PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM POLÍTICAS SOCIAIS – PPGPS/CCH
DISCIPLINA: TEORIA SOCIAL
BREVE ANÁLISE DO CONTEXTO POLÍTICO DO BRASIL NA ATUALIDADE SOB A
PERSPECTIVA DE FLORESTAN FERNANDES
BIANCA DE SOUZA MORAES
CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ
2022 Breve análise do contexto político do Brasil na atualidade sob a perspectiva de Florestan Fernandes
Ao longo da disciplina se pôde perceber como as diferentes abordagens
sociológicas buscam compreender a realidade. No texto do Florestan Fernandes podemos acompanhar uma análise social sobre o processo do desenvolvimento econômico e a instabilidade política no cenário brasileiro no século XX. Em seu livro, intitulado Sociedade de Classes e Subdesenvolvimento (1968), mais especificamente no terceiro capítulo o autor se desdobra no processo de desenvolvimento econômico, social e político do Brasil. Florestan afirma que a questão fundamental para o sociólogo não está nas expressões quantitativas assumidas pelo crescimento econômico em dado período de tempo. Mas em determinar se elas correspondem, estrutural e dinamicamente ao padrão de integração econômica da civilização vigente. Para início de análise é importante destacar que o Brasil é um país com histórico de longa exploração colonial que as consequências desse processo histórico refletem na realidade atual em diversos aspectos, inclusive econômicos e políticos.
Florestan explora o crescimento econômico em relação a instabilidade política
presente no Brasil. Evidencia-se durante esse processo expressiva concentração de renda o que acarretou em índices de desigualdades social exorbitantes. O autor explora duas categorias que são: o desenvolvimento econômico e a instabilidade política, para desenvolver aspecto sociais do Brasil. O texto desenvolvido por Florestan no século XX, ainda encontra espaço e coerência no cenário brasileiro atual. Um recorte que demonstra claramente essa dinâmica pode ser feito no impeachment da ex-presidente Dilma Roussef ocorrido em 2016. O impeachment reforçou o caráter classista do Estado brasileiro, onde atua única e exclusivamente em prol de benefícios próprios.
A fim de contextualização, Dilma Roussef assume o poder do Estado brasileiro
em 2011, sendo sucessora do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, pelo Partido dos Trabalhadores, o seu mandato foi encerrado em agosto de 2016, por meio de uma manobra com características golpistas. Neste impeachment houve grande adesão das classes alta e média da sociedade. Com a histórica acumulação de renda e consequente desigualdade social, a classe média e a burguesia sempre gozaram privilégios, principalmente sobre as classes sociais mais baixas da sociedade brasileira. No segundo mandato de Dilma Roussef, muitos desses privilégios foram não destruídos, mas sim reduzidos. Um exemplo desse fator é arena política em que envolvia rentabilidade de juros que resultou na revolta classe alta que se refletiu em classes mais baixas, resultando na queda de popularidade da ex-presidente. A partir desse ponto, houveram articulações populares, custeadas por grandes empresários, que geraram a eclosão das manifestações contra Dilma Roussef e a favor do impeachment da mesma. Somado a esses fatores houve a mobilização da burguesia, que inclusive se mostrava contra políticas sociais desenvolvidas pelo governo PT, como o Bolsa Família, sob alegação de manutenção da pobreza, sob um viés meritocrático.
Somado a revolta, outros fatores importantes foram as denúncias de corrupção
do PT e a operação Lava Jato, que foi uma das investigações mais midiáticas na história do país. Sendo assim, a extrema direita percebe uma ampla abertura para atuação dos seus próprios interesses no meio político. E a partir desse ponto, já é possível associar a perspectiva de Florestan Fernandes com esse cenário, pois em seu texto ele afirma que a elite brasileira se articula para proteger os seus próprios interesses que se escala socialmente e economicamente às custas da desigualdade social e da acumulação de renda. Portanto, podemos perceber que a articulação da direita para retirar Dilma Roussef do poder foi justamente uma manobra para a manutenção de poder e privilégios desse segmento.
