Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
No entanto, esta breve definição pode ser posta em causa tendo em conta outras
ideologias. Propõe-se que as narrativas bíblicas, as narrativas utópicas, novalescas e
filmicas, constituam passibilidades problematizantes sobre a cidade. É através de todas
elas que podemos verificar a forma como a dualidade na representação da cidade
atravessou os tempos.
» narrativas bíblicas: Mito de Babel, Mito de Caim e Abel, Mito de Adão e Eva
Nas alegorias bíblicas o que parece mais central é a relação entre a dualidade moral do
conhecimento e o seu reflexo no espaço da cidade.
As narrativas utópicas lidam com a dualidade entre uma utopia e uma distopia,
procurando descrever normalmente a boa cidade, a cidade perfeita, a cidade-feliz (a
utopia), implicando sempre uma comparação implícita com o seu oposto, a distopia.
A representação da cidade ao longo do século XIX, oscila entre uma visão positiva e uma
negativa e tal é muito visível se utilizarmos a literatura como meio de análise. Esta
dualidade é bem revelada em várias obras literárias como, por exemplo: “Frankestein:
or the Modern Prometheus” de Mary Shelley; “O Homem na Multidão” de Edgar Allan
Poe; “Dr. Jekyll e Mister Hyde” de Robert Louis Stevenson”; “Retrato de Dorian Gray”de
Oscar Wilde. Esta consciência narrativa literária acaba por anteceder uma consciência
sociológica.
No século XX, a problemática dual entre cidade cemiterial e cidade higiénica e entre a
cidade das classes perigosas e a cidade da disciplina, torna-se mais complexa com a
emergência de novas problemáticas.
Vigiada Vivida
Nesta altura, os filmes tornam-se uma nova fonte inestimável para a sociologia urbana,
uma vez que são narrativas que têm impacto sobre milhões num curto espaço de
tempo (ex.: “Pleasantville” - cidade agradável; “Truman Show” - seahaven, o paraíso à
beira mar; “Matrix” - megacidade). Estes filmes representam a dicotomia (oposição)
entre a hipocrisia da cidade-cenário, ultra-planeada e super-vigiada, feita de marionetas
subjugadas, e a cidade da cidadania, clandestina, vivida e imprevisível na sua luta para
revelar a hipocrisia. Trata-se de uma espécie de consciência do sonho americano dos
anos 50 e que se alargou de certo modo a todo o Ocidente: um mundo da
cidade-subúrbio, planeado e perfeito, numa sociedade de pleno emprego e de consumo
de massas.
Por um lado, podemos dizer que a dinâmica urbana representa não mais de 3% do
tempo total da evolução humana desde a emergência do género homo; por outro,
podemos dizer que a dinâmica urbana se tornou um elemento central dessa mesma
evolução urbana e que a revolução sedentária e agrícola foi talvez a revolução mais
importante da evolução humana.
É com a invenção da agricultura que as cidades se tornam uma infraestrutura humana
central.
» Poder dos centros: o poder dos centros, a sua constituição e a sua aceitação
constroem sociabilidade. Um centro é uma marca na paisagem influenciado
socioespacialmente, que liga diferentes níveis de realidade e que possibilita o retorno, sendo
portanto um espaço de convivência entre estranhos
O objetivo da Sociologia Urbana é construir uma cidade melhor. No que é que consiste?
Uma cidade melhor consiste em possibilitar/potenciar, dentro do mesmo espaço,
formais sociais em que os indivíduos, apesar das suas diferenças, consigam conviver.
A socialização humana urbana por um lado não seria senão um longuíssimo processo
plural e complexo de ultrapassagem/diluição dos limiares críticos da agressão, ou seja,
de criação de mecanismos culturais de inibição da agressão, em função, basicamente,
de limites cada vez mais abstratos ou simbólicos que possibilitam uma distância cada
vez menor entre estranhos, tornando possível o máximo de agregação com o mínimo
de agressão.
O poder de um centro, a constituição de um centro e a sua aceitação, faz com que esse
centro construa sociabilidade. Com isto, a construção de um centro é fundamental. O
centro é um princípio urbano no sentido em que é uma marca na paisagem com um
certo âmbito de influência socioespacial, que liga diferentes níveis de realidades (os
antepassados, os vivos e o sobrenatural) e que, portanto, é um espaço de convivência
de estranhos.
