foi necessário muito diálogo, pesquisa e trocas de experiências com outras
escolas, entidades. Hoje, nosso Plano de Estudos está sendo consolidado, com uma
visão de que se trata de uma primeira experiência, a ser modificada no próximo ano
e assim sucessivamente. Temos impregnada em nós esta flexibilidade, nas práticas,
ações e inclusive, nas burocracias tão presentes na escola atualmente.
Sabemos que nosso currículo não revela 100% a realidade de nossa comuni-
dade escolar, mas não desistimos desta luta. Para que esse estivesse plenamente de
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A GESTÃO ESCOLAR E A
COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA
Mariângela Bairros
Patrícia Souza Marchand
INTRODUÇÃO
O presente artigo tem como objetivo apresentar pesquisa realizada junto aos
coordenadores pedagógicos de escolas da rede pública do RS que participaram do
Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Coordenação Pedagógica, desenvolvido
no âmbito do Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica Pública
ofertada pelo MEC em parceria com a UFRGS no ano de 2015/2016. O objetivo da
pesquisa, por sua vez,foi reconstituir o perfil desses coordenadores pedagógicos.
O Curso de especialização Escola de Gestores já possui uma década de acú-
mulo na formação de gestores e coordenadores escolares que atuam na educação
básica. Avanços e retrocessos frente aos vinte anos de normatização da gestão
democrática na LDBEN são aspectos importantes que nortearam a pesquisa e que
apresentaremos neste artigo.
A pesquisa foi realizada através da aplicação de um questionário que contou
com a participação de 189 coordenadores pedagógicos. O objetivo da pesquisa,
além de traçar o perfil dos participantes, foi verificar a possibilidade de retorno de
suas aprendizagens para as suas escolas.
O curso de especialização Escola de Gestores está em sua segunda edição e
trabalha com um conjunto de questões que consideramos cruciais para a educação.
A qualidade da educação materializa-se na medida em que coordenadores pedagógi-
cos aprofundam conhecimentos relativos à gestão educacional democrática, projeto
pedagógico, educação inclusiva, domínio das novas tecnologias, financiamento da
educação, dentre os vários temas abordados durante o curso.
O curso de especialização Escola de Gestores esteve junto com os coordena-
dores pedagógicos durante um ano e meio, aprofundando temáticas que necessitam
permanente reflexão: o tempo necessário para a formação de uma criança, que é
longo e exige, no mínimo 14 anos, considerando o ensino obrigatório dos 4 aos 17
anos. Falar em educação é falar em décadas, logo, uma educação comprometida
com a qualidade tem que ter um compromisso com a necessária urgência de qua-
lificação social dos docentes que estão dentro das escolas, à frente da formação de
alunos da educação básica.
Os processos educacionais são dinâmicos, mutáveis e exigem tempo e recursos
que acompanhem tais transformações e demandas.
A qualidade da educação almejada deve ser definida em consonância com o projeto
social que deverá orientar a construção de uma política nacional. A educação deve
ser compreendida como espaço múltiplo em que diferentes atores, ambientes e
dinâmicas formativas se interrelacionam e se efetivam por processos sistemáticos
e assistemáticos. A educação é intrinsecamente articulada às relações sociais mais
amplas, podendo contribuir para sua manutenção, como para sua transformação
(CONAE, 2014, p. 145).
terminada escola e outra não. O curso procurou debater um sistema de valores que
envolvem uma elaboração teórica e empírica, a partir de relações sociais, políticas,
econômicas e culturais. Um primeiro parâmetro deste curso que gostaríamos de
destacar diz respeito à educação como um processo emancipador.
METODOLOGIA
A partir dos dados coletados, conforme figura 3, constatou-se que 55,6% dos
coordenadores atuam na rede pública estadual do RS e 44,4% da rede pública de
diferentes municípios.
Podemos verificar na figura 6, no que diz respeito à carga horária para a re-
alização do Curso, que 47,1% informou dedicar-se até 10 horas semanais, 24,3%
entre 11 e 15 horas semanais, 19,6% menos de 10 horas, 6,9% dedicou entre 16 e
20 horas semanais e 2,1% dedicou mais de 20 horas semanais.
Estes dados estão relacionados com a liberação de carga horária pelos sistemas
de ensino para a realização do curso, ou seja, o fato de os professores coordenadores
na sua grande maioria terem realizado o curso de forma simultânea à realização
de outras atividades na escola reflete no menor tempo de dedicação que esses
profissionais tiveram para a realização do Curso.
Como mostra a figura 9, apesar das dificuldades enfrentadas por grande parte
dos cursistas principalmente no que diz respeito ao suporte das redes de ensino
para que eles pudessem realizar o curso com tranquilidade e qualidade, 54% dos
cursistas indicaram ser alta a possibilidade de que os estudos poderiam ser aplica-
dos na escola em que atuam; dentre o conjunto dos cursistas, 33% indicaram ser
muito alta a possibilidade de levar para a escola os estudos realizados. O percentual
de 87% dos participantes dizendo ser possível reproduzir seus estudos na escola
é um ótimo índice.
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INTRODUÇÃO
A educação brasileira tem sido pauta recorrente nos grandes debates nacionais
e tem, nesse percurso, motivado a análise do já posto e a construção de novas pro-
postas e alternativas no sentido de transformar a escola em um espaço democrático
de tomada de decisões, que garanta as condições de aprendizagem e de formação
humana a todos e todas.
No movimento de redemocratização do país, deu-se também a democratiza-
ção da educação. Essa se fez não somente com a garantia de acesso e permanência
na escola, mas também com a garantia de espaços para o exercício democrático
através da participação.
Sendo assim a educação passa a ser entendida como impulsionadora das
transformações por que passa a sociedade. A gestão da escola pública passa tam-
bém por transformações, especialmente após a Constituição Federal de 1988, que
abriu espaços para a participação da sociedade. Nesse período, os profissionais da
educação apropriaram-se do seu papel e lutaram pela construção de uma escola
democrática, que oportunizasse o acesso a todos e que garantisse condições de
trabalho, valorização e qualidade do ensino público.
Com certeza, nestes últimos anos, houve muitos avanços na educação,
governos, instituições, profissionais da educação e comunidade escolar tiveram
oportunidade de repensar seu papel na educação, não como meros cumpridores
de papéis, leis, normas e decretos; mas como sujeitos envolvidos neste processo em
construção que quer sair de uma relação autoritária para uma relação democrática
em que o coletivo prepondere sobre interesses individuais.
1 Função de inspetor escolar criada por meio dos Decretos-Lei nº 19.890/31 e nº 21.241/32 no
contexto da Reforma Francisco Campos.
escolares e, com isso, tem uma escuta diversificada de diferentes olhares sobre
situações idênticas. Dessa forma, cabe ao Coordenador propor ações, projetos e
possibilidades que possam construir uma gestão democrática na escola, com a
participação dos diferentes atores na perspectiva de atender a diversidade, incen-
tivar a construção do conhecimento e promover a aprendizagem. Avaliar o Projeto
Político-Pedagógico numa constante reflexão possibilita um redimensionar prá-
ticas a partir de uma análise detalhada do proposto e do efetivamente realizado, e
essa ação deve ser incorporada à atuação do Coordenador Pedagógico de forma
participativa.
O Coordenador Pedagógico precisa impor-se enquanto mediador e articulador
do processo educativo, não aceitando o acúmulo de tarefas que facilmente lhe são
delegadas devido ao compromisso político e pedagógico na gestão da escola, que
perpassa elaborar horários, contar horas aulas, substituir professores, recepcionar
pais e alunos.
Lima e Santos (2007, p. 79) afirmam que várias metáforas são construídas
com relação ao trabalho do Coordenador Pedagógico:
[...]a de “bom-bril” (mil e uma utilidades), a de “bombeiro” (o responsável por apagar
o fogo dos conflitos docentes e discentes), a de “salvador da escola” (o profissional
que tem de responder pelo desempenho de professores na prática cotidiana e do
aproveitamento dos alunos). Além destas metáforas, outras aparecem definindo-o
como profissional que assume uma função de gerenciamento na escola, que atende
pais, alunos, professores e também se responsabiliza pela maioria das “emergências”
que lá ocorrem, isto é, como um personagem “resolve tudo” e que deve responder
unidirecionalmente pela vida acadêmica da escola.
colocam as políticas relativas à gestão escolar que não alcançam os índices desejados
em um marco de governo, ou de governos que se sucedem.
Isso porque, entende-se que a melhoria da qualidade da educação pública
tem sido a justificativa, de diferentes esferas de governo, para reformas realizadas
na política educacional brasileira ao introduzirem nas redes de ensino uma gestão
mais eficaz, com melhores resultados e aproveitamento com um ensino escolar
qualificado.
Com esse intuito, tais políticas reformadoras sinalizam o movimento de em-
pregar eficiência e competitividade nos sistemas de ensino, provocando alterações
que, considerando esses preceitos, estabelecem a relação de um novo modelo de
gestão pública, incorporado pela atuação do Terceiro Setor com parcerias do público
não-estatal que, conforme pesquisas de Theresa Adrião e Vera Peroni, trata-se de
uma “transferência da responsabilidade sobre a oferta das políticas sociais da esfera
estatal para as instâncias de natureza privada dos mais diversos formatos: empresa,
sociedades sem fins lucrativos, fundações, etc.”. (ADRIÃO e PERONI, 2005, p. 142)
Em consequência, para Clarke e Newman (2012, p. 353), o “novo geren-
cialismo” como forma de governo é “para pensar sobre projetos de reforma do
estado”. Desde então, no caso brasileiro, partindo de mecanismos de controle e de
resultados, as políticas implementadas buscam alternativas de mudanças na ges-
tão da escola pública para superar a crise do capital, por meio, principalmente, de
estados e municípios redefinindo seus papéis. Há, portanto, uma reconfiguração
da organização e da gestão da educação pública que incorpora uma nova lógica
de administração pautada a partir de ferramentas e estratégias empresariais, com
o intuito de “minimizar custos” do setor público (BATISTA, 2013, p. 21).
