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CAPÍTULOS
Alguns autores definem a Geografia como o estudo da superfície terrestre. Esta concepção é a
mais usual, e ao mesmo tempo a de maior vaguidade. Pois a superfície da Terra é a teatro privilegiado
(por muito tempo o único)
ú nico) de toda reflexão científica, o que desautoriza a colocação de seu estudo como
especificidade de uma só disciplina. Esta definição do objeto apóia-se no próprio significado etimológico
do termo Geografia – descrição da Terra. Assim, caberia ao estudo geográfico descrever todos os
fenômenos manifestados na superfície do planeta, sendo uma espécie de síntese de todas as ciências.
Desta forma a tradição kantiana coloca a Geografia como uma ciência sintética (que trabalha com dados
de todas as demais ciências), descritiva (que enumera os fenômenos abarcados) e que visa abranger uma
visão de conjunto do planeta.
A definição da Geografia, como estudo da diferenciação de áreas, é uma outra proposta
existente. Tal perspectiva traz uma visão comparativa para o universo da analise geográfica. Existem
ainda autores que buscam definir a Geografia como estudo do espaço. Para estes, o espaço seria passível
de uma abordagem especifica, a qual qualificaria a análise geográfica. Tal concepção, na verdade
minoritária e pouco desenvolvida pelos geógrafos, é bastante vaga e encerra aspectos problemáticos.
Nesta concepção, o espaço, além de ser destituído de sua existência empírica, seria um dado de toda
forma de conhecimento,
conhecimento, não podendo qualificar a especificidade
especificidade da Geografia. Finalmente, alguns
autores definem a Geografia como o estudo das relações entre o homem e o meio, ou, posto de outra
forma, entre a sociedade e a natureza. Assim, a especificidade estaria no fato de buscar essa disciplina
explicar o relacionamento entre os dois domínios da realidade. Seria, por excelência, uma disciplina de
contato entre as ciências naturais e as humanas, ou sociais. Aparecem três visões distintas do objeto:
alguns autores vão apreendê-lo como as influências da natureza sobre o desenvolvimento da
humanidade. “Caberia à Geografia explicar as formas e os mecanismos pelos quais esta ação se
manifesta. Desta forma, o homem é posto como um elemento passivo, cuja história é determinada pelas
condições naturais, que o envolvem. O peso da explicação residiria totalmente no domínio da natureza.
Os fenômenos humanos seriam sempre efeitos de causas naturais; isto seria uma imposição da própria
definição do objeto, identificado com aquelas influências.
Outros autores, mantendo a idéia da Geografia, como o estudo da relação entre o homem e a
natureza, vão definir-lhe o objeto como a ação do homem na transformação deste meio. Assim caberia
estudar como o homem se apropria dos recursos oferecidos pela natureza e os transforma, como
resultado de sua ação.
Este breve painel das definições da geografia, que não pretendeu ser de modo nenhum
exaustivo, já justifica a afirmação inicial, quanto às dificuldades contidas na proposta deste volume.
Também se deve levar em conta que o painel abarcou somente as perspectivas da Geografia Tradicional.
Nesse primeiro passo vive-se na Geografia Tradicional, a geografia que tem seu objeto de estudo
ainda indefinido, momento esse que a Geografia ainda não um grau de epistemologia seguro. Que só
será alcançado na modernidade. Enquanto isso esta geografia se sustentar em conceitos naturais, e é
uma ciência descritiva, de observação dos elementos naturais, calcada nos pressupostos de seus
precursores Humboldt e Ritter.
Em outras palavras a Geografia nesse primeiro momento tinha o seu objeto definido em três
visões distintas, e todas as indagações sobre estes objetos e sua explicação viria principalmente da
abordagem do campo natural, o que dará precedente ao desenvolvimento metodológico seguinte, dessa
forma de pensamento geográfico, mais conhecida como positivismo Geográfico. Que vai ser trabalhado
dentro da perspectiva tradicional da Geografia.
É nesta concepção filosófica e metodológica que os geógrafos vão buscar suas orientações gerais
(as que não dizem respeito especificamente a Geografia). Os postulados do positivismo (aqui entendido
como o conjunto das correntes não-dialeticas) vão ser o patamar sobre o qual se ergue o pensamento
geográfico tradicional, dando-lhe unidade.
