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"A Geografia é a ciência responsável por compreender o espaço e a relação que ele possui
com o ser humano. Dizer que a Geografia é uma ciência implica considerar que ela possui
as suas próprias perspectivas metodológicas e o seu objeto de estudo, sendo uma área
abrangente do conhecimento e responsável por influenciar várias aplicabilidades, além de
possuir várias subáreas.
A Geografia estuda o espaço geográfico, ou seja, todo o espaço terrestre produzido pelo
homem ou que possui direta ou indireta relação com este. Sendo assim, o estudo das
sociedades urbana e rural, o uso e apropriação dos recursos naturais e as dinâmicas
naturais fazem parte dos estudos geográficos.
Em termos gerais, a Geografia costuma ser dividida em Regional e Geral, sendo essa
última novamente subdividida em Física e Humana, muito embora os geógrafos venham
procurando, cada vez mais, estabelecer uma correlação entre os fenômenos humanos e
naturais. No organograma a seguir, podemos ter uma melhor noção da estruturação da
Geografia.
A Geografia Regional, como o próprio nome aponta, parte de estudos localizados, regionais,
pautando-se mais pelas características específicas dos locais do que por generalizações ou
raciocínios universais. Algumas correntes de pensamento, inclusive, acreditam na
concepção de unir o todo pelas partes, ou seja, sistematizar os conhecimentos regionais
para, a partir deles, compreender todo o mundo. Esse pensamento difundiu-se através de
Vidal de La Blache, um importante geógrafo francês do final do século XIX e início do século
XX.
A Geografia Física, por sua vez, estuda o relevo terrestre, bem como a intervenção da ação
humana sobre ele, atuando também em sistemas de planejamento ambiental, agrário e
urbano. Essa área sistematiza-se a partir da compreensão de quatro grandes
compartimentações da realidade: a litosfera (camada rochosa da Terra), a hidrosfera (os
cursos d'água), a atmosfera (o clima e seus efeitos) e a biosfera (as vegetações e a
distribuição dos seres vivos).
Além disso, existem alguns conceitos que, juntamente ao espaço geográfico, constituem-se
como o cerne do pensamento geográfico, com destaque para os seguintes temas: território,
lugar, paisagem e região.
O território é, basicamente, o espaço apropriado pelas relações de poder ou pertencimento.
Ele pode apresentar fronteiras naturais, políticas e culturais, nem sempre fixas ou
plenamente visíveis. Ele possui diferentes formas que variam com o tempo e com a área de
abrangência, além de também se apresentar estruturado em redes, a exemplo dos
territórios dos traficantes, que se estruturam em células interligadas que se constituem em
diferentes lugares.
Com o surgimento da geografia como uma ciência, também foram surgindo as primeiras
correntes do pensamento geográfico. A partir do século XIX, diferentes concepções e
abordagens tomaram o campo da geografia, no que diz respeito às relações entre ser
humano, sociedade, meio ambiente, espaço.
1. Determinismo geográfico
Na visão do determinismo, o homem é um produto do meio – o que hoje seria visto como
uma visão preconcebida da sociedade. O determinismo surgiu numa época em que o
imperialismo tomava o mundo. As potências europeias, por sinal, encontraram nele uma
“explicação” adicional para validar os seus direitos de submissão e conquista de nações ao
redor do mundo.
Entre as principais ideias dessa corrente está a teoria do espaço vital, em que o espaço é
determinante e características físicas como relevo, clima, vegetação e hidrografia são
decisivas na formação da sociedade. Ainda que tenha mais de dois séculos, a corrente
determinista ainda é em muito utilizada pelo senso comum, para generalizar aspectos
regionais e locais de desenvolvimento.
2. Possibilismo geográfico
La Blache dedicou-se à ideia de gênero de vida, com base na relação entre sociedade e
espaço. O homem não era mais um produto do meio – ao contrário – era o agente capaz de
modificar o meio através da técnicas, das revoluções tecnológicas e da sua própria
ocupação e estilo de vida. Ou seja, o ser humano consegue transformar o espaço,
adaptando o relevo, superando o clima, modificando o curso dos rios, construindo
hidrelétricas, transformando zonas desérticas em áreas férteis.
