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Resenha do capítulo VI do livro “1964: A conquista do Estado.

Ação Política, Poder e Golpe


de Classe” de René Armand Dreifuss.

Jéssica Madeira Barboza

2022
A presente resenha analisa o capítulo VI do livro “1964: A conquista do Estado Ação
Política, Poder e Golpe de Classe” que tem como título e assunto principal “A ação da classe
da elite orgânica: A campanha ideológica da burguesia” de René Armand Dreifuss, um
historiador nascido no Uruguai, no ano de 1945. Nesta obra, o autor explana informações
sobre o período anterior e de transição à Ditadura Civil-Militar, ou seja, os fatores que
impulsionaram a instauração do golpe. Assim, aqui serão descritos os pontos essenciais
encontrados no capítulo do livro de Dreifuss.
Primeiramente, é importante dar início introduzindo a tese principal utilizada por
Dreifuss em sua obra para explicar a instauração da ditadura no Brasil, ele explica que foi um
processo de articulação política com a atuação de civis e militares, com caráter classista e
empresarial, ou seja, o autor desconstrói a ideia de um golpe militar conspirativo, defendendo
que foi o resultado de uma campanha política, ideológica e militar travada pela elite orgânica
centrada no complexo IPES/IBAD. Dreifuss ressalta que a ação do complexo IPES/IBAD
aproveitou o apoio de militares das forças armadas e de conservadores que faziam parte do
setor civil para realizar o golpe de 1964, agindo de forma discreta, além disso, existiam
outros órgãos que atuavam de forma paralela.
Dessa forma, entende-se que o golpe civil-militar de 1964 foi planejado, Dreifuss
afirma que tudo foi preparado e encaminhado para que a ditadura acontecesse, como foi
mencionado anteriormente, muitos setores da sociedade atuaram nessa realização. Através do
que Dreifuss escreve em sua obra, pode-se perceber que a elite orgânica foi um aparelho de
classe principal e essencial nessa atuação, foi ela que operava em toda área de vida social,
conquistou o poder político, fazendo o uso de todo recurso disponível, legal e ilegal. Em
outras palavras, a elite orgânica utilizou o complexo IPES/IBAD para que a realização do
golpe fosse efetivada, as táticas utilizadas eram de modalidades como a ação ideológica,
social, e a ação político-militar.
Sobre a modalidade ideológica e social, Dreifuss afirma que a elite orgânica usava o
mecanismo da doutrinação geral e doutrinação específica, “ambas coordenadas com
atividades político-ideológicas mais amplas no Congresso, sindicatos, movimento estudantil e
clero'' (p.231). Resumidamente, o que é explicado sobre cada uma, é que, a doutrinação geral,
visava levar abordagens da elite orgânica por responsáveis pelas decisões políticas e ao
público em geral, além de causar impactos em alguns públicos e no aparelho do Estado.
Através da doutrinação específica a elite orgânica tencionava moldar a consciência e a
organização dos setores dominantes e envolvê-los em uma só classe, enquanto consolidava a
liderança política das frações multinacionais e associadas dentro da classe dominante.
Primeiramente, sobre a doutrinação geral, o autor afirma que como canais de
persuasão e técnicas empregadas, usava-se a “divulgação de publicações, palestras,
simpósios, conferências de personalidades famosas por meio da imprensa, debates públicos,
filmes, peças teatrais, desenhos animados, entrevistas propaganda no rádio e na televisão”.
Ou seja, esse setor atuava diretamente ao povo, com intuito de conquistá-los, através dos
meios de comunicação entre eles, como os jornais e televisões, além disso, contavam com o
apoio de muitas figuras importantes em todos esses meios, de forma que pudessem os ajudar,
como intelectuais, jornalistas, entre outros. Com isso, esperava-se influenciar
ideologicamente as pessoas para que apoiassem-os, “Saturava o rádio e a televisão com suas
mensagens políticas e ideológicas” (p.232)
Percebe-se através do texto, que a elite orgânica organizou um plano eficiente para
modelar a opinião pública, tendo em vista que utilizou-se de meios muito eficazes para a
realidade do país, como é informado no texto acerca da rádio, por exemplo, “O rádio era um
poderoso meio de doutrinação geral e um valioso foco para se montar ações ofensivas contra
o Executivo, principalmente em um país com massas de pessoas pobres, sem condições de
terem televisões”. (p.249). O autor desenvolve ao longo de sua obra, as diversas formas que o
complexo IPES doutrinava o público, explanando sua propaganda anticomunista,
expressando os objetivos ideiais da Aliança para o Progresso, por meio de livros, folhetos ou
panfletos. Fica evidente que, todos os âmbitos da área da comunicação e transmissão de
informação foram um mecanismo importante para a realização e sucesso do golpe de 64.
Paralelamente, a doutrinação específica, também tinha a finalidade de moldar e
persuadir, mas nesse caso, o plano seria posto em prática no setor empresarial, com intuito de
criar uma classe “para si”, assim ela iria apoiar e participar do esforço geral liderado pela
elite orgânica. “A formação dessa consciência de classe « posicionamento político comum era
considerada de suma importância, tanto para a ação do IPES sobre o sistema político único
para o desenvolvimento da organização como um todo.” (p.252), além de desenvolver sua
campanha ideológica criando suas fileiras de empresários, militares e as categorias
funcionais, também atuava doutrinando o bloco burguês, em uma operação que dentro do
IPES era conhecida como “projeção de doutrina”.
Por fim, alguns pontos chamam a atenção, como a questão da ligação que havia com
algumas instituições os bastante conhecidas como a PUC - Pontifícia Universidade Católica,
com o apoio intelectual, além de relacionamento os mais importantes jornais, rádios e
televisões nacionais, como a Folha de São Paulo (do grupo de Octavio Frias, associado ao
IPES), a TV Record, a TV Paulista, O Globo (das organizações Globo de Roberto Marinho).
REFERÊNCIAS
DREIFUSS, René. A Conquista do Estado. Ação Política e Golpe de Classe. Petrópolis:
Editora Vozes, 1981

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