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O QUE É GEOGRAFIA?

"A Geografia é a ciência responsável por compreender o espaço e a relação que ele possui
com o ser humano. Dizer que a Geografia é uma ciência implica considerar que ela possui
as suas próprias perspectivas metodológicas e o seu objeto de estudo, sendo uma área
abrangente do conhecimento e responsável por influenciar várias aplicabilidades, além de
possuir várias subáreas.

O que a Geografia estuda?

A Geografia estuda o espaço geográfico, ou seja, todo o espaço terrestre produzido pelo
homem ou que possui direta ou indireta relação com este. Sendo assim, o estudo das
sociedades urbana e rural, o uso e apropriação dos recursos naturais e as dinâmicas
naturais fazem parte dos estudos geográficos.

Em termos gerais, a Geografia costuma ser dividida em Regional e Geral, sendo essa
última novamente subdividida em Física e Humana, muito embora os geógrafos venham
procurando, cada vez mais, estabelecer uma correlação entre os fenômenos humanos e
naturais. No organograma a seguir, podemos ter uma melhor noção da estruturação da
Geografia.

Esquema simplificado da estrutura da Geografia

A Geografia Regional, como o próprio nome aponta, parte de estudos localizados, regionais,
pautando-se mais pelas características específicas dos locais do que por generalizações ou
raciocínios universais. Algumas correntes de pensamento, inclusive, acreditam na
concepção de unir o todo pelas partes, ou seja, sistematizar os conhecimentos regionais
para, a partir deles, compreender todo o mundo. Esse pensamento difundiu-se através de
Vidal de La Blache, um importante geógrafo francês do final do século XIX e início do século
XX.

A Geografia Física, por sua vez, estuda o relevo terrestre, bem como a intervenção da ação
humana sobre ele, atuando também em sistemas de planejamento ambiental, agrário e
urbano. Essa área sistematiza-se a partir da compreensão de quatro grandes
compartimentações da realidade: a litosfera (camada rochosa da Terra), a hidrosfera (os
cursos d'água), a atmosfera (o clima e seus efeitos) e a biosfera (as vegetações e a
distribuição dos seres vivos).

Já a Geografia Humana é pautada em compreender a reprodução das atividades humanas


sobre o espaço, como o crescimento das cidades, a dinâmica do espaço econômico, o meio
agrário e rural, as dinâmicas demográficas, entre outros temas.

Além disso, existem alguns conceitos que, juntamente ao espaço geográfico, constituem-se
como o cerne do pensamento geográfico, com destaque para os seguintes temas: território,
lugar, paisagem e região.
O território é, basicamente, o espaço apropriado pelas relações de poder ou pertencimento.
Ele pode apresentar fronteiras naturais, políticas e culturais, nem sempre fixas ou
plenamente visíveis. Ele possui diferentes formas que variam com o tempo e com a área de
abrangência, além de também se apresentar estruturado em redes, a exemplo dos
territórios dos traficantes, que se estruturam em células interligadas que se constituem em
diferentes lugares.

O lugar forma um característica mais compreensiva, sendo considerado como o espaço


conforme a percepção humana, constituindo-se a partir de relações de afeição e identidade.
Um exemplo de lugar, para uma pessoa, é a fazenda onde ela passou a infância ou a rua
onde se encontrava a sua escola.

A paisagem é, grosso modo, a expressão externa no espaço ou a forma como este é


apreendido pelos sentidos humanos: visão, audição, paladar, tato e olfato. Ela representa
tudo aquilo que o ser humano pode ver, tocar, cheirar, sentir e experimentar. Alguns
exemplos são a paisagem das cidades, do meio rural, das construções, entre outras.

A região é a compartimentação do espaço a partir de um critério previamente estabelecido.


É possível regionalizar, por exemplo, a área de uma cidade conforme a renda média dos
habitantes ou com base nos diferentes costumes culturais ou feições do relevo. Trata-se,
então, de uma apreensão intelectual da realidade.

Além desses conceitos, existiram ou ainda existem outras importantes categorias da


Geografia, como a posição geográfica, a localização, os gêneros de vida, o cotidiano, entre
inúmeras outras. A Geografia é, assim, uma ciência ampla que carrega consigo a
importante missão de revelar as diferentes características sociais e naturais reproduzidas
no âmbito do espaço terrestre.

Correntes do Pensamento Geográfico

Com o surgimento da geografia como uma ciência, também foram surgindo as primeiras
correntes do pensamento geográfico. A partir do século XIX, diferentes concepções e
abordagens tomaram o campo da geografia, no que diz respeito às relações entre ser
humano, sociedade, meio ambiente, espaço.

