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reflexões
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Paulo Henrique de Carvalho Bueno
Abstract: Search this writing reflect on the concept of territory and its
potential for use in studies of public policies, to show that this concept
can be used as a tool of interpretation of a given target space
materiality of certain policy, which involves a process formulation,
implementation, execution and evaluation. In this article tried to make
a methodological review about the concept of territory and public
policies. The discussion looks to the downstream can contribute as a
set of ideas that allow a more in depth analysis of public policies.
Key words: Territory, public policy.
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Mestre. Secretaria de Educação do Estado do Piauí. E-mail: ph21bueno@hotmail.com
1. INTRODUÇÃO
O presente artigo visa dar uma contribuição, via conceito de território, aos estudos
das políticas públicas. Nessa perspectiva, parte-se da ideia de que ao pensar em políticas
públicas, seja na sua formulação, implementação ou execução, é interessante analisar como
o público alvo da referida política produz seus espaços, em especial seus territórios.
Assim sendo, este escrito enfatiza o conceito de território como uma das formas da
sociedade ou parcela dela produzir seus espaços geográficos, os quais em muitos casos
perpassam pelo entendimento, também, do conceito de redes. Partindo dessa concepção,
estrutura-se da seguinte forma o artigo: inicialmente faz-se uma discussão do conceito de
território geográfico, seguida de uma análise de sua importância como ferramenta para os
estudos em políticas públicas, findando com as considerações finais.
A discussão proposta por Moreira (2006) advém do seu próprio entendimento de que
a sociedade se organiza, procurando um ordenamento territorial para um fim, o qual pode
ser o de assegurar a organização espacial da sociedade no sentido da centralidade
(sociedade organizada numa estrutura de espaço e contra-espaço), e pode ser também no
sentido da alteridade (sociedade organizada numa estrutura de pluralidade espacial de
equivalência). Essas duas categorias, centralidade e alteridade, são primordiais para que se
discuta o ordenamento territorial de um dado espaço (o qual possui uma localização e
distribuição singular de fluxos materiais e imateriais), uma vez que esse ordenar pode
apoiar-se na referência da centralidade ou da alteridade do sistema de localizações, a
sociedade se estrutura como uma sociedade de conflito ou de cooperação, mobilizando
assim uma relação de regulação de conflito ou de cooperação (MOREIRA, 2006).
Logo, todas essas imbricações postas no espaço trazem a reflexão de como a
sociedade organiza seu espaço; enfim, “a noção do ordenamento territorial inclui assim a
idéia de uma orientação para um fim. Pode ser o fim de assegurar a organização espacial
da sociedade no sentido da centralidade e pode ser no sentido da alteridade” (MOREIRA,
2006, p. 75). Nota-se também que ordenamento territorial traz uma perspectiva política, a
qual enseja uma necessidade de se compreender como a política, entendida como conflito
de idéias, de argumentos e que está difusa nas micro e macrorrelações sociais
(FOUCAULT, 1979) se entrelaçam nas construções de territórios que se fazem presentes
nas realidades sociais; o que justifica as tessituras que se fazem entre território e poder; ou
seja, as relações de poder servirão como um instrumento analítico primordial na análise
explicativa dos territórios usados, sendo que esses contêm uma história que pode ser
apreendida (SANTOS, 2006).
Contudo, é importante frisar que ordenamento territorial não significa a estrutura
espacial, mas a forma como esta estrutura espacial territorialmente se organiza, se auto-
regula, no todo das contradições sociais, procurando manter a sociedade funcionando
segundo sua realidade societária. Essa organização parte da idéia de que “o arranjo do
espaço pode ser concebido como um complexo de territorialidades. Isto é, um complexo de
recortamento, um múltiplo de áreas configurativas do espaço como uma estrutura
corológica, genética e genealogicamente tensa e densa de conflitos [...]” (MOREIRA, 2006,
p. 80).
Ao analisar o conteúdo dos territórios e sua relação com a historicidade e a
temporalidade dos espaços e das relações humanas, podemos compreender o porquê de os
territórios serem móveis ou mutáveis (SOUSA, 1995). Ressalte-se que nessa mutabilidade o
prisma economicista detém papel considerável na constituição dos territórios da sociedade,
tomando conta de quase todas as relações sociais, permeando quase todas as dimensões
humanas. Daí afirmar que o dinheiro aparece como um palco de fluxos cada vez mais
numerosos, em que sua análise precede de um vislumbrar tanto do caráter da produção
escolhida como às possibilidades da circulação, tendo em vista que a circulação ganha, na
atualidade, sobre a produção, porque ganha sobre a produção o comando da vida,
requerendo, portanto, uma regulação das complexidades das relações externas e internas
dos territórios (SANTOS, 2006). Logo, levanta-se “a necessidade de Estado: o Estado e os
limites, o Estado e a produção, o Estado e a distribuição, o Estado e a garantia de trabalho,
o Estado e a garantia da solidariedade e o Estado e a busca da excelência na existência”
(SANTOS, 2006, p. 16).
Analisar o lado econômico de uma dada produção espacial via constituição de
territórios perpassa pelo entendimento de que as configurações dos arranjos econômicos
alia à esfera da produção com a da circulação, as duas atuando de modo integrado e
diferente, variando no tempo de acordo com a forma de acumulação (MOREIRA, 2006).
