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PROJETO DE ENSINO:

Censura à Imprensa na Ditadura Militar Brasileira

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 3
1 TEMA 4
2 JUSTIFICATIVA 6
3 PARTICIPANTES 7
4 OBJETIVOS 8
5 PROBLEMATIZAÇÃO 9
6 REFERENCIAL TEÓRICO 10
7 METODOLOGIA 16
8 CRONOGRAMA 17
9 RECURSOS 18
10 AVALIAÇÃO 19
CONSIDERAÇÕES FINAIS 20
REFERÊNCIAS 21
INTRODUÇÃO

A censura à imprensa durante a Ditadura Militar no Brasil é um episódio


histórico fundamental para ser abordado no ensino básico. Esse período sombrio da
história brasileira recente deve ser estudado não apenas para trazer mais
informações sobre esse tema tão importante e complexo, mas também para
compreender como a repressão limitou a liberdade de expressão, e assim, trazer
aos estudantes a noção da importância de preservar a liberdade de imprensa como
um pilar da democracia.

A prática da censura à imprensa evidencia como os órgãos do regime


conseguiram restringir a circulação de informações e impor narrativas que
favoreciam o governo, com o intuito de obter a aprovação da sociedade. Tudo isso
era feito de uma forma inconstitucional e sem o conhecimento público (SMITH,
2000).

Os censores frequentemente estavam presentes nas redações, influenciando


diretamente a produção jornalística. Jornalistas e escritores passavam por pressões
constantes diariamente para aderir à linha editorial do regime, e qualquer desvio
podia resultar em perseguição, prisão e até morte (SOARES, 1989). Isso criou um
ambiente de autocensura, onde profissionais da mídia evitavam temas sensíveis e
aderiram a uma narrativa oficial, comprometendo a integridade do jornalismo.

O impacto dessa censura sobre a sociedade foi imenso, uma vez que as
pessoas tinham acesso limitado a informações verdadeiras sobre o que ocorria no
regime. Apenas com o fim da ditadura em 1985 e com a promulgação da nova
Constituição, em 1988, a liberdade de imprensa e a democracia foram restauradas.
1 TEMA

Durante a Ditadura Militar no Brasil, que ocorreu de 1964 a 1985, houve uma
forte censura à imprensa. O regime militar restringiu a liberdade de expressão e
controlou a divulgação de informações de maneira rigorosa. Jornais, revistas, rádio e
televisão eram monitorados de perto pelo governo, que buscava suprimir qualquer
conteúdo crítico ao regime, que fosse considerado subversivo ou que não honrasse
com a moral e os bons costumes.

No que diz respeito à censura à imprensa, Lucas Borges de Carvalho aponta em


sua pesquisa que os censores muitas vezes estavam presentes diariamente nas
redações, já fazendo parte da rotina profissional, sempre indicando pautas, temas,
nomes ou palavras proibidas de serem tratados ou censurando matérias já escritas
(CARVALHO, 2014).

Como é trabalhado pelo historiador Juliano Doberstein, não houve a criação de


um órgão governamental oficial ou uma lei dedicada explicitamente à censura da
imprensa. Em vez disso, essa tarefa estava a cargo do SIGAB, que consistia apenas
em um escritório subordinado ao Diretor-Geral do Departamento de Polícia Federal.
O Serviço de Informação ao Gabinete (SIGAB) não fazia parte formalmente da
estrutura burocrática do governo federal, embora desempenhasse o papel central na
censura prévia aos meios de comunicação (DOBERSTEIN, 2007).

Essa estratégia de aplicar a censura à imprensa de forma discreta era uma das
maneiras de conferir uma fachada de legitimidade à ditadura, ocultando sua
natureza autoritária. Da mesma forma que a manutenção do funcionamento do
Congresso e a realização de eleições para alguns cargos, a tentativa de aparentar
que a liberdade de imprensa ainda existia era uma forma de sugerir que os militares
estavam, de fato, preservando a democracia brasileira (FICO, 2001).

