Você está na página 1de 9

Geografia Prof.

Ivanilson Lima

Etimologia da palavra Geografia


Significado de Etimologia

GEO = Terra; GRAFIA = Estudo/descrição


Pesquise a etimologia de outras palavras
http://www.dicionarioetimologico.com.br/

A questão que introduz este volume – o que é Geografia? – aparentemente é bastante simples, porém refere-se
a um campo do conhecimento científico, onde reina enorme polêmica. Apesar da antiguidade do uso do rótulo
Geografia, que foi mesmo incorporado ao vocabulário cotidiano (qualquer pessoa poderia dar uma explicação do
seu significado), em termos científicos há uma intensa controvérsia sobre a matéria tratada por esta disciplina.
Isto se manifesta na indefinição do objeto desta ciência, ou melhor, nas múltiplas definições que lhe são
atribuídas. (MORAES, pág. 4)

O Objeto de Estudo da Geografia


Estudo da superfície terrestre?
A superfície terrestre é o palco de estudo de diversas ciências, então não pode ser definido como objeto
de uma única ciência. Apoiado nos ideais de KANT que afirma que “...esta concepção origina-se das formulações
de Kant. Para este autor, haveria duas classes de ciências, as especulativas, apoiadas na razão, e as empíricas,
apoiadas na observação e nas sensações. “ (MORAES, pág. 4). Nessa definição a Geografia se torna uma ciência
meramente descritiva.
Estudo da paisagem?
A análise da Geografia se basearia nos aspectos visíveis do real. Temos duas variantes desse
pensamento: em uma, teríamos a descrição e enumeração dos elementos percebidos; na outra então, iniciaria
com essa enumeração e a partir desta se faria a explicação do que foi percebido, identificando o funcionamento
dessa paisagem, trazendo então elementos da Ecologia para as explicações geográficas. Uma variação sutil
dessa perspectiva é a que busca se a individualidade das diferentes paisagens.
Estudo das inter-relações entre a sociedade e natureza?
O foco dessa linha de pensamento se concentra nas explicações sobre o relacionamento entre esses dois
aspectos da realidade, estaria então no contato com as Ciências da Natureza e as Ciências Humanas. Porém,
devemos levar em consideração nessa perspectiva três visões distintas sobre esse objeto de estudo.
i. Influências da natureza sobre o desenvolvimento da humanidade;
O homem como elemento passivo na atuação sobre a realidade, dessa forma, a ação humana é
sempre sob efeito das causas naturais. Cabe ao homem apenas se adaptar as condições impostas
pelo meio.
ii. Ações do homem na transformação da realidade;
O homem como elemento ativo sobre a realidade, tendo no estudo, a formo como o homem
transforma a natureza para atender suas necessidades. Temos um foco na explicação dos
fenômenos humanos.
iii. Relações de influência homem x natureza.
O estudo buscaria compreender o estabelecimento, a manutenção e a ruptura do equilíbrio entre
o homem e a natureza. (MORAES, pág. 6).

Pressupostos da Geografia
Ao início do século XIX, a malha dos pressupostos históricos da sistematização da Geografia já estava
suficientemente tecida. A Terra estava toda conhecida. A Europa articulava um espaço de relações econômicas
mundializado, o desenvolvimento do comércio punha em contato os lugares mais distantes. O colonizador
europeu detinha informações dos pontos mais variados da superfície terrestre. As representações do Globo
estavam desenvolvidas e difundidas pelo uso cada vez maior dos mapas, que se multiplicavam. A fé na razão
humana, posta pela Filosofia, abria a possibilidade de uma explicação racional para qualquer fenômeno da
realidade. As bases da ciência moderna já estavam assentadas. As ciências naturais haviam constituído um
cabedal de conceitos e teorias, do qual a Geografia lançaria mão, para formular seu método. E, principalmente,
os temas geográficos estavam legitimados como questões relevantes, sobre as quais cabia dirigir indagações
científicas. (MORAES, pág. 14)