A cidade define-se, então, pela possessibilidade de convivência entre estranhos em
função de uma identidade vaga, abstrata, ainda que traduzida/interpretada em função
de outras identidades mais óbvias (como a da família). Existem ainda outras situações
alternativas à cidade em que se juntariam periodicamente estranhos: caça, guerra,
cemitérios.
2ª - remete-nos para o início da história urbana, que coincide com o processo longo
da revolução sedentária e da revolução agrícola. É a junção, num mesmo contexto, de
instituições que já existiam (a aldeia, o cemitério, o campo de caça, a fortaleza, o centro
celebratório, o armazém...) e ter-se-á dado nas civilizações dos vales dos rios, já agrícolas.
Ex.: na Mesopotâmia, no rio Tigre e Eufrates, no rio Nilo, no Egito, no Ganges, no rio
Amarelo
Escreve, ainda, que a cidade não é somente a moradia e o local do trabalho do Homem
moderno, como é também o centro iniciador e controlador da vida económica, política e
cultural, que atraiu as localidades mais remotas do mundo para dentro da sua órbita e
interligou as diversas áreas, os diversos povos e as diversas atividades num único universo.
Com isto, definiu a grande cidade como constituída pela grande dimensão, grande
densidade e grande heterogeneidade em combinação, criando uma nova ordem ecológica,
social e de personalidade e constituindo um urbanismo ou um modo de vida urbano que se
opunha a um ruralismo, caracterizado pela pequena dimensão, baixa densidade e grande
homogeneidade.
Tendo em conta a variável dimensão, podemos dizer que os grandes números são
responsáveis pela variabilidade individual, pela relativa ausência de conhecimento íntimo
entre os indivíduos, pela segmentação de relações humanas que são em grande parte
anónimas, superficiais e transitórias. A variável densidade envolve diversificação e
especialização, a coincidência de contacto físico estreito e relações sociais distantes,
havendo, então, contrastes berrantes, um padrão complexo de segregação e a
predominância do controlo social formal. Por fim, a heterogeneidade tende a quebrar
estruturas sociais rígidas e a produzir maior mobilidade, instabilidade e insegurança. Neste
contexto, as relações pessoais são deslocadas, e as instituições tendem a atender às
necessidades das massas em vez do indivíduo, e portanto, o indivíduo só se torna eficaz
agindo através de grupos organizados.
O urbanismo como modo de vida face a um ruralismo, de Wirth, deve ser entendido como
um americanismo face a um europeísmo ou a descrição do modo de vida de cidades-mundo
face às demais estruturas sociais rurais e urbanas, ou seja, uma das primeiras visões da
globalização e das suas consequências face à vida nas grandes cidades.
“A cidade e o campo podem ser encarados como dois pólos em relação aos quais todos os
aglomerados humanos tendem a se dispor. Visualizando-se a sociedade urbano-industrial e
a rural folk como dois tipo ideais de comunidades, poderemos obter uma perspetiva para
análise de modelos básicos de associação humana conforme aparecem na civilização
contemporânea” - Loius Wirth
Patrick Gueddes terá sido o primeiro a propor a ideia de cidades-mundo como “aquelas
nas quais uma parte desproporcionada dos mais importantes negócios do mundo é
conduzida”. Mas Braudel é o primeiro a utilizar o termo “cidade-mundo” para designar
o centro de “economias-mundo” específicas, enquanto “centro de gravidade urbanos”
ou como o “coração logístico da atividade”. Depois, nos anos 50, é Gotman que utiliza o
termo de megalopole.
A obra de Engels, por um lado, e a obra de Tonnies, por outro, constituem como que a
marca do início dos Estudos Urbanos.
ENGLES:
TONNIES:
Lefebvre afirma que ao direito à natureza que é reivindicado socialmente, deve também
reivindicar-se um direito à cidade, sendo esse direito a satisfação das necessidades
sociais e humanas de cada um e de todos; este direito à cidade é, provavelmente, uma
das primeiras visões de uma cidade-mundo em que os direitos humanos se espelham na
cidade.
Harvey, também segue uma aplicação da economia política marxista à análise da cidade,
mas, no entanto, acrescentou um terceiro circuito de circulação do capital aos dois
caracterizados por Lefebvre. O terceiro circuito refere-se especificamente à reprodução
da força de trabalho e ao investimento em áreas científicas e profissionais de forma a
potenciar novas formas de acumulação de capital.