Portanto, é relevante observar que, apesar da ausência de respaldo legal, a


censura política à imprensa durante a ditadura militar contava com uma estrutura
política centralizada e institucionalizada. Isso proporcionava a base e a
operacionalidade necessárias à censura, embora essa operação não tivesse um
fundamento legal sólido. Essa abordagem se justificava pelo desejo de conferir uma
aparência de legalidade ao regime militar brasileiro, fazendo com que parecesse que
a ditadura não restringia a livre circulação de informações, a fim de manter uma
imagem de regime necessário, íntegro e legítimo.

Isso resultou em uma imprensa duramente controlada, com a imposição de


pautas e a autocensura por parte dos jornalistas. Muitos veículos de comunicação
foram censurados, e jornalistas e escritores enfrentaram perseguição, prisão e até a
morte por expressar opiniões contrárias ao governo. Essa censura teve um impacto
significativo na sociedade, limitando o acesso a informações sobre o que de fato
ocorria no regime.

Somente após o fim da ditadura, com a promulgação da Constituição de 1988, a


liberdade de imprensa foi restabelecida no Brasil, marcando uma nova era para o
jornalismo e a democracia no país.

.
2 JUSTIFICATIVA

A ditadura militar ocorrida no Brasil é um tema essencial a ser tratado dentro da


disciplina de História na educação básica. Dentro do universo de acontecimentos ao
longo dos 22 anos da duração do regime, a censura é um dos recortes chave para
compreender como foi possível a sua longa sobrevida e como foi profundo e violento
o impacto sobre a circulação de informação.

A censura à imprensa evidencia a facilidade com que os órgãos da ditadura


podiam limitar a liberdade da sociedade civil e impor as suas próprias narrativas em
busca da aprovação do regime perante a sociedade. Além disso, ao pensar o
período da ditadura, os alunos podem extrapolar para os dias de hoje e usar os
conhecimentos adquiridos também para pensar como se dá o funcionamento dos
meios de informação e com isso ter uma postura mais crítica ao buscarem cada vez
mais fontes confiáveis de conhecimento.

Ensinar sobre este tema dentro do assunto da ditadura militar brasileira é,


portanto, crucial para que as gerações futuras compreendam a importância da
liberdade de imprensa na construção de uma sociedade democrática e sejam
capazes de defender esse princípio fundamental.
3 PARTICIPANTES

Esta atividade poderá ser realizada em qualquer série escolar do ensino


fundamental ou básico em que a disciplina História estiver presente no currículo.
Dessa maneira, os participantes serão os estudantes e os professores que
ministrarão a disciplina.
4 OBJETIVOS

Objetivo geral:

O objetivo dessa atividade é primeiramente expandir o conhecimento dos


alunos sobre a Ditadura Militar ocorrida no Brasil de 1964 a 1985, utilizando o
recorte da censura à imprensa como tema principal.

Objetivos específicos:

O estudo desse assunto dentro do período histórico da Ditadura Militar tem o


objetivo de:

● Possibilitar que os alunos façam conexões com o presente e


compreendam como os meios de comunicação atuam na sociedade
contemporânea.
● Compreender como o controle da informação pode ser prejudicial à
democracia, aos direitos individuais e aos direitos humanos.
● Desenvolver um senso crítico para discernir informações confiáveis de
fontes duvidosas.
5 PROBLEMATIZAÇÃO

Embora exista o ensino da ditadura, não há tanto aprofundamento nesse


assunto. Fazer um recorte, ajuda a entender melhor detalhes

Existe na sociedade um movimento negacionista a respeito da profundidade


da violência da ditadura militar, que busca fazer com que esse período seja
glorificado, é muito necessário que seja amplamente debatido em sala de aula como
esse tipo de pensamento é perigoso porque nega a verdade constatada através de
inúmeras pesquisas históricas e ampla documentação. A tentativa de ressignificar a
memória da ditadura como algo positivo precisa ser combatida, demonstrar seus
abusos antidemocráticos e violentos se mostra imprescindível nesse contexto.