Temos então um conjunto de situações historicamente construídas para a sistematização da Geografia


como ciência. Assim, temos os seguintes pressupostos históricos para que a ciência geográfica iniciasse sua
consolidação como ciência a partir do século XIX.
i. Conhecimento efetivo da extensão real do planeta;
ii. Existência de um repositório de informações sobre variados locais;
iii. Aprimoramento das técnicas cartográficas;
iv. Movimento ideológico na transição do feudalismo para o capitalismo.
Todos esses pressupostos se desenvolvem à medida que o capitalismo avança enquanto sistema
econômico no cenário mundial, tornando-se o sistema dominante. Anterior a esses pressupostos então
podemos dizer que o conhecimento geográfico estava disperso, sem nenhuma unidade que alinhasse a todos
os que de certa forma produziam Geografia. Quadro esse que permaneceu inalterado até o final do século XVIII.
Um outro elemento que colabora para esse desenvolvimento e sistematização é a propagação dos ideais
iluministas. Esses pensadores políticos buscam então justificar as mudanças sociais e estruturais de forma a
justificar os novos ideais burgueses, classe emergente dentro do cenário histórico com a derrocada do
Feudalismo.

Princípios da Geografia
Princípio da Extensão: Formulado pelo geógrafo alemão Friederich Ratzel, onde em seu discurso o
geógrafo deve localizar o fato geográfico, determinando a área de ocorrência, utilizando os conhecimentos
cartográficos.
Princípio da Analogia: Princípio segundo o qual, delimitada e observada a área deve o geógrafo
compará-la com outras áreas, buscando as semelhanças e diferenças, sendo defendida pelo geógrafo alemão
Karl Ritter e pelo francês Vidal de La Blache.
Princípio da Causalidade: Defendido pelo geógrafo alemão Alexander Von Humboldt, onde se busca as
causas e as consequências dos fatos observados.
Princípio da Conexão: Princípio segundo o qual os fatores físicos e humanos nunca atuam isoladamente
(Jean Brunhes-França).
Princípio da Atividade: A paisagem é dinâmica. (Brunhes)

Sistematização da Geografia
A falta da constituição de um Estado nacional, a extrema diversidade entre os vários membros da Confederação,
a ausência de relações duráveis entre eles, a inexistência de um ponto de convergência das relações econômicas
– todos estes aspectos conferem à discussão geográfica uma relevância especial, para as classes dominantes da
Alemanha, no início do século XIX. Temas como domínio e organização do espaço, apropriação do território,
variação regional, entre outros, estarão na ordem do dia na prática da sociedade alemã de então. É, sem dúvida,
deles que se alimentará a sistematização geográfica. Do mesmo modo como a Sociologia aparece na França,
onde a questão central era a organização social (um país em que a luta de classes atingia um radicalismo único),
a Geografia surge na Alemanha onde a questão do espaço era a primordial. (MORAES, págs. 14 e 15).

