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A invisibilidade social no texto Aquela mulher no livro Eles eram muitos cavalos,

de Luiz Ruffato

Resumo: Eles eram muitos cavalos é uma obra que traz algumas denúncias sociais, uma delas
é a invisibilidade da pessoa em situação de rua, no texto “aquela mulher” temos um exemplo de
como essas pessoas passam pela cidade sem serem notadas, mas levam consigo uma história de
vida, anseios e medos.

Palavras chave: Aquela mulher, invisibilidade social, Luiz Ruffato.

Introdução
Todos os dias passamos por diversas vidas que cruzam com as nossas, uma
variedade de histórias e sonhos que não temos ideia da imensidão. Cruzamos por olhares,
as vezes num simples esbarrão, não deixamos nada ali e dali nada levamos. Olhamos, mas
não vemos as pessoas, cruzamos, desviamos, ignoramos uma enorme quantidade de seres
que se arrastam, como nós, pela cidade, sempre atrasadas, sempre com pressa, com
problemas na cabeça, as vezes com um sorriso no rosto, as vezes com pesar nos olhos. E
é assim que Luiz Ruffato traz em sua obra “Eles eram muitos cavalos”, as histórias de
pessoas que vivem na mesma cidade, mas que não presenciam a mesma cidade. O
território é o mesmo, mas as vivências de cada personagem que ele descasa e expõe são
completamente diferentes. São vidas que facilmente se esbarrariam na Avenida Paulista,
se olhariam mas não se enxergariam. Uma cidade tão grande, uma cidade que não dorme,
tantos enredos se desdobrando a cada momento, e é assim que começa essa obra.

Com uma escrita singular na construção de seu romance, Ruffato traz uma
narrativa fragmentada e diversificada, uma mistura de fluxo de consciência e a quebra da
narrativa sem um final delimitado. Eles eram muitos cavalos é complexo, abordando
vários problemas sociais, que traz personagens com anseios, duvidas, temores, e sonhos.
As construções dessas personagens as vezes é bastante sutil, a fragmentação traz palavras
soltas que aparentemente não se pertencem, mas é à partir dela que ele cria não só as
personalidades, mas os cenários onde essas personagens estão inseridas. Tendo em
comum apenas a cidade de São Paulo como fundo por onde tramitam essas vidas, o
romance que traz 68 textos remonta a cidade através das vivencias únicas e ao mesmo
tempo reais e comuns, pessoas e lugares que nós olhamos todos os dias sem realmente
perceber. Uma variedade inserida não só na forma de pessoas, mas de listas, anúncios,
horóscopo, e até uma certificado de batismo de igreja evangélica.
Por meio da ficção o autor examina a realidade, traz ao centro do romance
indivíduos cujas identidades ninguém conhece, explicita a partir de uma
fotografia da cidade de São Paulo as várias linhagens que a urbanidade
apresenta. Textos distintos entrecruzam-se com vidas distintas, em comum, os
dramas e as pequenas tragédias que povoam a metrópole. Ruffato descortina a
cidade para além dos arranha-céus e ruas entupidas de pessoas, os sentidos são
redirecionados à vida cotidiana, às tensões e inquietudes de quem vive na
maior cidade brasileira. Para apreender a realidade da cidade e daqueles que a
compõem, Ruffato utiliza-se das mais diversas ferramentas de expressão da
linguagem, dispara flashes ao circular pelo espaço urbano, captura a cidade e
suas múltiplas faces. (..) Em Eles eram muitos cavalos Ruffato compreende a
experiência da escrita como campo de múltiplas possibilidades. A aplicação ao
texto de “novas” formas de composição literária – o uso das formas breves e
híbridas, transição de gêneros, discurso fragmentado, não linear, presença de
colagens e montagens, elipses e elisões – tudo isso potencializado ao extremo,
não reduz e nem simplifica os dramas dos indivíduos revelados no romance,
porém, apontam para um desejo de intervir na realidade e capturar o presente.
(BURITI 2013)

Dos mais ricos, passando pela classe média e chegando as camadas mais pobres
da estrutura social, vemos uma representatividade que por muitas vezes nos passam
despercebidos pelas ruas de qualquer cidade grande. É bastante presente nos textos de
Eles eram muitos cavalos, um segmento que é invisível não só na literatura, mas
principalmente na sociedade, pessoas que são negligenciadas por toda suas vidas eu que
o governo também não dá amparo. Essa invisibilidade social é muito presente na obra de
Carolina Maria de Jesus, no livro Quarto de Despejo, uma autobiografia de uma mulher
da periferia, negra e catadora de papel onde narra o seu dia dia e a violência que essa
invisibilidade acarreta nas vidas dessas pessoas que a sociedade não enxerga.