Marcos Silva mostra que desde seu fim e até no presente, persiste um
discurso de elogio a práticas ditatoriais, como a tortura, e uma visão benevolente e
positiva dos anos da ditadura, essa posição dentro das batalhas pela memória do
regime, conseguiu se fortalecer e mesmo chegar ao Executivo Federal em 2018 até
2022. O negacionismo em relação a 1964-1985 como ditadura foi um dos pilares
dessa recente ascensão política autoritária no país, levando esse tema para
diversas mídias muito acessadas por jovens (SILVA, 2021).

A educação básica é o momento de criar a capacidade dos alunos de


entender a pesquisa científica da história e usá-la como ferramenta para defender os
valores da cidadania, como a democracia, os direitos humanos e a liberdade de
expressão (ASSIS, 2004).
6 REFERENCIAL TEÓRICO

A censura às mais diversas formas de comunicação no Brasil, inclusive à


imprensa, não teve início na ditadura militar, é de longa data o estabelecimento de
algum controle sobre o que o público teria acesso. Essa limitação variou de
intensidade ao longo dos períodos políticos, entretanto, a ditadura foi um dos
momentos mais críticos e autoritários para a liberdade de comunicação no Brasil.

Grande parte da historiografia aponta que mesmo em períodos democráticos,


a censura às diversões públicas, como cinema, teatro e música, sempre ocorreram
com a legitimação de grande parte da sociedade, dentro de um pensamento de
adequação à moral e aos bons costumes brasileiros. De acordo com Carlos Fico, a
censura durante a ditadura “tratava-se mais de uma adequação, não de uma
criação” (FICO, 2001).

A partir do golpe de 1964 houve um fortalecimento e reformulação do órgão


de censura, que passou a se chamar SNI (Serviço Nacional de Informações). Dessa
forma, no período da ditadura militar, a censura foi sendo institucionalizada, fazendo
parte de um processo de criação de aparatos jurídicos e legais capazes de dar
apoio ao autoritarismo ditatorial.

Em um clima de Guerra Fria, o golpe de Estado de 1964 foi desferido com


uma forte justificativa de que o país estava sendo ameaçado por forças de
esquerda que tinham a intenção e o poder de instaurar uma ditadura comunista no
Brasil, havia um enorme medo por parte de diversos setores da sociedade,
inclusive da própria imprensa hegemônica, de que ocorresse em terras brasileiras o
mesmo que ocorreu em Cuba. Dessa forma, a ditadura militar se instalou com o
discurso de estar salvando a democracia no país de uma revolução que poderia
ocorrer a qualquer momento.

Especialmente no governo de Castelo Branco, havia o esforço de manter a


aparência democrática do novo regime. Entretanto, era inegável que uma estrutura
de controle ditatorial estava sendo consolidada e expandida, inclusive em relação à
liberdade de imprensa. Embora o discurso do Estado e de seus defensores
dissesse o contrário, houve censura e violência contra veículos de comunicação
logo nos primeiros anos do regime. Como exemplo, Gláucio Ary Dillon Soares
aponta que jornais de posição contrária à ditadura Jornais de esquerda e jornais
pró-João Goulart foram invadidos e destruídos. Jornais respeitáveis, mas favoráveis
a Goulart, como a Última Hora, um dos principais do país, foram invadidos e
também tiveram seus maquinários quebrados. O Correio da Manhã, que se opunha
radicalmente a Goulart e uma suposta ameaça vermelha anteriormente, mas que
passou a denunciar os excessos da ditadura, foi “sistematicamente perseguido: a
sua sede foi atacada à bomba, invadida e interditada, uma edição foi sumariamente
confiscada e sua proprietária, Niomar Bittencourt, presa por mais de dois meses.”
(SOARES, 1989, p. 22).