Segundo Batista “esta questão aparece com frequência em pesquisas sobre
políticas e gestão da educação no Brasil” (2013, p. 21). A autora cita Azevedo (2001),
Peroni (2003), Sander (2006) e Oliveira (2007), para dizer que:
[...] existe na atualidade um movimento na sociedade capitalista que introduz na
agenda dos Estados nacionais em âmbito global um modelo de gestão pública
norteado por pressupostos oriundos de organismos internacionais e baseados em
paradigmas do sistema econômico. Trata-se de estratégias governamentais orien-
tadas por métodos e técnicas do setor privado para a gestão do setor público cuja
ação recai sobre uma administração voltada para o critério de eficiência gerencial,
no sentido de racionalizar processos de gestão com o objetivo de minimizar custos
para os governos. (BATISTA, 2013, p. 21)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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INTRODUÇÃO
1 Tomando por base estudos de Furlan (2008), Fernandes (2013), Pires (2014) e Lima (2016).
supervisão escolar foi criada em um contexto que direcionava para uma atuação
de controle sobre o trabalho dos professores. Com a redemocratização política
no país a partir da década de 1980, foi possível verificar o amadurecimento do
movimento sindical e do debate sobre a reformulação do modelo político, com
a promoção de eleições diretas e promulgação de uma nova Constituição. A luta
por um regime político democrático e participativo ganhou força, sendo preciso
levar para dentro das escolas novas configurações dos papéis dos seus diferentes
profissionais. Segundo estudo de Lima (2016),
ocorreu, então, a pressão para que a função de controle e fiscalização do trabalho
docente fosse substituída no ambiente escolar pela função de acompanhamento
das atividades pedagógicas de planejamento e avaliação. Em alguns Estados, o
supervisor redimensionou suas atribuições para cumprir com essa função. Em
outros, começou a ser usado o termo “Coordenador Pedagógico” para designar
o professor que passaria a exercer esta função de apoio e organização do trabalho
docente em colaboração com o supervisor. Assim, a partir da década de 1980, passa
a ser possível encontrar em documentos oficiais o uso da expressão Coordenador
Pedagógico (LIMA, 2016, p. 48).
passam a ter uma presença sistemática por toda a década, reapresentando, perante
o governo federal e secretarias estaduais, a importância do sistema educacional
para uma sociedade capitalista, as formas como ele deve ser monitorado e o papel
que os atores sociais e históricos têm dentro dele no desenvolvimento dos objetivos
traçados por tais órgãos na equiparação a outras economias capitalistas.
Dessa forma, a educação brasileira passou por reformas em sua estrutura e
orientações, reformas essas que mesclaram conquistas da transição democrática
com referências do ideário neoliberal2, destacando-se as seguintes: redistribuição de
recursos, descentralização da execução do gasto, descentralização, desconcentração
dos recursos e funções. As principais mudanças encaminharam a redefinição dos
currículos, da gestão e da avaliação do sistema educacional.
Nos anos 2000, com o término do governo Fernando Henrique, um novo
paradigma de administração pública foi sustentado no período Lula da Silva, vol-
tado para promover mais inclusão social e combater as desigualdades sociais. A
partir daí, o Estado é que teria que se adequar a essa premissa, pois modernizar e
transformar a administração pública para torná-la mais eficiente e eficaz implicava
necessariamente torná-la a serviço e sob a participação e controle de seus usuários.
A reforma do Estado era possível, desde que atendesse às reais necessidades do
cidadão e contemplasse políticas públicas de qualidade, abrangentes e democráticas.
(SOUZA, 2003)
Na educação, o MEC apresentou em 2007 o Plano de Desenvolvimento da
Educação (PDE), com o objetivo de comprometer os estados e municípios brasilei-
ros com a melhoria da qualidade da educação. A partir daí, inúmeros programas e
políticas públicas de educação passaram a ser implementados nas escolas públicas
brasileiras3. Entre eles, diferentes modalidades do Programa Dinheiro Direto na
Escola (PDDE): PDE escola, PDDE escola aberta, PDDE água na escola, acessi-
bilidade, educação integral, escola do campo, escolas sustentáveis, entre outros.
Frente às inúmeras políticas e demandas destinadas às instituições públicas de
ensino no Brasil, ocorreu uma intensificação no trabalho exercido pelos gestores
escolares, entre eles os coordenadores pedagógicos, que tiveram suas responsabili-
dades ampliadas, principalmente em ações avaliativas, administrativas e financeiras.
Devido a isso, assumiram diferentes responsabilidades na gestão escolar, tais como:
questões de aprendizagem, diversidade, inclusão, gestão democrática, acompanha-
mento de avaliação externa, avaliação institucional, entre outras tarefas ampliadas
a partir de reformas econômicas e políticas e a inserção dentro da globalização.
Desta forma, a CD nas escolas públicas de educação básica precisou desenvol-
ver a capacidade de trabalhar com as diferenças étnicas, raciais, religiosas, físicas,
entre outras. Coube ainda a esse profissional articular os processos educativos no
âmbito da escola. As propostas pedagógicas assumiram um caráter mais progres-
4 Barroso (2000), Cury (2005), Dourado (2001, 2006, 2007), Luce e Medeiros (2006), Paro (2000,
2001, 2007) Oliveira (2006), Vieira, (2007), entre outros.
[...] gestar é produzir o novo e gestar é crescer junto. Gestar é um ato pelo qual se
traz em si e dentro de si algo novo, diferente: um novo ente. Isso significa que o
gestor não pode ter um contrato com a desesperança. A gestão implica um ou mais
interlocutores com os quais se dialoga pela arte de interrogar e pela paciência em
buscar respostas que possam auxiliar no governo da educação segundo a justiça.
Nesta perspectiva, a gestão implica o diálogo como forma superior de encontro das
pessoas e solução dos conflitos (CURY, 2005, p. 11).
Para exercer a autonomia escolar, Veiga (2008) defende que há quatro dimen-
sões consideradas básicas para o bom funcionamento de uma instituição educativa,
as quais, segundo ela, devem ser relacionadas e articuladas entre si. São elas:
Nas últimas décadas, a avaliação e as formas de avaliar têm sido tema predomi-
nante nos discursos e textos da política educacional brasileira como estratégia para
melhoria da qualidade da educação básica. Em cada período, a avaliação assume
diferentes modelos e funções. Entre avanços e retrocessos, seguimos com o desafio
de superar os índices do fracasso escolar, estabelecendo uma forma de avaliação
educacional para além da lógica classificatória que resulta em reprovação e faz com
que muitos alunos percam o interesse pela escola e a abandonem. Além disso, nos
últimos anos, aumentou o espaço ocupado pelas avaliações externas no contexto
das políticas públicas de educação em nível nacional, com poucas experiências
no uso de avaliações internas. A avaliação institucional (AI) na educação básica
ainda não se constitui uma prática consolidada no contexto educacional brasileiro.
5 Barreto e Pinto, 2001; Vianna, 2005; Castro, 2007; Freitas, 2007; Oliveira, 2011; Ronca, 2011;
Bonamino e Sousa, 2012.
6 Gatti, 2004 e 2013; Peroni, 2009; Bonamino, 2002; Bonamino e Sousa, 2012; Sousa, 2006 e
2013; Araújo, 2012; Werle, 2011 e 2012; Ronca, 2013.
7 http://portal.inep. gov.br/enade
8 http://portal.inep. gov.br/superior-sinaes
11 http://www.observatoriodopne.org.br/uploads/reference/file/439/documento-referencia.pdf
12 Ação Educativa, UNDIME, Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Fórum Nacional de
Educação (FNE), Conselho Nacional de Educação (CNE).
13 Palestrantes do seminário: Adolfo Samuel Oliveira e Rosilene Cerri (INEP); Antonio Carlos
Ronca (CNE); Daniel Cara (Campanha Nacional Pelo Direito à Educação); Elba Sá Barreto e
Sandra Zákia (USP); Mara de Sordi (UNICAMP); Denise Carreira (Ação Educativa).
14 http://www.acaoeducativa.org.br/index.php/educacao/48-acao-na-escola/77-acao-na-escola-
-indicadores-da-qualidade-na-educacao
15 Brandalise, 2010, 2011, 2015; Peroni, 2009; Ronca, 2013; Sousa,, 2013; Sordi e Ludke 2009;
Sordi, 2012.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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(Orgs.). Vinte e cinco anos de avaliação de sistemas educacionais no Brasil: implicações nas redes de
Claúdia Zank
Patricia Alejandra Behar
Este capítulo tem por objetivo discutir recursos digitais que podem oportuni-
zar e favorecer o diálogo nas práticas pedagógicas, caracterizando-se, assim, como
ferramentas dialógicas.
Para tanto, parte do pressuposto de que tanto os recursos quanto as práticas
estão sempre relacionados a uma concepção de educação. Neste viés, são compreen-
didos como produtos da ação humana e, portanto, “[...] carregam consigo relações
de poder, intenções e interesses diversos”. (OLIVEIRA, 2001, p. 102)
O diálogo freireano, perspectiva adotada por este texto, está presente em uma
concepção de educação que entende a participação popular e a gestão democrática
como partes de uma “pedagogia participativa” que influenciam positivamente a
aprendizagem. (GADOTTI, 2014)
Assim, com o intuito de atingir o objetivo proposto, o capítulo apresenta na
próxima seção as práticas pedagógicas dialógicas a partir de uma compreensão
do diálogo freireano. Na sequência discute as ferramentas chat, fórum e editor de
texto coletivo, dando foco às duas últimas. Após, apresenta a análise e discussão
dos dados e, por fim, as considerações finais.
