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Nome: Joana Clara Freire Ribeiro

N.º: 2020118128
Disciplina: Teoria da História

História Oral, Portelli e Thompson:

A história oral parte do pressuposto de que as fontes escritas podem ter limitações
em permitir conhecer o passado porque são fontes do poder, daqueles que têm a
possibilidade de escrever. A história oral, ao levar-nos a estudar as práticas
memorialísticas em geral defende que a memória não é muito diferente das práticas
historiográficas. Mas ao mesmo tempo, a história oral é uma história do presente, o
historiador procura aquilo que o presente é, procura a dialéctica entre o entrevistador e o
entrevistado. Os primeiros projectos de história oral surgem procurando complementar
as outras facetas da história. Portelli vem dos estudos literários, mas aproximou-se da
cultura urbana e das práticas memorialistas. Os métodos da história oral têm interessado
muitos pois existe a ideia de que através deles se vão descobrir partes do passado que
estavam ocultas. Tratam-se de processos nos quais o passado e o presente estão em
diálogo porque a história oral fala-nos tanto sobre o passado como sobre o presente.
Numa entrevista de história oral, há aspectos que apenas se sentem no momento e a
forma como projectamos o passado é construída no presente. Por vezes os próprios erros
de memória têm interesse e significado. Assim, após o primado quase absoluto da fonte
escrita, as fontes orais e visuais passaram a ser mais valorizadas, e mais recentemente
tem emergido igualmente a relevância das fontes materiais. Por outro lado, Thompson
(um outro autor que reflectiu sobre esta temática), alerta para necessidade de definir
história oral e defende que história oral deve ser definida como “a interpretação da
história e das mutáveis sociedades e culturas através da escuta das pessoas…” , isto é,
para ele o importante na história oral é a existência de registos das memorias ou
lembranças de quem atravessou um dado período histórico. O exemplo dado por
Thompson, remete para interdisciplinaridade que História enquanto disciplina do
Conhecimento humano tem com outras áreas como a sociologia ou a antropologia.
Neste exemplo o autor relata algumas entrevistas que fez e como serviram para
demonstrar a existência de um mundo distante daquele em que autor vive. A
interdisciplinaridade de vários métodos das diferentes áreas como a antropologia e a

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sociologia levam segundo o autor a possibilidades de uma maior compreensão da
história. Thompson enaltece a pesquisa qualitativa afirmando que este tipo de pesquisa
permite uma melhor compreensão de uma dada amostra, dando vários exemplos como
um estudo feito por Diana Gittins. Nele procurava-se saber se a burguesia tinha
difundido a utilização de contracetivos, mas descobriu-se que quem havia difundido este
conhecimento tinham sido as mulheres proletárias. Este tipo de descobertas fez com que
Thompson afirmasse que a história oral foi essencial para o avanço da história das
mulheres e problematize a necessidade de escolher a amostragem, segundo a seguinte
citação podemos inferir isso mesmo: “ […] nunca deveríamos ficar satisfeitos com
abordagens aleatórias para escolher aqueles que iremos ouvir, pois isso enfraquece
seriamente as conclusões que podemos tirar de nossas entrevistas.” A esfera dos mitos e
das tradições orais pode servir muitos propósitos diferentes: como instâncias da
constituição social da memória, como folclore, como deformações da verdade histórica,
invenções de genealogia e de tradição, etc. Segundo Thompson, as raízes sociais da
própria criatividade individual podem estar relacionadas com uma maior prevalência da
história oral no seio de certas comunidades. Existe também a questão da validade da
memória na tradição oral, pois se por um ela pode fornecer informações factuais e
fiáveis, por outro lado também sustenta a marca reveladora da força da consciência
colectiva e individual, nomeadamente com a cultura popular por exemplo. Existe
também a questão das entrevistas como narrativas que Thompson aceita alertando, no
entanto para um perigo muito sério: o de deixar esse papel de narrativa sobrepor-se ao
que os entrevistados realmente dizem. Por outro lado, a organização das entrevistas
providencia para Thompson oportunidades para compartilhar o seu material graças até
aos meios proporcionados pelas novas tecnologias de comunicação, permitindo
inclusivamente a transmissão de vozes ocultas até então. Para Thompson, a história oral
pode desempenhar um papel relevante na formação da identidade numa era global que
paradoxalmente conduz ao fortalecimento das nossas raízes locais e da acção social
local. Em suma, a história oral pode ser uma ferramenta valiosa para compreendermos
melhor o nosso passado e para enriquecer as nossas memórias ajudando a construir um
futuro melhor.