Outra manifestação da filiação positivista, também traduzida numa máxima geográfica, é a idéia
da existência de um único método de interpretação comum a todas as ciências, isto é, a não-aceitaçao
da diferença de qualidade entre o domínio das ciências humanas e o das ciências naturais. Tal método
seria originário dos estudos da natureza, as ciências mais desenvolvidas, pelas quais outras se deveriam
orientar. Esta concepção, que incide na mais grave naturalização dos fenômenos humanos, se expressa
na onipresente afirmação: “A Geografia é uma ciência de contato entre o domínio da natureza e o da
humanidade”. Postura esta que serviu para tentar encobrir o profundo naturalismo, que perpassa todo o
pensamento geográfico tradicional. Na verdade, a Geografia sempre procurou ser uma ciência natural
dos fenômenos humanos. Tal perspectiva naturalizante aparece com clareza no fato de buscar esta
disciplina a compreensão do relacionamento entre o homem e a natureza, sem se preocupar com a
relação entre os homens. Assim a unidade do pensamento geográfico tradicional adviria do fundamento
comum tomado ao positivismo, manifesto numa postura geral, profundamente empirista e naturalista.
Esta perspectiva positivista talvez seja a mais influente do pensamento geográfico tradicional,
essa perspectiva naturalização se mostra com nitidez no fato da Geografia buscar a compreensão da
relação entre o homem e a natureza, sem se preocupar com as relações sociais. Desta maneira, a
abordagem humana, representado nas relações sociais, fica fora do seu âmbito de estudos. Colocando o
homem apenas como um elemento da paisagem.
O positivismo significava uma Geografia que deveria acumular conhecimentos empíricos e
descritivos. Desta forma a Geografia passou a descrever lugares, fazendo levante de informações e a
localizando fenômenos, descrevendo os traços naturais e sociais da superfície terrestre numa
abordagem individualizadora dos lugares que pudesse instrumentalizar a expansão do capital
monopolista do período
literário; compêndios de curiosidades, sobre lugares exóticos; áridos relatórios estatísticos de órgãos de
administração.
A sistematização do conhecimento geográfico so vai ocorrer no inicio do século XIX. E nem
poderia ser outro modo, pois pensar a Geografia como um conhecimento autônomo, particular,
demandava um certo número de condições históricas, que somente nesta época estarão
suficientemente
suficientemen te maturadas.
O primeiro destes pressupostos dizia respeito ao conhecimento efetivo da extensão real do
planeta. Isto é, era necessário que a Terra toda fosse conhecida para que fosse pensado de forma
unitária o seu estudo.
Outro pressuposto da sistematização da Geografia era a existência de um repositório de
informações, sobre variados lugares da Terra. Isto é, que os dados referentes aos pontos mais
diversificados da superfície já estivessem levantados (com uma margem de confiança razoável) e
agrupados em alguns grandes arquivos. Tal condição incidia na formação de uma base empírica para a
comparação em Geografia.
Outro pressuposto para o aparecimento de uma Geografia unitária residia no aprimoramento
das técnicas cartográficas, o instrumento por excelência do geógrafo. Era necessário haver possibilidade
de representação dos fenômenos observados, e da localização dos territórios.
Finalmente, o temário geográfico vai obter o pleno reconhecimento de sua autoridade, com o
aparecimento das teorias do evolucionismo. Dada a difusão das teorias evolucionistas, no meio
acadêmico da época, a Geografia nela teve uma base cientifica solida para suas indagações.
Como foi discutido pelo autor, vimos que o conhecimento geográfico é tão antigo quanto às
demais ciências existente no mundo, é construído desde a Grécia antiga. A lembrarmos aqui de um
grande pensador Aristóteles, que aparece em vários momentos na discussão de temas, hoje tidos como
da Geografia, sem que houvesse a mínima conexão entre eles; caso, que discute a concepção de lugar,
na sua Física, sem articulá-la com a discussão da relação homem- natureza.
A sistematização do conhecimento da Geografia, como uma ciência particular e autônoma,
ocorreu, sobretudo nas transformações operadas na vida social, pela emergência do modo de produção
capitalista, vai ocorrer na Alemanha em séculos posteriores, e se sustentara nas bases do evolucionismo
para produção do conhecimento.