Institucionalização da censura

Logo no Ato Institucional n. 01, editado oito dias após o golpe, existiu o
esforço de transmitir um tom de manutenção da ordem constitucional vigente,
entretanto o Ato dava poder ao governo militar de alterar aspectos das leis que
fossem necessárias para aquela nova etapa. No AI-2 (1965), foi alterado um trecho
da Constituição de 1946, mudando parte do artigo 141, artigo que garantia a
liberdade de pensamento, substituindo “Processos violentos para subverter a ordem
política e social”, para “[propaganda] de subversão, da ordem ou de […]”. Esta
alteração se refletiu na coerção da imprensa e passou a fazer parte da Constituição
de 1967 posteriormente.

Houve um crescimento do rigor da censura em 1967 com a chamada “Lei de


Imprensa” que regulamentava a liberdade de manifestação de pensamento e de
informação. Passou a ser atribuição do ministro da justiça determinar aplicação de
multas e apreensão aos veículos de informação que não seguissem as ressalvas
previstas no AI-2. Em 1968, com a instauração do AI-5 o regime passa a ser mais
autoritário e as intervenções da censura passam de realizadas de modo excepcional
para serem práticas diárias e muito mais impositivas.

A Lei de Segurança Nacional, de Setembro de 1969, permitiu que o governo


aplicasse penas de detenção aos profissionais de imprensa que não cumprissem as
novas regras. Também passou a ser possível a apreensão de edições e suspensão
da circulação de periódicos que infringissem a lei. Neste momento, passaram a ser
entregues direto nas redações dos periódicos ou jornais, orientações sobre a
cobertura de determinados assuntos que deveriam ser seguidas obrigatoriamente.
Esta prática não estava prevista em qualquer lei, porém passou a ser rotineira.

Em Janeiro de 1970, o decreto-lei 1.077 institui a censura prévia no país com


a justificativa de haver uma suposta generalização de publicações contrárias à moral
e aos bons costumes, e seria parte de um plano subversivo que colocava em risco a
segurança nacional. Frequentemente a historiografia aponta tal decreto como uma
espécie de legalização da censura prévia, sendo possível a promoção dessas
políticas contra a imprensa dentro de uma aparência de liberdade de expressão,
porém protegendo o país da ameaça comunista e de violentos subversivos.

As duas censuras

Anne Marie Smith discute que havia lógicas de atuação diferentes para
segmentos diferentes de expressão de ideias, no caso da imprensa, a censura
política era ilegal dentro das leis anteriores a 64 e também da própria ditadura. A sua
existência nem mesmo era admitida pela ditadura e a ocorrência da censura
também era proibida de ser divulgada (SMITH, 2000). O historiador Juliano
Doberstein trabalha especificamente a existência de dois tipos de censura bem
delimitados em suas ações:

“Havia, assim, dois mecanismos de censura da ditadura militar.


Um deles justamente porque visto pelo governo como legítimo
do ponto de vista social e jurídico, era realizado de maneira
aberta, transparente. Já a outra censura, porque entendida
como procedimento ilegítimo socialmente, além de ilegal, era
quase sempre feita na clandestinidade, às escuras.”
(DOBERSTEIN, 2007)
Ainda de acordo com Doberstein, havia dois braços executores da censura, o
DCDP, que fazia o controle de espetáculos e diversões públicas, e o SIGAB, que
exercia a censura junto às redações de jornais.

Enquanto a Divisão de Censura e Diversões Públicas (DCDP) não tinha o


poder de controle político sobre a imprensa, o Serviço de Informação ao Gabinete
(Sigab) não era formalmente integrado à estrutura burocrática federal, embora
fosse o principal órgão responsável pela censura prévia aos veículos de
comunicação. Dessa forma, o principal órgão de censura à imprensa só existia
como um subordinado ao Ministro da Justiça.
De acordo com Kushnir, o Sigab nem mesmo foi criado por um decreto ou
esteve em qualquer organograma, tanto do Ministério da Justiça como do DPF, ele
era um órgão de acordo entre o ministro da Justiça e o diretor da Polícia Federal,
que jamais foi instituído formalmente. “Ao Sigab cabia o telefonema diário às
redações de todo o país em que se informava o que era proibido publicar, assim
como a visita aos jornais sob censura prévia para checar o cumprimento das
ordens” (KUSHNIR, 2004).

Esse artifício de exercer uma censura à imprensa de forma velada foi uma
das maneiras de garantir o véu da legitimidade da ditadura, disfarçando seu caráter
autoritário. Assim como manter o congresso funcionando e a ocorrência de eleições
para alguns cargos, a tentativa de aparentar a existência de liberdade de imprensa
era uma maneira de fazer parecer que os militares estavam de fato defendendo a
democracia brasileira.

A censura nas redações

A presença de um censor nas redações passou a ser rotineira em diversos


jornais e periódicos, ao ponto de se tornar quase como parte inerente ao ofício do
jornalismo. O pesquisador da área do direito Lucas Borges de Carvalho mostra que:

“De forma geral, a censura prévia à imprensa foi


operacionalizada mediante três mecanismos distintos: (i)
presença de um censor na redação do veículo de imprensa; (ii)
envio de matérias para a análise da polícia federal – nas
Delegacias Regionais ou em Brasília – antes da publicação; e
(iii) ordens emitidas por meio de bilhetinhos, telegramas e
telefonemas indicando assuntos que não poderiam ser
divulgados.” (CARVALHO, 2014).
O envio de matérias às autoridades competentes criava grandes dificuldades
à imprensa. A edição precisava ser concluída com muita antecedência, a tempo de
ser encaminhada a Brasília e, após as ressalvas ou aprovações, deveriam ser feitas
as modificações necessárias impostas pela repressão. Dessa maneira, uma das
consequências era que o periódico acabava sendo publicado com atraso, sem
poder, muitas vezes, apresentar e discutir acontecimentos recentes.

Tais práticas ocorreram em grandes veículos de informação, como o Estado


de São Paulo, Veja e Pasquim (SMITH, 2000), até nos mais alternativos e com
menos recursos. No caso desses últimos, todo processo poderia gerar grandes
prejuízos financeiros, chegando a inviabilizar e falir vários deles. Essa era inclusive
uma estratégia da censura.

Um problema para a própria censura era que a convivência diária entre


jornalistas e censores acabava por permitir certa aproximação entre eles,
viabilizando a “obtenção de facilidades ou, ainda, a adoção de formas criativas de
resistência, tais como a entrega de um dado material mais de uma vez ou a demora
nessa mesma entrega, com o fim de se aproveitar do cansaço do censor.” (SMITH,
2000). Beatriz Kushnir lembra do famoso caso dos vários censores e censoras
destacados para atuar no Pasquim, que foram substituídos após terem
desempenho considerado insatisfatório por seus superiores ao se aproximarem dos
membros da redação e terem deixado passar diversas matérias que deveriam ter
sido censuradas. (KUSHNIR, 2004)

É também famoso o caso dos “bilhetinhos” que circulavam com as indicações


do que era ou não autorizado abordar. Muitas vezes eles eram de aparência
completamente informal, escritos à mão e não possuíam qualquer indicação da
autoridade responsável pela ordem. Outra característica importante presente em
toda a censura na ditadura militar, as determinações eram muito seletivas, em
relação a quais veículos de informação eram ou não notificados.

Isso não significa, entretanto, que a prática da censura tenha ocorrido com
desorganização de maneira generalizada ou sem observar diretrizes consistentes e
previamente determinadas. Ao contrário, “a censura política à imprensa obedecia a
ordens centralizadas, proferidas por um núcleo institucional devidamente
estabelecido. Nada havia de aleatório nas proibições efetuadas por meio dos
telefonemas ou bilhetinhos encaminhados às redações” (CARVALHO, 2014).
Beatriz Kushnir também sustenta que “as regras estão claras. Não há nada de
caótico e perdido na burocracia, como muitas análises tentam apontar. Não há
acefalia.” (KUSHNIR, 2004)

Doberstein defende que um provável despreparo dos censores apontado pela


historiografia, não exclui a existência de uma vontade do órgão censório de tornar
melhor sistematizadas, direcionadas e aperfeiçoadas as suas ações. O autor
mobiliza o argumento de Leonor Souza Pinto:
“A tão propagada limitação intelectual dos censores, seus
atos pitorescos, motivo de chacota até hoje, os erros
gramaticais que cometiam ou seus argumentos que podem
parecer ridículos, lamentavelmente, nunca impediram a
censura de ser um dos mais competentes órgãos de repressão
da ditadura e, seguramente, um dos pilares de sustentação do
regime” (Leonor Souza Pinto, 2006, p. 77).

Dessa forma, é importante notar que havia uma centralização política e uma
organização institucional que conferiram sustentação e operacionalidade à censura
política à imprensa da ditadura militar, embora essa sistematicidade organizada não
tenha tido uma correspondente formalização jurídica. Este fato se justifica, como já
foi discutido acima pela pretensão de forjar uma face legalista ao regime militar
brasileiro.
7 METODOLOGIA

A Ditadura militar ocorrida no Brasil, ainda é um tema sensível e em pleno


debate na sociedade brasileira nos dias de hoje, há uma batalha de memória muito
ativa em que cada lado busca que sua perspectiva seja aceita (GIOVANETTE,
2021). No campo da educação é imprescindível que os valores da cidadania, dos
direitos humanos e da democracia sejam defendidos através do campo das ciências
humanas, e, no caso do presente trabalho, no campo da História.

Dessa maneira, vários autores e autoras da historiografia foram resgatados


no intuito de trazer um planejamento de atividade pedagógica amparado por fontes
de credibilidade. O recorte da censura à imprensa dentro do período ditatorial
pretende trazer um exemplo de fácil entendimento de como ocorriam os atos
antidemocráticos, a supressão das informações que circulavam no país, o
impedimento da liberdade de expressão e a violência contra os jornalistas que
tentavam trabalhar à revelia dos mandos da censura. Tudo isso figura em sala de
aula como uma pequena amostra detalhada da ampla perspectiva do que ocorria
naquele período.

A proposta de avaliação buscou trazer primeiramente informações básicas


sobre a Ditadura e a censura por meio de aula expositiva. Nesse momento
documentos históricos que mostram artigos censurados nas redações dos jornais,
trazem uma proximidade ainda maior com o tema, como proposto dentre
metodologias que aliam o ensino da História com a prática de analisar documentos,
como defende Ivo Mattozzi (MATTOZZI, 2009). Da seguinte experiência prática da
escrita e da reescrita dos artigos pelos alunos, almeja-se que os estudantes
adquiram um entendimento prático, que sejam sensibilizados, fazendo com que a
atividade deixe uma marca na memória, enriquecendo assim a experiência
educacional.
8 CRONOGRAMA

Etapas do Projeto Período

1. Planejamento 1 semana

2. Primeira aula com o tema “Censura 1 aula de 50 minutos


na Ditadura Militar Brasileira". Nesta
aula haverá a proposição da escrita do
artigo.

3. Recebimento dos artigos fora do 5 minutos


horário de aula da disciplina

4. Avaliação parte 1 (prazo para escrita) 1 semana (atividade em casa)

5. Avaliação parte 2 (recebimento dos 2 horas


artigos e ação de intervenção)

6. Avaliação parte 3 (entrega dos 1 aula de 50 minutos


trabalhos e discussões sobre a
censura)
9 RECURSOS

Esta será uma aula expositiva sobre o tema proposto. Os recursos a serem
utilizados serão a própria sala de aula equipada com projetor e computador para que
o recurso de imagens possa ser usado. As imagens serão essenciais para expandir
o entendimento dos alunos, por tornarem os fatos mais vívidos. Será necessário
também um quadro com instrumento de escrita, como giz ou caneta especial, com o
objetivo de anotar palavras chave ou ideias a fixar.
10 AVALIAÇÃO

A avaliação proposta para essa atividade será a escrita de um artigo para


jornal por cada aluno. Será feito individualmente um texto como se fosse para ser
lançado em um jornal da atualidade, com algum tema ou fato que tenha ocorrido
recentemente no Brasil ou no mundo. O artigo deverá ser escrito com toda liberdade
de ideias, sem que seja empregado qualquer tipo de limitação por censura.