FERRAMENTAS DIALÓGICAS
Ainda que Freire não tenha podido vivenciar as interações nas redes sociais
nem experimentar os diversos recursos digitais disponíveis atualmente na inter-
net, seu pensar, sempre voltado para as possibilidades de uma educação crítica
e criticizadora, não se opunha à incorporação das Tecnologias de Informação e
Comunicação (TIC), desde que a serviço dessa educação. Gadotti (1997) conta que
o educador sempre buscou a utilização de recursos audiovisuais e experimentou
vídeo, televisão e mesmo informática a fim de proporcionar experiências interativas
nos processos de ensino e aprendizagem. Contudo, como salienta Gadotti (1997),
Freire não aceitava a utilização acrítica dessas tecnologias.
Com foco na concepção dialógica de Paulo Freire, este texto retoma os estudos
de Abegg (2009) e David (2010), que realizaram pesquisas com diferentes recursos
digitais a partir de uma perspectiva freireana. A pesquisa de David (2010) buscou
construir um sistema de análise, incorporando a categoria “Diálogo” (na perspec-
tiva freireana) para compreender as interações nas ferramentas fórum e chat. Já a
pesquisa de Abegg (2009) teve por objetivo investigar o potencial da mediação das
TIC livres1, por meio da ferramenta Wiki, como modo de produção colaborativa
no processo escolar de escopo dialógico-problematizador.
O termo Wiki é utilizado, segundo Abegg (2009, p. 81), “para definir o software
colaborativo que cria coleções de páginas interligadas formando um hipertexto ou
hipermídia”. Estas páginas podem ser editadas, ou seja, os participantes de um Wiki
podem alterar seu conteúdo, permitindo a escrita colaborativa (MACEDO, 2010;
ABEGG, 2009). Neste sentido, Wikis são plataformas de edição coletiva.
Para Abegg (2009, p. 72), a atividade escolar mediada pelo editor Wiki “pode
ser entendida como palavra viva, traço do diálogo existencial efetivamente ocorrido.
Em outras palavras, pode expressar a elaboração da comunicação e colaboração”. A
autora (2009) entende, portanto, que a participação em uma atividade Wiki possi-
bilita ao estudante ser sujeito da produção coletiva, de modo a se reconhecer como
coautor e codesenvolvedor. Neste sentido, por meio do editor de texto Wiki se pro-
duz coletivamente e colaborativamente, e onde há colaboração, ou “co-laboração”
(FREIRE, 2014), há comunicação, há diálogo. (ABEGG, 2009)
Segundo David (2010), a educação à distância pode ser uma oportunidade
de colocar em prática a pedagogia do diálogo, uma vez que conta com uma série
de ferramentas de comunicação (chat, fórum, mural, blog), as quais “permitem aos
alunos expressarem e reformularem seus pontos de vista várias vezes ao longo do
curso” (DAVID, 2010, p. 49).
David (2010) retoma os princípios do diálogo freireano2 e busca verificar se os
pesquisados conseguem colocar esses princípios em prática através das interações
no fórum e no chat, comprovando, assim, a prática do diálogo.
A pesquisa de David (2010, p. 206) concluiu que “a presença das características
do Diálogo freireano confirmou a possibilidade não somente de observar, como
também de vivenciar a dialogicidade em interações educacionais à distância”. As
pesquisas realizadas por Abegg (2009) e David (2010) abordam, assim, três recursos
digitais que podem ser utilizados como apoio a práticas pedagógicas dialógicas
na perspectiva de Freire: o fórum, o chat e o editor de texto Wiki (ao ser usado
coletivamente).
Em uma perspectiva computacional, essas ferramentas também são caracte-
rizadas como dialógicas, uma vez que:
Dialogicidade, ou dialogismo, refere-se à interação textual, ao diálogo que um texto
estabelece com outros textos. O princípio dialógico contrapõe-se ao monológico,
que se refere à prática do monólogo, que não conversa, que é autocontido, sem
referência a outros textos (PIMENTEL; GEROSA; FUKS, 2011, p. 85).
FÓRUM
O fórum surgiu nos anos 1970 e, desde então, cada vez mais as pessoas estão
aprendendo a discutir e debater, seja por fins profissionais, educacionais ou por
outros interesses, por meio de sistemas computacionais (PIMENTEL; GEROSA;
FUKS, 2011).
Quando implementados em redes sociais e AVA (Ambientes Virtuais de
Aprendizagem), os fóruns fazem parte de um groupware5, ou seja, fazem parte de
um conjunto de ferramentas ou funcionalidades que dão suporte a interações e
atividades de trabalho, sejam essas concretas, como um texto, ou abstratas, como
a tomada de decisões (ZANK, 2010).
Pimentel, Gerosa e Fuks (2011) nomeiam o conjunto de ferramentas de co-
municação de um groupware como serviço de comunicação e classificam os fóruns,
dentro deste serviço, como sistema de discussão. Os autores (2011) destacam que
sistemas de discussão geralmente são organizados por tópicos. Já as mensagens
“são organizadas hierarquicamente em função do encadeamento entre as respostas
(threads)” (PIMENTEL; GEROSA; FUKS, 2011, p. 75).
Contudo, a organização das mensagens pode variar de acordo com as confi-
gurações de cada fórum (GUISSO et al, 2012), ou seja, na educação, “dependendo
do AVA, a visualização das mensagens postadas pode acontecer de forma linear e/
ou hierárquica, cronológica ou por assunto” (AZEVEDO, 2011, p. 48).
Conforme aponta Kratochwill (2006), a ferramenta fórum é uma das mais uti-
lizadas para os processos de ensino e aprendizagem mediados por um AVA. Guisso
Assim, não basta que o professor crie um fórum, é preciso planejamento. Para
Kratochwill (2006, p. 67), o fórum não pode ser aberto como mais uma atividade
para os alunos. É preciso definir os objetivos que se pretende atingir ao utilizar
esta ferramenta.
A ausência de planejamento e de mediação pode distanciar o fórum daquilo
que Kratochwill (2006, p. 67) aponta como “seu maior propósito, ou seja, o debate
pautado na dialógica”. A autora (2006, p. 67) comenta as características dialógicas
do fórum:
Torna-se interessante a dinâmica desenvolvida no fórum pela sua perspectiva dialó-
gica. Todos os participantes têm a oportunidade de se expressar, interferir e receber
interferências, se constituir a partir da constituição do outro e da percepção do
outro sobre a expressão do primeiro. Dentro desse processo dialógico, a autonomia
e a autoria se constituem em respeito à alteridade, à individualidade e ao mesmo
tempo em que coletivamente.
7 No original: “...an interative and social process that involves a team focused on a common ob-
jective that negotiates, coordinates, and communicates during the creation of a common docu-
ment”.
8 Termo adotado por este estudo para se referir à produção textual realizada coletivamente e à
distância por meio de um groupware. Para processos não apoiados pelo computador, o estudo
utiliza “escrita coletiva”.
9 Serviço online que permite a criação e armazenamento de arquivos na nuvem do Google. Conta
com editor de texto, planilha, formulário, etc. Disponível em: <https://www.google.com/intl/
pt-BR_ALL/drive/>. Acesso em: 02 set. 2017.
10 O ETC (Editor de Texto Coletivo) foi desenvolvido pelo NUTED/UFRGS (Núcleo de Tec-
nologias Educacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e está disponível em:
<<http://nuted.ufrgs.br/, etc/>. Acesso em: 16 set. 2017.
11 PBWORKS. Online teamcollaboration. [2016]. Disponível em: <http://www.pbworks.com/>.
Acesso em: 13 out. 2016. Mais detalhes sobre o PBworks em Zank (2010) ou em Macedo, Zank
e Behar (2013).
Para Costa (2008), o que se espera de uma produção textual realizada cole-
tivamente é que seja colaborativa e se dê a partir da confiança mútua. No entanto,
assim como a escrita, também a colaboração e a confiança são construídas. Neste
sentido, em grupos em que não há nem confiança nem colaboração, o produto
final pode não ser tão bom. Para Bustos Sánchez (2009), o compartilhamento de
responsabilidades (ler os materiais, se encontrar nos espaços de comunicação,
distribuir as tarefas, melhorar seu texto e dos colegas) é fator fundamental para
um texto bem acabado.
Deve-se destacar, contudo, que nem sempre o texto/produto final é o que
importa em uma prática pedagógica utilizando edição de texto coletivo. Depen-
dendo do objetivo do professor, o processo de escrita pode ser mais relevante, pois
é durante o processo que “se favorece o pensamento reflexivo (sobretudo se os
participantes colocam em ação mecanismo para defender e explicar melhor suas
ideias)” (BUSTOS SÁNCHEZ, 2009, p. 38, tradução nossa12). É durante o processo
de construção textual que a função cognitiva é colocada em ação e a escrita torna-se
“ferramenta do pensamento” (BUSTOS SÁNCHEZ, 2009, p. 34):
Para autores como Miras (2000), escrever reflexivamente supõe algo mais que o
domínio das estratégias de redação, supõe a capacidade e a intenção de refletir
e questionar os próprios conhecimentos, a habilidade de identificar os aspectos
confusos e contraditórios do texto, a capacidade de ler de maneira mais estratégica
e, sobretudo, a capacidade de reler-se (BUSTOS SÁNCHEZ, 2009, p. 35, tradução
nossa13).