É possível traçar um paralelo também entre o texto e a concretização do
impeachment, quando detectamos que apenas as classes sociais mais altas têm o poder de participar efetivamente das garantias políticos-jurídicas, monopolizando garantias, uma vez que classes mais baixas são negligenciadas em seus direitos, como afirma Florestan, concentração de renda é sinônimo de concentração de poder. Tal concentração de renda e poder vem se arrastando desde o Brasil colonial, com características bastante semelhantes ao sistema de acumulação de renda. Quando trata da segunda fase Florestan também afirma que o interesse de desenvolvimento só se aplicava a determinadas regiões e círculos sociais, portanto classe com mais poder gozam de suas posições para a manutenção de seu monopólio de poder. O que demonstra a escalada da direita em busca de um impeachment.
Após o processo de impeachment, o então vice presidente Michel Temer
assume o comando do Estado brasileiro até o acontecimento de novas eleições. Em 2018, pode-se constatar uma direita ainda mais forte, com a campanha Jair Messias Bolsonaro, com forte apoio popular, sob afirmações ultra conservadoras e fascistas, a grande burguesia brasileira não só apoiou mas também financiou atos que favoreciam o candidato. A prisão do Luís Inácio Lula da Silva ajudou a fortalecer esses movimentos. Com uma campanha embasada em fake News transmitidas via redes sociais e um grande financiamento, Jair Bolsonaro assume a presidência em 2019.
Um fator importante para se destacar da prisão, do agora eleito presidente Lula,
é a prisão dele julgada pelo, então, juiz Sérgio Moro, que retirou o Lula da corrida presidencial. Mais tarde após a eleição bolsonarista, o juiz assume o cargo de Ministro da Justiça e Segurança Pública, o que evidencia mais uma manobra realizada em prol da conquista do poder da direita brasileira. Esse fragmento traz à luz o que Florestan afirma que agentes usam as suas posições estratégicas na estrutura política para manter e aumentar poder sob uma de suas facções. Ou seja, a conspiração armada pelo grupo Bolsonaro juntamente ao ex-juiz Sérgio Moro, objetivava uma manutenção de poder político.
Eleito em 2018, Bolsonaro assume o poder em janeiro de 2019, e a sua
trajetória na presidência do Brasil foi marcada por diversos fatores negativos. Durante o mandato de Bolsonaro, houve o desmonte das políticas sociais o que agravou a desigualdade social já existente na sociedade brasileira. Em 2020, durante a pandemia do Covid-19, Jair Bolsonaro foi contrário a todas as orientações mundiais sobre a doença. Ridicularizou os pacientes hospitalizados, não seguia medidas de segurança como uso de máscara, convocava aglomerações com os seus apoiadores, seus pronunciamentos minimizavam os efeitos da pandemia, entre outros.
A pandemia matou mais de meio milhão de pessoas no Brasil, a economia
sofreu uma derrocada significativa, o país retorna ao mapa da fome e mesmo diante de fatores tão graves o Bolsonaro ainda teve grande apoio popular nas eleições deste ano. O processo eleitoral desse ano também foi marcado por fake News, compra de votos todos esses sendo financiados pela a acumulação de renda. Porém, Bolsonaro não consegue se reeleger, e mesmo após ao processo democrático de eleição parte da elite brasileira financiou e financia protestos, fechamento de estradas, para invalidar a eleição do Luís Inácio Lula da Silva. Podemos perceber mais uma tentativa de golpe contra o Estado democrático. Há mais de 50 anos Florestan Fernandes analisava a burguesia brasileira que concluiu que esta realizava manobras para monopolizar as garantias jurídico-políticas, posicionando o seu interesse sobre os cidadãos das classes mais baixas. Nos dias atuais podemos perceber que as conclusões de Fernandes não se tornaram obsoletas, muito pelo contrário, as suas considerações refletem o cenário político atual, pois o Brasil ainda é um país marcado por instabilidades políticas e uma desigualdade social profunda. Como afirmado pelo autor, essa instabilidade política não é causada pelo crescimento econômico, mas surge devido aos desajustes estruturais existentes cuja origem está na desigualdade de renda. Podemos perceber então que, como afirma Florestan Fernandes, o padrão de crescimento econômico não contribui com a ordem social, ou seja, desde a constituição do Brasil, a concentração econômica, é cíclica atingindo um único público que é a elite brasileira. Através da análise entre a política brasileira atual e o texto datado em 1968, observa- se dinâmicas se repetindo ao longo do tempo.
Referências Bibliográficas
FERNANDES, Florestan. Sociedade de Classes e Subdesenvolvimento. Rio de