Após a entrega do trabalho pelos alunos, a correção será feita simulando a


atividade dos censores da ditadura militar. Serão feitas interferências gráficas
semelhantes a como era naquele período histórico, da mesma forma que terá sido
visto pelos alunos através das imagens de documentos históricos apresentados em
aula.

Será feita, então, a devolução das atividades com a intervenção da censura e


os alunos deverão reescrever o texto usando apenas as ideias impostas pelo
professor. Após todo esse processo haverá em aula uma explicação dos critérios da
censura na ditadura, aplicada nos artigos dos alunos.

A partir dessa experiência pessoal e da visualização dos documentos da


censura em aula, o objetivo é que os alunos tenham uma noção prática, que os
sensibilizem e marquem, trazendo um engrandecimento da experiência didática,
como é debatido por Márcio Seligmann (SELIGMANN-SILVA, 2019).
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Ditadura Militar que ocorreu no Brasil permanece como um tema sensível e


em constante discussão na sociedade contemporânea, causando uma batalha de
narrativas. Na atualidade, existem movimentos negacionistas e revisionistas da
História que buscam reinterpretar a memória da ditadura de forma positiva,
enaltecendo aspectos como a tortura e a censura.

Esse tipo de abordagem é preocupante, uma vez que contradiz a verdade


documentada por inúmeras pesquisas históricas e uma vasta quantidade de
evidências documentais, além de, evidentemente, perturbar a ordem democrática e
a defesa dos direitos humanos no país. O presente trabalho buscou trazer os
argumentos e confirmar a importância de várias autoras e autores da Historiografia
do tema, cujas contribuições são essenciais para trazer credibilidade necessária à
discussão desse assunto crucial que é a Ditadura Militar.

Dentro do amplo leque de eventos que ocorreram durante os 22 anos da


ditadura, a censura à imprensa emerge como um elemento-chave para entender a
longevidade desse regime e o impacto profundo e violento sobre as vidas das
pessoas e a circulação da informação.

Portanto, é fundamental ensinar sobre esse tópico no contexto da educação


básica, a fim de que as futuras gerações compreendam a relevância da liberdade de
imprensa na construção de uma sociedade democrática. Esse conhecimento
capacitará os indivíduos a defenderem esse princípio essencial em todos os
aspectos da sociedade.
REFERÊNCIAS

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ENCONTRO PERSPECTIVAS DO ENSINO DE HISTÓRIA, 5, 2004, Rio de Janeiro.
Anais. Rio de Janeiro, RJ: 2004

DOBERSTEIN, Juliano Martins. As Duas Censuras do Regime Militar: o controle das


diversões públicas e da imprensa entre 1964 e 1978. 210 f. Dissertação (Mestrado
em História) - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007.

FICO, Carlos. Espionagem, polícia política, censura e propaganda: os pilares


básicos da repressão. In: FERREIRA, J.; DELGADO, L. (org). O Brasil Republicano:
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FICO, Carlos. Como eles agiam. Os subterrâneos da ditadura militar: espionagem e


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em disputa: do negacionismo às possíveis reações'. In: IX Seminário Interno do
PPGHS-FFP, 2021, São Gonçalo - RJ.. IX Seminário Interno do PPGHS - 2021,
2021.

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MATTOZZI, Ivo. Arquivos simulados e didática da pesquisa histórica: Para um


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MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Em guarda contra o perigo vermelho. São Paulo:
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SOARES, Glaucio Ary Dillon. Censura durante o regime autoritário. RBCS, nº 10,
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