A função cognitiva não anula a social, pois o autor, ao transformar suas ideias
em um discurso por escrito, sempre pensa nos possíveis destinatários (TINAJERO,
ROJAS-DRUMMOND, 2012). Neste sentido, para Bustos Sánchez (2009), a escrita
tem duas funções, uma comunicacional ou interpessoal (escreve-se para interagir
ou se comunicar), e outra representativa ou ideacional (escreve-se para expressar
ideias, sentimentos, conhecimentos).
Para Tinajero e Rojas-Drummond, a edição de texto coletivo é “uma forma
social de pensar”, um convite ao debate e à reflexão conjunta:
12 No original: “se favorece el pensamiento reflexivo (sobre todo si los participantes ponen em
marcha mecanismos para defender o explicar mejor sus ideas)”.
13 No original: “Para autores como Miras (2000), escribir reflexivamente supone algo más que el
dominio de las estrategias de composición, supone la capacidad y la intención de reflexionar y
cuestionar los propios conocimientos, la habilidad de identificar los aspectos confusos y con-
tradictorios en el texto, la capacidad de leer de manera estratégica y, sobre todo, la capacidad de
releerse.”
14 No original: “En la escritura colaborativa la noción dialógica del proceso de composición es evi-
dente ya que los participantes comparten, integran, analizan y critican ideas para un propósito
determinado. Además, cada expresión es parte de un todo más amplio, en el que los significados
interactúan, entran en conflicto y afectan el sentido de la conversación y del texto.
15 O ETC (Editor de Texto Coletivo) foi o ambiente virtual que serviu de espaço para a coleta de
dados desta pesquisa. Está disponível em: <<http://nuted.ufrgs.br/, etc/>. Acesso em: 16 set.
2017.
16 Os cursos foram oferecidos na modalidade semipresencial em 2015/02, 2016/01 e 2016/02.
Assu: No fórum achei assim...uma coisa mais light, mais tipo...assim, ah,
uma forma prazerosa do pessoal se comunicar, coisa e tal, né? Porque, às
vezes, não era só coisa da... eu gostava muito das coisas que a Ale escrevia,
que às vezes não era só sobre criticidade. [...] Eu achava aquilo muito legal
e me familiarizava mais, assim, me aproximava dela. Então sempre que
eu escrevia alguma coisa eu dava preferência a responder pra ela, porque
era as coisas que eu gostava de ler.
17 O anonimato dos sujeitos participantes da pesquisa foi preservado a partir da criação de codi-
nomes.
Alima: Às vezes eu tava preparando uma fala sobre uma fala que tava
acima e aí, no “Responder para”, e daí outra pessoa já tinha respondido e
quando eu respondia, já aparecia muito lá [...]
Ytan: [...] mesmo que eu não conseguisse parar para escrever e contribuir
tanto quanto eu gostaria, mas achei um espaço bom, né?
No diálogo travado entre Freire e Shor (1986), fica claro que o aluno, como
sujeito crítico do processo de conhecimento, precisa compreender que esse processo
exige seriedade e respeito. No caso de práticas pedagógicas que se realizem no fó-
rum, esta seriedade e respeito se concretizam na participação efetiva dos alunos. É o
caso da docente Assu que assim explicou porque um fórum longo não a atrapalhou:
Broch (2008), que trata da edição de texto coletivo, refere-se a algumas dificul-
dades pelas quais podem passar os membros de uma produção coletiva. Uma delas
é a de tornar público o que se pensa, compartilhando com professor(a) e colegas
aquilo que considera que pode não estar correto. A análise dos dados sugere que
essa dificuldade também pode ocorrer com participantes de um fórum, pois ainda
Alima: [...] Até agora eu tô falando contigo e eu tô pensando... talvez até foi
isso que me deixou com um pouco de medo do fórum, né? A gente não tá acos-
tumado com um espaço pra ti falar da tua ideia, pra ti expressar tua ideia.
Para Broch (2008), pode levar algum tempo para que o aluno se acostume
com a ideia de assumir o que escreveu. Foi o caso de Ait que não estava acostumada
a escrever em fóruns, mas após um tempo começou a se articular e, ao final, teve
uma participação ativa:
Élav: Mas eu acho que o fórum a gente pode lê, lê as opiniões, refletir, pro-
duzir opinião diferente, pesquisar. Então, assim, a nível de conhecimento,
eu acho que o fórum acabou sendo mais importante, assim, nesse sentido.
[...] então com o fórum a gente tem esse momento que a gente pode pesqui-
sar, depois voltar e fazer as leituras, né? Interagir. Então por causa das pos-
sibilidades, acho que o fórum acabou sendo o melhor aprendizado em si.
Oi Cláudia!!
Tentei marcar um encontro online e o Epil até concordou mas o Ona es-
tava totalmente sem tempo e o Epil acabou não aparecendo.. continuei o
texto sozinha mas não publiquei mais...vou tentar te enviar mais tarde
para dares uma olhada tá...
bjs
Élav: Tu [dirigindo-se à autora] fez um comentário ali [no texto], né? Foi
a única pessoa que interagiu comigo e quando a gente teve a proposta do
editor de texto, eu achei bastante interessante e disse: “Nossa, vamos poder
compor um texto juntos”. [...] Eu fiquei muito motivada, talvez, não sei se
é essa bem a palavra. Entusiasmada, eu acho, com a proposta do editor de
texto, da gente poder criar, compor um texto realmente juntos, né? E em-
bora eu não tivesse participação dos colegas, né? Mas quando tu interagiu
comigo ali achei bastante produtivo também.
18 “Escrever para interagir com outra pessoa ou para nos comunicarmos” (BUSTOS SÁNCHEZ,
2009, p. 35).
19 “Escrever para expressar conhecimentos, ideias, sentimentos, representarmos ou criarmos os
objetos de nosso pensamento” (BUSTOS SÁNCHEZ, 2009, p. 35).
20 O primeiro extrato corresponde a uma mensagem enviada para a tutora. O segundo extrato é
uma transcrição de trecho da entrevista realizada no último dia de aula.
21 O grupo de Élav era formado por três pessoas. Como um participante trocou de grupo e outro
evadiu, ela teve que realizar a edição de texto individualmente.
Ytan: [...] porque também eu escrevi muito sozinha o coletivo, né? Talvez
se as gurias tivessem escrito e inserido as ideias, enfim, de cada uma, teria
dado mais esse momento de reflexão e tal.
Onai: Mas a participação da Assu, embora ela ache que não, mas os tex-
tos que ela colocou foram muito bons, muito bem escritos. Eu fui sincero
quando falei para ela que ela escreve bem, né? Então, assim, não pela
quantidade, mas porque o que ela escreve teve muita qualidade.
Assu: Eu acho que o Onai foi muito bondoso comigo, porque ele lia as
coisas que eu escrevia, ele arrumava. Eu acho que eu não conseguia dizer
exatamente o que eu queria falar, né? E ele era muito bondoso, né? Então
ele foi muito generoso comigo, então por isso que eu me sentia muito a
vontade de escrever com ele.
Conjectura-se que a convivência com Onai pode ter sido fundamental para a
participação de Assu na edição, pois, como mostra o próximo extrato, inicialmente
ela estava insegura quanto às suas contribuições:
Assu: Às vezes a gente pensa, mas a gente não verbaliza porque, assim, se
pensa que não vai se contribuir muito. [...]
Eu lia, olhava, fazia no caderno. “Não, eu tenho que botar, eu tenho que
botar”, mas eu tinha medo de entrar e detonar com as coisas que já ti-
nham.
Élav: Talvez, não sei, né? Talvez o motivo deles não terem continuado te-
nha sido ficado inibido também, porque no momento que tu tem que pro-
duzir, tu tem que mostrar se sabe, se tu não sabe, tem que ir atrás.
Não é possível afirmar por que estes professores evadiram; afinal para além de
possíveis razões pessoais, há diversos enfrentamentos com os quais os participantes
da edição coletiva devem lidar: dificuldade em tornar a escrita pública, alteração
do texto pelos colegas, conflitos inerentes aos grupos, interpretações errôneas de
sua escrita, etc (MACEDO, 2010; BROCH, 2008).
Acrescenta-se a esses estranhamentos aqueles decorrentes das diferentes ex-
periências de vida e laborais, dos diferentes níveis de escolaridade, pontos de vista,
prioridades, objetivos, formas de se expressar, etc (BROCH, 2008):
Ait: Tu começa a escrever, daí tu tem teu estilo, aí eu tenho que te acompa-
nhar e ir produzindo, né? E não é fácil, né? Bem, assim, te instiga a buscar
coisa que tu até nem sabe. Então eu achei assim, bem legal, porque eu e as
gurias são de área bem diferente.
Iram: Porque, como a gente falou, assim, cada uma tem seu estilo, a gente
é muito diferente, né? E poder escutar mais a outra e a gente colaborar e
construir mais o texto. A gente ceder e concordar, né? Vê que há outros
pontos de vista. Então, eu acho assim, pra mim, foi o texto final assim, a
seis mãos, foi o que eu eu...
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É preciso refletir sobre as questões de acesso aos recursos digitais bem como
sobre o uso que estão fazendo deles nos espaços escolares. O entendimento é que
eles tanto podem servir para a manutenção de interesses de uma minoria como de
instrumento para obtenção da liberdade.
A utilização dos recursos digitais a partir de uma perspectiva freireana ca-
racteriza uma educação humanista e libertadora, que possibilita a autonomia, a
participação e, portanto, a gestão democrática dos espaços escolares.
A presente pesquisa confirma o fórum como espaço adequado às atividades
sociais, através das quais são criados e fortalecidos os vínculos/relações entre os
participantes. Nessa perspectiva, o fórum também é entendido como ferramenta
dialógica, no sentido de que possibilita comunicação/interação. Acrescenta-se que
o estudo encontrou indícios de que a criação de vínculos entre os sujeitos pode
ser fundamental ao seu engajamento e participação ativa nas discussões, o que
pode contribuir para os processos de ensino e aprendizagem. Destaca-se, nesta
perspectiva, que os sujeitos participantes evidenciaram experiências de aprendi-
zagem e possibilidades de modificar seu modo de pensar a partir das trocas que
realizaram no fórum.