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Hecking:

Segundo este autor, quando os historiadores escolhem descrever um processo


com uma palavra, não estamos apenas a descrever, estamos a participar na história das
próprias palavras e tal vai ter efeitos sobre a realidade porque os conceitos e as
categorias são eles próprios dotados de uma história. No texto, muitas qualificações são
engendradas no campo das ciências, mas também no dos saberes. A história dos
conceitos convida-nos a perceber a história dos pensadores na relação com o resto da
vida social. A estatística engloba procedimentos estatais com práticas classificatórias
que o estado foi desenvolvendo. A relação entre estas práticas e o que elas classificam é
complexa. A classificação é mesmo necessária? Heckling dá a entender que sim por
razões de utilidade organizativa, mas Heckling dá a entender que na classificação há
características da pessoa classificada, mas também da que classifica. Os conceitos
produzem história e carregam consigo história.

Chakrabarty:

O eurocentrismo acaba por ser endémico às ciências sociais porque por mais universal
que seja a ambição do conhecimento dessas ciências ele é algo particular à modernidade
ocidental, ao tempo e ao espaço em que essas circunstâncias se definiam e constituíam.
Mesmo correntes heterodoxas estão limitadas em interpretar passados europeus pré-
modernos ou passados não-ocidentais porque usam conceitos contextualizados que
consubstanciam ideias e mentalidades que não eram características dos não-europeus.

Garland:

Michel Foucault mudou de um estilo de pesquisa e análise históricas concebidos como


“arqueologia” para um estilo entendido como “genealogia” demonstrando-se como a
história do presente implementa a investigação genealógica e a revelação de conflictos e
contextos encobertos como um meio de reavaliar o valor de fenómenos
contemporâneos. Garland destaca as observações críticas de fenómenos actuais a partir
dos quais se inicia uma história do presente na linha do conceito de “dispositivo” de
Foucault e do seu método de problematização. Esses fenómenos seriam por exemplo as
origens disciplinares da prisão moderna, etc.

White:
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A distinção mais antiga entre ficção e história, na qual a ficção é concebida como a
representação do imaginável e a história como representação do verdadeiro, deve dar
lugar ao reconhecimento de que só podemos conhecer o real comparando-o ou
equiparando-o ao imaginável. Assim concebidas, as narrativas históricas são estruturas
complexas em que se imagina que um mundo da experiência existe pelo menos de dois
modos, um dos quais é codificado como “real” e o outro se “revela” como ilusório no
decorrer da narrativa. Trata-se de uma ficção do historiador a suposição de que os vários
estados de coisas que ele constituiu na forma de começo, meio e fim de um curso de
desenvolvimento sejam todos “verdadeiros” ou “reais” e que ele simplesmente
“registou” o que aconteceu. Mas tanto o estado inicial como o final são dependentes da
modalidade da linguagem figurativa usada para lhes dar o aspecto de coerência. Ou seja,
a narrativa é uma re-descrição progressiva de conjuntos de eventos de maneira a
desmantelar uma estrutura codificada num modo verbal no começo, a fim de justificar
uma recodificação dele num outro modo no final.

Antropoceno:

A disciplina de história não existe desde sempre e faz parte do processo de afirmação
das disciplinas científicas. O problema dos pressupostos da disciplina de história é que,
no quadro dos movimentos políticos, emerge a ideia de que nós humanos temos algo
que afecta o planeta: o nosso auto-centramento. A consciência ecológica argumenta que
um dos problemas que enfrentamos é o desafio de sermos menos auto-centrados. Ou
seja, se queremos sobreviver temos de descobrir a nossa condição natural. Há que
procurar falar não só daquilo que é humano, mas também daquilo que é ambiental. É a
transição da condição animal para a humana que marca o fim da pré-história, mas
segundo a consciência ecológica esta divisão não tem assim tanta razão de ser. O
Antropoceno consiste em que a partir de certo momento o poder da acção humana é tal
que determina as circunstâncias naturais e por isso faz-nos entrar numa nova fase. A s
correntes ecológicas criticam assim o facto de que outras correntes como por exemplo o
marxismo e os annales continuarem a querer fazer a história dos humanos.