Algumas linhas de pensamento valorizaram mais a sociedade e a capacidade do homem de


transformar o espaço onde vive. Outras correntes se ocuparam mais das forças da
natureza, colocando-as à frente. A seguir delineamos as principais correntes de
pensamento na geografia moderna e suas diferentes abordagens e formas de entender o
mundo.

1. Determinismo geográfico

O determinismo na geografia surgiu primeiramente no século XIX, na Alemanha, com


Friedrich Ratzel. O estudioso acreditava que o meio seria o determinante na vida do ser
humano – em outras palavras, o ser humano reflete apenas o espaço e as características
naturais e fisiográficas do local onde vive.

Na visão do determinismo, o homem é um produto do meio – o que hoje seria visto como
uma visão preconcebida da sociedade. O determinismo surgiu numa época em que o
imperialismo tomava o mundo. As potências europeias, por sinal, encontraram nele uma
“explicação” adicional para validar os seus direitos de submissão e conquista de nações ao
redor do mundo.

Segundo a interpretação imperialista, o determinismo ambiental fazia com que as nações


em colônias africanas, asiáticas e americanas produzissem um povo indolente e atrasado
tecnologicamente. Assim sendo, a conquista e controle pelas metrópoles seria uma
verdadeira “dádiva” para esses povos.

Entre as principais ideias dessa corrente está a teoria do espaço vital, em que o espaço é
determinante e características físicas como relevo, clima, vegetação e hidrografia são
decisivas na formação da sociedade. Ainda que tenha mais de dois séculos, a corrente
determinista ainda é em muito utilizada pelo senso comum, para generalizar aspectos
regionais e locais de desenvolvimento.

O determinismo influenciou no que podemos chamar de expansionismo, além de fomentar o


imperialismo. Segundo a corrente, a riqueza está no espaço geográfico – o que vai ao
encontro da ideia de que para expandir recursos é preciso conquistar novos territórios.

2. Possibilismo geográfico

Paul Vidal de La Blache, maior expoente

da Escola Geográfica Possibilista.


O possibilismo nasceu na França, no final do século XIX e início do século XX, com o
pensador Paul Vidal de La Blache. Para ele, o homem (sociedade) consegue adaptar o
meio pela técnica, pelo trabalho. O termo possibilismo foi cunhado pelo historiado Lucien
Febvre – como forma de confrontar as ideias do determinismo.

La Blache dedicou-se à ideia de gênero de vida, com base na relação entre sociedade e
espaço. O homem não era mais um produto do meio – ao contrário – era o agente capaz de
modificar o meio através da técnicas, das revoluções tecnológicas e da sua própria
ocupação e estilo de vida. Ou seja, o ser humano consegue transformar o espaço,
adaptando o relevo, superando o clima, modificando o curso dos rios, construindo
hidrelétricas, transformando zonas desérticas em áreas férteis.

3. Método regional

Corrente que enfatiza a aplicação do princípio da analogia, isto é, da comparação entre


duas situações, locais ou circunstâncias.

Também conhecida por geografia regional, essa corrente busca a separação e segregação
de características conforme áreas específicas, ou regiões. Por essa razão, por exemplo, o
Brasil é dividido em regiões, além da divisão política por estados. Cada região compartilha
de características climáticas, de flora e fauna, de relevo e até sociais que a distingue das
demais. Assim, para entender melhor o espaço e as interações sociais dentro dele, a
comparação e a diferenciação de áreas são elementos fundamentais.

Essa corrente ganhou maior notoriedade na década de 1940, com Richard Hartshorne e
Alfred Hettner, que defenderam a importância de criar referenciais de análise por meio da
comparação dos lugares – a comparação se dá por fatores ambientais e humanos,
englobando aspectos defendidos pelo determinismo e pelo possibilismo ao mesmo tempo.
Apesar de recente em sua profundidade, a divisão geográfica por regiões era já comum no
século XIX e era defendida muito antes por pensadores, filósofos e estudiosos, tais como
Immanuel Kant, no século XVIII, e Karl Ritter, no século XIX.

4. Geografia teorética ou quantitativa

Essa teoria considera os números como fundamentais para explicar a sociedade e a


natureza. Defende o uso de métodos matemáticos e estatísticos de quantificação dos
fenômenos naturais e sociais para seu melhor entendimento.

Como exemplo claro de utilização dessa abordagem, grande parte dos estudos, dados e
pareceres desenvolvidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
empregam análises quantitativas – entre elas o Censo.

Essa abordagem também ficou conhecida como Nova Geografia quando surgiu, após a
Segunda Guerra Mundial, na década de 1950. Com dados e números, governos podiam
criar e desenvolver indicadores socioeconômicos, bem como de institutos de análise
baseados em recenseamentos para entender melhor a sociedade – entre eles o IBGE.