(...) percebemos a condição de invisibilidade social vivida por Carolina Maria


de Jesus quando amargava uma realidade de privações como fome, miséria e
preconceito. Na obra Quarto de despejo, por um lado, são evidentes os
sentimentos de desprezo e humilhação com os quais Carolina convive; por
outro, coloca em evidência a denúncia, a luta pela sobrevivência e, acima de
tudo, o olhar crítico perante a sua condição de sujeito socialmente invisível. É
dessa experiência de invisibilidade social oriunda tanto do lugar onde vive – a
favela – quanto de suas precárias condições materiais – catadora de lixo – que
Carolina confere à educação, enquanto prática social, o esforço para confrontar
sua realidade e lutar para ser reconhecida como escritora. (SANTOS; SANTOS
e OLIVEIRA 2016)

A partir do texto “Aquela mulher” do romance Eles eram muitos cavalos de Luiz
Ruffato traz essa ideia da mulher invisível, periférica, que passa por todo tipo de privação,
ao contrário do quarto de despejo “aquela mulher” não luta pela sobrevivência, ela só
passa pela vida. Iremos trazer essa personagem e ressaltar a invisibilidade social sofrida
por ela, os aspectos que a inserem nessa invisibilidade, como Luiz Ruffato a constrói de
forma a nos parecer tão familiar e ao mesmo tempo tão distante da realidade que nos
rodeia todos os dias.

Invisibilidade social e pessoas em situação de rua


Hoje não temos no Brasil dados oficias sobre a quantidade de pessoas que vivem
em situação de rua no país. O Ipea, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, fez um
levantamento em 2015 em mais de mil munícipios do país e levantou um total aproximado
de 101 mil pessoas vivendo nas ruas do país. Essa negligência do Estado já conta como
invisibilidade, já que o governo não enxerga essas pessoas, não sabe ao menos a
quantidade de pessoas que se encontram hoje no país nessa situação, sem essa perspectiva
fica impossibilitado a criação de políticas públicas, não só para assistir essas pessoas
como também encontrar formar que impeça que esse número cresça, como evitar que essa
população aumente se não existem políticas de prevenção ou assistência a camada da
população mais propensa a parar na rua se o Estado não se dispõe a isso? O país vem nos
últimos anos passando por uma crise econômica o que com certeza contribui para pessoas
entrarem na pobreza estrema. Vários fatores levam pessoas de todas idades irem viver na
rua, sem um endereço fixo, sem proteção.
”As cidades são espaços complexos. De fato, as múltiplas formas e os
diferentes grupos que coexistem no espaço urbano dão vida às cidades,
produzindo imagens e ações variadas que resultam em interações muito
dinâmicas. Este conjunto complexo de interação e coexistência cria um
verdadeiro mosaico de quadros espaciais. Estas produções, resultantes dos
contatos, das práticas e das inter-relações em cada rua, esquina, praça ou outros
logradouros demarcam limites e formam territórios específicos nos espaços
públicos. Assim, ao lado da fascinante multiplicidade, da beleza e
heterogeneidade das formas, desenhos, movimentos, cores e vidas, há também
graves problemas sócio-espaciais que marginalizam determinados grupos ao
mesmo tempo em que criam novas dinâmicas do ver, do habitar e do viver as
cidades. Esse é o caso das populações de rua.” (ROBAINA 2011).