História cultural:

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A história cultural estabelece relações com a história dos conceitos. A história
cultural era apenas as das gentes “cultas” e o momento no qual a história cultural se
renova prende-se com os annales que defendiam a aliança entre a história e as ciências
sociais, com a história cultural e das mentalidades. A história cultural deveria deixar de
ser uma história das elites. O conceito de mentalidades remete para uma ideia de hábito,
a cultura seria um atributo popular. Por exemplo, relativamente ao marxismo passou a
haver quem defenda que ele não se poderia limitar ao económico e ao social, mas
deveria atentar igualmente ao cultural, porque as classes seriam sujeitos económicos e
sociais mas também culturais. Estes filões de pensamento valorizam o artesanato
enquanto arte praticada pelas gentes comuns que precede a revolução industrial,
valorizam igualmente a história dos grupos sociais operários. Nos anos 50 e 60 estes
filões dão origem aos estudos culturais que se vão expandir de forma significativa.
Reconhece-se a vida popular urbana como plena de conhecimentos e de práticas
culturais significativas que devem ser estudadas. Surge também o estudo das sociedades
não-ocidentais com uma aproximação à antropologia. Um dos desenvolvimentos é o
estudo dos lugares de memória (monumentos, toponímias, etc.).

Teoria da História geral:

Praticar história não é algo indispensável à condição humana. Nuns contextos ela é mais
presente do que noutros. O seu percurso pode ser contado de diferentes maneiras. A sua
origem pode ser encontrada em épocas remotas (Heródoto, Tucídides, etc.). Começou-
se a definir a história como um campo próprio mais recentemente no contexto da europa
do século XIX. O historiador actual pressupõe um relato narrativa sobre algo que lhe é
estranho e podemos encontrar um processo de configuração do passado. A ideia de que
o tempo se divide em três partes: passado, presente e futuro é decisiva. Sem esta divisão
o historiador não tem um objecto de estudo próprio. Há uma realidade (passado) que é
diferenciada da realidade em que estamos hoje. O problema é que a fronteira entre o
passado e o presente é tudo menos matéria de consenso. A fronteira que define o início
do passado é uma fronteira móvel. A história consolidou-a como havendo algo prévio à
disciplina da história mas nós percebemos que o passado é de alguma maneira a
projecção desse ponto de vista que estabelecemos. A disciplina da história é uma das
que criou uma identidade própria. Os historiadores criaram um nicho e esse nicho é o

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passado. De alguma forma, os historiadores inventam os objectos que estudam, o que
impede a subjectividade. Esta insistência traduz-se na construção de um assunto
demarcando-nos de outros intervenientes que são tidos como incompetentes para se
debruçarem sobre o passado. É um saber disciplinarizado, ao contrário de práticas não-
científicas e de outras disciplinas. A história define-se como forma de ver, estudar e
conhecer. As outras disciplinas eram distanciadas dos objectos de estudos históricos e
não conseguiam objectivizá-los tanto. A literatura testemunhal é uma prática
memorialística, mas é escrita por alguém que não queria fazer ciência. Aqueles que
encaram a história do ponto de vista ideológico estão a abusar do passado, a manipulá-
lo. Mas os historiadores supostamente teriam uma visão científica sobre os factos
históricos. O que nos distingue é que o nosso objecto está no passado, é algo externo a
anos. Isso distingue-nos dos que estudam o presente. Mas o passado apenas existe
enquanto nós assim o designarmos e foi essencial para reivindicar um espaço de
prestígio académico. A emergência da ciência nos séculos XVI e XVII está em
contramão com outro processo cultural e uma crescente afirmação e prestígio da
autoridade. Podemos ver este processo como análise da história das ideias. Paassa-se da
vontade divina para algo escrutinável. Esse espaço é importante para compreender a
emergência das ciências exactas. No caso das ciências sociais, no momento em que
deixamos de recorrer ao memorialismo, a ciência histórica ganha terreno. A história
afirma-se dizendo que aquilo que sucede na história é fruto da própria história e não da
vontade divina. A afirmação da história participa da afirmação da ciência contra o
prestígio da religião e das artes que não servem para conhecer. Começa a cientifização
da cultura quando Deus deixa de ser explicação para os factos históricos. À medida que
a prática da história se afirma promove uma relação cada vez mais desencantada com o
mundo e com a vida. A forma como analisamos o passado está contaminada pelo
presente que nos rodeia e no qual nos encontramos. A nossa subjectividade influencia a
nossa própria concepção de passado. Isto faz com que nós identifiquemos que há crise
de confiança científica (os historiadores desconfiam de si próprios enquanto cientistas)
mas ganhamos a noção de que a história é também uma forma de nos cultivarmos e
modificarmos. Se a subjectividade é presente, então podemos usar isso para nos
transformarmos. Aquilo que conhecemos do passado vai modificar-nos também. O que
define um historiador? É quem estuda o passado humano. Ele estuda o humano naquilo
que ele tem de humano e não aquilo que ele tem de comum com os não-humanos. A