A falta da aconstituição
da confederação, ausência dede um Estado
relações nacional,
duráveis entre aeles,
extrema diversidade
a inexistência entre
de um os vários
centro membros
organizador do
espaço, ou de um ponto de convergência das relações econômicas, - todos estes aspectos conferem a
discussão geográfica uma relevância especial, para as classes dominantes da Alemanha, no inicio do
século XIX. Temas como domínio e organização do espaço, apropriação do território, variação regional,
entre outros, estarão na ordem do dia na pratica da sociedade alemã de então.
As primeiras colocações, no sentido de uma Geografia sistematizada, vão ser obra de dois
autores prussianos ligados a aristocracia: Alexandre Von Humboldt, conselheiro do rei da Prússia, e Karl
Ritter, tutor de uma família de banqueiros. Humboldt possuía uma formação de naturalista e realizou
inúmeras viagens. Sua proposta de Geografia aparece na justificativa e explicitação de seus próprios
procedimentos de analise. Humboldt entendia a Geografia como a parte terrestre da ciência do cosmos,
isto é, como uma espécie de síntese de todos os conhecimentos relativos a terra. Em termos de método,
Humboldt propõe o empirismo raciocinado, isto é, a intuição a partir da observação.
distinta A
daobra de Ritter jáenquanto
de Humboldt, e explicitamente metodológica.
aquele era A formação
geólogo e botânico, depossui
este Ritter formação
também eem
radicalmente
Filosofia e
Historia. Ritter define o conceito de “sistema natural”, isto é, uma área delimitada dotada de uma
Vi aqui
frentes de que avalorizou
estudo, Geografiaquestões
desenvolvida por Ratzelà privilegiou
relacionadas História e oao
componente humano
espaço, como: e abriu várias
a formação dos
territórios, a difusão dos homens no Globo (migrações, colonizações, etc.), a distribuição dos povos e das
raças na superfície terrestre, o isolamento e suas conseqüências e etc. Objetivo central seria o estudo
das influências, que as condições naturais exercem sobre a evolução das sociedades, o chamado
determinismo geográfico, que ira ser criticado por Vidal de La Blache em um contexto de Estado
Nacional diferente ao de Ratzel.
Ratzel manteve o caráter empírico da Geografia tradicional, e desenvolveu outra linha de
pensamento a Geopolítica, esta como uma forma de calcificar a evolução do Estado Alemão. A partir da
unificação do Estado Alemão criou a teoria do “espaço vital”, como forma de justificar a expansão do
Estado Alemão.
6. Vidal de La Blache e a Geografia Humana
La Blache criou uma doutrina, o Possibilismo, e fundou a escola francesa de Geografia. E, mais
trouxe
quartelpara a França
do século o eixo
atual (XX).da discussão
Com Vidal, egeográfica, situação quea se
de forma progressiva manteve
partir durante
dele, o todo
conceito de oregião
primeiro
foi
humanizado; cada vez mais, buscava-se sua individualidade nos dados humanos, logo, na historia.
A idéia de região propiciou o que viria a ser a majoritária e mais usual perspectiva de analise do
pensamento geográfico: a Geografia Regional. Esta perspectiva se difundiu bastante, enfocando regiões
de todos os quadrantes da Terra. Ate hoje, estes estudos são regularmente realizados. Por isso, pode-se
dizer que a Geografia Regional foi o principal desdobramento da proposta vidalina.
O acumulo de estudos regionais propiciou o aparecimento de especializações, que tentaram
fazer a síntese de certos elementos por eles levantados. Assim, o levantamento de regiões
predominantemente agrárias ensejou o desenvolvimento de uma Geografia Agrária, tentando sintetizar
as informações e as características sobre a estrutura fundiária, as técnicas de cultivo, as relações de
trabalho etc. O estudo das redes de cidade, das hierarquias e das funções citadinas, levou a constituição
de uma Geografia Urbana. E assim por diante, com uma Geografia das Indústrias, da População, ou do
Comercio. Desta forma, as sínteses empreendidas por comparação das regiões foram especializadas. Vê-
se que os desdobramentos da proposta vidalina foram múltiplos. Porém, ao nível da Geografia Francesa,
o autor que realmente avançou suas formulações, gerando uma proposta mais elaborada foi Max Sorre.