Essas pessoas que diariamente cruzam a cidade em busca de lugares que sirvam
de abrigo durante a noite e que se escondem durante o dia, são parte do cenário das
grandes metrópoles do país. Todos os dias essas pessoas passam no meio da multidão
agitada e atrasada e não são notadas. Algumas recorrem a pedir ajuda nos transeuntes,
alguns escolhem um local e ficam esperando algum auxílio de alguém que passe e os
enxerguem. É um problema social que está na altura dos nossos olhos todos os dias e
incrivelmente não enxergamos.
Vivemos em uma sociedade que espera de seus participantes um mínimo de bens
matérias para serem esses indivíduos levados em consideração. É preciso ter um emprego,
um teto, um celular, um meio de transporte, cada item acumula uma certa pontuação no
imaginário coletivo, e a falta dessa pontuação torna o indivíduo inexistente. Somos por
todos os lados impelidos ao consumo e o poder de consumo é algo que infelizmente
diferencia, hoje, um ser humano de outro. Para a pessoa em situação de rua todos os seus
direitos são negados, essa pessoa não tem poder aquisitivo e dessa forma não pode alugar
uma casa, e não pode ser efetivado em um emprego por não ter endereço fixo, é um ciclo,
essa mesma pessoa é negada o estudo, por muitas vezes por estar em situação de ruas seus
documentos são perdidos, ou roubados, impossibilitando que esse cidadão não consiga
um meio de superar essa situação de estar na rua.
Estar em situação de rua é estar exposto, e por mais invisível que essa pessoa seja
para a sociedade, ela está exposta a tudo. A violência, ao clima, a doenças. A essas pessoas
até a higiene pessoal é negada, não existe aparelhamento adequado para essas pessoas,
aonde elas possam ao menos tomarem banhos regulares.
Outro importante ponto na configuração do desvio das populações de
rua se manifesta a partir da dimensão estética do seu corpo e de sua
exposição sobre um espaço no qual isso se transforma em objeto da
observação, os espaços públicos. É muito comum observar moradores
de rua com as roupas sujas e rasgadas, sem dentes, barbudos, com unhas
grandes e negras e com um forte odor que desagrada os transeuntes,
fugindo assim, dos padrões esperados de um citadino. Esta condição e
características são muitas vezes agravadas pela própria rotina dessas
populações, confrontadas à inexistência de ou indisponibilidade de
alguns equipamentos e bens. A precariedade ou inexistência de
banheiros públicos, associados à falta de recursos para obtenção de bens
materiais como roupas e produtos de higiene, acabam de alguma
maneira intensificando e degradando ainda mais a imagem e a vida
dessas pessoas nos espaços públicos. (ROBAINA 2011)

Robaina 2011 também fala sobre como essa população cria estratégias que os
torne invisível para sobreviver nas ruas, eles reconhecem a imagem produzida sobre eles,
assim como os riscos e suas condições na assimetria das relações de força e poder nos
espaços públicos das grandes cidades. Deste modo, estes sujeitos acabam produzindo
estratégias espaciais de sobrevivência diante das possibilidades e principalmente frente
aos elementos hostis que se apresentam cotidianamente.
É negado a eles a humanidade, quando negamos ao ser humano a sua humanidade,
não o vemos mais como indivíduo, como uma pessoa que real, que sente fome, que sente
frio, que tem sentimentos. Essas pessoas estão na rua e são diretamente atacadas, a
violência não só física, mas verbal e psicológica. É como se a sociedade os negassem o
direito de existir, privado os de seus direitos fundamentais.
Fazer do espaço público sua moradia é se transformar nesse espaço, a habitação
insalubre, o sol incidente, as ruas movimentadas. Estar a todo tempo fazendo parte da
paisagem urbana, a pessoa em situação de rua é negado as condições básicas de
existência. Saúde, segurança, educação, lazer. Apesar de na constituição isso ser direito
de cada cidadão brasileiro, o estado não se preocupa em dar auxílio para pessoas que
recorrem as ruas por não ter para onde ir. Os fatores que levam as pessoas a estarem nas
ruas é bastante amplo, e a idade dessas pessoas também não delimitação. Vemos por vezes
mulheres com crianças recém nascidas, o que se pode constatar, essas crianças nascem na
rua, e sem um auxílio ou intervenção dificilmente conseguiram sair dessa condição.
Desde crianças a idosos, na rua essa população se diversifica e passam pelos mesmos
problemas. Na imaginação popular essas pessoas recorrem a essa vida por causa das
drogas, mas não é só isso que leva uma pessoa até ali.
Aquela mulher
Luiz Ruffato descreve essa mulher, sem nome, na sua fragmentação trazendo
traços e contornos que nos ajudam a visualizar essa personagem, ele constrói e é possível
visualizar essa mulher que por mais que seja fictícia todos nós já vimos perambulando
pelos centros das grandes cidades.