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fronteira entre passado e presente e entre humano e não-humano é mais ténue do que se
supõe. A problematização da ideia entre passado e presente é que não há nenhum
critério para definir essa fronteira. É a partir do presente que vamos definindo onde
termina o passado e o passado pode ser traumático na medida em que ele continua
presente. A diferenciação entre passado e presente diz respeito à nossa própria
percepção e pode variar de pessoa para pessoa ou de povo para povo, ela depende de
várias circunstâncias. O passado não existe independentemente dos historiadores.
Aquilo que os historiadores fazem depende em grande medida de criarem a sua própria
necessidade pois é necessário cuidar e proteger o passado. São os historiadores que
constroem o seu objecto de estudo, a matéria de que se ocupam, ele é subjectivamente
criado por eles. A memória é algo que os historiadores se atribuem para terem o estatuto
de cientistas. O passado não existe sem nós estarmos disponíveis para definir que ele
existe. A vontade de olhar para algo como passado depende do nosso presente, depende
de interesses e de circunstâncias. A história é um conhecimento do passado que deve
sempre algo ao presente. As categorias têm poder descritivo do real, mas também têm
poder performativo. A história conceptual surge respondendo às críticas da história
política que só olharia para a actividade de uns poucos homens. É preciso fazer uma
história que se interesse pela generalidade da população, que não seja uma história das
elites políticas. As palavras também são motores da história. Para Koselleck é entre o
final do século XVIII e 1850 que surgem inúmeros conceitos influentes. E por mais que
o historiador queira a sua visão sobre o passado é sempre devedora do presente. Os
historiadores olham de alguma forma para o passado a partir das experiências presentes.
A disciplina da história emerge nos séculos XVIII, XIX e XX. Nesta época constrói-se o
moderno estado nacional e as identidades nacionais. Há uma nacionalização da forma
de ver o mundo. O nosso olhar historiográfico tende a projectar esse fenómeno nacional
para um passado. O hábito de realizarmos histórias nacionais diz muito dos séculos XIX
e XX nos quais fomos treinados para olharmos nacionalmente para a realidade presente
e passada. A pesquisa historiográfica é enquadrada por instituições que se definem
nacionalmente. Este fenómeno é algo contemporâneo. No nosso país, produzem-se
histórias nacionais não apenas pelo ser português, mas porque os historiadores foram
convidados a olhar nacionalmente para um passado português. Se são os historiadores
que recortam o objecto eles participam desse passado importando as suas características
subjectivas. Um dos processos históricos contemporâneos é o da construção dos estados

