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J.P. Netto. ditadura e Serviço Social.

SP, Cortez, 2006

No primeiro capítulo o professor mostra as bases daquilo que era conjuntura econômica, política,
cultural e educacional que estavam fazendo com que os caminhos da profissão serviço social
construísse a sua renovação e pudesse ser repensada, afinal, o serviço social está intrinsicamente
relacionada a esses processos que a sociedade vivencia e que isso vai rebater na questão social e
nas formas de enfretamento de suas expressões.

Paulo Netto faz a divisão do período da ditadura militar em três grandes segmentos. Ele vai dizer no primeiro
parágrafo (p. 38) “Ao longo desses três lustros, a autocracia burguesa evoluiu diferencialmente.”

Ou seja, do período de abril de 1964 até o final o final de Figueiredo (1979), a ditadura militar ela vai
ter fases que vão caracterizar ali mudanças substanciais na sua organização.

E como que o professor divide as ditaduras nesses três momentos? Ele continua:

“Parece-nos legítimo apanhar esta evolução segundo três momentos distintos: o que vai de abril de 1964 a
dezembro de 1968 (cobrindo o governo Castelo Branco e parte do governo Costa e Silva); de dezembro de
1968 a 1974 (envolvendo basicamente o fim do governo Costa e Silva, o intermezzo da Junta Militar e todo
o governo Médici) e o período Geisel (1974-1979)” (p. 38).

Obviamente que ele vai sinalizar que sua leitura é aproximativa, fruto da sua pesquisa de um farto
material constitucional e ele vai fazer com que a gente conheça características desse período.

Uma característica que podemos perceber na leitura do livro que vai ficando muito forte, é que esse
primeiro momento é como se o governo ditatorial ainda estivesse se organizando. Nós sabemos que
o período anterior a 1964, aquele que ainda estava sob o comando de Goulart, havia ali uma tentativa
das forças democráticas estarem estabelecendo bases para o governo, e que aquele outro grupo
que pensava mais na questão da burguesia nacional, naquilo que era sua interface com o capital
internacional, vai olhar para esse governo antes de 1964 com um certo estranhamento e pensando
que poderia se constituir num obstáculo aquilo que eram seus interesses. Essa situação que vai
motivar a existência do golpe, onde tem na representatividade militar essa tomada de poder do
Estado (Neto diz que o golpe tem um forte peso econômico).
Netto diz que nesse primeiro momento da ditadura, vai ser caracterizado por uma incapacidade desse
governo militar de legitimar-se politicamente, porque havia o embate e dentro desse embate a
oposição vai as ruas reivindicar aquilo que é a contraposição ao movimento da ditadura. Então, a
ditadura não consegue no primeiro instante, legitimar-se politicamente em articular uma ampla base
social de apoio que sustentasse as suas iniciativas, o conflito estava posto ainda com as forças
anteriores ao golpe.
LAURA:
Netto fala que dois fenômenos são importantes obstáculos para o Estado ditatorial se legitimar:

O primeiro:
“As dificuldades do primeiro governo dos golpistas são grandes em todas as frentes, mas apresentam-se
óbvias particularmente em dois planos. O primeiro deles é o do sistema político-institucional: o arcabouço
herdado do período pré-1964, mesmo violentado, embaraçava a efetivação não só do que suas políticas
exigiam como, ainda, impunha-lhes um ritmo lento, flagrantemente negativo à afirmação da nova ordem.
Escusa observar que as oposições aproveitavam-se de tudo o que poderia obstar os movimentos
governamentais, explorando precisamente o que, naquele arcabouço, lhes favorecia” (p. 39).

Isto é, as forças que existiam antes do golpe ainda estavam ali, elas não foram varridas para baixo
do tapete, elas estavam ainda, de alguma forma, exercendo uma oposição.

O segundo fenômeno:
“O segundo refere-se à coesão da força tutelar do novo poder, a corporação armada: o processo conspirativo
e a ascensão a posições públicas de poder e prestígio, comprometidas descaradamente com interesses
econômico-financeiros explícitos, derruíram sensivelmente a sua unidade orgânica e funcional; no seu bojo,
começaram a emergir “partidos” — e daí a incapacidade do primeiro titular golpista da Presidência para
controlar a escolha do seu sucessor” (p. 39-40).
Dentro do próprio grupo que estava ali fortalecendo o governo ditatorial, começou a haver um racha,
com varias disputas de poder interno e isso contribui para que não houvesse nesse primeiro
momento uma articulação, uma coesão que viesse a legitimar politicamente esse governo.

“A aceleração do processo político foi potenciada por dois fenômenos: o movimento operário e sindical
retomou ações significativas e o movimento estudantil, expressão privilegiada da pequena burguesia urbana,
assumiu ruidosamente a frente da contestação à nova ordem.”

O quadro começou a mudar pois a oposição conquistava as ruas. E esta mudança operava alterações
nos dois campos — no do governo e no da oposição. Nesta, adquiria densidade uma avaliação
eufórica da situação e, por fora da política institucional, condensavam-se polos (básica, mas não
exclusivamente, de extração pequeno-burguesa) que concebiam a liquidação do arbítrio como
ultrapassagem da dominação burguesa. Naquele, encorpava-se a tendência a precipitar a
instauração profunda da nova ordem pela via da militarização do Estado e da sociedade.

Então, essa característica vai de abril de 1964 a dezembro de 1968.


1968 vai representar um ano emblemático para a existência da ditadura, é quando começam a
aparecer características de um novo ciclo.

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