O contributo de Michel Foucault passa muito por: 1)a relação entre conhecimento e
poder, 2) a genealogia de representações sociais como processos de controlo social, 3)
a objetificação em dispositivos espaciais de relações de conhecimento/poder.
Patrick Gueddes terá sido o primeiro a propor a ideia de cidades-mundo como “aquelas
nas quais uma parte desproporcionada dos mais importantes negócios do mundo é
conduzia”, mas no entanto Braudel foi o primeiro a utilizar o termo cidade-mundo para
designar o centro de economias-mundo específicas, enquanto centros de gravidade
urbanos ou como o coração logístico da atividade.
Friedmann e Wolf ao aceitaram as multinacionais como centros de comando da nova
divisão internacional do trabalho, introduziram o conceito de Rede Global de Cidades.
Na década de 90, para além da divisão internacional do planeta em Estados-Nações e
para além da divisão entre Regiões Mais Desenvolvidas e Regiões Menos Desenvolvidas,
começa então a delinear-se a perspetiva de uma Rede Global de Cidades ou
Arquipélagos Urbanos planetários.
“A cidade global é uma rede de nós urbanos de diferente nível e com funções distintas
que se estende por todo o planeta e que funciona como centro nervoso da nova
economia, num sistema interativo de geometria variável, à qual devem constantemente
adaptar-se de forma flexível empresas e cidades” - Borja e Castells
“The socioespacial perspective takes what is best from the new ideas while avoiding the
endemic reductionism of both traditional ecology and recent Marxian political economy.
It does not seek explanation by emphasizing a principal cause such as transportation
technology (Hawley), capital circulation (Harvey) or production processes (Scott). Rather,
it takes an integrated view of growth as the linked outcome of economic, political and
cultural factors.” - Gottdiener
É uma perspetiva que incorpora diferentes fatores que devem ser tidos em conta no
desenvolvimento e mudança, em vez de enfatizar um ou dois. Especificamente procura
uma análise equilibrada dos fatores de atração e repulsão (push and pull) no
crescimento metropolitano e regional.
Considera o papel do setor imobiliário no desenvolvimento como uma combinação de
atividades de agência e estrutura. O investimento em terra é um setor de acumulação
de capital com as suas próprias fações e ciclos de crescimento e retração (boom and
bust). As categorias da economia política, tal como lucro, renda, juro e valor são tão
aplicáveis ao desenvolvimento metropolitano como a qualquer outra parte da
economia.
Inclui uma perspetiva atenta à política que enfatiza o papel dos indivíduos e grupos no
processo de desenvolvimento. Focaliza-se nas atividades de determinadas redes de
crescimento que agregam escolhas relativas às direções e impactos da mudança.
Tal como outras perspetivas, adota uma conceção do desenvolvimento global sem
defender que a economia mundial é a única responsável pela reestruturação do espaço
de assentamento. As mudanças globais são particularmente relevantes para
compreender como as cidades, subúrbios e regiões têm sido afetadas pela economia
nos anos recentes. Os novos espaços da indústria, comércio e serviços redefiniram os
padrões do desenvolvimento multi-centrado mas a intervenção governamental e o
setor imobiliário também representaram um papel essencial na reestruturação do
espaço.
“On one hand are the individuals in their directly perceptible existence, the bearers of
the processes of association, who are united by these processes into the higher unity
which one calls “society”; on the other hand, the interests which, living in the individuals,
motivate such union: economic and ideal interests, warlike and erotic, religious and
charitable.”