Quanto às discussões na ferramenta, encontraram-se indícios de que debates
extensos, que geram um número grande de postagens, podem desmotivar a par-
ticipação. No entanto, também foram identificadas questões como falta de tempo
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APRESENTAÇÃO
2 No momento em que escrevemos esse artigo, outubro de 2017, as matérias jornalísticas em dife-
rentes suportes abordam a partir de diferentes posições um momento de crise econômica vivida
pela União, estados e municípios, tendo ocorrido, em período recente, pelo menos, duas inicia-
tivas do Governo Federal com impacto em termos de destinação de recursos para a Educação:
uma delas, a Emenda Constitucional 95/2016, que impõe um teto de gastos ao orçamento por
20 anos; a outra, a abertura da exploração da camada pré-sal do Petróleo ao capital estrangeiro,
com leilões já ocorridos neste mês, a partir de marco regulatório que desobrigou a Petrobrás de
ser a operadora única desta reserva com repercussão na destinação de recursos desta exploração
para a área da educação.
3 No texto original da CF/88, a faixa etária abrangida considerava até a idade de seis anos. Com
a implantação do ensino fundamental de nove anos de duração, as crianças de seis anos de
idade deixaram de ser público-alvo para ingresso na educação infantil (conforme Leis Federais
11.114/05 e 11.274/06). Cabe ressaltar, porém, que muitas crianças que ingressam na educação
infantil completam seis anos ao longo do ano, permanecendo com direito a essa etapa até o final
do ano.
4 Para saber mais sobre o CAQi, recomendamos o documento “Educação pública de qualidade:
quanto custa esse direito?”, publicado pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação (2011),
Disponível em: http://campanha.org.br/
idade de pré-escola. Expirada a vigência deste PNE, o balanço da década indicou que
o país havia alcançado parcialmente as metas previstas, obtendo um desempenho
insuficiente em relação à oferta de vagas para o grupo etário de até três anos. Os
microdados do Censo Educacional 2010 (INEP, 2014) apontavam o atendimento
a apenas 18,4% das crianças nessa faixa etária; já em relação à faixa entre quatro e
seis anos, os dados indicaram o alcance do percentual de 80,1% como média/país,
existindo ainda à época um milhão cento e cinquenta e quatro mil e quinhentos e
setenta e duas (1.154.572) crianças de quatro e cinco anos fora da escola, conforme
relatório publicado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e
pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação (2014).
Os dados deste relatório apontam também a desigualdade no acesso educa-
cional no país, evidenciando que esse dado positivo de alcance da meta para a pré-
-escola considera o país como um todo, enquanto dados censitários desagregados
por região, dentre outras características específicas populacionais, apontam que
no grupo ainda sem acesso a esse direito encontram-se, predominantemente, as
crianças não brancas, de famílias com renda de até ½ salário mínimo e cujos pais
não possuíam instrução formal ou possuíam ensino fundamental incompleto, o que
indica a importância de políticas públicas que visem à equidade no acesso a esse
direito (UNICEF, Campanha Nacional pelo Direito à Educação, 2014). Para além
dessa questão que implica políticas de equidade, estudos sobre a oferta de educação
infantil no país apontam ainda a falta de qualidade do atendimento ofertado, o
que também vem a prejudicar o aproveitamento desta oportunidade para aquelas
crianças com acesso a uma vaga (KAGAN, 2011).
Para fechar esse resgate dos instrumentos legais nacionais, ressaltamos que
o atual PNE, aprovado pela Lei 13.005/14, manteve a meta de atendimento a 50%
da população de até três anos, projetando-a para o final da sua vigência, sem pre-
visão de metas intermediárias, alargando o tempo para efetivação do percentual já
previsto no PNE anterior, e somando um total de 24 anos para que o país alcance o
atendimento a, no mínimo, 50% desta faixa etária, o que evidencia um baixo nível de
reconhecimento de nossos legisladores para uma demanda social dessa relevância.
No que se refere à idade pré-escolar, em adequação ao ordenamento legal
vigente, este Plano apresenta como meta para o ano de 2016 a universalização do
atendimento. Com os imperativos legais em relação à universalização da pré-escola
e considerando-se a determinação constitucional de que a oferta de educação
infantil é responsabilidade prioritária dos municípios (BRASIL, CF/88, art. 211, §
2º), ressalvadas as necessárias formas de colaboração entre a União, os estados e
os municípios, cabe aos últimos a maior parcela de responsabilização no sentido
de expansão e efetivação desse direito educacional.
Os documentos legais aqui trazidos, considerada a sua importância no ordena-
mento legal brasileiro, constituem a base para a organização das políticas públicas
educacionais em todas as suas etapas e modalidades, definindo aspectos centrais
Para os objetivos deste texto, além do resgate das legislações e dos documen-
tos normativos pertinentes, cabe destacar a atuação da COEDI/SEB/MEC, que,
nas últimas décadas, vem efetivando o papel deste Ministério como indutor para
a efetivação das políticas. Nas últimas décadas, foram produzidos e distribuídos
às redes, escolas e docentes, documentos orientadores desta oferta, pautados em
padrões de qualidade consensuados na área, apoiados em pesquisas de abrangência
nacional ou ainda resultantes de consultas públicas. Para destacar apenas alguns
destes materiais, hoje disponíveis on line no Portal do MEC, citamos: Critérios
para um atendimento em creche que respeite os direitos das crianças (1995; 2009);
Política Nacional de Educação Infantil: pelo direito das crianças de zero a seis anos
à Educação (2005); Parâmetros Nacionais de Qualidade para Educação Infantil
(2006); Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de Educação Infantil
(2006); Indicadores da Qualidade na Educação Infantil (2009).6
5 Esta seção resume ideias já apresentadas em outro artigo da autora (FLORES, 2017), em que a
revisão e a análise do ordenamento jurídico que consolida a educação infantil como primeira
etapa da educação básica brasileira se encontram mais detalhadas.
6 Estes são apenas alguns dos documentos existentes e disponíveis no Portal do MEC:<http://
portal.mec.gov.br/secretaria-de-educacao-basica/index.php?option=com_content&view=articl
e&id=12579:educacao-infantil>Acesso em: 27 de julho de 2017.
histórica, que pode servir de suporte ao planejamento desta oferta educacional. Para acesso ao
site da FEE: https://www.fee.rs.gov.br/
9 No site do MEC, encontram-se disponíveis relatórios da “Pesquisa Nacional Caracte-
rização das práticas educativas com crianças de 0 a 6 anos de idade residentes em área ru-
ral (MEC, 2012) com dados de demanda e oferta de educação infantil no campo para to-
das as regiões do país. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_
docman&view=download&alias=13620-relato-sintese-eb&category_slug=julho-2013-
pdf&Itemid=30192>
10 O anexo 3 do documento “Educação Infantil: subsídios para construção de uma sistemática de
avaliação” (BRASIL, MEC, 2012) apresenta um conjunto de questões que podem auxiliar aos
municípios no planejamento de sua oferta, contemplando aspectos aqui citados brevemente.
11 Os estudos do TCE-RS voltados à educação infantil encontram-se disponíveis no endereço:
<http://www1.tce.rs.gov.br/portal/page/portal/tcers/publicacoes/estudos/estudos_pesquisas/
educacao_infantil>
12 Mais detalhes sobre as ações deste Tribunal podem ser obtidas no estudo de Flores (2015).
13 Dentre estes, citamos o site PNE em Movimento. Disponível em: http://pne.mec.gov.br/monito-
rando-e-avaliando/monitoramento-das-metas-do-pne-2014-2024 Acesso em: 15 de outubro de
2017.
14 No trecho a seguir desta seção, com a autorização das autoras, retomamos e atualizamos algu-
mas ideias apresentados por Flores e Silva (2015a) em material didático produzido no âmbito de
projeto desenvolvido pela Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul para assessoramento técnico-pedagógico a municípios gaúchos que aderiram ao Proinfân-
cia.
16 No ano de 2017, no estado do Rio Grande do Sul, a rede pública estadual mantém oferta própria
em algumas escolas, além da existência de convênios de ajuste de vagas, a partir dos quais salas
disponíveis da rede estadual são cedidas para oferta de turmas de pré-escola pelos municípios.
Essa alternativa também está prevista na CF/88, como forma de colaboração entre estados e
municípios, visando assegurar a universalização da educação escolar obrigatória (CF/88, Art.
211, § 4º).
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
medida em que lhes é dado acesso a direitos sociais fundamentais; dentre esses,
a educação. A trajetória de consolidação desta etapa que aqui sintetizamos nos
apresenta hoje uma ideia de criança potente, produtora de cultura e sujeito de
processos de apropriação de conhecimentos, desde que a ela sejam dadas as devidas
oportunidades para tal. Em nosso entendimento, a oferta de educação infantil de
qualidade é um dos elementos fundamentais nessa construção, havendo ainda um
longo caminho a seguir em prol deste objetivo e sendo essa uma tarefa de todos:
Pensamos que é importante o comprometimento da sociedade brasileira na garantia
dos direitos das crianças de serem cuidadas e educadas com padrões de qualidade
garantidos em leis, normas e pareceres para a creche e a pré-escola. Foram anos de
militância de diversas frentes da sociedade que colocaram a infância e as crianças no
centro de uma política de garantia de direitos. (SANTOS E FLORES, 2017, p. 268)
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INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, o direito de todos à educação tem sido um dos pontos
mais debatidos na agenda das políticas educacionais de nosso país. O Brasil, desde
meados da década de 1990, mas com um acento muito forte na primeira década do
século XXI, vivencia um movimento gradual de importantes reconfigurações para
que todos os sujeitos tenham garantido e efetivado o seu direito à escolarização.