Luiz Ruffato, que reutiliza a fragmentação, colando,indiferentes uns aos


outros, estilhaços de uma realidade urbana dura e sem fronteiras, ao mesmo
tempo quase exótica em sua desagregação. (PELLEGRINI 2007)

Utilizando dessa fragmentação, não só o texto se torna um conjunto de palavras que


mesmo sem conexão formam sentido, como também cria se uma personagem
desfragmentada, perdida, atordoada. Essa fragmentação vai além do texto e perspasssa a
personagem. Temos então:

“aquela mulher que se arrasta espantalha por ruavenidas do morumbi cabelos


assim espetados na imundície olhos assim perturbados pele ruça agitadas
pernas braços assim machucados unhas pretas vestido esfrangalhado”
(RUFFATO 2013)

O que podemos observar a partir desse trecho é que temos uma mulher que está
em situação de rua, sua aparência com os cabelos sujos e as roupas deteriorando
evidenciam que essa mulher não tem amparo ou qualquer cuidado consigo, por estar em
condição de rua não possui local adequado para higiene pessoal, não tem um meio de
sustento próprio. Essa mulher é fictícia, porém é uma figura que facilmente cruzaríamos
andando pelas ruas de uma grande cidade. Uma mulher provavelmente negra, sozinha,
pobre, andando pelas ruas desnorteada, sem lugar para ir, uma aparência que enquanto
chama olhares, dispersa olhares, pois se torna invisível o seu sofrimento, apesar de tão
gritante. Outro ponto importante nesse trecho é o bairro de São Paulo escolhido pelo autor
para situar onde essa mulher estar, por que ruas ela anda se arrastando, é interessante
ressaltar que esse bairro é um doa bairros considerados nobres da capital, dessa forma
Ruffato traz para o leitor uma visão maior de onde essa mulher esta inserida, o contexto
social que ela transita, colocar uma figura em situação de rua contrastando diretamente
com o local por onde ela se arrasta

“aquela mulher que se arrasta espantalha por ruavenidas do morumbi


inconveniente suplicando respostas exigindo febril irritada chorosa perguntas
variantes insensas aquela mulher que se arrasta espantalha por ruavenidas do
morumbi ignorando ao relento se ratos ou baratas ignorando se chuva ou sol
escorrem pela guia ignorando sapatos tênis havaianas polícia ignorando aquela
mulher que se arrasta espantalha por ruavenidas do morumbi não era assim”
(RUFFATO 2013).

Nesse trecho notamos que essa mulher, em situação de rua, que vive se arrastando pela
cidade, tem uma demanda, tem um anseio, ela exige respostas das pessoas que passam e
não a enxergam, ela está triste, ela está com raiva, ela está perdida numa cidade tão grande
como São Paulo, sozinha procurando por alguém que a ajuda, que traga respostas as
perguntas que ela tem. Nesse ponto do texto temos a constatação que ela vive na rua,
quando ele diz que ela ignora ao relento os ratos, as baratas, que ela não se afeta se está
fazendo sol ou chuva, essa mulher está exposta, ela já se encontra indiferente diante
dessas mazelas que estar na rua traz. Aqui também é possível perceber como a
invisibilidade dessa mulher é algo corriqueiro nas nossas cidades, como passamos por
essa mulher todos os dias e não nos damos conta de que é um ser humano, passando por
um sofrimento, a sociedade é alheia aos problemas de alguém que se encontra como ela.
Ruffato cita aqui ultilizando se dos calçados, quem passa por essa mulher e não a enxerga.
Temos sapatos, tênis, havaianas, e a polícia, todos passando por essa mulher e ignorando
a sua existência, o seu sofrimento. Nesse trecho do texto novamente Ruffato cita o bairro
nobre de São Paulo, dessa forma enfatiza como essa mulher, nessa situação transita pela
cidade arrastando seu sofrimento, mesmo em áreas que ela não é aceita, muito menos
enxergada.
(...)virou assim um dia, deu horário, a filha de onze anos não chegou da escola,
o rosto esbaforido na cozinha, mãe!, a noite, a madrugada, a colcha o lençol
engomado, dia seguinte também não,nem no outro, nada nada nada e
humilhou-se delegacias de polícia hospitais febens prontosocorros IML
perambulou o trajeto casa-escola-escola-casa questionadeira porta em porta
pistas indícios intuições(...) (RUFFATO 2013)

