HISTÓRIA DO BRASIL IV DOCENTE: ANGÉLICA MULLER DISCENTE: MAYCON BITENCOURT E THAIS COSATTINI
Resenha: “Imobilismo em movimento: Da redemocratização ao governo Dilma”
Maycon Bitencourt e Thais Cosattini1
NOBRE, Marcos. Imobilismo em movimento: da abertura democrática ao governo Dilma.
São Paulo: Companhia das Letras, p. 09-25. 2013.
Marcos Nobre possui doutorado em Filosofia pela Universidade de São Paulo e
é professor livre-docente da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. No livro “Imobilismo em movimento” pretende demonstrar como se deu a passagem da ditadura para redemocratização do Estado brasileiro, dando ênfase a um modelo de governabilidade que marcou o período, chamado por ele de “pemedebismo”, o qual funciona como um sistema travas a mudanças que estrutura e bloqueia o sistema político. O livro foi dividido em três fases. A primeira, de 1979 a 1994 na qual se consolidou o pemedebismo. A segunda, de 1994 a 2002, que trouxe transformações que modificaram o pemedebismo e os polos de disputa. E a terceira, de 2003 a 2010, que compreende os dois mandatos de Lula e a eleição de Dilma Rousseff, na qual os pólos anteriores desaparecem e fica o pemedebismo e seu principal condutor, o PT (p. 20). A gênese do pemedebismo se deu a partir das articulações realizadas com a ditadura, sobretudo com a morte de Tancredo, que havia sido empossado após eleição indireta em 1985, na qual somente o PT não participou. Morto em abril do mesmo ano, Tancredo foi substituído pelo vice, José Sarney. Este foi quadro proeminente do PFL, filiou-se ao PMDB para formalizar a candidatura. Essa conjuntura representava os moldes pelo qual a redemocratização estava se estruturando, segundo Nobre: “controlada pelo regime ditatorial em crise e pactuada de cima por um sistema político elitista”. (p. 11) No final da década de oitenta, os movimentos sociais foram provocados a ir às ruas por força da constituinte. Essa pressão exercida de fora fez com que as forças que comandavam a redemocratização abrissem portas às reivindicações vindas dos movimentos sociais. A conjuntura motivou aos partidos a juntar forças em prol de uma mesma pauta, esse movimento foi conhecido como pemedebismo, alusão ao PMDB 1 Graduandes em Sociologia pela Universidade Federal Fluminense – UFF. que liderou a transição (p. 11). O processo de impeachment de Collor marcou o segundo processo de mudança nesse modelo de governo. A ideia de que Collor tinha caído porque não contava com apoio político suficiente foi preponderante na época. O PT, mesmo sendo contra o sistema pemedebista, encaixou-se na sua estrutura, construindo uma grande aliança e sucumbindo ao poder de veto do congresso. De qualquer forma, é uma realidade que antes o PT tentou cooptar as lideranças que não eram parte dessa antiga união no congresso, para isso criou um esquema elaborado para atrair para si interesses não democráticos, conhecido como Mensalão. Em 2005 após o escândalo do mensalão ele viria a sucumbir às forças pemedebistas que tinham como arma a ameaça de impeachment (p. 13). Nobre argumenta que o pemedebismo teria estruturado uma blindagem na qual as reivindicações sociais não eram repercutidas sequer pela mídia. O autor salienta a intensificação desse modelo a partir de 2011, no governo de Dilma Rousseff. A situação acabou estourando nas jornadas de 2013 que, dentre as diversas pautas, incluíam a rejeição ao modelo pemedebista (p. 13). Prosseguindo com sua análise, argumenta que o pemedebismo não se fecha em apenas um partido. Apesar da liderança do PMDB na década de 1980, posteriormente o pemedebismo instalou-se como uma prática cultural no sistema político (p.13). A partir do bordão da primeira ministra britânica, Margareth Thatcher: “Não há alternativa”, Nobre correlaciona o movimento neoliberal para a globalização como responsável por reunir maiorias em prol dessa globalização. Ele tenta mostrar os critérios pelos quais é possível afirmar que o pemedebismo não seria um fenômeno próprio da política mundial. Desta forma, estabelece cinco pontos principais que tem estar presentes num sistema político para que seja possível categorizá-lo como pemedebista: estar sempre no poder; enormes blocos de apoio ao governo no congresso; sistema de vetos e contorno a vetos; evitar membros novos a fim de manter e aumentar o espaço conquistado no governo; e por fim, bloquear opositores ainda nos bastidores. Nobre salienta a dificuldade de encontrar essa configuração de eventos em outros lugares do mundo de forma pela qual o sistema pemedebista seria característico estritamente da política brasileira . (p.14). Sendo então o pemedebismo uma forma de comercialização de apoio governamental, por que não se recorre à compra no varejo ao invés de superblocos? Nobre responde a esse questionamento lembrando o episódio do mensalão, no qual o governo Lula buscou apoio no varejo para suas pautas. A pressão dos superblocos impõe um modo de apoio no qual a negociação no varejo só é autorizada após os super blocos aceitarem (p. 15). Assim, a competição não se dá apenas entre os partidos. Posteriormente, Nobre expõe que as disputas dentro dos espaços pemedebistas estão além das disputas entre partidos ou no interior dos partidos. A disputa ocorreria dentro dos grupos de interesse. Tais grupos, formados por constelações suprapartidárias, dão origem às bancadas do congresso. O autor ainda cunha a expressão “condomínio pemedebistas” ao invés de presidencialismo de coalizão, na qual o proprietário da cota tem direito a veto a iniciativas prejudiciais ao condomínio. Ele salienta que o segundo termo daria a impressão de um sistema efetivamente democrático (p. 15). O exemplo de veto pemedebista -que é uma das suas principais ferramentas de travas às mudanças- trazido por Nobre ocorreu no início do governo de Dilma Rousseff, no qual o kit anti-homofobia foi rebatizado pela bancada religiosa como Kit gay. No mesmo período, Palocci enfrentava acusações de evolução irregular do seu patrimônio. Desta forma, a bancada ameaçou convocar Palocci para se explicar e abrir a CPI para investigar a ONG contratada para elaborar a cartilha anti-homofobia. Esse veto custou ao PT, líder do bloco pemedebista, abrir mão da pauta LGBT. Deste modo, evidenciou-se a existência do veto que na maior parte do tempo fica nas sombras, o que favorece a permanência de um status quo (p. 16). Porém, o modo como o governo petista contornou os vetos é considerado pelo autor como uma forma exitosa de provocar mudanças no sistema político. A figura de Lula é colocada pelo autor como um emblema de representação política dos estratos sociais marginalizados, posto que no seu governo foram realizados avanços sociais que eram aguardados há muito tempo por um conjunto da sociedade. Estratos sociais historicamente marginalizados foram pela primeira vez incluídos, pelo menos de maneira parcial. A história do complexo arranjo social braisleiro que começou com a modernização acelerada e desigual da ditadura militar, transformou o país ao mesmo tempo em que criou um complexo sistema político conservador no qual é muito difícil realizar mudanças. Contudo, o período Lula conseguiu consolidar um novo modelo de sociedade que autor define como social-desenvolvimentismo, o qual se caracteriza por não aceitar como inevitáveis as desigualdades sociais. Por outra parte, Nobre sinala que o social desenvolvimentismo não pertence a um único governo ou partido, uma vez que é um projeto coletivo. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA NOBRE, Marcos. Imobilismo em movimento: da abertura democrática ao governo Dilma. São Paulo: Companhia das Letras, p. 09-25. 2013.
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