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Neste sentido, Shalhoub e Teixeira da Silva (2009), mostram que esse cenário mudou
e novas produções historiográficas abalaram os muros desse paradigma a partir da década de
1980. Isso se deu no momento em que novos problemas e questões como a etnicidade foram
postos a fim de desvendar o cotidiano dos trabalhadores escravos que no seio do sistema
escravocrata brasileiro estabeleciam estratégias para a formação de lutas de classes. Assim, o
que é proposto pelos autores para transpor o “paradigma de ausência”, que de certa maneira
ainda persiste em algumas produções, é a utilização do “paradigma de agência”, que interpreta
as ações de escravos, libertos e trabalhadores resultantes de negociações, decisões e escolhas
frente aos poderes e instituições, sendo o universo de pesquisa sobre o trabalho ampliado e
ficando mais abrangente.
Uma delas eram os diversos meios que os escravos utilizavam para obter a compra de
sua alforria. Mesmo com o afunilamento dos caminhos para a liberdade advindo das altas nos
preços dos escravos desde fins do século XVIII e seguindo ao longo das primeiras décadas do
século XIX, se tornando uma barreira quase intransponível, isso resultou para que as
expectativas e opções dos escravos fossem redefinidas frente a liberdade, eles se utilizaram de
várias formas para conseguir legalmente sua carta de alforria, algumas vezes fugiam da casa
dos seus senhores e pediam esmolas nas ruas da cidade para obterem sua liberdade ou mesmo
a pagavam com suas próprias economias ou de parentes e benfeitores, o trabalho escravo,
então, é expresso monetariamente na compra das alforrias, sendo ele até os anos de 1830 a
condição primária para a libertação de parte significativa dos escravos. Esse episódio já
demarca uma ruptura com o “paradigma de ausência” que foi explicado mais acima, na
ambientação do trabalho escravo, esses sujeitos históricos usaram ferramentas específicas e
em alguns momentos heterodoxas, para obter seus objetivos.
Uma outra via de agência dos escravos para a liberdade, já deixava um pouco de lado
o trabalho, e estratégias mais políticas para a obtenção das suas alforrias eram usadas. A partir
dos anos de 1840 até meados dos anos de 1860, delineou-se uma predominância de alforrias
condicionais e sobretudo as gratuitas, marcando uma politização na busca da liberdade. Neste
momento, Manolo Florentino afirma que a conquista da liberdade deslocou-se para uma órbita
de relações e negociações entre escravo e seu senhor. Em meio a isso ainda há uma questão
que foi levantada, nessas lutas e convenções, alguns grupos étnicos interagiam de forma
diferente com esses tipos de manumissões, alguns grupos eram bem mais sucedidos que
outros. Os africanos, por exemplo, saíam na frente em relação aos crioulos na obtenção da
liberdade dentro de algumas décadas e o inverso ocorria dentro de outros períodos. Assim,
questões levantadas sobre a etnicidade acabam apontando para uma heterogeneidade na busca
dos escravos pela liberdade, ficando clara a complexidade dentro do mundo escravo e do
trabalho, não abrindo espaços para generalizações e fazendo referências para a necessidade do
uso do “paradigma de agência” para as produções historiográficas.