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nacionais. A nação passou a ser um protagonista histórico e também a paisagem da
história que analisamos. Um outro processo diz respeito à emergência de uma cultura
histórica já não nacionalista, mas sim individualista. A noção de indivíduo também é
própria de certas épocas históricas, a nossa concepção própria como indivíduos é
contextualizada. O indivíduo é tido como medida para a identidade de cada um. Nós
projectamos uma forma individualizante de sentirmos o presente. Daí a tentação de
encontrar heróis e “grandes homens”. Outro processo diz respeito aos processos sociais
ligados à industrialização, são fenómenos históricos que emergem na época
contemporânea, mas apesar disso aplicam-se a eles lentes sociais de épocas passadas.
Em todas estas abordagens, acabamos por estar contaminados pelo presente. A
nacionalização e a individualização são instrumentos de mobilização do estado para fins
como o exército, a escola, etc. Estes processos têm influência nas discussões dentro da
disciplina. O género biográfico consiste para os historiadores em olhar para o contexto
no qual o indivíduo agiu e não para a psicologia do indivíduo, mas ele é produto de uma
mentalidade individualista. O género social parte precisamente da desconfiança
relativamente ao individualismo metodológico. O processo pelo qual nos vemos como
humanos também é construído consoante as relações filosóficas, políticas, tecnológicas.
Tratam-se de processos históricos e sociais que são de extracção contemporânea, e o
nosso presente “obriga-nos” a aplica-los a épocas anteriores. Ou seja, o olhar para o
passado não deixa de testemunhar o presente porque está sempre marcado o presente do
historiador com uma cultura individual muito diversa. Há práticas disciplinares ligadas à
condição humana, há narrativa histórica da humanidade naquilo que a humanidade tem
de específico. Esta humanidade pode assumir diferentes rostos, pode ser entendida
como a história protagonizada pelos povos. A sociedade é onde a história acontece e
onde estão os protagonistas da acção histórica. Por vezes a humanidade é pensada como
sendo um conjunto de indivíduos, mas a história oferece aos humanos algo comum com
base na sua ancestralidade. Esta ideia da humanidade que cada historiador foi fazendo e
privilegiando varia muito de historiador para historiador. A história propõe dar uma
genealogia para a nossa condição humana. A universidade (que faz parte do folclore
europeu) torna-se numa instituição que se reproduz um pouco por todo o mundo. Ao
longo do século XX, a disciplina da história foi ganhando cada vez mais presença
académica. Aprática da disciplina da história revelaria o passado tal como ele foi
devendo contar a história da humanidade do ponto de vista dos protagonistas políticos

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ou de estado. Ã história seria a das nações e o que a comanda são as suas figuras de
chefia. A força desta linha de pensamento é tal que em parte ainda se mantêm hoje. Mas
este domínio do político continua a ser objecto de contestação. Nesse sentido, a escola
annales foi um elemento central nos debates historiográficos. Segundo esta escola, a
história deve pensar-se como uma ciência social e não como fazendo parte das
humanidades. Haveria articulação entre a história e outras disciplinas como a
sociologia, a geografia, a demografia, etc. Os annales procuram trabalhar com fronteiras
não nacionais e a história da humanidade deve estar atenta às suas fronteiras naturais. O
marxismo tem relação de proximidade com os annales e resume a história como sendo a
dos modos de produção e das relações sociais de produção. Está menos interessado nas
estruturas político-jurídicas (superestrutura) do que nas estruturas económicas
(infraestrutura), dirigindo uma crítica feroz contra uma historiografia de enfoque
político e institucional. Traz a crítica á ideia nacionalista e vai contribuir de forma
significativa para o desenvolvimento da história social.

Assim, podemos definir três processos:

 nação e nacionalismos;

 individual e individualismos (biografias, etc.);

 questão social, grupos sociais, etc.

Ou seja, a cronologia da disciplina cobre do século XIX até à actualidade, falamos de


um processo histórico. Esta emergência e consolidação da disciplina da história se faz
em grande medida na política de identidade, na demarcação entre a disciplina da história
e outras sensibilidades em relação ao tempo. Haveria formas objectivas mas também
mitológicas e subjectivas e não científicas e ideológicas. Há diferença entre história e
memorialística. Esta última não seria capaz de produzir um relato tão verdadeiro como a
primeira. Há um processo de cientifização da cultura e surge a ciência numa posição
dominante nas sociedades modernas e ocidentais. Por contraponto há a erosão da
autoridade religiosa e do seu poder explicativo do real. O processo histórico é inteligível
e podemos analisar o seu próprio funcionamento. Deixou-se de acreditar que o processo
histórico nos transcende. O processo histórico reúne características que intuímos,
partilha a mesma lógica e linguagem. Nos últimos séculos os humanos dedicam-se ao
cultivo de si próprios e a história faz parte desse processo. No seu processo de

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consolidação reflecte-se sobre a condição humana e começa por predominar a história
nacional e política. A história seria a das diferentes nações e povos e dos homens
políticos. Há um conjunto de formas de praticar a história, não tem de se limitar apenas
à dimensão política e nacional. O marxismo e os annales estão atentos aos modos de
produção e às realidades económicas quase universais. Tudo isto são conflictos internos
à disciplina de história. Há quem se pergunte se a história não tem valor excessivo e que
outras formas de compreender o passado devem ser admitidos. Aquilo que era ponto de
honra (separação entre história e práticas memorialísticas) deve ser relativizado segundo
as críticas ecológicas e pós-coloniais.

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