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FICHAMENTO DO 1º CAPITULO DO LIVRO GEOGRAFIA CONCEITOS E TEMAS

Paulo Cesar da Costa Gomes – professor do Departamento de Geografia, UFRJ.

ESPAÇO, UM CONCEITO-CHAVE DA GEOGRAFIA.

Adicionalmente a palavra espaço tem o seu uso associado indiscriminadamente a


diferentes escalas, global, continental, regional, da cidade, do bairro, da rua, da casa
e de um cômodo no seu interior.

O que é afinal espaço geográfico?

No presente texto considerar-se-á o conceito de espaço tal como os geógrafos


entendem.

O ESPAÇO E AS CORRENTES DO PENSAMENTO GEOGRAFICO.

Como toda ciência a geografia também possui alguns conceitos-chaves, capazes de


sintetizarem a sua objetivação.

Como ciência social a geografia tem como objeto de estudo a sociedade que, no
entanto, é objetivada via cinco conceitos-chave que guardam entre si forte grau de
parentesco: paisagem, região, espaço, lugar e território.

ESPAÇO E GEOGRAFIA TRADICIONAL.

A geografia tradicional em suas diversas versões privilegiou os conceitos de


paisagem e região, em torno deles estabelecendo-se a discussão sobre o objeto da
geografia e a sua identidade no âmbito das demais ciências.

O espaço em realidade não se constitui um conceito-chave na geografia tradicional.

De acordo com MORAES (1990) o espaço em Ratzel é visto como base


indispensável para a vida do homem.

Ratzel desenvolve assim dois conceitos fundamentais em sua antropogeografia.


Trata-se do conceito de território e de espaço vital, ambos com fortes raízes na
ecologia.

A preservação e ampliação do espaço vital constitui-se na formulação Ratzeliana, na


própria razão de ser do estado.

O espaço transformou-se, assim, através da política, em território, em conceito-


chave da geografia.

HARTSHORNE (1939), por sua vez, admite que conceitos espaciais são de
fundamental importância para a geografia.
O espaço na visão hartshorniana é o espaço absoluto, isto é, um conjunto de pontos
que tem existência em si, sendo independente de qualquer coisa.

O espaço em Hartshorne aparece como um receptáculo que apenas contém as


coisas.

O ESPAÇO E A GEOGRAFIA TEORÉTICO-QUANTITATIVA.

O despeito das críticas que se pode, efetivamente, fazer à geografia teorético-


quantitativa, é necessário ressaltar que a geografia passa a ser considerada como
ciência social.

Tanto em Schaefer como em Brunge, assim como em ULLMAN (1954) e WATSON


(1955), o espaço, aparece, pela primeira vez na história do pensamento geográfico,
como o conceito-chave da disciplina.

No âmbito da corrente geográfica em questão o espaço é considerado sob duas


formas. De um lado através da noção de Planície isotrópica e, de outro, de sua
representação matricial.

A Planície isotrópica é uma construção teórica que resume uma concepção de


espaço derivada de um paradigma racionalista hipotético-dedutivo.

As representações matriciais e topológicas devem, no nosso entender, se constituir


em meios operacionais que nos permitam extrair conhecimento sobre localizações e
fluxos.

ESPAÇO E GEOGRAFIA CRÍTICA.

A década de 1970 viu o surgimento da geografia crítica fundamentada no


materialismo histórico e na dialética.

No âmbito dos debates o espaço reaparece como conceito-chave.

CLAVAL (1987), por sua vez admite que o espaço tem se constituído em tema
central para os geógrafos neomarxistas.

O espaço aparece efetivamente na analise marxista a partir de Henri Lefébvre.

O espaço entendido como espaço social, vivido, em estreita correlação com a


prática social não deve ser visto como espaço absoluto, vazio e puro, lugar por
excelência dos números e das proporções.

O espaço também não é um instrumento politico. Segundo Lefébvre, o espaço é


mais do que isto. Engloba está concepção e a ultrapassa.

SANTOS (1977) afirma não ser possível conceber uma determinada formação
socioeconômica sem se recorrer ao espaço. Segundo ele, modo de produção,
formação socioeconômica e espaço são categorias interdependentes.
Não há assim como se falar em sociedade e espaço como se fossem separadas,
que nós reuniríamos a priori, mas sim de formação socioeconômica.

ESPAÇO E GEOGRAFIA HUMANISTA E CULTURAL.

A década de 1970 viu também o surgimento da geografia humanista que foi, na


década seguinte, acompanhado da retomada da geografia cultural.

Contrariamente às geografias críticas e teorético-quantitativa, a geografia humanista


está assentada na subjetividade, na intuição, nos sentimentos, na experiência, no
simbolismo e na contingência, privilegiando o singular.

A paisagem torna-se um conceito revalorizado, assim como a região, enquanto o


conceito de território tem na geografia humanista uma de suas matrizes.

Segundo TUAN (1979) no estudo do espaço no âmbito da geografia humanista


considera-se os sedimentos espaciais e as ideias de um grupo ou povo sobre o
espaço a partir da experiência.

O espaço sagrado é um exemplo e a ele também TUAN (1972) se dedicou, seguindo


as ideias de Micea Eliade sobre o sagrado e profano.

O lugar para TUAN (1979) por outro lado, tem um outro significado, possui um
espirito, uma personalidade.

AS PRATICAS ESPACIAIS

No longo e infindável processo de organização do espaço o homem estabeleceu um


conjunto de práticas através dos quais são criadas, mantidas, desfeitas e refeitas as
formas e as interações espaciais.

As práticas espaciais resultam de um lado da consciência que o homem tem da


diferenciação espacial.

As praticas espaciais são ações que contribuem para garantir os diversos projetos.