Nesse processo, além de um movimento que objetiva efetivar condições que aten-
dam a todos no espaço da escola comum, passamos de uma ênfase na administração
para a gestão educacional (KLAUS, 2011). Essa mudança de ênfase situa-se em um
modelo de gestão democrática que convoca todos à participação e está alinhada a
uma racionalidade de mercado, buscando promover um espaço educacional que
constitua formas de vida adequadas a uma lógica empreendedora.
Diante dos deslocamentos políticos que o país tem vivido para colocar em
funcionamento a educação inclusiva, como questão norteadora da discussão que
aqui apresentamos temos a gestão escolar e os desafios para a efetivação da política
de inclusão escolar das pessoas com deficiência. Para desenvolver essa discussão,
elegemos como corpus de análise os seguintes documentos: Política Nacional de
Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva (2008), que trata da in-
clusão de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades/superdotação na escola regular; Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de
2009, que promulga a Convenção Internacional sobre os direitos das pessoas com
deficiência e seu protocolo facultativo, assinados em Nova York em 30 de março de
2007; Resolução CNE/CEB nº 4, de 2 de outubro de 2009, que institui as diretrizes
operacionais para o atendimento educacional especializado (AEE) na Educação
Básica, modalidade Educação Especial; Decreto nº 7.611, de 17 de novembro de
inclusão escolar de pessoas com deficiência tem se potencializado nas últimas três
décadas. Nessa articulação, a inclusão deixa de ter um enfoque exclusivo no acesso
e passa a investir amplamente em condições de permanência, de participação e de
aprendizagem, considerando que esse é o sentido global de uma educação de qua-
lidade voltada para todos. Ao serem efetivadas muitas das necessidades de acesso,
o processo educacional inclusivo passa a enfatizar a relevância de investimentos
no desenvolvimento das singularidades. Para tal, a aprendizagem edifica-se como
pilar marcante nesta segunda década de nosso século.
Na seção que segue, voltaremos nossa análise e discussão para as questões
que tangem à gestão educacional e à inclusão escolar de alunos com deficiência,
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, en-
fatizando alguns desafios implicados em uma educação para todos.
No marco referencial da educação inclusiva, para que todos possam ter ga-
rantidas as condições necessárias à educação de qualidade, a equipe gestora dos
espaços escolares tem sido convocada a articular todos os segmentos da escola no
desenvolvimento de práticas que possibilitem adequar metodologias, planejamentos
estratégicos e organização arquitetônica, dentre outras. Dentre as diversificadas
práticas, a gestão compartilhada de responsabilidades apresenta-se como um dos
caminhos promissores para a inclusão escolar. Na lógica da gestão compartilhada,
todos – professores, alunos, famílias, funcionários e comunidade escolar – têm sido
convocados a colaborar no processo educacional, mantendo-se a referência de uma
equipe aberta e descentralizadora de decisões. Conforme a pesquisa desenvolvida
por Klaus, “na atualidade, acredita-se que o desenvolvimento, a inovação e as mu-
danças sociais poderão ser alcançadas através de uma gestão que envolve um alto
grau de flexibilidade: autogestão, gestão compartilhada, gestão de pessoas, gestão
de negócios” (2011, p. 108).
Nessa racionalidade, para que cada sujeito possa desenvolver seus talentos e
habilidades o máximo possível a partir de suas características e necessidades, são
feitos investimentos em processos que englobam o aprendizado ao longo de toda
a vida, a partir da oferta de um sistema educacional inclusivo em todos os níveis e
modalidades (BRASIL, 2015). Nesse sentido, as atuais políticas educacionais vêm
orientando a “articulação intersetorial na implementação de políticas públicas”
(BRASIL, 2015, Art. 28, Inciso XVIII). Na lógica de uma proposta educacional
que abarque o desenvolvimento de todos os sujeitos matriculados na escola, a
mobilização e a organização de um grupo de trabalho disposto de forma coopera-
tiva e eficiente preconizam uma direção “dinâmica, comprometida e motivadora
para a participação de todos os atores sociais” (BRASIL, 2004, p. 13). Frente a essa
dinâmica, recomenda-se que a gestão escolar consiga “saber delegar poderes e
estimular a autonomia, valorizando a atuação e a produção de cada um” (BRASIL,
2004, p. 13). Para que sejam estruturadas e desenvolvidas práticas que contemplem
a singularidade do aluno, a agenda política em prol da inclusão escolar respalda-se
na ideia de que:
A concepção de educação inclusiva que orienta as políticas educacionais e os atuais
marcos normativos e legais rompe com uma trajetória de exclusão e segregação das
pessoas com deficiência, alterando as práticas educacionais para garantir a igualdade
de acesso e permanência na escola, por meio da matrícula dos alunos público alvo
da educação especial nas classes comuns do ensino regular. (BRASIL, 2010, p. 7)
al., a inclusão apresenta-se como um imperativo categórico que, “por ser assumido
como evidente por si mesmo, é imposto de formas diferenciadas e de acordo com
hierarquias de participação, a todas as formas de vida, sem exceção” (2010, p. 7).
No intuito de garantir para cada indivíduo “uma condição econômica, escolar e
de saúde, compatível com seu nível e sua rede de relações, [a política de inclusão]
pressupõe fazer investimentos para que a situação presente de pobreza absoluta, de
falta de educação básica e de saúde, talvez se modifique em curto e médio prazos”
(LOPES et al., 2010, p. 7).
Na via dos investimentos para a inclusão, efetivar e ampliar condições para
que todos possam participar de forma produtiva constitui-se estratégia política que
implica ações para alterar a situação de discriminação negativa. Segundo Castel,
estar em uma condição de discriminação negativa “significa ser associado a um
destino embasado numa característica que não se escolhe, mas que os outros no-la
devolvem como uma espécie de estigma” (CASTEL, 2011, p. 14). Ao inserir todos
os sujeitos na escola, a inclusão opera a partir de determinados saberes e coloca em
funcionamento práticas que, entre outros aspectos, agem “em prol da manutenção
da ordem social no âmbito coletivo. Dessa forma, a inclusão se torna uma estratégia
de governamento que pretende conduzir as condutas dos sujeitos, gerenciando os
riscos que a vida coletiva pode causar”. (LOCKMANN, 2013, p. 43)
Para alterar a situação de discriminação negativa em que se encontra um per-
centual significativo da população brasileira em uma racionalidade neoliberal, Klaus
entende a educação como investimento e fator de desenvolvimento econômico. Para
ela, “a diferença, a inclusão, a gestão democrática, a participação e a democratização
são alardeadas em discursos políticos, econômicos, sociais e educacionais” (2011,
p. 195), colocando desafios para a inclusão escolar que devem ser gerenciados por
meio da participação de toda a comunidade escolar.
A partir das reconfigurações contemporâneas, em que a inclusão se apresenta
como importante dispositivo de governo da vida dos sujeitos dentro de um projeto
de sociedade, cabe compreender também que “a gestão e a descentralização, o
empreendedorismo no nível individual e no nível institucional emergem como a
grande solução para os problemas da sociedade contemporânea” (KLAUS, 2016, p.
77). Como uma produtiva estratégia de condução das condutas docentes, objetiva-
-se descentralizar a gestão para a educação inclusiva, porém, se “intensifica a cen-
tralidade no gestor, que, sob o discurso democrático, a participação e a liderança,
precisa produzir modos de estar na escola contemporânea” (NOYA, 2016, p. 5).
Ainda segundo Noya, “se a escola regular é produzida como lócus que permite a
eliminação de práticas excludentes, a gestão educacional é também produzida como
a salvação dessa escola” (2016, p. 71), pois se compreende que “ações bem sucedidas
de gestores inclusivos solucionarão os problemas escolares”. (NOYA, 2016, p. 95)
Pelo princípio norteador de uma política educacional que possa abarcar os
sujeitos em suas diferenças, “os gestores e gestoras da escola são preparados para
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A inclusão pode ser vista como um permanente movimento que desloca prá-
ticas, metodologias, didáticas, políticas e as próprias formas de vida dos sujeitos
contemporâneos. Nesse sentido, a partir da análise desenvolvida, destacamos que a
política de inclusão escolar posta em funcionamento no Brasil nas últimas décadas
tem sido efetivada mediante legislações e políticas que promovem ações para efeti-
var um processo educacional que garanta acesso, participação, desenvolvimento e
aprendizagem a todos os alunos. A gestão escolar, segundo os princípios da gestão
democrática, para efetivar a política de inclusão, tem como um de seus maiores
desafios envolver todos nesse processo. A ênfase atual desse modo de fazer gestão
escolar está na promoção do atendimento de todos os alunos.
Ao tratarmos da articulação entre a inclusão e a gestão escolar, buscamos
mostrar que a educação de todos requer que cada espaço escolar construa e regu-
lamente sua política de inclusão e acessibilidade e que essa seja desenvolvida com
a participação coletiva. Por fim, destacamos a importância da articulação entre a
atuação da gestão escolar, do serviço disponibilizado na sala de recurso multifun-
cional pelo profissional do AEE e do professor da sala de aula regular para que se
potencializem o desenvolvimento e a aprendizagem de todos.
REFERÊNCIAS
BRASIL. O acesso de alunos com deficiência às escolas e classes comuns da rede regular. Brasília, 2004.
___. Documento subsidiário à política de inclusão. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de
Educação Especial/ Simone Mainieri Paulon, Lia Beatriz de Lucca Freitas, Gerson Smiech Pinho,
2005.