3. Método regional
Também conhecida por geografia regional, essa corrente busca a separação e segregação
de características conforme áreas específicas, ou regiões. Por essa razão, por exemplo, o
Brasil é dividido em regiões, além da divisão política por estados. Cada região compartilha
de características climáticas, de flora e fauna, de relevo e até sociais que a distingue das
demais. Assim, para entender melhor o espaço e as interações sociais dentro dele, a
comparação e a diferenciação de áreas são elementos fundamentais.
Essa corrente ganhou maior notoriedade na década de 1940, com Richard Hartshorne e
Alfred Hettner, que defenderam a importância de criar referenciais de análise por meio da
comparação dos lugares – a comparação se dá por fatores ambientais e humanos,
englobando aspectos defendidos pelo determinismo e pelo possibilismo ao mesmo tempo.
Apesar de recente em sua profundidade, a divisão geográfica por regiões era já comum no
século XIX e era defendida muito antes por pensadores, filósofos e estudiosos, tais como
Immanuel Kant, no século XVIII, e Karl Ritter, no século XIX.
Como exemplo claro de utilização dessa abordagem, grande parte dos estudos, dados e
pareceres desenvolvidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
empregam análises quantitativas – entre elas o Censo.
Essa abordagem também ficou conhecida como Nova Geografia quando surgiu, após a
Segunda Guerra Mundial, na década de 1950. Com dados e números, governos podiam
criar e desenvolver indicadores socioeconômicos, bem como de institutos de análise
baseados em recenseamentos para entender melhor a sociedade – entre eles o IBGE.
5. Geografia crítica
No Brasil, a geografia crítica foi defendida por Milton Santos, expoente da geografia
brasileira, que acreditava no papel de denúncia, crítica e transformação social dos estudos
geográficos.
Também conhecida como Geografia marxista (ainda que não possua qualquer influência
direta do filósofo alemão), enxerga a sociedade procurando identificar seus problemas, suas
contradições.
Essa nova corrente foi em muito influenciada por movimentos de rompimento com a
academia e o establishment – protestos “hippies” e contra a Guerra do Vietnã, o movimento
feminista, correntes anarquistas durante a Guerra Fria, assim como críticas intelectuais ao
regime militar no Brasil.
Milton Santos,
geógrafo brasileiro de grande importância
A corrente tem como fundamentos os trabalhos realizados por Yi-Fu Tuan, Anne Buttimer,
Edward Relph e Mercer e Powell. A fenomenologia é uma corrente empregada em diversas
áreas das ciências humanas – trata-se do estudo da consciência, uma metodologia
filosófica que ganhou espaço em diversas ciências.
São claras as influências de Hegel e do filósofo Edmund Husserl (1859-1939). Sob o olhar
da fenomenologia, a geografia depende da valorização da percepção do indivíduo e do
grupo social na busca de compreender a forma de sentir das pessoas em relação aos seus
lugares. É uma geografia focada nas relações humanas e sociais, onde o lugar, fisicamente
falando, recebe menor atenção.
7. Geopolítica
Mackinder estabeleceu, ainda em 1904, uma divisão do mundo baseada em duas grandes
faixas circulares, as quais denominou “crescente interior” ou “marginal” e “crescente
exterior” ou “insular”, tendo como centro aquilo que chamou de “Heartland” – uma região da
Ásia Central jamais conquistada por qualquer uma das potências navais imperialistas do
século XIX. Sob sua visão, o domínio geográfico desse “coração do mundo”, em conjunção
com uma saída para o mar, criaria a “potência final” em termos imperialistas. Uma nação
capaz de dominar toda a Eurasia e o mundo.
A divisão do mundo
de Mackinder é um dos alicerces da geopolítica.
Apesar da contribuição de Mackinder, coube ao sueco Rudolf Kjellen empregar pela
primeira vez o termo geopolítico que conceituava a ciência do Estado como dominador do
espaço. Dessas premissas a geografia emergiu, no século XX, como uma forma de
estratégia e domínio – e, porque não, gestão por parte de um governo.
Princípios da Geografia
No século XIX, com o surgimento da Geografia como ciência, se fez necessária a definição
de princípios metodológicos, que lhe conferem o devido caráter científico. Os princípios
formulados são: