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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS

Paulla do Nascimento de Brito

FICHAMENTOS DAS LEITURAS OBRIGATÓRIAS DA AULA 14:


A história é uma literatura contemporânea: Manifesto pelas ciências sociais

São Paulo
2022
FICHA DE LEITURA

Autor. Ivan Jablonka


Titulo. A história é uma literatura contemporânea: Manifesto pelas ciências sociais
Local. Brasília Editora. UnB Ano. 2020
Palavras-Chaves
Literatura Historiografia Escrita Narrativa Científica

Fichamento
O texto aborda o debate entre a historiografia como obra cientifica ou literária, acompanhando os
movimentos e influencias da discussão.

Quem está no comando da história


1. “A volta dos que não foram”
a) Jablonka trabalha o artigo do historiador Lawrence Stone, no qual a ideia do retorno do teor
literário a história é o ponto central.
 Ao falar do texto de Stone, Ivan afirma que não há sentido em apontar um retorno da
narrativa e da biografia se mesmos os textos metódicos e quantitativos fazem uso dela.
Apontando assim a oposição do antagonismo entre a história cientifica e literária.
b) É feita a relação entre o posicionamento de Lawrence com os estudos de Ricoeur e Veyne.
 É entendido que a compreensão narrativa é a via para o conhecimento histórico, e que o
caráter narrativo da história não é o mesmo que a história narrativa tradicional. Além
disso, é apontada a necessidade de intriga, encenação, vividez da história.
 O retorno da literariedade é muito mãos figurado que literal. A presença do teor literário
deve ser usada a favor da historiografia já que ele vai estar sempre presente, mesmo na
história como ciência.
 “Para Paul Veyne, a profunda narratividade da história está acompanhada de sua ausência
de método: se literária, ela é não cientifica. ”

A virada linguística
1. A relação entre a H e L.
 Hayden White, professor de literatura comparada, desenvolveu um atese que afirma que
além de fazer uso da linguagem tropológica, a história utiliza três modos de explicação,
sendo eles o estabelecimento da intriga, a argumento e a implicação ideológica.
 A dimensão retórica e poética da história entra em evidencia pelo destaque das escolhas
estéticas, logicas e políticas que envolvem o escrever histórico.
 White coloca a história não só como objeto literário como a aproxima muito da ficção,
afirmando que ambas usam as mesmas estratégias e provém da mesma natureza. A história
por sua vez não tem mais regime cognitivo próprio. Ou seja, se há uma mudança na
literatura, a história obrigatoriamente é afetada.

2. As três correntes de pensamento que resultaram na “grande virada”


a) Primeira corrente: “Pirronismo”
 Dúvida generalizada. Tem a influência de Pirro de Élis, Sexto Empírico e é resgatado nos
trabalhos de Henri Estienne, Saint-Réal e La Mothe Le Vayer.
 Como a base da corrente é o ceticismo, nela, a história não é capaz de alcançar a verdade
porque a verdade não pertence a esse mundo, e não existe nenhum critério para arbitrar
entre as diferentes versões dos fatos. Dessa forma, a história se contenta em relatar o
verossímil.
b) Segunda corrente: “Pan-poetismo”
 Coloca a história como textos literários. Nessa corrente, a história é uma espécie de
poesia em prosa, que não segue todas as métricas literárias.
 O sentido dessa abordagem aparece na diferença entre a literatura, estrutura fixa e que se
tem como meio e final, e a história, que apenas utiliza da escrita como meio. Entretanto,
a história estará para sempre presa a linguagem.
 Essa posição concorda com a posição dos poéticos, em que toda história faz uso do modo
objetivo e se confunde com a ficção. A explicação é que a história não tem um referente
exterior ao discurso, ou seja, o que é colocado como “real” é apenas um significante sem
significado. O autor cita White diretamente: “O fato tem somente uma existência
linguística”.
 Como todo texto é autorreferencial, a única diferença entre a história e a ficção é o apoio
em argumentos de autoridade.
c) Terceira tradição: a crítica do Poder
 Concordando com a ideia sobre as grandes narrativas do pós-modernismo, essa tradição
vê a história como uma “elaboração ideológica” destinada a enganar as pessoas.
 A história seria uma ferramenta de manipulação para legitimar e ao mesmo tempo
disfarçar a dominação do Ocidente e a exploração social.
3. A reação da história a virada:
 A virada linguística foi percebida como um perigo e foi combatida pelos historiadores
Arnaldo Momigliano, Carlo Guinzburg, Krzysztof Pomian e Roger Chartier.
 A defesa foi em nome da missão do historiador de buscar a verdade por meio da
pesquisa, e das regras que existem para verificar e comprovar por meio de textos,
testemunhos, vestígios, moedas e etc.
 Como a virada linguística afetou a história, foi criado aí um conflito. O que levou a toda
a discussão em torno da relação da história e da literatura. A reação levou a uma
separação maior e a todos os paradigmas em relação a definição da história como ciência.
4. O chamado da literatura
 A literatura pode ser muito atraente por sua arte, por sua liberdade, por seu prazer. A
necessidade da verdade da história faz com que ela seja quase que uma ciência humana dura.
 Essa diferença pode trazer uma frustração para os historiadores que precisam abrir mão da
arte e do prazer da literatura para fazer a ciência.
 É citado aí o argumento das “verdades superiores”, posição aristotélica clássica que afirma
que a poesia e a arte alcançam a todos enquanto as ciências, como a história, são individuais.
 O conceito de gênero é trabalhado aqui de maneira muito interessante: a história é colocada
como masculino e a literatura como feminino. A partir dessa colocação, a literatura entra
como algo que carrega a incerteza, a contradição, a relatividade, a ausência da verdade,
fantasia. E tudo isso atrairia a história que por sua vez é dura e busca apenas a verdade. “Essa
divisão é profundamente sexuada, seguindo uma tradição que associa a poesia à feminidade
tentadora e a verdade ao masculino severo.”
5. O grande divórcio
 “Um escritor escreve, um historiador faz história.”
 Separar as duas foi necessário para estabelecer uma relação real entre elas. Ao separar, se
encerra a briga de quem está no espaço de quem e ambas passam a se ajudar.
 A literatura se torna uma fonte histórica e um objeto de observação, até porque a literatura é
um ótimo espelho do tempo.
 Existe ainda a história da literatura, o estudo sobre seus movimentos, suas evoluções e etc.
 A separação foi muito importante para a definição de ambas como disciplinas. “Uma
literatura sem método abriu caminho para um método sem literatura.’

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