Nessa perspectiva de configuração espacial, reconhecemos que as temporalidades e
o sistema de acumulação vigente acabam por influenciar e desencadear todas as formas de
organização socioespacial; significando que tanto as funções formais do estado quanto as
demandas da sociedade civil “[...]faz do arranjo do espaço um campo de correlação de
forças, e do espaço um elemento de caráter essencialmente político em sua determinação
sobre a organização global da sociedade[...]” (MOREIRA, 2006, p. 83).
O comentário de Moreira (2006) traz à tona a necessidade de que se discutam que
as construções de territórios exercem e sofrem influências de um contexto maior, de uma
conjuntura nacional e internacional, o que permite e obriga buscar entender como a
globalização, conforme a discussão de Santos (2004), permeia as relações que se dão nos
territórios.
Ao analisar o conceito de território e suas relações com a globalização faz-se mister
ter em mente que a primeira categoria torna-se conceito quando tomado a partir de seu uso,
pensando juntamente com os atores que dele se utilizam. A globalização amplia o uso
desse conceito em parte por causa da competitividade, levando a uma busca desenfreada
por produtividade, que depende de condições oferecidas nos lugares de produção, de
circulação e de consumo, o que torna os territórios singulares quanto aos seus conteúdos,
seja em quantidade, seja em densidade dos mesmos (SANTOS, 2006). Portanto, na
atualidade, “entre o território tal como ele é e a globalização tal como ela é cria-se uma
relação de causalidade em benefício dos atores mais poderosos, dando ao espaço
geográfico um papel inédito na dinâmica social” (SANTOS, 2004, p. 23).
Ao relacionar território e globalização, faz-se necessário interligar este primeiro
conceito com o de redes, pois seja como elemento separado do território e que o domina,
seja como constituinte do mesmo “ela é o veículo por excelência de maior fluidez que atinge
o espaço e, no nosso ponto de vista, o componente mais importante na territorialidade
contemporânea” (HAESBAERT, 2006, p. 58).
Compreender o território e suas inter-relações com as redes dentro de um processo
de globalização torna-se importante tanto para quem deseja estudar o espaço geográfico,
suas produções e materialidades quanto para quem precise analisá-lo como uma ferramenta
útil nos estudos das políticas públicas, desde a formulação até a execução. Ressalte-se que
espaço geográfico pode ser “[...] definido como um conjunto indissociável de sistemas de
objetos e sistemas de ações [...]” (SANTOS, 2002, p. 21). Suscitando, portanto, ser
compreendido simultaneamente às disposições físicas das coisas e práticas sociais que aí
ocorrem. Dessa forma, o espaço pode ser concebido como produto e produtor das inter-
relações entre homem-natureza-sociedade. Nessa perspectiva, a análise geográfica da
realidade permite apreender o espaço como um texto, no qual as formas são portadoras de
significados e sentidos (GOMES, 1997).
Os textos impressos no espaço, os quais são úteis para os estudiosos das políticas
públicas, podem ser lidos via conceito de território. Logo, no que concerne à concepção de
território, aponta-se que esta categoria é apreendida como um espaço definido por e a partir
de relações de poder, as quais têm origem nas apropriações e usos dos substratos físicos
espaciais, mas que se materializam nas relações sociais presentes nessa espacialidade,
desde sua gênese à sua gestão (SOUZA, 1995). Concebendo-o assim, percebe-se-á que a
materialidade do mesmo é dada por objetos que têm uma gênese técnica, um conteúdo
técnico e se inter-relacionam na condição de técnica, seja na sua realização, seja em sua
funcionalidade (SANTOS, 2002).
Outro conceito que pode ser utilizado, aliado ao de território, como uma perspectiva
nos estudos das políticas públicas é o de redes. Assim sendo, entende-se que para a
análise desse conceito na contemporaneidade, supõe-se a descrição do que a constitui, um
estudo estatístico das quantidades e das qualidades técnicas, conjuntamente com a
avaliação das relações que os elementos da rede mantêm com a vida social do presente,
em todos os seus aspectos; ou seja, essa qualidade de servir como suporte corpóreo do dia-
a-dia. Nesse sentido, transcende a concepção da rede como sendo toda infra-estrutura,
permitindo o transporte de matéria, de energia ou de informação, e que se inscreve sobre
um território onde se caracteriza pela topologia de seus pontos de acesso ou pontos
terminais, seus arcos de transmissão, seus nós de bifurcação ou de comunicação, sendo a
mesma também dotada de vida social, política, cultural, que pode ser visualizada e
entendida, a partir das pessoas, signos, símbolos e mensagens (SANTOS, 2002).
Na tentativa de fazer algumas reflexões que o conceito de território como uma das
formas da sociedade produzir seus espaços geográficos, os quais servem de leitura e
análise da vida social, apoiando-se no de redes, assim como as constituições,
entrelaçamentos, enfim, de como a dinamicidade do território pode vir a ser uma ferramenta
útil nos estudos das políticas públicas é que toma corpo nosso próximo tópico.
Referências Bibliográficas
SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo:
EDUSP, 2002.
_______. O dinheiro e o território. In: Santos, Milton et al. Território, territórios: ensaios
sobre o ordenamento territorial. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. (Cap. 1).
_______. Território e sociedade. 2. ed. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2004.
Entrevista concedida por Milton Santos.
SILVA E SILVA, Maria Ozanira (Org.). Avaliação de políticas e programas sociais: aspectos
conceituais e metodológicos. In: ______ (Org.). Avaliação de políticas e programas
sociais: teoria e prática. São Paulo: Veras, 2001.