___. Educação Inclusiva: Direito a Diversidade, Documento Orientador. Secretaria de Educação Es-
pecial – SEESP/MEC. DF. Brasília 2005a.
___. Ensaios pedagógicos – construindo escolas inclusivas.1. ed. Brasília: MEC, SEESP, 2005b.
___. Ensaios Pedagógicos: Educação Inclusiva – Direito à diversidade. 1 ed. Brasília: MEC, 2006.
___. Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009. Promulga a Convenção Internacional sobre os Di-
reitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de
março de 2007. Brasília: Presidência da República, 2009.
___. Ministério da Educação. Resolução nº 4, de 2 de outubro de 2009. Brasília: Presidência da Re-
pública, 2009.
___. Marcos Políticos-Legais da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília,
SEESP, 2010.
___. Decreto nº 7.611, 17 de novembro de 2011. Dispõe sobre a educação especial, o atendimento
educacional especializado e dá outras providências. Brasília: Presidência da República, 2011.
___. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica: diversidade e inclusão. Organizado
por Clélia Brandão Alvarenga Craveiro e Simone Medeiros. – Brasília: Conselho Nacional de Edu-
INTRODUÇÃO
Durante a década de 1990, o Brasil passou por uma reforma e por uma onda
de privatizações que almejaram tornar o Estado mais eficiente. A nova gestão
pública acaba por influenciar a gestão escolar, principalmente com as parcerias
público-privadas na educação, as quais, por meio do “público não estatal” e do
“quase-mercado”, introduzem mecanismos da iniciativa privada no interior da escola
pública. A metodologia utilizada para o desenvolvimento desse estudo parte da
análise bibliográfica, especialmente legislativa, com destaque para a Constituição
Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96).
Também serão analisados os programas do Instituto Ayrton Senna, notadamente
o chamado Gestão Nota 10. Este texto está estruturado em três sessões, além da
introdução e das considerações finais. Na primeira, será apresentado o contexto
dos anos 1980 no Brasil, caracterizado pelo processo de redemocratização e de lutas
pelo reconhecimento do direito à educação enquanto prerrogativa estatal e pelo
fortalecimento da gestão democrática da escola. Na segunda sessão, será analisado o
processo que se inicia nos anos 1990 e que perdura até os dois atuais, caracterizado
pela proliferação das parcerias público-privadas na consecução do direito à educa-
ção, com o predomínio da lógica privatista, tanto nos sistemas de ensino como no
“chão da escola”. Por fim, na última sessão, demonstraremos as consequências do
processo de privatização da escola pública para a gestão democrática.
2 O Fórum contava inicialmente com 15 entidades: Associação Nacional dos Docentes do Ensino
Superior – Andes; Associação Nacional de Pós-Graduação em Educação – Anped; Associação
Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação – Ande; Associação Nacional de Profissio-
nais de Administração da Educação – Anpae; Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
– SBPC; Confederação dos Professores do Brasil – CPB; Centro de Estudos de Educação e Socie-
dade – Cedes; Confederação Geral dos Trabalhadores – CGT; Central Única dos Trabalhadores
– CUT; Federação Nacional de Orientadores Educacionais – FNOE; Federação das Associações
dos Servidores das Universidades Brasileiras – FASUBRA; Ordem dos Advogados do Brasil –
OAB; Sociedade de Estudos e Atividades Filosóficas – SEAF; União Brasileira de Estudantes
Secundaristas – UBES; União Nacional dos Estudantes – UNE. Este número foi ampliado no
processo de elaboração da nova LDB nacional (GOHN, 1992, p. 79-80).
3 Constituição Federal de 1988, art. 208, inciso I. (BRASIL, 1988).
4 Constituição Federal de 1988, art. 208, § 1º. (BRASIL, 1988).
5 Constituição Federal de 1988, art. 206, § VI. (BRASIL, 1988).
6 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, art. 2º, § VIII (BRASIL, 1988).
Para que isso ocorresse, buscaram-se instalar mecanismos de gestão que fos-
sem baseados na organização democrática e que alcançassem os diferentes setores
da comunidade escolar. Entre esses instrumentos, estavam o Conselho Escolar, a
7 Abrange as organizações privadas, que têm por objetivo interesses públicos, porém não corres-
pondentes aos do Estado, auxiliando na gestão e no controle das políticas implantadas.
8 O neoliberalismo teve suas primeiras ideias difundidas ainda no início do século XX; entretan-
to, foi apenas ao final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), período em que o Estado de
bem-estar social se consolidava, que o pensamento neoliberal começou a destacar-se. Ainda
assim, foi somente na década de 1970, com a crise do modelo de bem-estar social, que o mesmo
prosperou significativamente. Enquanto corrente de pensamento, o neoliberalismo possui três
escolas: a Escola Austríaca, a Escola de Chicago e a Escola da Virgínia ou Public Choice; todas
essas correntes possuem, em comum, a necessidade de passar para o mercado, com sua lógica
de competitividade, as regulações do Estado, sendo que as suas decisões devem ser guiadas
visando, de acordo com Reginaldo Moraes, ao “sistema de preços do mercado livre; é assim
que ajustam a todo o momento seus planos de produção e de consumo” (MORAES, 2001, apud
PIRES, 2009, p. 36-37).
9 No ano de 2004, foi aprovada a Lei nº 11.079 que autoriza a parceria público-privada no âmbito
da administração pública. Em 2014 foi aprovado o Marco Regulatório do Terceiro Setor, por
meio da Lei nº 13.019/14.
Nos municípios que firmaram parceria com o Instituto Ayrton Senna, são
fornecidos dois manuais à direção de cada escola: um que discrimina toda a rotina
que a escola deve adotar, chamado “Manual de Procedimentos e Rotinas”; e outro
que é mais específico da área de gestão, chamado “Gerenciando a Escola Eficaz –
Conceitos e Instrumentos”. Nesta sessão, analisaremos o segundo manual, a fim
de identificar os elementos de gestão empregados pelo Instituto Ayrton Senna.
O manual “Gerenciando a Escola Eficaz – Conceitos e Instrumentos” é um
material que foi desenvolvido pela Fundação Luis Eduardo Magalhães, para o
programa “Educar para Vencer”, do governo do Estado da Bahia11.
Analisando o documento verificamos que a “Escola Eficaz” é a escola “onde os
alunos aprendem” (BAHIA, 2000, p. 13). Esse conceito resulta de estudos e pesquisas
desenvolvidos em muitos países e que apontam caminhos para a criação de uma
11 Projeto desenvolvido pela Secretaria da Educação, no âmbito do Programa Educar para Vencer,
com apoio técnico e operacional da Fundação Luís Eduardo Magalhães. Visa ordenar, estruturar
e instrumentalizar escolas públicas estaduais e municipais, bem como capacitar seus dirigentes,
para operarem com maior autonomia e eficiência. O Projeto atendeu 45 municípios em 2000 e a
130 municípios em 2001. A partir de janeiro de 2002, sua área de abrangência foi ampliada, com
incorporação de mais 150 municípios, totalizando 280 municípios assistidos (BAHIA, 2000).
12 Garantia do direito à educação com oferta do poder pública, educação pública gratuita e de
qualidade, ensino democrático e laico, dentre outras.
plena13, a escola tem total e exclusivo poder de decidir sobre as suas prioridades
e necessidades; já na autonomia parcial, ocorre uma coexistência entre Estado e
escola; enquanto na autonomia mínima, há a influência total por parte do Estado.
Conforme Paro (2001, p, 10.), “a questão da autonomia da escola deixou de
estar presente apenas na fala dos educadores progressistas para fazer parte tam-
bém do discurso conservador e privatista da educação”. Esse discurso conservador
distancia-se de uma concepção de autonomia no âmbito da gestão democrática,
uma vez que, nessa, a comunidade escolar elabora, planeja e executa seus projetos
pedagógicos.
Outro fator de destaque na Escola Eficaz é a liderança. O manual traça um
paralelo entre a gestão empresarial e a gestão escolar, a partir do relato de um
empresário. Esse utiliza termos comuns do mercado, como otimização e redução
de custos, e expressa que o sucesso da escola pode ser medido através de alunos
e alunas que estão formando-se, ou seja, que este aluno, ao sair da escola, deveria
estar apto a atender as necessidades do mercado. Para isso, as demandas educacio-
nais precisariam estar adaptadas às diferentes regiões e a seus nichos econômicos.
Salientamos que a educação pública não pode ser subserviente ao mercado,
pois sua função social vai além de formar o jovem para o mercado de trabalho.
Estamos falando de sujeitos históricos que necessitam vivenciar, dentro da escola
pública, a cidadania e a democracia; entrelaçando-se, assim, diferentes práticas
pedagógicas e contribuindo para as relações sociais entre estes sujeitos.
Para a Escola Eficaz, o voluntariado é uma necessidade. O trabalho voluntário
vem tornando-se essencial para complementar os recursos públicos de que as escolas
dispõem. Para o IAS, por maiores que sejam esses recursos, há sempre tarefas adi-
cionais que precisam ser feitas para que a escola atinja seu objetivo maior: o sucesso
do aluno (BAHIA, 2000, p. 248). Neste sentido, o voluntariado é incentivado em
diversas esferas escolares, por exemplo, no reforço escolar, na gestão escolar, em
atividades extracurriculares como artes e esportes, entre outras. O manual cita ainda
o Programa “Amigos da Escola”, de maneira que, mais uma vez, o poder público
transfere suas obrigações ao setor voluntariado, precarizando ainda mais os seus
serviços e ressignificando a participação cidadã na escola pública.
Por fim, o manual apresenta os elementos da gestão escolar e ensina passo a
passo como administrar uma escola. Traz um resumo das principais leis educa-
cionais vigentes no país e também uma agenda para o diretor, contendo a rotina a
ser desempenhada por ele. Mais uma vez, parece-nos contraditório, pois o que foi
verificado é que o material disponibilizado pelo IAS era o mesmo para todos os
municípios brasileiros que possuíam parceria com ele, não importando se a escola
é de uma comunidade urbana, rural ou até mesmo de comunidades indígenas.
13 Para saber mais sobre os conceitos de autonomia propostos pelo IAS, ver Lumertz, 2008.
O último item trata dos recursos financeiros, faz um apanhado das verbas
destinadas às escolas, ensina a criar a unidade executora e a administrar recursos
públicos, bem como a realizar sua prestação de contas.
Este manual traz propostas que estão de acordo com os pressupostos da Es-
cola Eficaz, que tem uma clara concepção de gestão escolar distanciada da gestão
democrática. Ainda que a gestão democrática seja mencionada, ela fica restrita ao
papel, não acontecendo na prática. A gestão proposta é aquela centrada nos resul-
tados e na produtividade da escola e dos alunos, e, caso a escola não corresponda
aos objetivos, é responsabilizada pelo seu fracasso.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
a possibilidade de que a escola decida seu próprio rumo, juntamente com professo-
res, pais, alunos, funcionários e comunidade em geral, numa corresponsabilidade
para o êxito daquela instituição, sem desconsiderar o papel fundamental do poder
público. Assim, conforme demonstramos neste artigo, a parceria público-privado
interfere na gestão democrática – um processo que tem disputas entre os sujeitos
envolvidos –, desconsiderando a realidade de cada localidade, e modifica a ideia
de autonomia escolar, ao afastar cada vez mais a noção de corresponsabilidade
entre poder público e sociedade civil, classificando a escola e seus pares como os
únicos responsáveis pelo sucesso e ou fracasso, excluindo a comunidade escolar dos
processos decisórios, desconsiderando um processo emancipador e distanciando
cada vez mais a escola pública da sua função social.
O que se pode constatar é que o discurso da melhoria da qualidade da educação
e da gestão escolar por meio das parcerias público-privadas é parte constitutiva do
movimento do real, de correlação de forças sociais, e é por meio dele que o setor
privado tenta imprimir a lógica de mercado na gestão escolar pública. Nós, educa-
dores, precisamos nos manter alertas e resistir à privatização da educação básica e
da escola, tendência que faz da esfera pública um lócus privilegiado de proliferação
dos interesses privados. É esse nosso papel enquanto educadores: não deixar que
nos tomem o que tanto lutamos para conquistar.
REFERÊNCIAS
GOHN, Maria da Glória. Movimentos sociais e educação. São Paulo: Cortez, 1992. (Coleção Ques-
tões da nossa época, v.5).
LAUGLO, J. (1997) Crítica às prioridades e estratégias do Banco Mundial para a educação. Cadernos
de Pesquisa, n.100, p. 11-36, mar. 1997.
LUMERTZ, Juliana Selau. A Parceria Público-Privada na Educação: Implicações para a Gestão da
Escola. 2007. Dissertação (Mestrado) – UFRGS, Porto Alegre, 2008.
MORAES, Reginaldo. Neoliberalismo. De onde vem, para onde vai? São Paulo: Senac, 2001.
PARO, Vitor Henrique. Escritos Sobre Educação. São Paulo: Xamã, 2001
PIRES, Daniela de Oliveira. A Configuração Jurídica e Normativa da Relação Público-Privada no
Brasil na Promoção do Direito à Educação. Dissertação de Mestrado, UFRGS, 2009.
ROSSI, Alexandre José. Avanços e Limites da Política de Combate à Homofobia: uma análise do pro-
cesso de implementação das ações para a educação do programa brasil sem homofobia. 2010. 185
f. Dissertação (Mestrado) – Curso de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, 2010.
SISTEMÁTICA DE ACOMPANHAMENTO GESTÃO NOTA 10. Instituto Ayrton Senna. 2006. Doc
imp.
TAVARES, Maria das Graças Medeiros. Gestão democrática do ensino público: como se traduz esse
princípio? 1990. Dissertação (Mestrado) – IESAE/FGV, Rio de Janeiro, 1990.
Mestre em Computação Aplicada pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos e doutoranda
em Informática na Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul no Programa de
Pós-Graduação em Informática na Educação (PPGIE).
Contato: fabiane.penteado@gmail.com
Fátima Anise Rodrigues Ehlert– Doutoranda em Políticas e Gestão de Processos
Educacionais, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Mestre em Educação, pela Uni-
versidade Federal do Pampa – Campus Jaguarão. Pós-Graduada em Psicopedagogia. Graduada
em Letras pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Dom Bosco. Atualmente desempenha
a função de Professora na Rede Estadual de Ensino do estado do Rio Grande do Sul.
Contato: faehlert68@gmail.com
Gabriela Maria Barbosa Brabo– Professora Adjunta da Faculdade de Educação (FA-
CED) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Doutora em Educação – UFRGS.
Contato: gabrielabrabo@gmail.com
Graciele Marjana Kraemer – Professora de Libras na Faculdade Porto-Alegrense
(FAPA, 2010-2012); Professora do Instituto Superior de Educação de Ivoti (ISEI, 2011-2013).
Graduada em Educação Especial – Deficientes da Audiocomunicação, pela Universidade Federal
de Santa Maria (UFSM, 2007). Mestre em Educação (2011) e Doutora em Educação (UFRGS/
2013-2017). Em Estágio de Pós-Doutorado no Programa de Pós-Graduação em Educação
Unisinos (2017-2018). Atuou como professora nas séries iniciais da Escola Especial para Surdos
Frei Pacífico no período de 2007-2009; participa de dois grupos de pesquisa: GEPI/Unisinos
(Grupo de Estudo e Pesquisa em Inclusão) e SINAIS/UFRGS (Surdez, Inclusão, Narrativas,
Identidades e Subjetividades). Parecerista da Revista Educação Especial (UFSM). Trabalha com
os seguintes temas: Inclusão Escolar; Políticas Educacionais Inclusivas; Políticas e Práticas na
Educação de Surdos.
Contato: graciele.kraemer@gmail.com
Graziela de Lourdes Demétrio Nunes– Graduada em Química pela PUCRS. Es-
pecialista em Toxicologia pela PUCRS. Especialista em Coordenação pedagógica pela UFRGS
Professora de Química na Rede Pública de Ensino Dom. Supervisora da Rede Pública de Ensino
do estado do Rio Grande do Sul.
Contato: gdemetrio@yahoo.com.br
Graziella Souza dos Santos– Professora da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI).
Doutora em Educação pela UFRGS/FACED. Mestra em Educação. Especialista em Supervisão
Escolar. Licenciada em pedagogia.
Contato: s.grazi20@gmail.com
Gustavo Andrada Bandeira– Técnico em Assuntos Educacionais na Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Doutor em Educação pelo Programa de Pós-Graduação
em Educação/UFRGS. Integrante do Grupo de Estudos de Educação e Relações de Gênero
(Geerge).
Contato: gustavoabandeira@yahoo.com.br
Iana Gomes de Lima– Professora Adjunta na Faculdade de Educação da Universidade
Federal de Pelotas e professora colaboradora no Programa de Pós-Graduação em Educação da
Universidade da Região de Joinville. Mestre e Doutora em Educação pela Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, tendo pós-doutorado em Educação pela Universidade Federal de Pelotas.
Contato: iana_glima@yahoo.com.br
Igor Ghelman Sordi Zibenberg– Doutorando e Mestre em Educação da Linha de
Pesquisa de Políticas e Gestão de Processos Educacionais no Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGEDU/UFRGS), Especialista em
A Coleção Filosofinhos, coordenada pela filósofa Maria de Nazareth Agra Hassen convida
o leitor a conhecer um pouco da filosofia acompanhando historinhas cujos personagens
são grandes filósofos quando ainda eram pequenos... Nessas histórias, os pensadores são
crianças, mas já apresentam algumas de suas ideias revolucionárias. Todas as crianças
são naturalmente curiosas, característica fundamental para buscar o saber, e a filosofia
introduzida de forma lúdica favorece a exploração do mundo do conhecimento. Essa
coleção também ajuda os adultos a pensarem o mundo e a compreenderem as crianças,
mas principalmente mostra como é bom ser curioso e perguntador. Para os adultos
(pais, cuidadores e professores) cada volume inclui uma pequena biografia do pensador
retratado, além da sugestão de outras leituras para aprofundar o conhecimento. As his-
tórias são bilíngues (português/francês), pois a coleção tem como propósito alargar as
fronteiras da criança, mostrando-lhe que a mesma história pode ser lida em outra língua.
Também visando estimular o pensamento crítico e uma relação ser humano/natureza
mais sadia, a Coleção Filosofinhos/Les Petits Philosophes é impressa em papel reciclado.
Coleção Filosofinhos
autores: Cauê Borges, Celso Gutfreind, Maria de Nazareth Agra Hassen,
Pascal Reuillard e Francisco Juska Filho (ilustrações)
32 páginas Bilíngue (português/francês)
ISBNs: René Descartes 978-85-86225-64-2, Sigmund Freud 978-85-86225-63-5,
Sócrates 978-85-86225-68-0, Sartre & Simone 978-85-86225-40-1,
Platão 978-85-86225-91-8, Karl Marx 978-85-86225-98-7,
Immanuel Kant 978-85-86225-76-5, Jean-Jacques Rousseau 978-85-86225-83-3.
Metodologia participativa:
uma introdução a 29 instrumentos - 3º edição
organizador: Markus Brose
2ª edição 328 páginas ISBN: 978-85-86225-66-6
#protestos:
análises das ciências sociais
organizador: Antonio David Cattan
120 páginas ISBN 978-85-86225-85-7