Nesse quadro de tensões, temos então palco para a criação das ideias que originariam a Geografia no
território que hoje compõe a Alemanha. A partir das discussões iniciadas pelos autores Alexander Von
Humboldt (1769-1859 – conselheiro do rei da Prússia) e Karl Ritter (1779-1859 – tutor de uma família de
banqueiros), ambos de origem prussiana e ligados a aristocracia da época. Ambos ocuparam altos cargos da
hierarquia universitária alemã.
1. Alexander Von Humboldt
Formação naturalista em Geologia e Botânica.
Entendia que a Geografia era uma ciência terrestre que atuaria como uma espécie de ciência de síntese
de todos os conhecimentos relativos a Terra.
Propõe um empirismo raciocinado, na qual o cientista, deve intuir os fatos a partir da observação dos
variados fenômenos naturais, combinando o que foi observado nesses locais e procurando as constantes dos
fenômenos, mesmo com as variações aparentes. Podemos então intuir, a partir disso que o geógrafo deveria
contemplar a paisagem, esta causaria uma impressão no mesmo e a partir de uma observação constante e
sistematizada ele chegaria a uma explicação para o local observado.
2. Karl Ritter
Formação social em Filosofia e História.
Entendia que a Geografia deveria estudar os arranjos individuais das regiões, comparando-os e
buscando suas particularidades.
Ritter já propõe uma abordagem metodológica mais explícita, definindo a partir do que ele chama de
sistema natural que a Geografia tem por finalidade buscar definir a individualidade dos diferentes locais,
compondo os diferentes arranjos naturais. Cada um desses arranjos então teria seu conjunto de elementos,
sendo o homem o principal. Outro ponto importante é o fato de o autor considerar que a ciência deveria ser
uma forma de relação entre o homem e o “criador”, dessa forma, o estudo geográfico serviria também para
uma aproximação com a divindade, pois a ordem natural obedeceria a um fim previsto por Deus.
Consequentemente, podemos dizer que a proposta de Ritter é antropocêntrica e regional.
A obra de Ritter já e explicitamente metodológica. A formação de Ritter também e radicalmente distinta
da de Humboldt, enquanto aquele era geólogo e botânico, este possui formação em Filosofia e História. Ritter
define o conceito de “sistema natural”, isto é, uma área delimitada dotada de uma individualidade. A Geografia
deveria estudar estes arranjos individuais, e compará-los. Assim, a Geografia de Ritter é, principalmente, um
estudo dos lugares, uma busca da individualidade destes.

Categorias de Análise da Geografia.


A Geografia usa-se de diferentes categorias para basear seus estudos. Essas categorias servem para
orientar e recortar o espaço a ser analisado pelo cientista, delimitando o espaço, usando-se de conhecimentos
cartográficos.

Figura 1: Adaptado de http://obshistoricogeo.blogspot.com.br/2014/12/o-conceito-de-paisagem-lugar-territorio.html

1. Paisagem
Refere-se às configurações externas do espaço. Por muitas vezes, ela foi definida como “aquilo que a
visão alcança”. Porém, essa definição desconsidera as chamadas “paisagens ocultas”, ou seja, aqueles processos
e dinâmicas que são visíveis, mas que de alguma forma foram ocultados pela sociedade. Além disso, tal
definição também peca por apenas considerar o sentido da visão como preceptora do espaço, cabendo a
importância dos demais sentidos, com destaque para a audição e o olfato.
Dessa forma, podemos afirmar, de maneira simples e direta, que o conceito de paisagem refere-se às
manifestações e fenômenos espaciais que podem ser apreendidos pelo ser humano através de seus sentidos.
2. Território
É classicamente definido como sendo um espaço delimitado. Tal delimitação se dá através de fronteiras,
sejam elas definidas pelo homem ou pela natureza. Mas nem sempre essas fronteiras são visíveis ou muito bem
definidas, pois a conformação de um território obedece a uma relação de poder, podendo ocorrer tanto em
elevada abrangência (o território de um país, por exemplo) quanto em espaços menores (o território dos
traficantes em uma favela, por exemplo).
3. Região
É uma área ou espaço que foi dividido obedecendo a um critério específico. Trata-se de uma elaboração
racional humana para melhor compreender uma determinada área ou um aspecto dela. Assim, as regiões
podem ser criadas para realizar estudos sobre as características gerais de um território (as regiões brasileiras,
por exemplo) ou para entender determinados aspectos do espaço (as regiões geoeconômicas do Brasil para
entender a economia brasileira). Eu posso criar minha própria região para a divisão de uma área a partir de suas
práticas culturais ou por suas diferentes paisagens naturais, entre outros critérios.
4. Lugar:
É uma categoria muito utilizada por aqueles pensadores que preferem construir uma concepção
compreensiva da Geografia. Grosso modo, o lugar pode ser definido como o espaço percebido, ou seja, uma
determinada área ou ponto do espaço da forma como são entendidos pela razão humana de pertencimento a
uma porção do espaço geográfico. Seu conceito também se liga ao espaço afetivo, aquele local em que uma
determinada pessoa possui certa familiaridade ou intimidade, como uma rua, uma praça ou a própria casa.

