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Esta breve exposição será pautada por algumas reflexões sobre a prática arqueológica
no espaço compreendido pelo município de Porto Alegre e a pertinência do Programa
de Arqueologia Urbana, coordenado pelo Museu Joaquim José Felizardo, órgão da
Secretaria Municipal da Cultura.
Esta abordagem deve considerar a cidade como uma entidade complexa, que se
revela na heterogeneidade e diversidade das formas e relações sócio-culturais,
configurando-se enquanto lugar das expressões e representações dos diferentes grupos
humanos que nela vivem. Grupos estes responsáveis pela conformação das diferentes
ambiências e pela atribuição de significados aos espaços vividos. Utilizando uma
metáfora, a cidade surge como teatro da sociedade e os lugares urbanos como os seus
palcos articulados, onde seus personagens experienciam suas existências5.
Neste sentido, os testemunhos materiais das ações humanas podem vir a representar
os diferentes modos e estilos de vida que se encontram na sociedade. O patrimônio
arqueológico - restos materiais de atividade cultural e seu contexto - deve ser
considerado como suporte de informação sobre os padrões de comportamento, práticas
sociais do passado da cidade e como produto e vetor das relações sociais6.
Porto Alegre, considerada uma metrópole pelos urbanistas, muito já perdeu de seu
patrimônio histórico constituído ao longo de dois séculos. Os anos 70 e 80 construíram
uma cidade de "monumentos" urbanísticos - túneis, viadutos, perimetrais, grandes
prédios. Representantes materiais de outros tempos restaram isolados, em contextos
fragmentados, alguns com caráter apenas de monumento como igrejas, prédios de
funções públicas e outros equipamentos urbanos. O centro da cidade, que como toda a
metrópole possui um centro histórico, é um dos locais onde vislumbra-se o conflito
entre o antigo e o novo8. Em conseqüência das intervenções modernizadoras, surgiram
áreas configuradas segundo novos padrões de racionalidade e gosto, rompendo com
formas peculiares e tradicionais de relação com os espaços construídos e estilos de
vida9.
Este olhar sobre a cidade e sobre as relações que podem ser estabelecidas com o fazer
arqueológico qualificam a inserção e desenvolvimento de pesquisas no ambiente
urbano. A cidade deixa de ser estudada como se fosse "(...) simplesmente uma grande
coleção de sítios discretos" (Juliani, op.cit.:4) e passa a ser considerada uma entidade
com suas partes interconectadas: a arqueologia na cidade para a arqueologia da cidade.
Segundo a primeira orientação, os sítios são considerados isoladamente, sendo a cidade
apreciada apenas como ambiente no qual os sítios estão inseridos. Esta abordagem
parece adequar-se a uma realidade distante do processo de constituição de um ambiente
urbano - a ocupação pré-histórica de um território. Neste caso, a conciliação entre uma
arqueologia da cidade e na cidade, faz-se na aplicação de estratégias de gestão do
patrimônio arqueológico municipal - histórico e pré-histórico - em vista de que ambos
estão sujeitos as mesmas interferências antrópicas.
A cidade caracteriza-se por uma grande intensidade de usos de seus espaços sofrendo,
portanto, uma constante transformação de suas paisagens através de aterros,
terraplanagens, construções, demolições, desfiguração do relevo original, entre outros.
Apesar de todas estas intervenções, é comprovado que uma parcela considerável do
subsolo é preservada, contendo vestígios arqueológicos de ocupações pretéritas10.
Em Porto Alegre constata-se a validade destas proposições, posto que um rico acervo
arqueológico proveniente de lixeiras coletivas, foi resgatado em locais com alta
intensidade de uso do solo, como o Mercado Público e a Praça Rui Barbosa. Toda a área
central apresenta um potencial arqueológico significativo, visto que sua ocupação
histórica remonta ao século XVIII, início da formação do núcleo urbano. A área
periférica, por sua vez, apresenta probabilidades de ocorrência - como já evidenciado -
de vestígios arqueológicos relacionados a sedes de chácaras e estâncias dos séculos
XVIII e XIX , bem como locais de ocupação pré-histórica. O Programa de Arqueologia
Urbana (P.A.U.), impulsionado por este diagnóstico e redirecionando os trabalhos que,
até o momento, foram desenvolvidos de forma pontual, pretende integrar as diversas
pesquisas sobre o patrimônio arqueológico e histórico visando a compreensão dos
processos de apropriação dos espaços, modos de vida e relações sociais dos diferentes
grupos humanos que ocuparam este território, assim como a valorização e divulgação
desses testemunhos.
b- Científica: consiste no uso dos recursos culturais "(...) para estabelecer fatos e
generalizações sobre as relações sobre a cultura material, o comportamento humano e a
cognição";
d- Pública: "(...) envolve os benefícios que a arqueologia pode dar para a sociedade
como um todo";
e- Legal: "(...) envolve o que está escrito na lei relacionada à proteção e investigação
dos recursos culturais".
Propostas de ação:
a- Obras de impacto ambiental: Constituição Federal de 1988 (art.20, 216), Lei Federal
3924/61, Resolução CONAMA(001/86), Portaria SPHAN 07/88 relacionadas aos
Estudos e Relatórios de Impacto Ambiental ;
b- Obras privadas e públicas sem impacto ambiental: relacionamento entre arqueologia
e secretarias municipais ( do planejamento, obras e viação, esgotos pluviais, meio
ambiente);
Áreas de investigação:
a- período colonial: sede de estâncias (área rural), centro histórico (área da cidade
murada, urbana);
b- século XIX: sede de estâncias e chácaras (área rural), centro histórico (área semi-
rural e urbana).
3- Educação patrimonial: