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UNIVERSIDADE SAVE

Extensão de Massinga
Texto de apoio1
Aula 2. Objecto de estudo da Geografia : Contribuição para a compreensão da
Geografia Agrária
Depois de uma viagem no tempo para procurar compreender a contextualização da
geografia agrária na ciência geográfica, é necessário antes de mais trazer uma visão
da geografia como ciência mãe para compreender nitidamente o seu objecto de
estudo e a partir daqui trazer uma visão mais restrita da geografia agrária.
Desde a Antiguidade houve uma preocupação em descrever objectos e fenómenos
que rodeiam o Homem, desde as formas mais simples até as mais elaboradas com
aplicação de termos científicos, numa área que mais tarde se chamaria Geografia.
Andrade (2008) refere que na pré-história, os povos desta época, mesmo sem
possuírem escrita, já desenvolviam conhecimentos que se aproximam de uma ideia
de Geografia. Vivendo do contacto directo com a natureza, os povos indígenas
viviam das migrações para garantir terras mais produtivas, pois praticavam das
atividades como a caça a pesca ou a agricultura, para isso desenvolviam os
conhecimentos básicos para se localizarem.
O termo Geografia transparece uma questão de resposta simples a qualquer sujeito
quando analisado sem uma percepção científica propriamente dita. Contudo, a sua
análise científica remete a uma percepção de vários campos de análise, pela
heterogeneidade dos componentes que caracterizam o seu objecto de estudo. Isto
leva a uma diversidade de conceitos por parte dos autores, olhando para os diversos
enfoques de análise subjectiva.
Não seria possível fazer uma abordagem sobre o conceito geografia sem olhar para
o contexto do seu objecto de estudo, o qual tem observado mudanças ao longo do
tempo devido as diversas concepções e paradigmas teóricos da própria Geografia.
De ponto de vista etimológico, a Geografia é definida como o estudo da superfície
terrestre. Isto deriva do grego Geo= “Terra” + Grafia = Escrita. Desta forma o objecto
do seu estudo seria palco de outras ciências, facto que deixa de certa maneira uma
ambiguidade no conceito. Esta é uma concepção de Kant e da ideia da antiguidade.

1
Texto de apoio elaborado por Mestre Armindo Amaro André Vilanculo para estudantes do 2º Ano do curso de
Geografia, UniSave Massinga, 2021.
Moraes (2007) reconhece que alguns autores definem a Geografia como o estudo
da paisagem (configuração do visível), sendo esta também uma concepção
sintética em termos de objecto da geografia.
Numa outra análise a Geografia é vista como estudo de individualidades de
Lugares, o que torna o conhecimento geográfico mais extremista e
segregacionista dos lugares associado às ideias clássicas dos precursores da
geografia regional.
Outros autores definem a Geografia como o estudo do espaço, questão polémica
por não se apresentar as delimitações certas em relação ao espaço, pois a filosofia,
a Física e as demais ciências discutem bastante a problemática espacial.
Ainda sobre este conceito olhando para as teorias geográficas (determinismo e
possibilismo basicamente) a geografia é definida como o estudo das relações entre
o Homem e o meio, ou melhor entre a sociedade e a natureza onde em parte o
meio determina as condições de vida ao Homem e por outra o homem encontra as
possibilidades de vida na natureza podendo transformá-la.
De tudo que aqui se pode dizer em relação a Geografia é que não existe um
consenso e a problemática do objecto de estudo tem dominado a tardia concepção
e afirmação da Geografia como ciência. Contudo, para a compreensão do objecto da
geografia tendo em conta esta problemática, torna-se necessário olhar para as
categorias do objecto de estudo tradicional e na perspectiva moderna.
Para Moreira (1987) as categorias sobre as quais se ergue o discurso geográfico
tradicional compõe-se entre: paisagem, relação, organização, homem, meio.
Porém tais categorias trazem consigo uma vagueza e opacidade enquanto
formação da concepção de vida, de sociedade e de mundo, por apresentarem entre
elas um discurso de “fronteiras imprecisas”.
Em questão, a Geografia, enquanto um ramo cientifico, foi a que mais demorou em
definir um objecto de estudo, dentre as ciências humanas, e passou muito tempo por
negligenciar este problema. Influenciando nosso campo de interesse por outros
especialistas, e determinando outras definições para seu desenvolvimento.
Se a ciência se define por seu objecto, nem sempre a definição da disciplina leva em
conta esse objecto. Este é, particularmente, o caso da Geografia, cuja preocupação
com seu objecto explícito – o espaço social – foi sempre deixada em segundo plano.
Insistimos em que essa falha é uma das causas do seu atraso no campo teórico-
metodológico [...] (SANTOS, 1986, p.114).
Constituída entre a relação homem-meio eixo epistemológico da Geografia, para
adquirir feição geográfica, a relação homem-meio deve estruturar-se na forma
combinada da paisagem, do território e do espaço, que com primado no espaço
formam as categorias da Geografia.
Analisar espacialmente o fenômeno implica antes descrevê-lo na paisagem e em
seguida analisa-lo em termos de território, a fim compreender-se o mundo como
espaço. Mas na verdade quem faz essas transposições é a presença dos princípios
lógicos, esses princípios se caracterizam como principio da: localização, distribuição,
extensão, distância, posição e escala. Espaço, território e paisagem formam assim o
rol das categorias de base de toda a construção e leitura geográfica das sociedades.
Tudo na Geografia começa então com os princípios lógicos. Primeiro é preciso
localizar o fenômeno na paisagem. O conjunto das localizações dá o quadro da
distribuição. Vem, então, a distância entre as localizações dentro da
distribuição. E com a rede e a conexão das distâncias vem a extensão, que já é
o princípio da unidade do espaço (ou do espaço como principio da unidade). A
seguir, vem a delimitação dos recortes dentro da extensão, surgindo o
território. E, por fim, do entre cruzamento desses recortes surge a escala e
temos o espaço construído com toda sua complexidade (MOREIRA, 2007: 117)

Na lógica dos autores analisados pode se perceber que a Geografia enquanto


ciência deve se preocupar com os princípios que definem os padrões de localização,
distribuição dos fenómenos na superfície da terra assim como a sua relação com
homem, o qual, enquanto signatário do espaço transforma o meio em seu próprio
benefício.

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