Correntes do Pensamento Geográfico


A Geografia, no transcorrer do seu desenvolvimento teve diferentes formas de análise e interpretação
de como ocorreriam as relações entre sociedade e natureza, dessa forma, temos diferentes pensamentos que
se tornaram mais importantes em determinados locais e épocas históricas, tendo assim constituida as
diferentes Correntes do Pensamento Geográfico.
1. Geografia Determinista.
Um revigoramento do processo de sistematização da Geografia vai ocorrer com as formulações de Friedrich
Ratzel. Este autor, também alemão e prussiano, publica suas obras no último quartel do século XIX. Enquanto
Humboldt e Ritter vivenciaram o aparecimento do ideal de unificação alemã, Ratzel vivencia a constituição real
do Estado nacional alemão e suas primeiras décadas. Suas formulações só são compreensíveis em função da
época e da sociedade que as engendram. A Geografia de Ratzel foi um instrumento poderoso de legitimação dos
desígnios expansionistas do Estado alemão recém-constituído. L. Febvre chegou a denominá-la de “manual de
imperialismo”. Assim, cabe analisar, mesmo que em linhas gerais, o processo de unificação da Alemanha.
(MORAES, pág. 18)

As formulações de Ratzel, a partir de sua obra Antropogeografia – fundamentos da aplicação da


Geografia à História nascem a partir da consolidação do Estado Alemão. E quais os principais acontecimentos
da unificação da Alemanha?
As relações capitalistas penetram tardiamente nesse país, que mantém características feudais ainda no
início do século XIX. Temos então como primeiro passo para essa unificação a Confederação Germânica, porém
que não conseguiu instaurar de imediato um governo central. Dentro dessa confederação temos dois reinos
mais importantes que disputam a hegemonia do estado alemão, a Aústria e a Prússia. A partir de 1848 começam
a aparecer levantes populares, que farão com que surjam movimentos das classes dominantes que pretendem
acabar com essa revolução, formando um bloco reacionário militar, aproximando os integrantes dessa classe e
trazendo ações unificadas. Porém, como a pauta dos dois blocos se concentra na unificação da Alemanha, isso
acaba por aproximá-los e fazer com que a unificação seja um caminho sem volta. Em virtude disso iniciamos
uma guerra entre Aústria e Prússia, saindo o segundo vitorioso.
Com a vitória prussiana, temos uma organização militarizada da sociedade e do Estado, trazendo assim
uma organização que atingiria toda a sociedade civil. Temos então, com a militarização prussiana a instauração
de uma política cultural nacionalista, visando justificar uma política expansionista agressiva. Isso justificado pela
unificação tardia alemã, que fez com que a mesma não participasse da partilha dos territórios coloniais do
século XIX, embora que essa unificação tardia não tenha impedido um relativo desenvolvimento interno. Temos
então um novo país capitalista industrial, que não possue colônias.
Assim, a Geografia de Ratzel expressa diretamente um elogio do imperialismo, como ao dizer, por exemplo:
“Semelhante à luta pela vida, cuja finalidade básica é obter espaço, as lutas dos povos são quase sempre pelo
mesmo objetivo. Na história moderna a recompensa da vitória foi sempre um proveito territorial”. (MORAES,
pág. 19).
Na obra de Ratzel, Antropogeografia, o autor define que o estudo geográfico tem que se concentrar na
influência que as condições naturais exercem sobre a humanidade. Essas influências seriam percebidas na
fisiologia e na psicologia dos indíviduos e através disso, na sociedade. A natureza portanto influencia a
constituição da sociedade e atuaria nas possibilidades de expansão de um povo, trazendo obstáculos ou o
acelerando. Para Ratzel: “O progresso significaria um maior uso dos recursos do meio, logo, uma relação mais
íntima com a natureza.” (MORAES, pág. 19). Assim, estabelecendo essa relação de forma consolidada, a
sociedade cria o Estado, se organizando para defender seu território.
Outro ponto da proposta de Ratzel é o conceito de espaço vital: “este representaria uma proporção de
equilíbrio, entre a população de uma dada sociedade e os recursos disponíveis para suprir suas necessidades,
definindo assim suas potencialidades de progredir e suas premências territoriais.” (MORAES, pág. 19). Através
desse conceito podemos perceber que a Geografia proposta por Ratzel visa defender o processo de expansão
da Alemanha.
Na proposta de Ratzel temos ainda uma ciência empírica, mas, como já vimos em Humboldt, pautada
em um empirismo raciocinado. Nele, apesar de termos a figura do homem, esse ainda é visto pelo seu carater
biológico, excluindo suas qualidades específicas.
Um outro detalhe importante dessa escola geográfica são as diferentes visões criadas a partir das
formulações de Ratzel pelos seus seguidores. Acabaram por serem de certa forma extremamente radicais,
fundando a Corrente do Pensamento denominada de Determinismo Geográfico. Temos dessa forma, uma
forma de pensar que leva as formulações de Ratzel ao extremismo, trazendo afirmações como: “as condições
naturais determinam a História” ou “o homem é produto do meio”. De certa forma reduzindo as proposições
de Ratzel, que falava em influências. Uma outra proposição, um pouco diferente das descritas é a de Huntington
que fala por em sua obra Clima e Sociedade que, por exemplo, os rigores do inverno explicariam o melhor
desenvolvimento europeu, enquanto o clima tropical justicava o subdesenvolvimento. Uma última formulação
que surge no meio científico a partir de Ratzel é o conceito de Geopolítica, a partir do estudo das dominações
territoriais, visando legitimar o imperialismo.
2. Geografia Possibilista.
A outra grande escola da Geografia, que se opõe às colocações de Ratzel, vai ser eminentemente francesa, e tem
seu principal formulador em Paul Vidal de La Blache. [...] A França foi o país que realizou, de forma mais pura,
uma revolução burguesa. Ali os resquícios feudais foram totalmente varridos, a burguesia instalou seu governo,
dando ao Estado a feição que mais atendia a seus interesses. [...] Napoleão Bonaparte completou este processo
de desenvolvimento do capitalismo na França, o qual teve seu ponto de ruptura na Revolução Francesa, que
varreu do quadro agrário deste país todos os elementos herdados do feudalismo. (MORAES, pág. 22).

Em face das transformações que ocorreram na França, temos dentro do seu território um grande
acirramento entre as classes sociais, gerando então intensos embates que fazem surgir no território francês os
estudos sobre Ciências Sociais. Em face dessas disputas, a burguesia, para não perder o controle, investe na
defesa das liberdades individuais, subjugadas a ordem do Estado, nesse cenário então as ciências passam a ter
papel fundamental. A França foi portanto o local onde se pode observar de modo mais claro o avanço, domínio
e consolidação da sociedade burguesa.
Na segunda metade do século XIX então, França e Alemanha (nesse caso representada ainda pela
Prússia) disputam a hegemonia sobre o continente europeu, gerando um choque de ideologias, e a guerra
Franco-Prussiana em 1870, na qual a Prússia sai vencedora. No contexto da guerra cai também o Império de
Napoleão Bonaparte, estabelecendo então uma república francesa dominada pela Comuna de Paris,
favorecendo o desenvolvimento da Geografia. Para esse governo, temos a ideia de que “a guerra foi ganha
pelos instrutores alemães”. Assim, Geografia passa a ser disciplina obrigatória em todas as séries do ensino
básico. Temos assim a busca por uma ideia de Geografia que se contrapunha a Geografia Alemã.
A Geografia de La Blache vai propor então que o estudo da Geografia deve se focar na relação homem-
natureza, focando na perspectiva do estudo das paisagens, que o homem é um sujeito ativo no meio, que sofre
influência do meio, porém atua sobre essa realidade, transformando-a.
A Geografia de La Blache, surge como uma forma de combater e criticar a política expansionista alemã
e justificar as ações da burguesia francesa. Para tanto ele critica Ratzel em alguns pontos a saber.
Uma primeira crítica que La Blache faz é com relação a geografia de Ratzel se propor a tratar de questões
políticas de território, justificando que a ciência deveria ser neutra e imparcial. A outra crítica é ao carater
naturalista de Ratzel, criticando a atividade passiva do homem em relação a natureza. Um desdobramento
dessa crítica se foca nas proposições dos seguidores do pensador alemão, que atribuíam um carater fatalista na
relação homem e natureza, afirmando que a História era determinada pelas condições naturais.
Uma das principais contribuições e desdobramentos da proposta lablachiana é a constante discussão de
regiões e do espaço humanizado nestas, em virtude da busca pelas individualidades dos locais. Pode-se então
dizer que a própria Geografia Regional é uma consequência do possibilismo. Uma outra consequência foi o
aparecimento de diversas especialidades da Geografia, como Geografia Agrária, a Geografia Urbana, a
Geografia das Indústrias, a Geografia das Populações, a Geografia Urbana. Em virtude dessas especializações os
estudos do possibilismo influenciaram diversos pesquisadores das ciências humanas.
3. Geografia Regional.
[...] a terceira grande orientação dentro da Geografia Tradicional, privilegiou um pouco mais o raciocínio
dedutivo, antecipando um dos móveis da renovação geográfica nos anos sessenta. Isto decorreu da diferenciada
fundamentação filosófica destes autores. A Geografia de Ratzel e a de Vidal tiveram sua raiz filosófica no
positivismo de Augusto Comte, a qual foi passada acriticamente para seus seguidores. A geografia de Hettner e
Hartshorne fundamentava-se no neokantismo de Rickert e Windelband. O fato de ter sido menos empirista não
quer dizer que esta proposta tenha rompido com este traço marcante de toda a Geografia; apenas ela não se
negou também ao uso da dedução. (MORAES, pág. 31).