Na tradição de Tonnies, Simmel e Max Weber, consideramos que os tipos urbanos são
fundamentais à compreensão da cidade e de modernidade, assim com, atualmente, dos
processos urbanos transnacionais e de globalização
É com as sociedades industriais e com o advento das grandes cidades que o se-se
estrangeiro se tornou um fenómeno de massas e a solidão um atributo do próprio
estrangeiro. O século XIX é o século desse estrangeiramento de massas citadino, feito
do indivíduo (estrangeiro), da multidão e solidão
O observador deixa a sua janela e incorpora a multidão e durante a uma noite inteira e
um dia, numa cidade que não pára, segue um homem (que não come, nem bebe, nem
dorme) que não vai a lugar nenhum, mas que é comovido apenas pelo movimento da
multidão que procura sempre ansiosamente, parecendo mesmo só estar vivo quando
no seio da multidão e moribundo quando, a altas horas da noite, a multidão se
escasseia
Outros textos cimeiros da literatura do século XIX evidenciam esta obsessão com a
figura do estrangeiro nas suas múltiplas máscaras. Em alguns casos, a figura do
estrangeiro é desenhada levando aos limites a relação entre o próximo e o distante. É a
figura do estrangeiro fantástico e terrorífico que acaba absorvendo o seu
criador/observador. Mas esse estrangeiro fantástico e terrorífico é ao mesmo tempo o
simulacro e o fantasma da multidão, ou seja, da cidade
Toda a Ciência Social se centra nos processos de desenlace e reenlace e suas causas e
consequências, num âmbito psíquico, social ou cultural e a um nível individual, grupal,
nacional ou mesmo transnacional. E nesta problemática, a grande cidade no século XIX
e a Megalopole no século XX foram centros, sintomas e símbolos desses fenómenos
3.2 O Vagabundo e o Estrangeiro
Walter Benjamin caracterizou o estrangeiramento inaugurado por Baudelaire (ainda
que ele também refira Poe) através da figura do Flâneur
Esta intensificação dos estímulos (resultado de atividades simples como atravessar ruas,
o ritmo da vida social, a multiplicidade da vida profissional) leva a uma inequação,
produzida pela própria metrópole, entre “forças externas” ou o “conteúdo
super-individual da vida” e as “forças internas” e o “conteúdo individual da vida”. O
resultado desta inequação é o desenvolvimento da cabeça, da racionalidade, do
intelecto, por oposição ao coração, à sensibilidade, ao afeto, ou seja, a preponderância
do “espírito objetivo” sobre o “espírito subjetivo”
O estrangeiro é uma figura “móvel” que contacta com uma grande massa de pessoas
mas que não tem com elas nenhum laço parentesco, localidade ou ocupação e que, por
isso, “corporiza aquela síntese entre a proximidade e distância, a qual constitui a
posição formal do estrangeiro”. Esta posição espacial e formal leva a que o estrangeiro
esteja entre a “indiferença e o envolvimento”, tenha uma “específica atitude de
objetividade” e uma “liberdade” que o levam a “olhar até as relações mais próximas
com olhos de pássaros”, o que leva a que receba dos outros (locais) uma
“surpreendente abertura e confiança por vezes mesmo de carácter confessional”
Simmel aborda o estrangeiramento como que incluindo dois tipos que funcionam como
um continuum, o Vagabundo-Viajante e o Estrangeiro propriamente dito
O verdadeiro interesse de Simmel é sobre esse novo tipo de personagem urbano que é
estrangeiro, que fica e passa a pertencer ao grupo no seio de uma cidade e, ainda assim,
permanece estrangeiro
Tendo Simmel abordado a Metrópole (ou seja, a Grande Cidade) a sua visão do
desenlace da vida moderna está entre aquele que é produzido pela urbanização e pelo
urbanismo e aquele que é produzido pela metropolização e cosmopolitismo
Louis Wirth definiu a grande cidade como constituída pela grande dimensão, grande
densidade e grande heterogeneidade em combinação, criando uma nova ordem
ecológica, social e de personalidade e tendo como sequência os “estrangeiros” de
Simmel como toda a população da cidade constituindo um “urbanismo” ou um modo
de vida urbano que se opunha a um “ruralismo”
Se para Simmel o Estrangeiro num mundo dominado pelo espaço urbano é aquele que
chega de fora e que fica, permanecendo estrangeiro; Wirth, numa perspetiva já de
espaço metropolitano de influência transcontinental, civilizacional perspetiva, a
metrópole é como constituída completamente por estrangeiros
Arendt apresenta a figura do Refugiado como aquele que perdendo a sua pátria, ao
invés de se acomodar e assimilar a cultura do novo país, prefere continuar a
identificar-se como refugiado e apresenta-o como “vanguard”. Um indício do futuro, e
é esse futuro que Agamben analisa como presente tendencialmente globalizado em
1993 e como processo em aceleração depois do 11 de Setembro de 2001
Hannah Arendt no final do seu texto “We Refugees”, recusa a definição de refugiado
como pessoa sem pátria, situação na qual ela própria estava a viver, para propor esta
condição como paradigma de uma nova consciência histórica
O 11 de Setembro tornou a situação ainda mais aguda, surgindo uma espécie de Guerra
Civil Global em que se dá a construção de muros físicos e simbólicos cada vez em maio
número e maiores em si mesmos. A transmutação que vai do estrangeiro,
imigrante-refugiado ao inimigo-terrorista tornou-se ténue, vivendo-se num estado de
exceção permanente
A abertura ao outro é mesmo uma nova forma de construção do self: “In its concern
with the Other, cosmopolitansism thus becomes a matter of varieties and levels.
