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AS CONCEPÇÕES DE FATO HISTÓRICO.

O fato histórico importa para os historiadores.

No século XIX quando a história se ergueu em ciências e se apartaram da filosofia os fatos passaram a ser o
que definia o trabalho essencialmente o objeto da historia, o trabalho do historiador. E, portanto, ate o nosso
tempo há uma percepção no senso comum como se o trabalho do historiador é tomar os fatos do passado e
sob estes fatos como algo que se explicam por si só e o trabalho do historiador seria apenas narrar tais fatos.

Obviamente, a ideia de que a História se constitui de fatos é uma ideia incontornável da qual nenhum
historiador pode se apartar.

O fato histórico é o ponto de partida de onde o trabalho do historiador se desenvolve e se torna


compreensível e diferente das outras ciências humanas.

Na história os critérios de objetividade em relação ao que se constitui como um fato histórico mudaram com o
tempo.

Esses fatos históricos não são naturalmente históricos, ainda que a sociedade perceba um acontecimento
como algo relevante, são os historiadores que vão firmar e estabelecer esse acontecimento como fato
histórico e em torno definir as explicações e processos.

Os fatos não falam por si. Contra os fatos há argumentos, tem interpretação e estabelece conceitos e
hipóteses e modifica a percepção de um fato. Há diversas formas de abordar um fato.

O historiador é um selecionador, pois o levantamento de determinados dados que acredita e faz a leitura
desses dados.

O historiador que o interpreta faz de forma subjetiva a partir do seu tempo ERIC HOBSBAWM que dizia que
cada geração coloca para si novas questões sobre o passado.

Critica histórica

Instituído a ideia de que fato histórico é a matéria-prima do historiador, e já sabido que os historiadores
acessam o passado por meio de vestígios e fragmentos e assim os historiadores constituem narrativas e
constituem sentidos e as vezes os sentidos é mais dado na própria linguagem do historiador, na própria
abordagem do historiador.

A crítica histórica é a forma como os historiadores agem para separar o que é verdadeiro do que é falso.

A crítica desconfia das verdades que parecem fáceis e afirma sobre as verdades se podem ser verdades ou não
ou descarta logo como mentira.

Não trabalho historiográfico que seja tomado pelos pares como algo importante, relevante digno de crédito se
não for submetido à critica e se não tiver revestidos das marcas de historicidade, aparato técnico, referencias
todas para o leitor verificar se é verdade.

A crítica externa – define se o documento é ou não autentico. Procedimento que diante de um documento
escrito, por exemplo, é da época de ser, se a tinta utilizada é da época de ser. É um crítica prévia.
A crítica interna – aquele que diz se o autor diz verdades. Se, depois da autenticidade constatada, o conteúdo
é um conteúdo verdadeiro . Para que possa se observar que ele não foi forjado acerca daquilo que está sendo
dito.

A crítica histórica é importante para o conhecimento histórico.

Os fatos históricos estão escritos nos documentos.


AS RELAÇÕES ENTRE EXPERIÊNCIA E CONHECIMENTO HISTÓRICO.

É necessário a invenção de uma experiência outra capaz de preencher lacunas.

É de modo histórico que as experiências se constituem as quais providas de um determinado sentido a partir
do momento em que elas são inseridas em narrativas de histórias que tem o escopo definir o seu conteúdo
experiencial.

O temas da experiência histórica é de capital importância para o conhecimento histórico , não apenas do
ponto de vista ontológico, como referência primeira de todo o discurso, mas levando em conta seus aspectos
formais, epistemológicos, ou seja, a escrita, que é parte constituinte de tal conhecimento.

Deve-se levar em conta muito seriamente termos tais como sensação, percepção, contato histórico presentes
na obra do historiador.

Fica evidente o caráter especialmente corpóreo atribuído a noção de experiência. Trata-se de um fenômeno
físico e psíquico de experimentação do passado enquanto realidade.

O conceito de experiência serviria para Thompson, como um modelo unificador das ações dos trabalhadores.

Thompson propõe a distinção entre a experiência vivida e a experiência percebida. A segunda categoria
aproxima-se daquilo que Marx denominou de consciência social.

O processo de autoformação acontece efetivamente a partir das experiências históricas conquistas e


apreendidas por homens e mulheres concretas.

As experiência são um instrumento heurístico de caráter eminentemente comparativo, que permite


identificar configurações históricas da temporalidade, ou seja, as diferentes formas de relação entre passado,
presente e futuro estabelecidas em diferentes sociedades.

A investigação da experiência histórica em Ankersmit é utilizada por Rüsen para enfatizar a especificidade da
operação de organização do material encontrado na pesquisa. Rüsen é conhecido e valorizado em Teoria
da História por defender um tipo de reflexão sobre o caráter narrativo do conhecimento histórico sem
abrir mão da preocupação com a sua objetividade.

O caráter narrativo do conhecimento histórico é marcado pela produção do enredo ou plot.

Para Ankersmit os historiadores trabalham com duas coisas: substâncias narrativas (metáforas) e
experiências (sangue, suor e lágrimas). O primeiro tipo sofre pressão da linguagem, o outro, da
realidade.

conceito de experiência histórica (intimidade sublime do encontro com o passado possibilitado pela
pesquisa). Minha tese é a de que essa atenção para a experiência histórica tem o sentido de crítica à redução
do conhecimento histórico a seus aspectos narrativos.

Só a renovação das interpretações - entendidas não como leituras dirigidas por esquemas ou construtos
engessados por contextos, mas como resultado experimental de investigação - pode nos orientar na
manutenção do projeto de conhecimento das diferentes formas da experiência do mundo.
O CONCEITO DE DOCUMENTO HISTÓRICO, SUAS FORMAS, USOS E FUNÇÕES NA CONSTRUÇÃO
CONHECIMENTO HISTÓRICO E NO ENSINO/APRENDIZAGEM DE HISTÓRIA.

Todo historiador trabalha com documento. Os documentos

O procedimento de acessar os documentos e a seleção desses documentos passa a constituir no


trabalho do historiador as fontes da sua narrativa.

Um documento não é somente um documento escrito. Todo vestígio do passado é por si só um


documento, um prédio, um monumento, uma estátua, uma moeda, um pedaço de porcelana.

Houve um tempo em que os historiadores tiveram uma predileção pelo documento escrito. Isso foi
no momento em que a história se constituiu como ciência e essa constituição precisava se livrar das
possibilidades que enfraqueceriam o núcleo central dessa ciência. No século XIX, buscava-se a
objetividade.

Os documentos foram se ampliando e saindo dos arquivos e se investindo de outras características.


Esses documentos passaram a ser tomados como importantes para compor as fontes. As formas
desses documentos, desses testemunhos do passado variam: testemunhos diretos (artigo de jornal)
os testemunhos involuntários (documentos que maior parte do tempo sequer estão nos arquivos,
como inventários, criados com outra finalidade, um diário, cartas pessoais)

O documento precisa passar pela crítica histórica.

O historiador diante de um documento faz indagações quando foi produzido? Por quem foi
produzido? Para quem foi produzido? Então essa dimensão de objetividade reveste o oficio do
historiador inspirado no século XIX e permaneceu durante o século XX e XXI. Essa objetividade é
construída dialeticamente pelo historiador que dialoga com a subjetividade do historiador a partir do
momento em que ele atribui sentido e faz interpretações.

Há uma dialética entre a objetividade do trabalho do historiador , do passado que é acessado, porque
ao acessar esse passado o historiador sabe que há questões que precisam ser buscadas e levam
informações com as perguntas que ele faz e via adicionando raciocínio e analises que são
características da subjetividade e geram sentindo ao passado.

As perguntas dizem muito acerca de como se pensa o passado. Por exemplo, em uma sociedade
patriarcal as perguntas feitas por esse historiador direcionarão para determinadas subjetividade que
evidencia a construção de um conhecimento histórico que não é neutro.
NARRATIVAS

Já em seus primórdios nas sociedades antigas, a história se iniciou como uma narração daquele indivíduo
que podia dizer “eu vi”, “eu senti”.
O historiador era, em última instância, um narrador de acontecimentos dotado
de procedimentos retórico-narrativos. No entanto, em decorrência de sua busca pela objetividade e pela
verdade, boa parte da historiografia do século XIX aboliu dos estudos da história o recurso às técnicas
ficcionais de representação. o próprio nascimento da história enquanto disciplina se pautou naquilo que ela
não deveria ser – mito, fábula ou poesia.
A“linguagem científica”, que não deveria se aproximar da narrativa literária.
A historiografia do século XX, até pelos menos a década de setenta, majoritariamente não revalidou o
estatuto narrativo da história. Aliás, parte desses historiadores, em especial aqueles vinculados ao grupo
dos Analles, acentuou
as críticas à presença da narrativa na história, inclusive acusando os positivistas de terem-na utilizado à
exaustão.
Historiografia marxista do século XX também refutou a narrativa, já que esta era, no entender de parte dos
historiadores marxistas, insuficiente em termos ideológicos e científicos.
A idéia de “retorno” da narrativa nasceu com o historiador Lawrence Stone, em seu polêmico artigo The
revival of narrative, a partir da década de 1970.
Frustrados com os grandes modelos explicativos em voga até então,
parte significativa dos historiadores estaria se voltando, ao longo da década de 1970, a uma revalorização
dos acontecimentos e da narrativa.

Para Stone, não bastava ao historiador o rigor metodológico; era preciso que ele
conferisse um determinado estilo a sua escrita, isto é, que ele soubesse não apenas contar, mas também
saber como fazê-lo.

Como assinala Chartier, a questão da volta da narrativa foi mal colocada, já que não se pode falar do
retorno de algo que nunca deixou de existir.
A narrativa é fundamental por ter a capacidade de articular os traços da experiência temporal, isto é, o
tempo só se mostra inteligível para o homem na medida em que ele é pensado de modo narrativo.
Não se trata propriamente de um retorno da narrativa, mas sim de um deslocamento da prática
historiográfica para outras estruturas narrativas não consideradas pela história até então, em especial
aquelas vinculadas à literatura, além de um distanciamento dos historiadores em relação aos modelos
clássicos de narrativa histórica.
Fundamental para a compreensão do cenário contemporâneo da história, essa
renúncia pela historiografia de qualquer projeto teleológico de explicação ou compreensão dos fenômenos
históricos foi entendida por Jean-François Lyotard (1998) como o declínio das metanarrativas criadas pela
modernidade.
As metanarrativas são esquemas retórico-narrativos que, ao longo de seqüências temporais ou
argumentativas, encadeiam os fenômenos históricos a fim de buscar um telos previamente determinado. O
iluminismo, o idealismo e o marxismo seriam grandes exemplos de metanarrativas.
A descrença nas metanarrativas faz com que se torne evidente a pluralidade de possibilidades de se narrar
os fenômenos históricos.
Peter Gay, o historiador de ofício é ao mesmo tempo um escritor e um leitor
que, em ambos casos, é profissional. Em sua função de escritor, sente-se na difícil
obrigação de proporcionar prazer ao leitor sem comprometer o conteúdo de sua narrativa.
No entender de Gay, dentre os diversos tipos de estilo existentes, aquele que mais
importa à história é o literário, mesmo porque a produção do historiador geralmente assume formas
literárias. Assim, a maneira de lidar com o encadeamento de frases, com a retórica e com a divisão da
narração são competências também do historiador. No entanto, alerta Gay, esses recursos estilísticos não
são meros ornamentos do discurso historiográfico, mas
elementos constitutivos do próprio conhecimento produzido pelo historiador, como foi ressaltado acima.
Dessa forma, num sentido mais amplo, a forma de narrar revela mais do que a cultura em que o historiador
está inserido; ela explicita a própria maneira como o historiador concebe a apreensão do real.

A preocupação de Gay com o estilo literário na história nos remete a uma questão
fundamental no interior do debate sobre a narratividade: se uma das principais discussões suscitadas pela
preocupação com a linguagem na história se refere a uma aproximação entre o discurso histórico e literário,
como foi visto acima, estaria a historiografia fadada a reproduzir esquemas retórico-narrativos originários
da literatura?

No entender de Chartier, a busca por um conhecimento é inerente à história, fundindo operações


particulares da disciplina, como a análise de dados, a formulação de hipóteses, a crítica e verificação de
resultados e articulação entre o discurso do historiador e seu objeto de pesquisa. Assim, nota o autor,
“mesmo que escreva de uma forma ‘literária’, o historiador não faz literatura. Enquanto o romancista
imagina seus acontecimentos e personagens, o historiador baseia-se em provas, isto é, em vestígios do
passado que não podem ser forjados
pelo historiador.

Preocupado em discutir uma forma de narrativa histórica que articule a esfera das estruturas com a dos
acontecimentos – Burke acredita que as narrativas históricas pós-estruturalismo comumente se situam entre
esses dois pólos –, a literatura pode oferecer técnicas que auxiliem essa articulação. Partindo dessa
premissa, Burke expõe algumas contribuições da narrativa literária para o historiador: o método de
narração regressivo, muito utilizado nos romances modernos, pode auxiliar ao historiador a ressaltar para o
leitor a pressão do passado sobre
as sociedades, na medida em que a retomada de eventos e estruturas sociais anteriores reforçam os laços
entre o presente e o que aconteceu antes dele

Burke acredita que a historiografia vem renovando suas formas de narrar. Tomando como exemplos a
micro-história.

Ao levar em conta que não há um mero retorno à narrativa, mas sim uma procura
por novos caminhos para narrar a história em detrimento de outros, a historiografia
contemporânea depara com um problema essencial: a importância da forma no discurso histórico.
Importância essa que não surtirá efeito algum caso for reduzida a um esteticismo puro.

A passagem de uma recusa de certos elementos da narrativa para uma


revalorização da mesma no campo da história, portanto, não é um processo gratuito ou meramente estético;
é, sobretudo, resultado de complexos processos históricos que perpassam desde questões epistemológicas
acerca da apreensão do real até os pressupostos político-ideológicos do historiador.
NARRATIVAS DIDÁTICAS

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