Aqui o autor nos conta como essa mulher se tornou aquela mulher. Ela era mãe e a
tragédia da sua vida foi o desaparecimento dessa menina. Pelo que conta o narrador
sabemos que se trata de uma criança ou adolescente, já que essa menina não voltou da
escola, e no meio da fragmentação vamos remontando o tormento pelo qual essa mãe
passou com essa filha que não voltou pra casa. A trajetória dela pela cidade, indo em
instituições a procura de notícias. O caminho de casa para escola sendo refeito diversas
vezes, e aqui nesse ponto descobrimos que as indagações que ela faz nas ruas, no começo
do texto, é referente a sua filha desaparecida.
(...)uma noite
bateram à janela, estão chamando, o orelhão, correu, pernas embaraçando o
coração, alguém...
alguma informação...
talvez... ela? Filha?
do outro lado o pranto
o pânico
ouviu a voz Filha? Onde... Onde está você? Filha! Onde?
— ouviu vozes — silêncio
e de joelhos desabou na calçada a palma das mãos coleando o chão de palitos
de fósforo e
tampinhas de garrafa e escarros e pontas de cigarro e engatinhando
perscrutou a voz
de onde vinha?
de onde?
e arrastou-se espantalha por becos e ruas
e cerraram janelas e portas de seu barraco
e em paraisópolis não apareceu mais nunca
mais
nunca
nem uma (RUFFATO 2013)
No trecho de desfecho o narrador explicita o fio que rompido que a personagem se entrega
ao desespero e se deixa levar. A partir de uma ligação imaginada, do ilusão de um contato
com essa filha perdida, e através disso o medo latente de que essa filha está em sofrimento,
aquela mulher, mãe, se perde, o desespero toma o lugar da razão e é ai que ela se perde
nas ruas procurando sua filha. Sua casa foi fechada e a rua se tornou o seu lar. Uma mulher
da periferia que se torna, após o desaparecimento de sua filha, uma pessoa em situação
de rua e que o sofrimento da falta, da dúvida, de não saber onde, como está a sua filha é
tão maior que ela própria, que a situação ao qual ela se entregou. Perder a casa, a
dignidade, a sanidade, não é nada para essa personagem, comparada com a perda da sua
filha.

Conclusão
Eles eram muitos cavalos é um livro complexo, e seus textos tratam de assuntos
tão reais, as tramas que acompanhamos poderia facilmente ser ouvida em um ponto de
ônibus de uma cidade grande, ou até mesmo o seu vizinho, ou você. Trazendo algumas
denuncias sociais e colocando em evidência pessoas e histórias que passam despercebidos
por nós todos os dias.
Aquela mulher, o texto número 34 conta a trajetória de uma mulher, invisível aos
olhos do poder público, invisível aos olhos de que quem passa por ela, mas ao mesmo
tempo, uma mulher que vemos todos os dias nos grandes centros urbanos. Uma mulher
em situação de rua, igual tantas que existem, que estão ali não se sabe o por que, com um
história, com uma vida, que aos olhos da sociedade não conta. Uma invisibilidade social
cruel que nega a ela os seus direitos básicos.
Ruffato fragmenta o texto e a personagem, sua construção incomoda pois coloca
em evidencia com palavras fortes a situação real dessa mulher. Expõe como a perca de
sua filha afeta no nível mental essa mãe. Uma estória que poderia facilmente ser verídica
e muitas “aquela mulher” rodam diariamente nos bairros das grandes cidades.
Referências

PELLEGRINI, Tânia. Realismo: postura e método. 2007. Letras de Hoje. v. 42, n. 4, p.


137-155. Porto Alegre – RS.

ROBAINA, Igor Martins Medeiros. A Invisibilidade como Estratégia Espacial das


Populações de Rua na Cidade do Rio de Janeiro. 2011. Espaço Aberto, PPGG - UFRJ,
V. 1, N.2, p. 167-176. Rio de Janeiro – RJ.

RUFFATO, Luiz. Eles eram muitos cavalos. 2013. Companhia das Letras. 11ª ed. São
Paulo – SP.

SANTOS, Simone Cabral Marinho dos Santos; SANTOS, Nádia Farias; OLIVEIRA,
Bruna Karine de. Educação e invisibilidade social na obra Quarto de despejo, de
Carolina Maria de Jesus. 2016. TODAS AS LETRAS, v. 18, n. 3, p. 41-52. São Paulo
– SP.

SOUSA, Francisco Elieudo Buriti de; MAGALHÃES, Milena. Traços do presente em


Eles eram muitos cavalos, de Luiz Ruffato. 2013. XIII Congresso Internacional da
ABRALIC. Campina Grande – PB.

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