5. Geografia crítica

A corrente começou a se consolidar como escola de pensamento a partir da década de


1970, inicialmente na França, com o advento da obra “Geografia: isso serve, em primeiro
lugar, para fazer a guerra”, de Yves Lacoste. A postura de contracultura dessa abordagem
garantiu o seu sucesso nos anos 1970 e 1980.

No Brasil, a geografia crítica foi defendida por Milton Santos, expoente da geografia
brasileira, que acreditava no papel de denúncia, crítica e transformação social dos estudos
geográficos.

Também conhecida como Geografia marxista (ainda que não possua qualquer influência
direta do filósofo alemão), enxerga a sociedade procurando identificar seus problemas, suas
contradições.

Essa nova corrente foi em muito influenciada por movimentos de rompimento com a
academia e o establishment – protestos “hippies” e contra a Guerra do Vietnã, o movimento
feminista, correntes anarquistas durante a Guerra Fria, assim como críticas intelectuais ao
regime militar no Brasil.

Milton Santos,
geógrafo brasileiro de grande importância

para o pensamento geográfico mundial.


6. Fenomenologia ou Geografia humanística

A corrente tem como fundamentos os trabalhos realizados por Yi-Fu Tuan, Anne Buttimer,
Edward Relph e Mercer e Powell. A fenomenologia é uma corrente empregada em diversas
áreas das ciências humanas – trata-se do estudo da consciência, uma metodologia
filosófica que ganhou espaço em diversas ciências.

São claras as influências de Hegel e do filósofo Edmund Husserl (1859-1939). Sob o olhar
da fenomenologia, a geografia depende da valorização da percepção do indivíduo e do
grupo social na busca de compreender a forma de sentir das pessoas em relação aos seus
lugares. É uma geografia focada nas relações humanas e sociais, onde o lugar, fisicamente
falando, recebe menor atenção.

7. Geopolítica

Entre as maneiras de estruturar o pensamento geográfico, a partir do século XIX ganha


destaque o avanço da geopolítica. Nesse sentido, evidencia-se o teórico da expansão
imperialista Halford Mackinder. Por definição, a geopolítica é uma geografia centrada no
poder e na forma com que ele intervém e influencia o ambiente – os conceitos de território,
ocupação, estratégia, delimitação, guerra são essenciais nesse sentido.

Mackinder estabeleceu, ainda em 1904, uma divisão do mundo baseada em duas grandes
faixas circulares, as quais denominou “crescente interior” ou “marginal” e “crescente
exterior” ou “insular”, tendo como centro aquilo que chamou de “Heartland” – uma região da
Ásia Central jamais conquistada por qualquer uma das potências navais imperialistas do
século XIX. Sob sua visão, o domínio geográfico desse “coração do mundo”, em conjunção
com uma saída para o mar, criaria a “potência final” em termos imperialistas. Uma nação
capaz de dominar toda a Eurasia e o mundo.

A divisão do mundo
de Mackinder é um dos alicerces da geopolítica.
Apesar da contribuição de Mackinder, coube ao sueco Rudolf Kjellen empregar pela
primeira vez o termo geopolítico que conceituava a ciência do Estado como dominador do
espaço. Dessas premissas a geografia emergiu, no século XX, como uma forma de
estratégia e domínio – e, porque não, gestão por parte de um governo.

Na segunda metade do século XX, a geopolítica abrandou um pouco a sua visão


imperialista – e passou a juntar componentes econômicas, assim como diplomáticas. Hoje,
quando se fala em geopolítica, não falamos apenas de eixos de poder e territórios: também
falamos de aspectos econômicos, tratados internacionais, políticas externas e comércio
exterior.

Princípios da Geografia

No século XIX, com o surgimento da Geografia como ciência, se fez necessária a definição
de princípios metodológicos, que lhe conferem o devido caráter científico. Os princípios
formulados são:

● Extensão - concebido por Friedrich Ratzel (1844-1904): todo fenômeno


geográfico tem sua ocorrência em determinada porção do território, que pode ser
delimitada.
● Analogia - também chamado Geografia Geral, exposto por Karl Ritter
(1779-1859) e Paul Vidal de La Blache (1845-1918): todo fenômeno geográfico
deve ser comparado a outros do mesmo tipo, para se estabeleceram
semelhanças e diferenças e facilitar sua compreensão.
● Causalidade - formulado por Alexander von Humboldt (1769-1859): todo
fenômeno geográfico tem uma ou mais causas, que devem ser buscadas e
explicadas.
● Atividade - formulado por Jean Brunhes (1869-1930): todo fenômeno geográfico
tem um caráter dinâmico, portanto seu estudo deve compreender sua extensão e
conexidade com o tempo, pois os fatos nunca estão isolados.
● Conexidade ou interação, apresentado por Jean Brunhes (1869-1930): os fatos
não são isolados, e sim inseridos num sistema de relações, tanto locais quanto
interlocais.

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