Ivan Jablonka é ex-aluno da École Normale Supérieure, historiador e escritor francês,
além de ser professor de história contemporânea da Sorbonne Paris North University, um dos editores-chefes de La Vie des Idées e ainda co-dirige com Pierre Rosanvallon a coleção La République des Idées (Editions du Seuil). Possui uma vasta produção que toca temas como gênero, masculinidade e a escrita da história que receberam até alguns prêmios, algumas de suas obras mais famosas são: “Laëtitia ou la fin des hommes (Laëtitia ou o fim dos homens)”, “Uma História dos Avós que Nunca Tive”, “Uma história da masculinidade: do patriarcado à justiça de gênero” e “A História é uma Literatura Contemporânea: Manifesto para as Ciências Sociais”. Em seu livro “A História é uma Literatura Contemporânea: Manifesto para as Ciências Sociais”, o autor segue na esteira de historiadores como Paul Veyne, cartografando e explorando formas textuais nas ciências sociais e na literatura, campos que se caracterizam pela a escrita do real. Porém, ressalta que nem toda história é um romance verdadeiro, e nem toda literatura é romance. Assim, a reconciliação entre pesquisa científica e literatura se faz, segundo o autor, pela investigação de novas formas. As pistas são exploradas e podem ser aprofundadas ou abandonadas em função de uma única necessidade: um dizer verdadeiro. Dando ênfase para o capítulo 9 “Da não ficção à literatura-verdade”, Jablonka traz uma importante discussão a respeito daquilo que constitui a escrita da história e da literatura, e, como há um ponto de intersecção entre elas. Indo na contramão daqueles que extraiam a história da literatura, pois a assimilaram com fabulação, parcialidade e doença, o autor mostra que há mais conexões entre as duas do que se pode imaginar, dizendo que “certos livros da história do século XX pertencem pura e simplesmente à literatura.” Mas antes de discutir as relações entre história e literatura, o autor mostra que há um processo de tentativa de redefinição da própria ideia de literatura. Estando ela ligada a ficção, a literatura do real, associada ao século XX, recusa a ajuda da ficção buscando uma forma literária mais objetiva, priorizando o testemunho e tentando criar um romance não ficcional, esse tipo de narrativa busca explicar o real, sem auxílios imaginativos. Porém, a forma como essa literatura tenta extirpar a ficção é ambígua, e isso se mostra quando Jablonka vai trazer a definição daquilo que constitui ficção, facto e literário, mostrando que na verdade elas estão atrás de um mesmo objetivo, um dizer verdadeiro. Vale pontuar aqui, que o movimento analítico feito pelo Jablonka é diferente do pós-modernismo que quis teorizar a literariedade da história, que acabou gerando um certo desconforto toda vez que se tenta relacionar as duas coisas, gerando alguns mal-entendidos em torno das da literatura e ciências sociais. Um desses incômodos repousa na ideia de que a função da linguagem das ciências sociais é exclusivamente utilitária e a literatura estética. Mas essa perspectiva seria frágil e apresentaria algumas falhas. Segundo o autor, o raciocínio histórico nunca impediu de escrever, construir uma narração ou ter uma intenção estética, a história não se limita a contar “aquilo que aconteceu” como pensava aristóteles e Humboldt, mas ela cria e constrói histórias, em grande parte do tempo, historiadores, antropólogos e sociólogos agenciam aquelas que lhe foram contadas através de arquivos, entrevistas e etc. além disso, o historiador "inventa" os fatos quando os pesquisa, os seleciona e os ordena. Porém, é importante esclarecer que história não seria ficção, nem a sociologia um romance, já que os discursos não se equivalem. Contudo, existe um ponto de contato entre as ciências sociais e a literatura, uma zona de explicação-compreensão do real, que torna o texto carregado de raciocínio. Tentando teorizar a literatura, Jablonka mostra por meio de algumas obras como do cineastas Claude Lanzmann, da psicanalista Lydia Flem e do filósofo Didier Éribon, textos que buscam dizer algo verdadeiro, reflexivos de si, auto análises, textos que “manejam espaços onde nos apresentamos, onde nos buscamos, onde nos engendramos”, esses textos literários estão imersos em investigações e pesquisas sobre homens, de compreender o que eles fazem, de problemas, uma viagem ao centro da ausência, em suma, “literatura é pesquisa”. Um dos pontos fortes do texto de Jablonka, é justamente a diversidade de exemplos e de autores que ele traz da literatura e das ciências sociais, sempre discutindo e relacionando as formas. Essas características, então, estariam presentes na escrita na história, sendo algo indissociável. Uma história que é literatura, é marcada por pesquisa, processo, investigação e desvelamento. É literatura porque demonstra e não porque confere “carne”, dá “sopro de “vida”, cria “ambientes”, uma pesquisa que aprofunda um problema e não resultados, obedecendo regras de método. Contudo, o autor argumenta que a história não caminha na direção da literatura, a história é literatura quando ela é apenas ela mesma.