Hettner, geógrafo alemão vai então propor uma terceira proposta de análise geográfica. Para este, a
Geografia deveria estudar as diferenciações entre as áreas, explicando porque e em que se diferenciam as
variadas porções da superfície terrestre. Para ele, essas diferenças seria por conta das diferentes inter-relações
entre os elementos presentes em cada paisagem. Porém, na época que foram formuladas as idéias deste não
alcançaram ampla divulgação em virtude do Determinismo e do Possibilismo.
Temos então, após a Primeira Guerra Mundial, uma retomada das idéias de Hettner por um renomado
geógrafo americano, Richard Hartshorne, isso ocorre principalmente por conta da ampliação do domínio
cultural dos Estados Unidos sobre o Ocidente. Até o momento os geógrafos americanos eram meros repetidores
das idéias europeias. Hartshorne, apesar de se basear em Hettner, aprimora as discussões propostas.
A geografia americana passa a se desenvolver a partir de 1930, tendo três diferentes vertentes, porém,
como já vimos, a mais amplamente divulgada formando uma corrente de pensamento foi vista a partir de
Hartshorne, seus estudos e formulações.
Uma diferença implantada por Hartshorne é a defesa de que as ciências se definiriam por métodos
próprios, assim a individualidade da Geografia se dava pela sua forma de analisar a realidade. Hartshorne
também afirma que o estudo geográfico deve trabalhar com as inter-relações entre os elementos que faz com
que ocorra a diferenciação das áreas.
O autor então formula os conceitos que chama de área e integração. A primeira seria uma parcela da
superfície terrestre diferenciada pelos critérios do observador. O segundo conceito defende que o caráter de
cada área é dado pela integração de fenômenos inter-relacionados, cabendo ao pesquisador buscar todas as
inter-relações possíveis nessa região. O autor define então essa forma de pensar como Geografia Idiográfica,
que levaria a um conhecimento bastante aprofundado do local analisado. Temos dessa forma uma proposta de
Geografia Regional.
Hartshorne também propõe o que ele chama de Geografia Nomotética, na qual o pesquisador pararia
nas primeiras observações e buscaria analisar e reproduzir os estudos em diferentes regiões, comparando as
diferentes integrações e chegando a um padrão de variação dos fenômenos observados. Assim temos nessa
proposta uma Geografia Geral, baseada a partir das regionalizações.
4. Geografia Pragmática.
A Geografia Pragmática é uma tentativa de contemporaneizar, em vista dessa nova função, este campo
específico do conhecimento, sem romper seu conteúdo de classe. Suas propostas visam apenas uma redefinição
das formas de veicular os interesses do capital, daí sua crítica superficial à Geografia Tradicional. Uma mudança
de forma, sem alteração do conteúdo social. Uma atualização técnica e lingüística. Passa-se, de um conhecimento
que levanta informações e legitima a expansão das relações capitalistas, para um saber que orienta esta
expansão, fornecendo-lhe opções e orientando as estratégias de alocação do capital no espaço terrestre. Assim,
duas tarefas diferentes, em dois momentos históricos distintos, servindo a um mesmo fim. Nesse sentido, o
pensamento geográfico pragmático e o tradicional possuem uma continuidade, dada por seu conteúdo de classe
– instrumentos práticos e ideológicos da burguesia. (MORAES, pág. 37).
Nessa corrente geográfica, advinda após um movimento de renovação da Geografia, iniciado no pós-
Segunda Guerra Mundial e tendo sua maior força de divulgação entre os anos de 1960 e 1970. Nessa linha de
pensamento, temos diversos geógrafos, que assumem uma renovação ainda em função da manutenção da elite
burguesa e de sua atuação global em forma de grandes corporações, essa linha de pensamento pode ser
considerada como uma crítica meramente acadêmica que se baseia no que podemos chamar de
neopositivismo.
De forma sucinta, podemos dizer que o neopositivismo sai da linha de um empirismo de mera
observação direta em campo, por um empirismo mais abstrato, baseado em métodos matemático-estatísticos.
Ou seja, defendia que as formulações deveriam se basear mensurações, estatísticas, gráficos e tabelas ao invés
do trabalho de campo. Um claro objetivo dessa forma de pensar é o uso desses dados para intervenção do
Estado sobre a realidade observada nos mais diversos locais.
A partir dessa vertente de pensamento, podemos perceber duas coisas sobre essa nova realidade de
estudo da Geografia: primeiro que essa nova forma torna-se demasiadamente formal, presa também as
aparências do real, já que os dados estatísticos serão o foco de trabalho, para orientar os investimentos estatais
sobre a economia em meio a crise que se coloca no pós-Segunda Guerra de forma a garantir a maximização dos
lucros e capitais, assim como a manutenção da exploração do trabalho; o segundo ponto é o empobrecimento
dado a análise geógrafica em comparação com os movimentos anteriores, visto que as escolas anteriores com
suas observações de campo, ao menos concebiam o espaço em sua riqueza e complexidade, diminuindo a
mesma meramente a análises quantitativas.
5. Geografia Crítica.
Os autores da Geografia Crítica vão fazer uma avaliação profunda das razões da crise: são os que acham
fundamental evidenciá-la. Vão além de um questionamento acadêmico do pensamento tradicional, buscando as
suas raízes sociais. Ao nível acadêmico, criticam o empirismo exacerbado da Geografia Tradicional, que manteve
suas análises presas ao mundo das aparências, e todas as outras decorrências da fundamentação positivista (a
busca de um objeto autonomizado, a idéia absoluta de lei, a não-diferenciação das qualidades distintas dos
fenômenos humanos etc.). Entretanto, vão além, criticando a estrutura acadêmica, que possibilitou a repetição
dos equívocos: o “mandarinato”, o apego às velhas teorias, o cerceamento da criatividade dos pesquisadores, o
isolamento dos geógrafos, a má formação filosófica etc. E, mais ainda, a despolitização ideológica do discurso
geográfico, que afastava do âmbito dessa disciplina a discussão das questões sociais. Assim, ao nível da crítica
de conteúdo interno da Geografia, não deixam pedra sobre pedra. (MORAES, pág. 42).