Cosmopolitans can be dilettantes as well as connoiseurs, and are often both, at different
times. But the willingness to become involved with the Other, and the concern with
achieving competence in cultures which are initially alien, relate to considerations of self
as well. Cosmopolitans often has a narcisistic streak; the self is constructed in the space
where cultures mirror one another”
O cosmopolita de Hannerz parece ser um tipo ideal em certo sentido muito similar com
o estrangeiro de Simmel. A importância que Hannerz da a uma certa tensão entre
proximidade e distância, assim como à cultura do discurso crítico, aproxima-se muito
dos argumentos de Simmel, podendo-se, de facto, ver no cosmopolita a cultura objetiva
de Simmel, pela competência atribuída ao cosmopolitanismo e aos cosmopolitas no
âmbito da tradução entre culturas
A escolha que se tem pela frente é: entre a cosmopolitics de uma guerra civil global
num mundo fragmentado, em que proliferam os muros em que o estrangeiramento se
confunde com construção do inimigo terrorista; e uma politics of hope, que possibilite o
cosmopolitanism de um estrangeiramento em que convivencialidade através de um
processo de tradução entre culturas, em que “o direito a ter direitos” seja condição
inerente a qualquer ser humano
Este Planeta Urbano, enquanto meta comum, pode ser enganador ao tentar
sustentar-se em elementos comuns em regiões com grandes desigualdades no ponto de
partida, no ritmo e na situação atual do processo de urbanização. O planeta urbano não
é uniforme e as diferenças estatísticas refletem e reproduzem diferenças sociais e
culturais profundas
Apesar das diferenças estatísticas entre as diversas regiões, a elite urbana em muitos
países em desenvolvimento tem mais em comum com a elite dos países desenvolvidos
do que com os seus próprios cidadãos, havendo assim semelhança ao nível das
condições de residência, trabalho e consumo entre estes estratos urbanos
Ao nível do sistema urbano mais vasto, parece poder encontrar-se algumas similitudes,
quer no que se refere às funções das cidades de diferentes regiões do mundo na
economia global, quer em relação à estruturação do sistema urbano em si mesmo
O caminho dos estudos urbanos que vai da perspetiva local da ecologia urbana à
perspetiva global/regional do sistema-mundo e à perspetiva de fluxos
translocais/transnacionais do urbanismo transnacional, consiste em três escalas que são
como que balizas para a compreensão, no presente, do Planeta Urbano
A governação é, tanto para o relatório de 1996 quanto para o de 2001, a pedra chave
de todo o desenvolvimento. Afirma-se no relatório de 96 a necessidade de uma nova
estrutura institucional para as autoridades urbanas, no sentido de uma maior
capacitação para responder ao desafio do crescimento populacional e à necessidade de
infraestruturas. Tal reestruturação passa por uma democratização e descentralização
não só me função de tarefas e responsabilidades delegadas, mas também pela
autonomia crítica e pela capacidade de procurar apoio técnico e angariar fundos, ou
seja, por todo um trabalho de capacitação do papel dos grupos de cidadãos, das
organizações comunitárias e das ONGs: “Se os governos e as agências doadoras
puderem encontrar formas de apoiar estes processos que constroem e desenvolvem
cidades, os problemas que parecem insolúveis começam a parecer mais geríveis”. Neste
seguimento, o relatório de 2001 afirma a necessidade de descentralização e a crescente
importância do papel dos governos locais, entendidos como urbano-metropolitanos. A
relação entre governo central (nacional) e governo local (urbano-metropolitano) deve
ter em conta que as áreas metropolitanas são, de facto, arenas centrais nos processos
de competitividade global e que, por isso, tais governos locais devem ser reforçados em
termos de legitimidade política, responsabilidades e recursos. Refere-se ainda que tais
governos locais têm competências limitadas para responder aos urgentes desafios de
abrigo, infraestruturas e serviços, pelo que se tornam necessárias novas redes
cooperativas potenciando quer as parcerias com o setor privado e com a sociedade civil,
quer a integração em redes horizontais internacionais de cooperação