Segundo CORRÊA (1992) as práticas espaciais são as seguintes: seletividade


espacial, fragmentação-remembramento espacial, antecipação espacial,
marginalização espacial e reprodução da região produtora.

Seletividade Espacial: no processo de organização de seu espaço o homem age


seletivamente. Decide sobre um determinado lugar segundo este apresente atributos
jugados de interesse de acordo com os diversos projetos estabelecidos.

Fragmentação-remembramento espacial: no processo de produção do espaço há


uma inerente dimensão política que leva a diferentes formas de controle sobre o
espaço.
Antecipação espacial: Constitui uma prática que pode ser definida pela localização
de uma atividade em um dado local antes que condições favoráveis tenham sido
satisfeitas.

Marginalização espacial: O valor atribuído a um dado lugar pode variar ao longo do


tempo. Razões de ordem econômica, politica ou cultural pode alterar a sua
importância e, no limite, marginalizá-lo, deixando-o à margem da rede de lugares a
que se vincula.

Reprodução da região produtora: No processo de valorização produtiva do espaço é


necessário que se viabilize a reprodução das condições de produção.
FICHAMENTO DO 2º CAPITULO DO LIVRO GEOGRAFIA CONCEITOS E TEMAS

Paulo Cesar da Costa Gomes – professor do Departamento de Geografia, UFRJ.

O CONCEITO DE REGIÃO E SUA DISCUSSÃO

Evitemos de imediato a sedutora tentação de procurar responder definitivamente a


questão, o que é região.

Parece bem mais salutar começar justamente pelo oposto, reconhecendo a


existência da noção de região em outros domínios, que não os da ciência e, o mais
importante, reconhecendo, ao mesmo tempo, a variedade de seu emprego no
âmbito da própria ciência e particularmente na geografia.

ALGUNS IMPORTANTES ANTECEDENTES

A palavra região deriva do latim regere. Alguns filósofos interpretam a emergência


deste conceito como uma necessidade de um momento histórico em que, pela
primeira vez, surge de forma ampla, a relação entre a centralização do poder em um
local e a extensão dele sobre uma área de grande diversidade social, cultural e
espacial. Existe também o fato de outros conceitos de natureza espacial tenham sido
enunciados nesta mesma época, como o conceito mesmo de espaço.

Podemos perceber três principais consequências: a primeira é que o conceito de


região tem implicações fundadoras no campo da discussão politica, da dinâmica do
estado, da organização da cultura e do estatuto da diversidade social;

Percebemos que a geografia foi o campo privilegiado destas discussões ao abrigar a


região como um dos seus conceito-chave e ao tornar a si a tarefa de produzir uma
reflexão sistemática sobre este tema.

OS DIVERSOS DOMÍNIO DA NOÇÃO DE REGIÃO.

Na linguagem cotidiana do senso comum, a noção de região parece existir


relacionada a dois princípios fundamentais: o de localização e o de extensão.

A região tem também um sentido bastante conhecido como unidade administrativa e,


neste caso, a divisão regional é o meio pelo qual se exerce frequentemente a
hierarquia e o controle na administração dos estados.

Nas regiões em geral, como na matemática, na biologia, na geologia etc., a noção


de região possui um emprego também associado à localização de certo domínio, ou
seja, domínio de uma dada espécie.

Na geografia, o uso desta noção de região é um pouco mais complexo, pois ao


tentarmos fazer dela um conceito cientifico, herdamos as indefinições e a força de
seu uso na linguagem comum.
Ao tentar precisar, no entanto, o sentido do conceito de região através de
associações surgiu outros debates que interrogam mesmo a natureza, o alcance e o
estudo do conhecimento geográfico.

O conceito de região natural nasce, pois desta ideia de que o ambiente tem certo
domínio sobre a orientação do desenvolvimento da sociedade.

São assim as formas de civilização, a ação humana, os gêneros de vida, que devem
ser interrogados para compreendermos uma determinada região.

Neste plano se deve começar pela descrição das características físicas seguida da
descrição da estrutura da população e de suas atividades econômicas. O objetivo
final é encontrar para cada região uma personalidade, uma forma de ser diferente e
particular.

Para Hettner, a geografia era uma ciência ideográfica, visto que ela estudava o
espaço terrestre e este é diferenciado, não regular e único em cada paisagem.

Muito embora a perspectiva de Hartshorne se inscreva também na valorização de


uma geografia regional, um ponto fundamental o disntingue da maior parte dos
autores da chamada escola francesa.

A partir do método regional a dicotomia sistemático-particular desaparece em uma


espécie de complementaridade inerente ao próprio conceito de região.

Para que essa questão de região se torne um conceito cientifico é absolutamente


necessário que haja uma formulação clara de seu sentido, de seus critérios e de sua
natureza.

Regionalizar passa a ser a tarefa de dividir o espaço segundo diferentes critérios que
são devidamente explicitados e que variam segundo as intenções explicativas de
cada trabalho.

Dentro desta perspectiva surgiram dois tipos fundamentais de regiões homogêneas


e as regiões funcionais ou polarizadas.

Pierre George a afirma ironicamente que antes, ou seja, na geografia clássica, a


região fazia a cidade e agora, na geografia moderna, a cidade faz a região.

A partir dos anos setenta uma grande onda crítica se fez presente, arguindo e,
sobretudo o caráter ideológico deste tipo de perspectiva amparada nos modelos
econômicos neoclássicos.

Outros geógrafos desta corrente, sobretudo aqueles mais influenciados pelo


discurso marxista, procuraram estabelecer uma relação estreita entre o conceito de
região e os conceitos da economia politica marxista.
A região é, pois nesta perspectiva a síntese concreta e histórica desta instância
espacial ontológica dos processos sociais, produto e meio de produção e
reprodução de toda a vida social (SANTOS, 1978).

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