Nessa linha de pensamento que se evidencia também no movimento de renovação da ciência


geográfica, tendo seu início em meados dos anos de 1970, como uma forma de pensamento que se mostrava
contrário as propostas tanto da Geografia Pragmática, a quem é contemporânea, como as escolas anteriores.
Ela surge em diversas discussões nos, Estados Unidos, Grã-Bretanha, Alemanha, Brasil, dentre outros locais,
mas com maior força das discussões francesas a partir de Yves Lacoste, fomentando uma discussão sobre os
problemas sociais de forma plural, mas com fortes influências do materialismo histórico e do método dialético
em suas primeiras discussões.
Temos então com essa nova escola, uma crítica ao espaço geográfico em toda sua complexidade,
entendendo que, dado o grau de desenvolvimento da humanidade e de sua complexidade, os fatores sociais
não podem ser desconsiderados, assim como seu processo de desenvolvimento. Cria-se então uma crítica a
própria Geografia, evidenciando que as diferentes escolas surgiram com o intuito de propagar os ideais que
fossem mais apropriados para as classes burguesas detentoras do poder econômico. A luta dessa escola então
vai se concentrar na conscientização da sociedade e defesa do saber como instrumento de dominação das
classes mais favorecidas sobre as classes a menos favorecidas.
É nítida então que a Geografia Crítica irá se fazer uso do materialismo histórico e dialético elaborado por
Karl Marx, ao propor uma análise histórica das causas que levam as diferentes estruturas sociais percebidas e
suas respectivas consequências sobre o espaço geográfico. Porém, ao mesmo tempo que faz uso dessa, traz
consigo uma perspectiva plural, dado a sua concepção dialética, que as análises devem levar em consideração
as demais formas de análise da realidade que estão em curso e os diferentes conhecimentos filosóficos,
sociológicos, urbanísticos, dentre outros, pois afinal de contas é defendido também que se quebre com o
isolamento dos estudos geográficos.
[...]o movimento de renovação, atualmente em curso na Geografia, com suas duas vertentes, reproduz, ao nível
desse campo específico do conhecimento, o embate ideológico contemporâneo – reflexo, no plano da ciência, da
luta de classes na sociedade capitalista. Os geógrafos críticos, em suas diferenciadas orientações, assumem a
perspectiva popular, a da transformação da ordem social. Buscam uma Geografia mais generosa e um espaço
mais justo, que seja organizado em função dos interesses dos homens. (MORAES, pág. 47).

Referências Bibliográficas
MORAES, A. C. R. Geografia: pequena história crítica. 20ª ed. Anna Blume. 2000.

PENA, R. A. Categorias de Análise. Disponível em: < http://brasilescola.uol.com.br/geografia/categorias-geografia.htm> no


dia 05 de março de 2016.

Observatório Histórico Geográfico. O conceito de paisagem, lugar, território e região. Disponível em: <
http://obshistoricogeo.blogspot.com.br/2014/12/o-conceito-de-paisagem-lugar-territorio.html> no dia 05 de março de 2016.

SANTOS, M. Categorias de Análise da Geografia: Espaço Geográfico, Paisagem, Lugar, Território e Região. Disponível em:
<http://pt.slideshare.net/markoabreu/categorias-de-anlise-da-geografia-espao-geogrfico-paisagem-lugar-territrio-e-regio> no dia 07
de março de 2016.

FONTANAILLES, G. Princípios da Geografia. Disponível em:


< http://geografalando.blogspot.com.br/2012/03/assunto-principios-geograficos.html> no dia 28 de janeiro de 2016

Você também pode gostar