O conceito central desenvolvido por Sorre foi o de habitat, uma porção do planeta vivenciada
por uma comunidade que a organiza. O habitat é assim uma construção humana, uma humanização do
meio, que expressa às múltiplas relações entre o homem e o ambiente que o envolve.
A Geografia de Sorre poder ser entendida como um estudo da Ecologia do homem. Isto é, da
relação dos agrupamentos com o meio em que estão inseridos, processo no qual o homem transforma
este meio.
Os desdobramentos da geografia vidalina, que importou o conceito de região de Gallois que o já
havia trazido da Geologia se expandiram por vários elementos de estudos, com abordagem desse novo
conceito, Vidal humaniza a região, e que dessa forma de analise regional, muitos conhecimentos
desenvolvidos. Foi a partir dele que se desenvolveu a Geografia Regional, precipuamente a analise
regional é o mais usual na Geografia.
Muitas especializações foram criadas a partir da abordagem regional, dentre ela a Geografia
Urbana, Industrial, Comercio etc. As proposições de La Blache chegaram ate os historiadores, Lucien
Febvre e outros.
Outra corrente do pensamento geográfico, que se poderia denominar com certa impropriedade
Geografia Racionalista, vinculou-se ao nome de A. Hettner e R. Hartshorne. O fato de se denominar
racionalista
perspectiva, esta corrente
a terceira advém
grande de sua
orientação menor
dentro carga empirista,
da Geografia em privilegiou
Tradicional, relação às um
anteriores.
pouco mais Esta
o
raciocínio dedutivo, antecipando
antecipando um dos moveis da renovação geográfica nos anos sessenta.
Hettner vai propor a Geografia como ciência que estuda “a diferenciação de áreas”, isto é, a que
visa explicar “por quê” e “em que” diferem as porções da superfície terrestre; diferença esta que, para
ele, é apreendida ao nível do próprio senso comum. De todo modo as teses hettenerianas foram pouco
divulgadas. Somente através de Hartshorne, um renomado geógrafo americano, que a proposta de
Hettner passou a ser amplamente discutida.
Em termos de uma Geografia Geral, os americanos acompanhavam o pensamento europeu: E.
Semple havia introduzido as teses de Ratzel e do Determinismo; I. Brown, as de Brunhes e, com elas, o
Possibilismo. Hartshorne introduzira o pensamento de Hettner, porém, ao contrario dos anteriores,
desenvolvendo-o
desenvolvend o-o e aprimorando-o.
Foi somente a partir dos anos trinta que a Geografia americana se desenvolveu, desenvolveram-
se duas escolas
formulado de Geografia.
foi Carl Sauer. A Uma,
outra na Califórnia,
escola, aproximando-se
batizada da Antropologia,
de Meio-Oeste, seu maiscomo
propondo estudos destacado
o da
organização interna das cidades. Sem duvida a produção de Hartshorne que encontrou maior
repercussão, dado o seu caráter amplo (em busca de uma Geografia Geral) e explicitamente
metodológico.
A primeira diferença da proposta de Hartshorne residiu em este defender a idéia de que as
ciências se definiram por métodos próprios, não por objetos singulares. Para Hartshorne, o estudo
geográfico não isolaria os elementos, ao contrario trabalharia com suas inter-relações. A forma anti-
sistemática seria mesmo com a singularidade da analise geográfica. Desta forma, Hartshorne deixou de
procurar um objeto da Geografia, entendendo- a como um “ponto de vista”. Seria um estudo das inter -
relações entre fenômenos heterogêneos, apresentando-as numa visão sintética. Os conceitos básicos,
formulados por Hartshorne, foram os de “área” e de “integração”, ambos referidos ao método.
Entendo que se trata de obra de cuidadoso rigor metodológico, que explora e conclui sobre o
pensamento geográfico, sem desvios ou distorções. É uma obra original e valiosa porque aborda a
origem do pensamento geográfico tradicional: Humboldt, Ritter, Ratzel, La Blache e etc.
Esta obra apresenta especial interesse para estudantes e pesquisadores de Geografia. Pode ser
utilizada tanto para alunos de graduação, pois apresenta linguagem simples, sendo também útil como
modelo, do ponto de vista metodológico.