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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


FACULDADE DE HISTÓRIA

DISCIPLINA: HISTÓRIA DO BRASIL REPÚBLICA (1945 – TEMPO


PRESENTE)

DOCENTE: FILIPE MONTEIRO

Avaliação

Alan da Silva Dias

Tendo por base o texto abaixo e a aula dele derivada, explique, em no máximo
duas laudas, a dinâmica do processo de abertura política pós-ditadura de 1964
e clarifique como este passou da iniciativa do governo para o protagonismo das
massas e da oposição.

Na América Latina, viu-se desdobrar nos anos finais da década de 1970 e na


década de 1980, processos de abertura e redemocratização de países onde se
estabeleceram ditaduras militares, e o Brasil seguiu esse processo de transição
democrática com suas singularidades e especificidades. Segundo o que explica SILVA
(2007) a crise das ditaduras e a luta pela democracia no continente latino-americano
inicia-se em 1974, no caso especial do Brasil, alguns atores se tornam presentes no jogo
político de abertura, quais são: as pressões externas do governo norte americano de
Carter, junto com os condicionantes da economia mundial e o projeto de Geisel-Golbery
de abertura do poder militar com a ação “autônoma” da oposição, representada pelo
MDB que era condicionada pelo governo militar. Vale ressaltar, no entanto, que embora
estes sejam os principais atores presentes nesse processo de redemocratização, eles não
são os únicos na luta por um Estado de Direito ao longo dos anos de 1970 e 1980.
O pós-Guerra do Vietnã, trouxe uma mudança na política externa dos Estados
Unidos, que abalou o conjunto de ditaduras instaladas na América Latina. A derrota na
guerra e o prestígio abalado, fizeram com que os norte-americanos mudassem suas
estratégias visando a recuperação do prestígio mundial, a associação entre direitos
humanos com a política externa americana e criar condições para o retorno do
enfrentamento com a União Soviética para se projetar à hegemonia global, e essa virada
veio por meio da Campanha eleitoral de Jimmy Carter. Assim, com a vitória de Carter
em 1976 e sua nova agenda política, sobreveio críticas sobre antigos aliados latino-
americanos e denúncias das violações dos direitos humanos nessas ditaduras,
sinalizando que o histórico apoio dos Estados Unidos às ditaduras militares na América
Latina, havia se encerrado.
Dessa forma, países como o Brasil, deveriam se empenhar em reformas que
possibilitassem uma abertura política e à redemocratização, fato que se tornou evidente
em contatos secretos de Washington advertindo o general-presidente Ernesto Geisel
sobre as violações dos direitos humanos no Brasil. Neste sentido, o governo brasileiro
denuncia os acordos de cooperação com os EUA, e se isola das pretensões norte-
americanas. Concomitante a isso, embora a pressão política americana não explique em
si as aberturas latino-americanas, outro fator externo abalou o continente, que são os
condicionantes externos, com as crises e recessões da economia mundial. Contudo,
embora a crise econômica condicione o ritmo da abertura, levando a opinião pública
voltar-se contra o regime no Brasil, fatores internos nos fazem entender melhor os
processos de abertura política e redemocratização.
Dois atores internos se destacam nesse contexto do jogo político de abertura, os
militares e seus condicionantes institucionais com a corporação e seus organismos e do
outro lado, as forças políticas de oposição organizadas no partido MDB e seus
condicionantes baseados na cultura política envolvente. Tais atores, mesmo não sendo
os únicos nesse processo, são essenciais para que se compreenda a caminhada rumo à
redemocratização, e, é nesse estudo sobre esses atores que identificamos que a abertura
política não foi meramente um projeto do poder dos militares, mas foi um processo
político que teve a presença da oposição, dos cidadãos e os demais atores políticos nessa
luta democrática.
O processo histórico de abertura política no Brasil, teve alguns ensaios de
reconstitucionalização do regime, tentados pelo regime militar que antecederam os anos
de 1974 e 1985. Contudo, essas tentativas feitas nos governos de Castelo Branco e
Médici foram descartadas, visto que, com o crescimento da oposição, o recuo e
afastamento das classes médias que apoiaram o período inicial do regime, a reação e
resistência de outros setores da sociedade como a Igreja, a classe estudantil, os artistas e
os sindicatos que estavam tomando as ruas, fizeram com que a linha mais dura do
governo militar entrassem em cena e descartassem a primeira tentativa abertura política
no Brasil após o golpe de 1964. Condicionando assim, o projeto adotado por Geisel e
Golbery que possuía um caráter lento e gradual, para evitar recuos vivenciados
anteriormente, típico do conservadorismo militar. Neste sentido, Geisel e Golbery
tinham a missão nos anos entre 1974 a 1979 organizar a constitucionalização do país,
esse projeto de abertura iria garantir para o regime militar o afastamento de pessoas e
instituições ao poder que eram anteriores a 1964, ficando claro que esse projeto visava o
retorno ao Estado de Direito e a reconstitucionalização do regime, porém não a
redemocratização.
É nesse contexto, pós 1974, com a sucessão de Médici, que a oposição
compreendia que o espaço político que ela vinha ganhando com o partido MDB, mesmo
que restrito, eram naquelas condições, o caminho para a mudança, e o partido começa a
ter um caráter mais autêntico, diferente do descrédito que o partido possuía
anteriormente, e que tinha um projeto pacífico, parlamentar e democrático na transição
para a democracia. Nas eleições feitas pela ditadura para o Parlamento em 1974, a
oposição obteve grande vitória com a eleição de 16 senadores e 187 deputados, esse
sinal de insatisfação do povo contra o regime acaba abalando o poder militar e
dividindo-o. Marcando assim, que esse processo de abertura e redemocratização do
Brasil não estava mais unicamente nas mãos dos setores militares, os cidadãos e demais
grupos sociais vão ocupando mais esse espaço e protagonismo.
Portanto, com as sucessivas vitórias eleitorais da oposição nos anos de 1976 e
1979, com as campanhas da anistia, os atentados e mortes do jornalista Vladimir Herzog
em 1975 e o operário Manuel Filho em 1976 que revoltaram a população, as crises e
baixas no governo militar, fazem com que a abertura política saísse das mão dos
militares e passasse para as mãos a sociedade civil, vale aqui enaltecer a figura dos
líderes sindicais que foram os grandes opositores do governo Figueiredo, com grandes
mobilizações de massas que acabaram resultando em grandes campanhas, como a
“Diretas Já” em 1983 e a eleição de Tancredo Neves em 1985. Dessa maneira, com as
vitórias da oposição e os movimentos sociais que ocuparam as ruas, fica evidente que o
processo de abertura política e de redemocratização passou de ensaios mal sucedidos do
governo militar e se consolidou nas ações e resistências da sociedade civil.

BIBLIOGRAFIA

SILVA, Francisco Carlos Teixeira. “Crise da ditadura militar e o processo de abertura


política no Brasil, 1974-1985”. In: FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucília de
Almeida Neves (Orgs.). O Brasil republicano. O tempo da ditadura - regime militar
e movimentos sociais em fins do século XX. RJ: Civilização Brasileira, 2007, pp. 243-
282

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